quarta-feira, 2 de junho de 2021

Manaus e suas escadarias

Escadaria da rua Tapajós, no Centro. FONTE: Google Maps, 2019.

As escadarias, em uma definição bem simples, são vias de acesso formadas por lances de escadas construídas para facilitar nosso trânsito em determinados lugares. Elas são construídas em edifícios públicos, igrejas, residências, portos, escolas e ladeiras. São um dos vários lugares que passam despercebidos no nosso dia a dia, apesar do uso. Nesse texto vou falar de algumas escadarias de Manaus, existentes e já desaparecidas. Me perdoem se esquecer de alguma (s).

Vamos às mais antigas. As da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, a Igreja Matriz, foram construídas na administração de Eduardo Gonçalves Ribeiro (1892-1896). Elas possuem o formato de lira, instrumento musical de corda que na Mitologia Grega era utilizado pelo Deus Apolo, que além de Deus Sol eram também associado às Artes e à Música. Na década de 1990, acima delas, foram instalados azulejos que retratavam a Via Sacra. Eles foram destruídos no último restauro, pois não faziam parte do projeto original de fins do século XIX.

As escadarias da Igreja Matriz vistas de cima. Foto de 1968. FONTE: Blog Baú Velho.

O Teatro Amazonas possui quatro escadarias, todas feitas em mármore de Carrara. As frontais, no Largo de São Sebastião, são as principais, levando aos jardins e à entrada do Teatro. As laterais ficam nas ruas José Clemente e 10 de Julho. As da parte de trás ficam na Avenida Eduardo Ribeiro. Com o mesmo mármore de Carrara foram feitas as belíssimas escadarias do Palácio da  Justiça.

A escadaria de acesso ao segundo andar da Biblioteca Pública do Amazonas, na rua Barroso, é um trabalho artístico ímpar. Foi confeccionada pela empresa escocesa Walter MacFarlane & Company. Da mesma forma são belas as do Palácio Rio Negro, na Avenida Sete de Setembro, feitas com madeiras regionais e decoradas com duas esculturas femininas feitas em bronze. Por ela passaram Governadores, visitantes ilustres e, nos dias de hoje, visitantes do Centro Cultural Palácio Rio Negro.

Escadaria da Biblioteca Pública do Amazonas. FONTE: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas.

Das escadarias localizadas em escolas, pode-se citar as do Instituto Benjamin Constant, na rua Ramos Ferreira, construído em 1894; as do Instituto de Educação do Amazonas (IEA), na mesma rua, de 1944; e as do Gymnasio Amazonense Dom Pedro II, na Avenida Sete de Setembro, concluído em 1886.

No início da rua Xavier de Mendonça, no bairro de Aparecida, às margens do Igarapé de São Vicente, existe uma pequena escadaria feita em pedra do tipo jacaré, abundante em outras épocas. Nela atracam canoas de moradores, trabalhadores da área e banhistas que, entusiasmados com a paisagem, a utilizam como local de salto para as águas escuras do igarapé. Sua construção se deu na administração do Prefeito Antônio Botelho Maia (1936-1941), conforme informado em Mensagem do edil à Câmara Municipal em 15 de abril de 1937, servindo não só para a atracação de embarcações, mas também para o embelezamento dessa parte da via, onde ficava a saída do esgoto.

Orla dos Remédios, 1956. FONTE: Brasil Revista, 1956.

A escadaria da Praça Torquato Tapajós, mais conhecida como dos Remédios, foi erguida em 1944 na gestão municipal de Francisco do Couto Vale, conforme noticiado pelo Jornal do Commercio em edição de 07 de setembro de 1944. As obras ficaram a cargo da empresa 'Electro-Ferro Construções S. A.". Ela durou décadas, desaparecendo com a construção da Avenida Manaus Moderna, entre as décadas de 1980 e 1990. Nela atracavam embarcações de pequeno e médio porte e eram comercializados diferentes gêneros alimentícios. Foi palco de inúmeros assaltos, brigas, tentativas de homicídio e homicídios, sendo uma referência frequente nas páginas policiais.

Na rua Tapajós, no Centro, com início na Escola Estadual Frei Sílvio Vagheggi, existe uma escadaria com três lances de escadas. Ela facilita a comunicação entre essa rua e a Leonardo Malcher, já que o trecho é uma pequena ladeira. Na edição de 13 de maio de 1965 do Jornal do Commercio, em texto dedicado aos serviços de reparo das ruas da cidade pela Prefeitura, é citado que a escadaria, uma velha aspiração dos moradores da rua Tapajós, teria suas obras iniciadas ainda no mês de maio daquele ano. Não se sabe quando foi concluída, mas até hoje é utilizada pelos que enfrentam a descida ou a subida entre as ruas.

Escadaria João Veiga. FOTO: Elza Souza.

De acordo com a memorialista Elza Souza, existem no bairro de São Raimundo pelo menos duas escadarias: a Escadaria João Veiga, localizada na rua Boa Vista, que levava à extinta orla da Beira-Mar, hoje Parque Rio Negro; e a Escadaria da Goela, localizada entre a rua 05 de Setembro e a antiga rua Sagrado Coração de Jesus. Ela lembra de as ter conhecido quando ainda eram de madeira, utilizando-as para chegar na praia que circulava a colina do bairro.

Em outros bairros existe um sem número de escadarias. Simples ou rebuscadas, funcionais ou decorativas, são lugares cheios de Histórias, marcando a paisagem urbana da cidade.


FONTES:


Jornal do Commercio, 13/05/1965, p. 07.

Mensagem, 15/04/1937. In: Jornal do Commercio, 25/04/1937, p. 07.

Jornal do Commercio, 07/09/1944, p. 03.

Entrevista com Elza Souza, 01/06/2021.

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