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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Morte de um bravo: Os necrológios de Joaquim Benjamin da Silva (AM) e Frederico Albano Cardoso Pinto (PA), combatentes na Guerra do Paraguai

Cadáveres de paraguaios após a Batalha de Boquerón, em julho de 1866.

Os necrológios, elogios fúnebres publicados em periódicos locais ou nacionais, são interessantes fontes para a pesquisa histórica, ainda que não tenham sido plenamente explorados em trabalhos acadêmicos na região. Neles é possível encontrar informações de grupos ou de indivíduos, dados biográficos, de escolaridade, religião, carreira, causa mortis e local de sepultamento. A quantidade das informações, o número de páginas e as homenagens dependem da importância que a pessoa teve em vida. Esse tipo de material é utilizado em estudos prosopográficos, podendo ser citados os trabalhos de Andrius Estevam Noronha (1), que utiliza os necrológios para analisar as trajetórias dos membros da elite de Santa Cruz do Sul (RS); e de Juarez José Tuchinski dos Anjos (2), que investigou os modelos de educação familiar contidos nos elogios fúnebres da Província do Paraná (1853-1889).

Como todas as fontes históricas, os necrológios possuem suas possibilidades e limites, devendo ser analisados criticamente. A utilização destes pela história social, cultural e das mentalidades permite aos pesquisadores a identificação de elementos socioculturais de determinadas épocas, os modos de viver e os comportamentos da sociedade ou parte dela diante da morte. No entanto, como salienta Andrius Estevam Noronha, não se deve esgotar os necrológios, “pois esses textos além de omitir várias informações individuais são carregados de um discurso narrativo de estilo romantizado” (NORONHA, 2012, p. 73). Os necrológios publicados em jornais trazem informações resumidas sobre o falecido, em um tom bastante romântico, o que torna necessária a utilização de outras documentações para confrontar esses textos. O historiador deve estar ciente, como citou Noronha, de que esses elogios estão carregados de discursos, pois possuem o objetivo de preservar e distinguir a memória do falecido e de sua família.

Escolhi dois necrológios da segunda metade do século XIX para fazer a análise de seus conteúdos: O do alferes Joaquim Benjamin da Silva, amazonense, e do tenente Frederico Albano Cardoso Pinto, paraense, ambos combatentes na Guerra do Paraguai (1864-1870) e mortos em batalha.


Morte de um bravo (I)

Mais um bravo da nobre família amazonense sacrificado no altar da patria!

Mais uma victima dos horrores da guerra desaparecida para sempre do numero dos vivos!

O alferes Joaquim Benjamin da Silva, que, por seu valor e denodo, havia merecido do governo as honras de uma condecoração, e um posto de accesso, não chegou siquer a receber a noticia desse premio tao bem merecido; porque na sanguinolenta batalha de 16 de julho, avançando contra o inimigo, recebeo no peito uma granada, que o fez voar á mansao dos justos.

O Amazonas deve orgulhar-se de ter tal filho, que, morrendo, legou a sua patria e família um nome gloriozo.

Joaquim Benjamin da Silva foi um heróe, que nos campos do Paraguay, soube honrar o nome brasileiro; e, embora morresse, elle vive e viverá eternamente, porque os heròes residem na historia, e a historia não risca, nem jamais pode riscar seu nome.

O bravo amazonense, quatro dias antes de o matarem, escrevendo a um seu amigo, predisse o triste fim que o aguardava: no dia 12 lançava elle no papel as seguintes expressões:

<<Prefiro uma morte glorioza nestes campos, à voltar para o meu paiz sem ver arrazado o covil da féra>>.

E morreu com effeito antes de ser arrazado o covil da féra!

Oh! Que valor, e que santo patriotismo lhe ardia n’aquelle craneo de mancebo!

Amazonenses! Já não existe Joaquim Benjamin da Silva; resta-nos portanto pranteal-o e orar por sua alma: choremos e oremos, pois, pela alma desse bravo martyr da patria. - A terra lhe seja leve.

Amazonas, 26/09/1866


O necrológio de Joaquim Benjamin da Silva é bastante resumido, não sendo indicado o local de nascimento, a vida em família e a educação que recebeu. Arthur Cézar Ferreira Reis (1989, p. 231), baseado em uma monografia escrita em 1920 por João Batista de Faria e Souza, cita o alferes Benjamin da Silva como natural de Parintins, tendo servido no batalhão de engenheiros. Seria condecorado por suas ações no campo de batalha, o que não ocorreu devido seu falecimento. O autor se confunde apenas quanto a data , citando a batalha do Capão Pires em 16 de julho de 1868 (ocorrida em 16 de julho de 1866), enquanto seu necrológio foi publicado no jornal Amazonas em 26 de setembro de 1866, dois meses após sua morte.

Ainda de acordo com Arthur Cézar Ferreira Reis, até o final do conflito contra o Paraguai o Amazonas contribuiu com mais de mil e quinhentos soldados, os Voluntários da Pátria, tendo regressado, em 25 de julho de 1870, apenas 55 soldados desse total (REIS, 1989, p. 232).

Foi “sacrificado no altar da patria”, legando a sua “patria e família um nome gloriozo”. Preferiu uma morte gloriosa nos campos de batalha do que voltar a ser país sem ver a queda do inimigo. Ardia naquele “crâneo mancebo” um santo patriotismo. No necrológio não fica indicado seu número de posses, sendo seu legado ao Estado e à família sua bravura durante a guerra, que ganha um tom dramático quanto este, quatro dias antes, chegou a prever que pereceria em ação.

Elle vive e viverá eternamente, porque os heròes residem na historia, e a historia não risca, nem jamais pode riscar seu nome”. Essa passagem exemplifica uma noção clássica de história, de que esta era feita pelos grandes homens e centradas em suas ações, que serviriam de exemplo para a posteridade. Joaquim Benjamin da Silva entrou para a história onde residiam os heróis, tornando-se um deles, um “martyr da patria”. Mais que uma homenagem, o necrológio é um instrumento de construção da memória biográfica.

Morte de um bravo (II)

Lê-se no Supplemento do Jornal do Commercio de 27 de novembro:

O inimigo jogou sua artilheria por meia hora, e por meia hora respondemos com fogos crusados de nossos morteiros admiravelmente. A nossa fortificação do Potrero Piris fez tambem excellentes tiros, as da esquerda e frente do mesmo modo.

Parece incrivel que tantas granadas e balas somente nos roubassem uma vida não ferindo a mais ninguém: mas é verdade. Verdade seja que a vida que nos roubou foi por demais apreciavel, por que nada menos foi que a morte de um jovem tenente tão brioso, quanto corajoso: fallamos do tenente de commissão Frederico Albano Cardoso Pinto, natural do Pará, cadete do 9° batalhão de infantaria, ajudante do brioso 6° corpo de voluntarios da patria, em cujas fileiras mereceu a commissão de alferes, e depois de tenente, por assignalados serviços prestados com a dedicação e zelo do bom soldado.

Dotado de maneiras polidas e bastante intelligente o tenente Cardoso Pinto era geralmente estimado. Sua morte foi produzida pelo choque de uma bomba, que, dando-lhe sobre as costellas do lado direito, determinou-lhe a morte instantaneamente. Conduzido na tarde desse dia para o hospital da 2° divisão, seu cadaver foi depozitado na capella do mesmo hospital, e guardadas as ceremonias que se fazem em casos taes; foi na manhã de 31 sepultado no cemiterio deste hospital, sendo seu corpo conduzido pelos drs Macedo Soares, Firmino Doria e pharmaceutico Doria, e De Bertue.

Mais tarde, depois de mudado da guarnição dos morteiros o 6° corpo de volumtarios, compareceram com a banda de muzica do mesmo corpo alguns srs. Officiaes, capitão Machado, tenente Barrilho, alferes Almeida Castro, e alferes Rego Barros que foi encarregado pelo commandante de dirigir a muzica para o seu funeral, sendo que o finado era inspector da mesma muzica.

Receba a família do finado os nossos sentimentos, e com tanta maior dôr quando eramos amigo do tenente Frederico Albano Cardoso Pinto.

A terra lhe seja leve.

A Voz do Amazonas, 12/01/1867


Esse necrológio é mais detalhado, tendo além da causa mortis o local para onde o corpo foi enviado, o local de sepultamento, as pessoas que o conduziram e os militares que dirigiram a música do funeral, já que se tratava de um militar de patente mais alta, um tenente. Ele foi publicado no suplemento do Jornal do Commercio em 27 de novembro de 1866 e republicado no jornal A Voz do Amazonas em 12 de janeiro de 1867. Em um tom bastante dramático, o autor do texto nos transporta para o campo de batalha, descrevendo as investidas do inimigo e a defesa da fortificação brasileira em Potrero Piris.

No dia desse ataque, entre tantos tiros e granadas, apenas um militar faleceu: tenente Frederico Albano Cardoso Pinto, natural do Pará, cadete do 9° batalhão de infantaria, ajudante do 6° corpo de voluntários da pátria, onde ascendeu às patentes de alferes e, depois, tenente. Também foi inspetor da banda de música. Morreu instantaneamente ao ser atingido nas costelas pelo choque de uma bomba. Não é informada a data exata de sua morte. O morto tinha qualidades: era brioso, tinha maneiras polidas e era bastante inteligente.

Seu corpo foi levado para o hospital da 2° divisão, sendo depositado na capela dessa instituição, onde foram realizadas “ceremonias que se fazem em casos taes”, possivelmente uma missa de corpo presente. Na manhã do dia 31 foi sepultado no cemitério do hospital, tendo seu corpo sido conduzido pelos drs. Macedo Soares, Firmino Doria, farmacêutico Doria e De Bertue.

Mais tarde, após o enterro, quando o 6° corpo de voluntários foi mudado da guarnição de morteiros, compareceram com a banda de música alguns oficiais, capitão Machado, tenente Barrilho, alferes Almeida Castro e alferes Rego Barros, encarregado pelo comandante de dirigir a música do funeral. Isso evidencia a importância do tenente Frederico Albano Cardoso, seu capital social para com os colegas militares.

Quanto a família, assim como no necrológio de Joaquim Benjamin da Silva, não são citados nomes. No Decreto N° 1.408, de 10 de agosto de 1867 (3), em que são aprovadas as pensões concedidas ao Major Henrique José Lazary e outros dependentes de militares falecidos, foi possível encontrar o nome da mãe do tenente Frederico Albano Cardoso Pinto, D. Maria Izabel Prestes Cardoso Pinto, que passaria a receber uma pensão de 42$000 réis.

NOTAS:

(1) NORONHA, Andrius Estevam. 'Dados biographicos do extincto': análise das fontes para o estudo prosopográfico de elites locais (os necrológios). In: XI Encontro Estadual de História, 2012, Rio Grande. História de famílias nos confins meridionais: pesquisas, fontes e métodos (1600-1900). Porto Alegre: Pluscom editora, 2012. v. 1. p. 151-151.
(2) ANJOS, J. J. T. . Os necrológios e a educação da criança pela família na província do Paraná (1853-1889). Pro-Posições (Unicamp), v. 28, p. 81-102, 2017.
(3) Decreto Nº 1.408, de 10 de Agosto de 1867. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1408-10-agosto-1867-553582-publicacaooriginal-71707-pl.html Acesso em 14/02/2018.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


NORONHA, Andrius Estevam. 'Dados biographicos do extincto': análise das fontes para o estudo prosopográfico de elites locais (os necrológios). In: XI Encontro Estadual de História, 2012, Rio Grande. História de famílias nos confins meridionais: pesquisas, fontes e métodos (1600-1900). Porto Alegre: Pluscom editora, 2012. v. 1. p. 151-151.

REIS, Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia/Manaus: Superintendência Cultural do Amazonas, 2° ed, 1989.


FONTES:

Amazonas, 26/09/1866.
A Voz do Amazonas, 12/01/1867.


CRÉDITO DA IMAGEM:

commons.wikimedia.org

sábado, 18 de novembro de 2017

Canções da Guerra Civil


Reproduzo a seguir, de forma integral, o capítulo Canções da Guerra Civil, do livro História da Música Popular Americana (1963), de David Ewen, onde são abordadas as canções criadas durante esse conflito, canções essas que expressavam os diferentes sentimentos que surgiam nos campos de batalha do Sul e do Norte:

Origina-se da Guerra Civil uma rica literatura de canções que refletem os vários graus de emoção despertados em ambos os campos de luta - o fervor e as amarguras, a exaltação e o desespero, as esperanças e as frustrações, a nostalgia e a solidão.

As primeiras canções da Guerra Civil destinavam-se a inflamar o patriotismo dos beligerantes, a insuflá-los para a luta. O Sul apropriou-se da melodia da canção de "minstrel show" de Dan Emmett, "Dixie", paramentou-a com nova letra marcial, e adotou-a como sua canção de guerra. O fato de ser nortista o autor de "Dixie" foi convenientemente esquecido, tendo sido admitido que circulasse uma notícia segundo a qual a música era em verdade da autoria de um negro, que falava de seus laços indissolúveis com o seu senhor e as terras do Sul. Durante toda a guerra, "Dixie" foi a canção favorita do Sul. Momentos antes de o General Pickett atacar Gettysburg, ordenou que a executassem, para levantar o moral das tropas. Depois de Appomattox, Abraham Lincoln observou que, uma vez que o Norte conquistara o Sul, também conquistara "Dixie", como presa de guerra. Como prova de seu próprio entusiasmo por "Dixie", pediu à banda que se achava nas proximidades da Casa Branca que a tocasse para ele.

Considerando a íntima identificação de "Dixie" com o Sul, seu autor - Dan Emmett - tornou-se alvo dos ataques de diversos jornais do Norte, apesar de ter sido apenas vítima inocente de uma confiscação. Para contrabalançar a influência de sua canção no Sul, Emmett escreveu uma nova letra para sua melodia, exortando o Norte a recordar-se de Bunker Hill e a "receber aqueles traidores do Sul com firmeza". Mas, embora com esses novos versos, "Dixie" nunca se tornou popular no Norte.

"Maryland, My Maryland" foi outra canção de guerra grandemente querida no Sul. A letra era da autoria de James Ryder Randall, professor de Literatura Inglesa no Colégio Poydras, em Louisiana. Tendo lido, num noticiário de jornal, a maneira como, ao passarem por Baltimore, tinham sido atacadas as tropas do Norte, Randall de logo percebeu nesse episódio uma fonte preciosa de propaganda para ajudar a fazer com que Maryland aderisse ao Sul. Numa noite de vigília de 1861, escreveu um inflamado poema, "Maryland, My Maryland", e conseguiu publicá-lo num jornal de Baltimore. Pouco depois, num comício destinado a incitar o povo de Baltimore a aderir à causa do Sul, o poema foi cantado por Jennie Cary, com a conhecida melodia alemã, "O Tannenbaum". Provocou tal explosão de entusiasmo, que os que se achavam fora do auditório afluíram às janelas para saber o que ocorria. Jennie Cary voltaria a interpretar a canção, com igual sucesso, num concerto para os homens das forças de Beauregard. Em 1862, a canção foi publicada, letra e música, alcançando imediata e ampla popularidade.

"The Bonnie Blue Flag" foi uma terceira canção a tornar-se popular no Sul, cabendo a honra dessa popularidade a Henry Macarthy, artista de teatro. Sua letra descrevia os acontecimentos que conduziram à secessão; a melodia era a de uma cantiga popular irlandesa, "The Jaunting Car". Macarthy lançou "The Bonnie Blue Flag" num ato por ele apresentado em Nova Orleans, em 1861, o qual depois seria repetido através de todo o Sul, onde a canção foi ouvida e adotada pelos soldados Confederados.

Mas, como no campo de batalha, foi ao Norte que coube a primazia na competição entre canções de guerra. Porque foi o Norte, e não o Sul, que produziu os dois principais compositores desse gênero de música: George Frederick Root e Henry Work.

George Frederick Root (1820-1895) nasceu em Sheffield, Massachusetts, e recebeu uma perfeita educação musical em Boston e Paris. Depois de haver-se dedicado ao ensino da música em Boston e Nova Iorque, propendeu para a composição de música popular - aparentemente com uma certa dose de condescendência, tanto assim que a edição de seus trabalhos foi feita sob pseudônimo - Wurzel (Wurzel é a tradução alemã da palavra Root, raiz). Várias de suas canções publicadas entre 1853 e 1855 obtiveram sucesso: "The Hazel Dell", "Rosalie, the Prairie Flower", "There's Music in the Air" (que mais tarde gozaria de popularidade em diversos colégios) e o hino evangélico "The Shining Shore".

Em 1859, Root transferiu-se para Chicago, onde se faria sócio da casa editora Root and Cady, que seu irmão mais velho ajudara a fundar um ano antes. Ao irromper a Guerra Civil, Root, como compositor de canções, orientou sua atividade para o esforço de guerra, escrevendo tanto a letra como a música de suas composições. Sua primeira canção de guerra, "The First Gun Is Fired", estimulada pela segunda convocação de Lincoln dirigida aos voluntários, em 1863, não passou de um fracasso, mas a segunda canção, "The Battle Cry of Freedom", publicada naquele mesmo ano pela firma Root and Cady, foi sua obra prima. O "duo" de cantores, Frank e Jules Lombard, apresentou a canção de maneira tão impressionante, num comício realizado na Chicago Court House Square, que o auditório, em conjunto, começou a cantar espontaneamente um dos refrões. A canção tornou-se particularmente popular entre os soldados da União. Escrevia um deles na época: "Uma sociedade de canto, que veio ao campo de batalha, de Chicago, trouxe consigo essa canção recém-lançada, que cruzou o campo como um relâmpago. O efeito foi quase milagroso. Comunicou uma alegria e um entusiasmo imenso às tropas, como se se tratasse de uma esplêndida vitória. Era ouvida noite e dia, em torno de cada fogueira e em todas as barracas. Jamais me esquecerei de como aqueles homens estrondeavam a frase - 'E embora possa ser pobre, jamais será escravo'".

Root continuou a produzir canções de guerra - algumas marciais, outras sentimentais - até o fim do conflito. As melhores foram: "Just Before the Battle, Mother", em 1863; "Tramp! Tramp! Tramp!", em 1864; e, em 1865, "On, On, the Boys Came Marching" e "The Vacant Chair", esta última inspirada na morte de um tenente do 15° Regimento de Infantaria de Massachusetts.

Henry Clay Work (1832-1884), levado por seus profundos sentimentos abolicionistas e unionistas, escreveu algumas das mais eloquentes canções de Guerra do Norte. Como Root, compunha letra e música. Era filho de um ativo abolicionista, cujo lar era uma estação no Caminho de Ferro Subterrâneo¹ por onde mais de 4.000 escravos escaparam.

Work nasceu em Middletown, Connecticut. Quando trabalhava como aprendiz de tipógrafo em Hartford, descobriu um acordeão num quarto sobre a oficina e em breve estava a usá-lo para compor canções. Sua primeira canção foi "We Are Coming, Sister Mary", que, segundo dizem, foi comprada pelos "Ed Christy Minstrels" por 25 dólares, e cantada com sucesso durante os dez anos que se seguiram à sua primeira publicação. Em 1854, Work mudou-se para Chicago, para trabalhar como tipógrafo. Fez aí amizade com George Root, por cuja insistência começou a escrever canções de guerra, tão logo teve início a Guerra Civil. A primeira foi "Kingdom Coming", animada melodia popular para versos em dialeto negro. Alcançou tal sucesso, imediatamente após sua publicação pela firma Root and Cady, que Work se sentiu encorajado a abandonar a tipografia e dedicar-se à composição de canções. Depois da invasão da Pennsylvannia pelo General Lee, Work compôs "The Song Of Thousand Years", e, em consequência de sua apreensão ante o destino do Norte, compôs "God Save the Nation". Escreveu também agradáveis canções humorísticas: "Grafted into the Army", em 1862; "Babylon Is Fallen!", em 1863; e "Wake Nicodemus!", em 1864. A canção a que seu nome estará sempre associado apareceu em 1865, nos últimos meses da guerra. Trata-se de "Marching through Georgia", inspirada no histórico avanço do General Sherman para o mar. (Muitos anos depois, a Universidade de Princeton utilizou-se de sua melodia para uma canção de futebol).

Depois que o primeiro tiro foi desferido, também Stephen Foster começou a dirigir sua energia musical no sentido de compor canções de guerra. Ao contrário de Work e Root, não obstante, o que produziu foi muito fraco - entre as peças mais fracas de toda a sua obra. Nenhuma de suas canções de guerra gozou de particular popularidade, e nenhuma sobreviveu. Eis algumas das canções da Guerra Civil, de autoria de Foster: "We Are Coming, Father Abraham", com letra de James Sloan Gibbons, a qual já havia sido musicada por Luther Orlando Emerson, entre outros; "We, ve a Million in the Field" e "Was My Brother in the Battle?", todas de 1862; e, em 1863, "When This Dreadful War Is Ended", "My Boy is Coming from the War", "Nothing but a Plain Old Soldier" e "For the Dear Old Flag I Die".

Oriundas do Norte, mais três outras canções da Guerra Civil são ainda hoje relembradas. "The Battle Hymm of the Republic" era um poema da famosa sufragista e poetisa Julia Ward Howe, composto para uma melodia de William Steffe, muito difundida nos camp meetings² de congregações negras, e conhecidas como "Say Brothers, Will You Meet Us?". No começo da Guerra Civil, essa mesma melodia fora utilizada para a canção "John Brown's Body", que pretendia satirizar um ingênuo e infeliz soldado do 12° Regimento de Massachusetts. Quando os soldados do Norte marchavam para a luta, costumavam acertar o passo cantando essa vibrante canção. Julia Ward Howe ouviu-os cantá-la um dia, em dezembro de 1861, e nessa mesma noite, em seu quarto de hotel, escreveu para ela um eloquente poema, "The Battle Hymm of the Republic". Foi publicada pela primeira vez em The Atlantic Monthly, em fevereiro de 1862, e pouco depois republicada em vários jornais, revistas e em livros de hinos do exército. A canção foi publicada por três diferentes casas editoras. O capelão do 122° Regimento de Voluntários de Ohio ensinou-a a seus soldados. Diz-se que quando Lincoln a ouviu pela primeira vez ficou tão comovido que pediu que a cantassem novamente.

"Tenting on the Old Camp Ground", na qual a solidão terrível do soldado encontra pungente expressão, foi escrita por Walter Kittredge, em 1862. Na véspera de seu recrutamento, Kittredge compôs a letra e a música dessa triste canção, para traduzir seu próprio sofrimento por ter de abandonar o lar e a esposa. Tendo sido vítima, no entanto, de um ataque de febre reumática, o exército o dispensou. Tentaria, depois, vender a canção, mas sem exito, de vez que os editores, onde quer que os procurasse, consideravam-na por demais depressiva para que o público a apreciasse. Agradou, todavia, à Família Hutchinson, que repetidas vezes a apresentou em seus concertos, tendo sido por sua influência que afinal foi publicada por Oliver Ditson, em 1864, com resultados compensadores. Continuou sendo cantada muito tempo depois de terminada a guerra, como peça preferida em acampamentos de soldados, comícios e outros gêneros de reuniões marciais.

"When Johnny Comes Marching Home", de Patrick S. Gilmore, em verdade tornou-se famosa mais tarde, outra guerra, no que pese ter sido composta para a Guerra Civil, quando obteve o sucesso inicial, convém frisar. Patrick S. Gilmore (1829-1892) tornou-se famoso depois da Guerra Civil, como regente da célebre "Gilmore Band", que se exibiu em concertos através de toda a América e ajudou a popularizar a moda dos concertos de orquestras no país. Foi também organizador de grandiosos festivais e festas comemorativas, em que se utilizava de conjuntos musicais imensos. Gilmore fundou sua primeira orquestra exatamente um ano antes da Guerra Civil. Em 1860 incorporou esse conjunto ao 24° Regimento de Voluntários de Massachusetts, conquistando, em consequência, o título de Regente-Geral, com o posto de Coronel. Em 1863 escreveu a letra e a música de "When Johnny Comes Marching Home" e publicou-a sob o pseudônimo de Louis Lambert. Sua orquestra lançou a canção e ajudou a torná-la conhecida entre os soldados da União. Mesmo no Sul, a melodia era tão apreciada que foi usada como música de "For Bales!", canção de versos humorísticos. Mas a grande popularidade de "When Johnny Comes Marching Home" pertence a um período posterior. Revivida com êxito durante a Guerra Hispano-Americana, tornou-se uma de suas principais canções; é hoje em dia habitualmente associada apenas a esta última guerra. Desde o início deste século, "When Johnny Comes Marching Home" tem aparecido em variadas versões - como foxtrote - durante a I Guerra Mundial e como composição sinfônica em ambiciosas adaptações de Roy Harris e Morton Gould.

NOTAS:

¹ O Caminho de Ferro Subterrâneo "era simplesmente um caminho ao logo do qual os negros fugitivos eram auxiliados por filantropos brancos e por aqueles da sua própria raça que viviam nos estados não escravagistas". (Rex Harris - Jazz - p. 53 - Editora Ulisseia - Lisboa - Rio de Janeiro). Eram as "famosas rotas de evasão dos escravos através da fronteira para os estados do Norte". (Id.) (N. do T.)

² Camp meetings - Reuniões religiosas ao ar livre. (N. do T.)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

EWEN, David. História da Música Popular Americana - As canções populares, o teatro musicado e o jazz na América, dos tempos coloniais aos dias de hoje. Tradução de Miécio Teti. Rio de Janeiro: Editora Letras e Artes, 1963, p. 42-49.



CRÉDITO DA IMAGEM:

www.theamericanmirror.com

domingo, 8 de dezembro de 2013

A Participação das Mulheres na Primeira Guerra Mundial

Mulheres trabalhando em uma indústria bélica.

Por Patrícia Ramos Braick e Miriam Becho Mota, em História: das cavernas ao terceiro milênio - do avanço imperialista no século 19 aos dias atuais.

Durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres que viviam nos países envolvidos no conflito, sofreram as consequências. Enquanto os homens deslocavam-se em grande quantidade para os campos de batalha, mulheres de classe média e alta passaram a trabalhar fora de casa.

No campo as mulheres ficaram responsáveis pela produção agrícola e pela criação de animais. As que viviam nas cidades foram trabalhar com transportes, dirigindo ônibus e caminhões, e também nas indústrias, entre elas a bélica. Muitas mulheres também dirigiram-se para os campos de batalha para trabalhar como enfermeiras, cozinheiras,motoristas de ambulâncias e etc. Mesmo que a Guerra tenha trazido angústia e sofrimento, ela propiciou muitas conquistas que contribuíram para a emancipação feminina. Em vários países, por exemplo, elas puderam se consolidar como profissionais e adquiriram a independência financeira.

Muitas mulheres conseguiram garantir melhores condições de trabalho e conquistaram um direito muito importante: Estudar em universidades. Melhor do que isso, foi a conquista da legalização do voto feminino em vários países, logo após a Guerra.

Também ocorreram mudanças expressivas no comportamento feminino.As mulheres alcançaram a liberdade de poder saírem sozinhas e dirigir automóveis, passaram a usar roupas mais confortáveis e aderiram ao uso de cosméticos.      

O mundo moderno do século XX exigia coisas práticas como esse tipo de roupa.



CRÉDITO DAS IMAGENS

http://is2fashion.blogspot.com.br
http://www.teoriacriativa.com