O bispo Virgil von Salzburg (746-784) medita profundamente sobre um texto que leu.
O
trabalho do historiador, para o senso comum, se resume em uma simples
seleção e memorização de fatos dispersos no tempo, cada um com suas
especifidades. Esse trabalho, na verdade,
consiste de um método histórico, ordenado da seguinte forma: 1)
escolha do tema
de estudo; 2) coleta de informações sobre ele;
3) análise crítica das informações reunidas; 4) estabelecimento
de relação entre os fatos; 5) por último são tiradas conclusões.
As
etapas variam de historiador para historiador. Ciro Flamarion, da área da História Antiga, sugere quatro: seleção de tema, coleta de dados, crítica
e elaboração, síntese e redação.
Num
primeiro momento, o profissional da História já deve ter em mente,
quando for realizar uma pesquisa, do tema a ser estudado. Geralmente,
se escolhe algo de interesse pessoal; algo que tenha despertado a
curiosidade. Um detalhe: tem
que ser feito um recorte sobre o tema. Algo muito geral dificulta a
pesquisa. Substitua, por
exemplo, uma História Geral do Amazonas por Amazonas Colonial entre
1750 e 1800.
Um
dos diferenciais que a pesquisa pode ter é o ineditismo. O
pesquisador pode apresentar para a comunidade um tema nunca antes
trabalhado ou trabalhar um tema que já foi amplamente trabalhado por
outros autores, mas pode apresentar este sob uma nova perspectiva.
Definido
o tema, é necessário verificar se, para a elaboração de seu
estudo, existem fontes (registros) sobre o tema e se estas
estão disponíveis. Se
existem, o historiador os seleciona e reúne para começar a dar
forma a sua pesquisa. Esse processo de seleção das fontes se chama
heurística. Às vez, a
partir de uma única fonte, são descobertas muitas outras.
As
fontes são divididas em dois grupos: as materiais e imateriais. As
primeiras se referem a vestígios concretos de épocas passadas, como
cartas, manuscritos, jornais, utensílios domésticos etc. As fontes
imateriais são os registros intangíveis, como a tradição oral,
que passa de geração em geração. O historiador, ainda analisando
as fontes, as diferencia entre primária
e secundária.
Basicamente, as fontes primárias são registros contemporâneos ao
acontecimento (ex: cartas escritas pelos inconfidentes mineiros no
século XVIII). As fontes secundárias são registros indiretos
posteriores a um período histórico (ex: compilação de cartas da
Inconfidência Mineira feita no século XX).
Atualmente,
existem várias formas de se averiguar a veracidade de um documento,
como o teste de seus materiais (tinta, papel) em laboratório. Entram
aí profissionais de outras áreas: arqueólogos, linguistas e
antropólogos. Mas, frequentemente o historiador se vê diante de
documentos sem data, sem autores identificáveis, o que torna o
processo crítico mais difícil.
Reunidas
as fontes, o historiador começa a se questionar sobre o (s)
acontecimento (s) do passado. São
feitas duas críticas: a externa e a interna. A crítica externa tem
o intuito de se verificar a autenticidade do documento, se este é
originário da época a qual se especula, se foi escrito pelo suposto
autor ou se foram feitas alterações. Com a crítica
interna
o pesquisador analisa o conteúdo do documento, quais as verdades ou
mentiras ele carrega, os fatores (religiosos, ideológicos) que
influenciaram sua produção, as omissões, invenções e
participações no acontecimento.
Verificada
a confiabilidade das fontes e feitas as críticas, o historiador
passa a interpretar os fatos, estabelece relações entre eles e
tenta explicá-los. Ele
analisa as evidências sobre um tema e levanta hipóteses, fazendo um
diálogo com as fontes, tornando-as vivas. Esse processo se chama
reconstrução
imaginativa.
A imaginação, aqui, não tem o sentido comum de criar coisas, mas
sim de criatividade e talento ao extrair o máximo de informações
das fontes.
A
História é uma ciência que não se testa em laboratório, pois
trabalha com as relações de mudança que o homem realiza no tempo.
Um fato como a Revolução de 1789 não pode ser replicado. Os
historiadores não buscam uma causa, mas sim múltiplas
“causas”
que
culminaram em um evento.
O último processo da pesquisa
histórica é a redação. Uma boa pesquisa merece uma narrativa de
igual qualidade. Se aconselha que o pesquisador planeje a estrutura
narrativa, que apresente nela o tema, os problemas, as hipóteses, as
notas de rodapé e a metodologia empregada. O texto deve ser
apresentado seguindo uma sequência de ideias. Devem ser evitados
erros de gramática, de concordância e de ortografia. Devem ser
dados os créditos para citações, notas e trabalhos de terceiros.
Por último, construa uma argumentação objetiva, com boa
argumentação e poder de persuasão.
FONTE:
MARTINS FILHO, Amilcar Vianna. Como Escrever a História da Sua Cidade. Belo Horizonte: Instituto Cultural Amilcar Martins, 2005, p. 39-59.
CRÉDITO DA IMAGEM:
www.ricardocosta.com
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