Paisagem interiorana da Holanda. Pintura de Cornelis de Bruin (1652-1726).
Em
a Era das Revoluções (1789-1848), o historiador britânico
Eric Hobsbawm (1917-2012) analisa a derrocada do mundo feudal, do
Antigo Regime, e a transição, marcada por conflitos e profundas
transformações sociais, deste para uma nova realidade, a industrial
e das democracias liberais. O século XVIII foi um período marcado
por duas revoluções, a Industrial e a Francesa. Da primeira têm-se
a constituição da estrutura econômica que dominará o mundo
Ocidental. Da segunda, o arcabouço político teórico que sustentará
a economia e os governos.
O
mundo em 1780, às vésperas dessas revoluções, era ao mesmo tempo
menor e maior que o nosso. Menor no sentido de que, na época, se
conhecia pouco sobre os territórios, principalmente as regiões
interioranas. Além do mais, a densidade demográfica era
consideravelmente menor que a da atualidade. Epidemias, guerras, fatores climáticos e terras improdutivas eram barreiras para o estabelecimento e crescimento de colônia em regiões afastadas das áreas mais desenvolvidas. Os seres humanos também eram menores. Fatores biológicos ligados a alimentação produziam pessoas de estatura mais baixa que as atuais.
Ele
tornava-se maior dadas as dificuldades em locomoção e comunicação
com outras regiões, o
que abria diversas possibilidades.
Existiam dois meios de transporte, o marítimo e o terrestre. O
primeiro era mais eficiente que o segundo, mas ainda assim passava
por alguns problemas, principalmente a variação dos ventos e dos
mares. As viagens terrestres, apesar da construção de estradas e a
existência de charretes e carruagens, eram perigosas, onerosas e
lentas. Uma cidade portuária da América do Norte estava mais perto
de Paris do que uma cidade interiorana francesa. Em uma realidade
majoritariamente rural, com mobilidade por terra problemática e
navegação variável, as pessoas costumavam morrer no mesmo local em
que nasciam sem nunca terem conhecido outras realidades. Jornais e
cartas já eram uma realidade, mas o grosso da população era
analfabeta, existindo uma certa mobilidade apenas entre viajantes,
mercadores e membros da burocracia estatal, que
tinham a necessidade de deslocar-se para realizar suas funções,
fossem elas nas colônias além-mar ou no interior das cidades
provinciais.
Poucas
eram as cidades densamente habitadas. Da Rússia à Itália, entre 70
e 90% da população era rural. Apenas Londres e Paris eram cidades
cujas populações eram, respectivamente, de 1 milhão e 500 mil
habitantes. No mais, existiam cidades com pouco mais de 20 mil
habitantes, cujas vidas estavam centradas na Igreja, na Praça e na
atividade agrícola. Uma cidade desse tipo era dividida do mundo
rural pelos seguintes aspectos: a presença de um aparato
arquitetônico e estatal mínimos (igreja, praça, cobrança de
impostos) e as vestes e estatura de seus habitantes, geralmente
melhores e maiores que os trabalhadores rurais.
Esse
mundo estava dividido em zonas de trabalho. Nas colônias da América
predominava a escravidão indígena e africana voltada para o
cultivo de gêneros primários que abasteciam a Europa. A leste da
Europa Ocidental ficavam as propriedades de trabalho agrário servil.
Na região Oriental o sistema de trabalho beirava a escravidão. Os
trabalhadores eram ‘tecnicamente’ livres, mas ainda assim estavam
presos a obrigações como o pagamento de dízimos as paróquias das
quais faziam parte e a utilização de mecanismos, como o moinho, por
exemplo, geralmente pertencentes a grandes proprietários. Com
exceção da Inglaterra, em que a agricultura já estava sendo
direcionada a um mercado mais amplo, um dos fatores para o seu
pioneirismo industrial, toda a produção das outras localidades
sustentava a necessidade e consumo regionais.
Predominava
o modelo político das Monarquias Absolutistas, característico do
Antigo Regime. Essa organização política estava assentada em
privilégios monárquicos que se refletiam em todos os níveis da
sociedade, principalmente na terra, defendida pelos fisiocratas
franceses como a única fonte de
riqueza. Os nobres alugavam
suas terras aos camponeses, cobrando uma parte da produção ou um
aluguel em dinheiro. Quando esse sistema econômico
tornou-se obsoleto, desgastado, os membros da corte passaram a
utilizar seus títulos de nobreza para se apropriarem dos cargos
burocráticos, para dessa forma manterem seu estilo de vida
aristocrático. Esses
privilégios sobre a terra terão um peso decisivo na Revolução
Francesa, em 1789. O status
monárquico e a posse de grandes propriedades de terra eram as bases
dos estados europeus.
Em
síntese, o mundo, mais especificamente a realidade europeia, as
vésperas das revoluções industrial e francesa, era
predominantemente rural e menor por suas características limitadas
de conhecimento e mobilidade, mas esta última característica o
tornava maior dadas as possibilidades ainda não plenamente
exploradas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HOBSBAWM,
Eric
J.
A
Era das Revoluções:
Europa 1789-1848.
Rio de Janeiro, Ed. Paz e
Terra,
20º ed., 2006.
CRÉDITO DA IMAGEM
Cornelis de Bruin Gallery.