quinta-feira, 7 de julho de 2016

O Método Histórico

O bispo Virgil von Salzburg (746-784) medita profundamente sobre um texto que leu.

O trabalho do historiador, para o senso comum, se resume em uma simples seleção e memorização de fatos dispersos no tempo, cada um com suas especifidades. Esse trabalho, na verdade, consiste de um método histórico, ordenado da seguinte forma: 1) escolha do tema de estudo; 2) coleta de informações sobre ele; 3) análise crítica das informações reunidas; 4) estabelecimento de relação entre os fatos; 5) por último são tiradas conclusões. As etapas variam de historiador para historiador. Ciro Flamarion, da área da História Antiga, sugere quatro: seleção de tema, coleta de dados, crítica e elaboração, síntese e redação.

Num primeiro momento, o profissional da História já deve ter em mente, quando for realizar uma pesquisa, do tema a ser estudado. Geralmente, se escolhe algo de interesse pessoal; algo que tenha despertado a curiosidade. Um detalhe: tem que ser feito um recorte sobre o tema. Algo muito geral dificulta a pesquisa. Substitua, por exemplo, uma História Geral do Amazonas por Amazonas Colonial entre 1750 e 1800.

Um dos diferenciais que a pesquisa pode ter é o ineditismo. O pesquisador pode apresentar para a comunidade um tema nunca antes trabalhado ou trabalhar um tema que já foi amplamente trabalhado por outros autores, mas pode apresentar este sob uma nova perspectiva.

Definido o tema, é necessário verificar se, para a elaboração de seu estudo, existem fontes (registros) sobre o tema e se estas estão disponíveis. Se existem, o historiador os seleciona e reúne para começar a dar forma a sua pesquisa. Esse processo de seleção das fontes se chama heurística. Às vez, a partir de uma única fonte, são descobertas muitas outras.

As fontes são divididas em dois grupos: as materiais e imateriais. As primeiras se referem a vestígios concretos de épocas passadas, como cartas, manuscritos, jornais, utensílios domésticos etc. As fontes imateriais são os registros intangíveis, como a tradição oral, que passa de geração em geração. O historiador, ainda analisando as fontes, as diferencia entre primária e secundária. Basicamente, as fontes primárias são registros contemporâneos ao acontecimento (ex: cartas escritas pelos inconfidentes mineiros no século XVIII). As fontes secundárias são registros indiretos posteriores a um período histórico (ex: compilação de cartas da Inconfidência Mineira feita no século XX).

Atualmente, existem várias formas de se averiguar a veracidade de um documento, como o teste de seus materiais (tinta, papel) em laboratório. Entram aí profissionais de outras áreas: arqueólogos, linguistas e antropólogos. Mas, frequentemente o historiador se vê diante de documentos sem data, sem autores identificáveis, o que torna o processo crítico mais difícil.

Reunidas as fontes, o historiador começa a se questionar sobre o (s) acontecimento (s) do passado. São feitas duas críticas: a externa e a interna. A crítica externa tem o intuito de se verificar a autenticidade do documento, se este é originário da época a qual se especula, se foi escrito pelo suposto autor ou se foram feitas alterações. Com a crítica interna o pesquisador analisa o conteúdo do documento, quais as verdades ou mentiras ele carrega, os fatores (religiosos, ideológicos) que influenciaram sua produção, as omissões, invenções e participações no acontecimento.

Verificada a confiabilidade das fontes e feitas as críticas, o historiador passa a interpretar os fatos, estabelece relações entre eles e tenta explicá-los. Ele analisa as evidências sobre um tema e levanta hipóteses, fazendo um diálogo com as fontes, tornando-as vivas. Esse processo se chama reconstrução imaginativa. A imaginação, aqui, não tem o sentido comum de criar coisas, mas sim de criatividade e talento ao extrair o máximo de informações das fontes.

A História é uma ciência que não se testa em laboratório, pois trabalha com as relações de mudança que o homem realiza no tempo. Um fato como a Revolução de 1789 não pode ser replicado. Os historiadores não buscam uma causa, mas sim múltiplas “causas” que culminaram em um evento.

O último processo da pesquisa histórica é a redação. Uma boa pesquisa merece uma narrativa de igual qualidade. Se aconselha que o pesquisador planeje a estrutura narrativa, que apresente nela o tema, os problemas, as hipóteses, as notas de rodapé e a metodologia empregada. O texto deve ser apresentado seguindo uma sequência de ideias. Devem ser evitados erros de gramática, de concordância e de ortografia. Devem ser dados os créditos para citações, notas e trabalhos de terceiros. Por último, construa uma argumentação objetiva, com boa argumentação e poder de persuasão.


FONTE:

MARTINS FILHO, Amilcar Vianna. Como Escrever a História da Sua Cidade. Belo Horizonte: Instituto Cultural Amilcar Martins, 2005, p. 39-59.



CRÉDITO DA IMAGEM:

www.ricardocosta.com



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