Por Roosewelt Sena
Iniciando
o raciocínio a partir de que a política se firmou como atividade
social dos homens no decorrer da História, o autor passa a conceber
as inúmeras concepções que este termo, desde a Antiguidade até os
dias modernos, apresenta, sempre compilando as ideais centrais da
sociedade como democracia e direito. A todo o momento a atividade
política se desenvolve, seja a partir dos parâmetros sociais, seja
em virtude das necessidades da sociedade.
Falar
sobre política é mais do que falar sobre Estado ou partidos, mas é
levar em consideração o que motivou a formação dessas
instituições. Daí surge a importância dos movimentos sociais que
serviriam de eixo para a representação das necessidades populares.
A
atividade política entre os gregos é baseada na democracia. Esta
não era estendida a toda a população, mas somente aos homens,
filhos de atenienses (mulheres e estrangeiros não tinham o direito
de participar da vida política). Os gregos são na verdade os precursores da democracia. A expressão “política” nasce a
partir da atividade que o homem executava na “pólis”. Ao
contrário de outras sociedades do seu tempo, na Grécia a política
tornou-se o elo constituinte da sociedade. Tanto Platão quanto
Aristóteles eram avessos à democracia mas possuem alguns pontos em
suas obras que esclarecem o ideal político grego.
Para
Platão o político se diferencia dos demais homens por ter um maior
conhecimento da “pólis” e das atividades vinculadas a ela a fim
de oferecer uma luz para os demais homens. Para Aristóteles a política
associa-se a todas as demais ciências para alcançar um determinado
fim que é o “bem supremo dos homens”. A partir daí tem-se um
ideal coletivo que, agregado à política torna esta mais sujeita às
necessidades do povo, mais “democrática”.
O
que transforma o homem em cidadão é a ética, por sua vertente
pedagógica. O espaço de tomada das decisões amplia-se do soberano
para o restante da sociedade. Não é mais o rei que tem a autoridade
máxima (como em uma monarquia) mas quem decide é o povo
(democracia).
O
modelo de atividade política centralizada de Roma tornou-se um
modelo para sociedades contemporâneas. Para os romanos manterem seus
monopólios sobre suas riquezas e seus domínios passam a executar
uma política voltada para o interesse particular, diferente do que acontecia na Grécia. O Estado Romano então governaria em favor de
uma classe, os patrícios, impondo os interesses desses sobre os
demais.
Além
do domínio do Estado também havia a relação entre tutor e pupilo, que era mediada pelo direito romano, e através deste se garantia a não
interferência do Estado na propriedade privada, ou nos interesses
dos patrícios.
Roma
não era uma pólis por que a atividade política não tem relações
com cidade-estado, mas sim de relações entre militares, burocratas e
burgueses e suas práticas de manipulação, corrupção e repressão.
As
causas da queda do Império Romano estariam nele mesmo. Por ser o
único estado, baseando sua atividade política em uma concepção
institucional, não pôde sustentar-se para sempre, com adventos de
crises e guerras, tomadas de fronteiras, tudo isso cooperou para o
seu caos. Esses são pontos indicados por Gramsci.
Durante a idade média a atividade política apresenta uma duplicidade, de um lado a nobreza exercia o “poder político” fazendo o uso da dominação pela força, do outro o clero executava o “poder civil” agindo com persuasão e convencimento para com a sociedade.
Durante a idade média a atividade política apresenta uma duplicidade, de um lado a nobreza exercia o “poder político” fazendo o uso da dominação pela força, do outro o clero executava o “poder civil” agindo com persuasão e convencimento para com a sociedade.
Sendo
o governo o agente da atividade política de um Estado, este impõe suas
condições. Através do seu agente, a atividade política do Estado
realiza-se concretamente, pelo exercício do poder do governo. Com
isso temos a dimensão do domínio que o governo pode atingir para
alcançar seus objetivos, na esfera política. O livro de Maquiavel é
um conjunto de lições para que se conquiste ou se mantenha um
principado.
O
que caracteriza o príncipe é a virtude, nesse sentido, para
Maquiavel, a política torna-se acessível a todos. Torna-se a “arte do possível”. A teoria política de Maquiavel corresponde aos
anseios de adquirir influencia por parte da burguesia mercantil, que
perdeu seu significado na estrutura monárquica. Para Locke,
principal teórico da revolução burguesa na Inglaterra, o governo
civil fornece instrumentos de poder que permitem que “nossos”
interesses se transformem numa orientação política para a
sociedade.
O
Príncipe de Maquiavel é virtuoso quando apresenta de maneira eficaz
o poder do Estado. A virtude do príncipe estaria na força e na
astúcia com que governa e não na justiça em relação aos
governados. Enquanto a burguesia dependia de sua própria astúcia e
força, o proletariado precisaria repousar na sua própria capacidade
de mobilização para se tornar um agente político.
Com
Maquiavel, a questão do governo é deslocada para o estado. A
questão básica para Maquiavel seria as condições de ser
governado, o que o levaria a estudar o Estado. Para Marx, o Estado
precisa se submeter ao comportamento e aos interesses manifestados
nessa classe. Neste sentido a atividade política se desloca do
Estado para a luta de classes. A inovação de Marx foi atribuir a
estas classes “sociais” um significado político sem
transformá-las em classes “políticas”, de suporte à atividade
política nos moldes do Estado.
A
uma determinada sociedade civil corresponde um determinado tipo de
Estado político, que não é mais expressão daquela; o Estado
passaria a ser moldado pelas objetivações da sociedade que governa.
A necessidade de estudar as relações entre governantes e governados
daria lugar, como cerne da própria atividade política, à análise entre classes dominantes e as clássicas dominadas, entre exploradores e
explorados; na sociedade capitalista essas relações seriam
determinadas propriedades ou não dos meios de produção material.
A
partir do exposto, é notável o quanto a centralidade da atividade
política varia conforme o período, a necessidade, e forma social.
Em cada período histórico o núcleo do processo político se
dispersa ora pelo Estado, por meio das instituições políticas,
embora estas, em certas situações, não regulamentam a atividade
política sobre os parâmetros sociais atendendo apenas uma parte da
sociedade. Isso nos faz compreender o quanto o sistema político
varia em sua forma estrutural. Contemplando as formas de governo
analisadas por Platão e Aristóteles, entendemos que logo uma
sociedade exerce seu papel político sob as rédias de governantes
que por um lado governam em direção a um objetivo público, e
outras vezes em prol do particular, dos próprios políticos ou de
uma classe dita dominante.
Roosewelt Sena, 22, é acadêmico de História na UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e poeta.
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