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sábado, 9 de dezembro de 2017

A Igreja Medieval: De salvadora dos homens à senhora das almas

A Igreja Católica foi a instituição mais poderosa da Idade Média. Com seus desígnios emanando de Roma (por um relativo período de tempo também de Avignon, na França), atingia paróquias, dioceses e arquidioceses pelo mundo, influenciando o cotidiano, a literatura, as artes e, principalmente, os temores humanos referentes à salvação da alma. É sobre essa última instância que recai a análise do presente artigo, de como a Igreja, a salvadora dos homens, manipulou os medos destes e tomou posse de suas almas.

RESUMO
Arlison Jorge de Souza Leite*

Este texto pretende analisar as motivações e estratégias utilizadas pela Igreja para exercer um controle espiritual sobre a Cristandade. Partindo do princípio de que, na sociedade medieval, a dimensão espiritual se sobrepunha à material e que a Igreja era a única habilitada a abrir as portas da salvação, ela acabou se colocando em um lugar privilegiado, de onde podia, se não controlar, ao menos direcionar os temores dos fiéis. Nesse sentido, este texto aponta que a instituição eclesiástica estimulou e deu forma a um medo supremo: o Diabo, que, para os fiéis, correspondia ao medo de si. A partir destas premissas, discute-se como a Igreja, ao se posicionar como salvadora dos homens, manipulou seus medos e tornou-se a senhora das almas, buscando, constantemente, colocar o destino espiritual da Cristandade sob seu comando.
Palavras-chave: Igreja. Medo. Diabo. Controle. Salvação.

1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história humana, aqueles que controlam o que há de mais precioso para uma sociedade também detêm, em certa medida, o poder de mantê-la refém. Tal, também foi o caso do ocidente, ao longo dos séculos medievais. Nessa sociedade, o espiritual prevalecia sobre o material, logo, um dos grandes motivos para a Igreja ter se tornado a senhora das almas foi o fato dela ter comandado uma coletividade sobre a qual pesava a crença de que a salvação era o grande objetivo da vida e, nesse caso, só havia um meio para tal: enquadrar-se nos padrões de comportamentos exigidos pela instituição eclesiástica.
Entretanto, esse projeto pedagógico não foi de fácil implantação. Diante disso, visando consolidar sua autoridade, a Igreja Católica tornou heresia e perseguiu qualquer um que vivesse fora de sua doutrina, cada vez mais rígida após a Reforma Gregoriana. Com o seu projeto de sociedade, a Igreja tomou para si o monopólio da interpretação dos textos sagrados e, consequentemente, o controle sobre a vida espiritual da Cristandade. Assim, buscando controlar as almas alheias, ela recorreu ao que havia de mais sensível dentro de cada uma delas: o medo. Com esse propósito, a Igreja o intensificou, primeiro por meio da pregação e das imagens, depois com o teatro religioso, todos falando ou mostrando os suplícios do além para uma sociedade que vivia sob ameaça constante.
Além disso, deve-se ressaltar que dentre todos os temores medievais, o medo do Diabo era, provavelmente, o mais aterrorizante. Isso refletia a perda do controle da Cristandade por parte da Igreja que, percebendo esse fenômeno, fez do “inimigo do gênero humano” um monstro terrível que espreitava a qualquer um que ousasse atravessar as fronteiras espirituais estabelecidas por ela. Dessa maneira, a contraditória Teologia medieval pôs o homem demasiado à mercê das ações do Diabo em sua vida cotidiana, além de pôr o inferno como quase fazendo parte deste mundo, onde Lúcifer é o príncipe. Por conseguinte, a proximidade entre o Diabo e os homens é assim tão estreita que os labirintos Teológicos nos permitem dizer que o “inimigo do gênero humano” conhece o homem melhor do que Deus, isto é, suas virtudes e vícios, estes o Diabo intensifica, aquelas ele corrompe. Dessa forma, um desafio irônico se impõe à vida do homem medieval: este deveria, não necessariamente, evitar o inferno, mas sair dele.

2. AS TENTATIVAS DE CONTROLE: PERSEGUIÇÕES, SACRAMENTOS E O JUÍZO FINAL
Dança macabra do Convento dos Dominicanos de Bâle, na Suíça. Gravura de 1621 de Matthaeus Merian.

As ações da Igreja em relação aos fiéis mostram que, a partir do século XII, os terrores demoníacos, assim como as perseguições, se intensificaram, acompanhando o crescimento dos próprios temores da Igreja, seja em relação às heresias ou às seduções das cidades. Essa mudança de postura por parte da instituição eclesiástica foi observada por Delumeau: “A Igreja da Alta Idade Média pleiteara no conjunto pela clemência e pela prudência em relação aos culpados [...]” (1989, p. 350). Em seguida Delumeau complementa:
[...] sua atitude modificou-se a partir do final do século XII sob o efeito de duas causas interligadas: de um lado, a afirmação da heresia com os valdenses e os albigenses; de outro, uma vontade crescente de cristianização que os pregadores oriundos das ordens mendicantes exprimiram e atualizaram (1989, p. 351).
Quando a Igreja não conseguia controlar o medo dos outros, os seus próprios vinham à tona. Nesse sentido, seu maior medo era o de ser questionada, portanto, a desobediência devia ser combatida, mesmo entre aqueles que teoricamente poderiam ser seus aliados como “os franciscanos ‘espirituais’ que se valiam de Joaquim de Flora opuseram-se à riqueza e ao poder da Igreja e foram perseguidos pela hierarquia” (DELUMEAU, 1989, p. 208), isto é, desobedecer à Igreja era o pior que se podia fazer.
Além disso, vendo-se diante da impossibilidade de dominar completamente os pensamentos dos fiéis, a Igreja passou a controlar as ações deles por meio da prática dos sacramentos, a partir de então,
constata-se claramente que esses ritos são indispensáveis para assegurar a coesão da sociedade cristã, assim como o desenvolvimento de cada vida individual em seu seio. Eles marcam suas etapas principais (nascimento, casamento e morte) e autorizam, por si sós, a esperança de salvação no outro mundo, sem o que a vida terrestre seria privada de sentido cristão (BASCHET, 2006, p. 175).
A partir de iniciativas dessa natureza, a Igreja se afirmou como o único canal de salvação dos homens.
Uma das mensagens que chamam a atenção na “pedagogia” utilizada pela Igreja é que antes do fiel alcançar a salvação, ele teria que passar pelas provações do Diabo, ou seja, tem-se nesse caso, duas narrativas interligadas nas quais, antes das recompensas dos justos, todos tinham que conhecer os castigos que existiam no além. Isso fez com que, ao longo dos séculos medievais, a representação do Juízo Final ficasse cada vez mais terrível para os olhos de quem a via, não apenas na iconografia, mas também na literatura religiosa. Ao analisar essa situação, Delumeau (1989) frisou que essas representações estavam em toda parte: nas grandes igrejas urbanas ou nas pequenas igrejas rurais, todos podiam e deviam vê-las. Ainda no que diz respeito a essas representações, Delumeau destaca sua finalidade: “A última prestação de contas revelava-se um meio pedagógico eficaz nas mãos da igreja para reconduzir os cristãos para o bom caminho” (1989, p. 211).
Como afirmado anteriormente, se esses medos atingiram parte da população, isso se deve, em grande medida, à difusão da “propaganda” que a Igreja fazia de suas ameaças. A partir do século XII, a aglomeração de pessoas nas cidades ajudou nesse objetivo (embora a sociedade medieval continuasse, em sua maioria, rural) que antes do “Renascimento Urbano” constituía trabalho mais difícil, pois “era demasiadamente rural, demasiadamente fragmentado, demasiadamente pouco instruído para ser permeável a intensas correntes de propaganda” (DELUMEAU, 1989, p. 216).
Para um controle mais efetivo sobre a Cristandade, era necessário instigar o medo nos fiéis, pois só se poderia oferecer salvação a uma alma que estivesse em perigo, por isso, todos tinham que acreditar no Diabo, inclusive, Delumeau (1989) observa que para não ser acusado de heresia, além de não praticar “atos demoníacos”, o cristão deveria, antes de tudo, acreditar que eles eram reais.

3. O MEDO SUPREMO: O DIABO
A Igreja Medieval trouxe o Diabo para a vida do homem do Ocidente e, depois de alimentá-lo, jogou-o sobre toda a Cristandade. Essa evolução do “inimigo do gênero humano” foi muito bem demonstrada por Delumeau:
Satã pouco aparecia na arte cristã primitiva e os afrescos das catacumbas tinham-no ignorado. Uma de suas mais antigas figurações, nas paredes da igreja de Baouit no Egito (século VI), o representa sob os traços de um anjo, decaído, sem dúvida, e com unhas recurvas, mas sem feiúra e com um sorriso um pouco irônico [...] Lúcifer, outrora criatura preferida de Deus, ainda não é um monstro repulsivo (1989, p. 239).
Le Goff (2005, p. 153) também dedicou suas análises ao estudo do Diabo:
Na Alta Idade Média, Satã não tem papel de primeiro plano, nem muito menos uma personalidade de destaque. Ele aparece com nossa Idade Média, e se afirma no século XI, sendo uma criação da sociedade feudal. Com seus sequazes, os anjos rebeldes, ele é a própria imagem do vassalo pérfido, do traidor,
assim, Satã fazia sua grande entrada em nossa Civilização.
Entretanto, a concepção que o povo tinha da figura do Diabo não correspondia, necessariamente, àquela representada pela Igreja, porém, isso não a impediu de criar sua imagem do “inimigo do gênero humano” e difundi-la amplamente:
Durante longos séculos da história ocidental, as pessoas instruídas consideraram de seu dever fazer os ignorantes conhecerem a verdadeira identidade do maligno por meio de sermões, de catecismos, de obras de demonologia e de acusações. Já santo Agostinho esforçara-se em demonstrar aos pagãos de seu tempo que não existem demônios bons (DELUMEAU, 1989, p. 249).
Ainda a esse respeito, Delumeau expõe uma contradição Teológica:
Jesus chamara Satã de ‘príncipe deste mundo’ [...] São Paulo fora ainda mais longe, chamando Satã de ‘o deus deste mundo’ [...] Jesus e são Paulo não queriam designar a terra onde vivem os homens nem a humanidade inteira, mas o reino do mal [...] Só deste mundo é que Satã é rei [...] mas os homens de Igreja [...] estenderam à totalidade da criação o império do maligno (1989, p. 259).
A partir de tal iniciativa, ao colocar a cristandade em uma posição suscetível à influência demoníaca, a Igreja conseguiu colocar esse medo dentro dos fiéis, isto é, conseguiu fazê-los terem medo de si mesmos. Delumeau explica a razão de tal medo: “Ele [o Diabo] pode não só investir contra os bens terrestres e o próprio corpo, como também pode possuir um ser humano sem o seu consentimento, que desde então se encontra desdobrado” (1989, p. 242). Sendo assim, o medo do Diabo se tornou o mais eficiente de todos, pois se considerarmos os piores temores medievais, da mulher ao infiel, todos poderiam ser evitados caso fosse necessário, porém jamais se poderia fugir de si mesmo.
Evidentemente que esse medo, ao mesmo tempo particular e coletivo, encontrava sustentação na vida cotidiana. Em seu dia a dia, o homem medieval, sobretudo aquele pertencente às classes mais pobres, vivia muito distante de qualquer traço do Paraíso, lugar de riquezas diversas, paz e vida eterna, embora esse Paraíso lhe fosse mostrado nas pinturas. Por outro lado, esse mesmo homem não vivia muito distante dos horrores do Inferno, tais como: as doenças, a fome e a morte. Nesse sentido, o Inferno apenas seria o lugar onde essas desgraças seriam perpétuas. Nessa ironia medieval, o homem teme o que já conhece.
4. CONCLUSÃO
Deve-se reconhecer à Igreja sua característica de hábil manipuladora dos medos humanos, alguns ela engendrou nas mentes e corações, aqueles que já existiam ela remodelou e redirecionou ao seu favor, mas, antes de manipular os temores alheios, ela precisava eliminar os seus. Com esse propósito, ela reuniu e simplificou tudo o que desconhecia ou temia, assim como toda diversidade existente em seus domínios e deu-lhes o nome de Diabo. Nesse cenário, a instituição eclesiástica tornou-se mais obcecada com a figura de Satã do que qualquer “bruxa” jamais seria. Incapaz de sentir medo sozinha, a Igreja projetou seus temores sobre toda a Cristandade, tornando a salvação um projeto difícil de se realizar, pois para o homem medieval, o demônio estava sempre mais próximo que os anjos. Desse momento em diante, surge a necessidade imperativa de vigilância constante.
Além disso, deve-se notar que ao longo da Idade Média, a Igreja não conseguiu sequer aproximar-se do Paraíso com suas tentativas de pacificação da Cristandade, mas é dela, em grande parte, a paradoxal responsabilidade de trazer o Inferno sobre a terra, através da Inquisição, que em suas perseguições e torturas foi, certamente, tão criativa quanto os demônios seriam no Inferno.
Entretanto, ao mesmo tempo em que a Igreja se mostrou perspicaz e implacável contra seus inimigos, ela também se mostrou cega, pois enquanto combatia hereges, bruxas e infiéis, não percebeu o descontentamento dos futuros reformadores crescendo em suas entranhas. Talvez por acreditar que estivesse no fim da história, não considerou importante atentar para àqueles que seriam ou prometiam ser o futuro. Com efeito, nota-se que a Igreja foi para muito além do que podia controlar. Sua ambição de comandar os reinos terrenos a fez perder o monopólio sobre o além, pois com a Reforma, os Protestantes o trouxeram para este mundo, quebrando a hierarquia Católica entre a Terra e o Paraíso, e entre os Homens e Deus; a escuridão do fim do mundo havia chegado, ao menos para a supremacia espiritual da Igreja Romana. Porém, isso não contribuiu significativamente para acalmar as almas dos homens, pois doravante eles tinham dois Paraísos a pleitear e dois Infernos a temer.

REFERÊNCIAS E OBRAS CONSULTADAS

BASCHET, Jérôme. A civilização Feudal: do ano 1000 à colonização da América. São Paulo: Globo, 2006.
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300-1800, uma cidade sitiada. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.
DELUMEAU, Jean. O pecado e o medo: a culpabilização no ocidente (séculos 13-18). Bauru, SP. EDUSC, 2003.
DELUMEAU, Jean. O que sobrou do paraíso? São Paulo: Cia. das Letras, 2003.
FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico. 13.ed. Porto Alegre: [s.ed.], 2005.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média: conversas com Jean-Luc Pouthier. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

*Arlison Jorge de Souza Leite é acadêmico do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Seu trabalho se refere ao período Medieval, com ênfase no papel da Igreja Católica na construção ou reconstrução dos medos humanos, seja moldando as figuras de Deus e do Diabo ou propagando suas imagens do Inferno e do Paraíso, assim como suas representações do imaginário Medieval.








CRÉDITO DA IMAGEM:
lamortdanslart.com

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Apontamentos breves sobre a representação simbólica do Diabo na literatura medieval

No presente artigo o autor buscou apresentar as formas como o Diabo era representado na literatura medieval, buscando as origens das apropriações simbólicas nas mitologias grega e celta e tendo como base o Elucidarium, livro sobre crenças cristãs populares escrito no final do século XI por Honorius Augustodunensis.

RESUMO
Vinicius Maciel Braga*

O objetivo desse artigo é apontar as principais formas de representação simbólica do diabo na literatura medieval, partindo da sua concepção extraída das mitologias grega e celta e analisando com veemência o uso de sua imagem como um símbolo da tentação mundana, da rebeldia e do conhecimento considerado “profano” pela Igreja.
Será apontada também a relação entre a figura de Satanás e o Elucidarium de Honorius Augustodunensis, livro este considerado essencial para alcançar o entendimento da mentalidade do homem medieval. A verdadeira intenção deste trabalho é mostrar a simbologia do demônio além da imagem convencional da criatura monstruosa representada com bastante frequência.

Palavras-chave: História Medieval; diabo; representação simbólica; literatura medieval

INTRODUÇÃO
O artigo tem como principal intenção apontar as principais formas de representação do Diabo na literatura produzida durante a Idade Média. Tais modos de simbolizar Satã possuem várias interpretações, e algumas serão mostradas aqui de maneira breve e de fácil entendimento. Iniciaremos a discussão mostrando as duas maneiras como o Diabo é representado e os efeitos que tais formatos de representação tinham sob o povo do medievo.
A apropriação de símbolos pagãos para compor o processo de caracterização do Diabo unida à atribuição de características animais e humanas está inteiramente ligada aos significados propostos pelo maniqueísmo cristão, onde Deus e Satã disputam entre si o poder pelo mundo. Cada atributo que compõe o corpo do Diabo relaciona-se com antigas simbolizações de poder e malevolência, centralizadas em uma única entidade.
O fascínio pelos mistérios que cercam a própria figura de Satã motivou a existência desse artigo. O medo inerente no qual o homem da Idade Média estava inserido, unido ao sentimento de observação constante que as pessoas sentiam para com as entidades da Cristandade, fazia com que todos se concentrassem em uma rédea criada pela religião e usada como forma de expiação caso alguém pecasse ou desobedecesse a vontade divina.
As “artes proibidas”, forma como eram referidas atividades artesanais relacionadas à fabricação de armas e armaduras, são creditadas como um conjunto de ensinamento dos anjos caídos, asseclas de Satã, aos homens. A obra que será usada como referência é o Elucidarium de Honorius Augustodunensis, onde é mostrada a forma como a Cristandade refere-se ao Diabo e aos demônios como entidades dispostas a tentar contra a humanidade.
Por fim, mostraremos exemplos de representações ambíguas do Diabo, tanto como tentador e astuto, como também um ser aterrorizante disposto a perseguir pessoas sob diversas formas repugnantes e usando dos mais variados artifícios para torturar, manipular e enganar as pessoas mais ingênuas, ou até mesmo persuadir aqueles que nada sentiam-se agradados com a fé cristã.

APONTAMENTOS BREVES SOBRE A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA DO DIABO NA LITERATURA MEDIEVAL

O Diabo representado no Codex Gigas, manuscrito medieval escrito no início do século XIII na Boêmia, na atual República Checa.

É sempre válido ressaltar o papel ambíguo que o Diabo detinha como uma entidade sedutora, que atraía os seres humanos para o caminho do pecado, assim como um ser perseguidor, motivo de uma enorme angústia entre os homens medievais. Jacques Le Goff aponta o maniqueísmo como o principal fator motivador para o medo que a população nutria por Satã, visto que “o maniqueísmo professava a crença em dois deuses, um do bem e outro do mal, criador e senhor deste mundo.” 1
A partir do momento em que se discute acerca do simbolismo por trás da figura de Satã, é impossível não falar sobre sua representação física. Observando com atenção, percebe-se uma grande influência das mitologias grega e celta, associando às figuras respectivas dos deuses Pã e Cernunno. Torna-se nítida tal associação a partir da atribuição dos chifres e das patas de bode, assim como a apropriação de valores pagãos em comum ao demoníaco. No entanto, é preciso compreender o significado de cada componente da imagem satânica.
A caracterização repugnante atribuída ao Diabo, como um ser dotado de características antropozoomórficas, é repleta de simbolismos relacionados ao poder que Satã detinha. Os chifres (primeira característica que lhe foi atribuída) simbolizavam a antiga conotação de poder, assim como as asas de morcego e os cabelos eriçados referiam-se, respectivamente, às cavernas e chamas do Inferno. Outra conotação relacionada aos fios capilares refere-se à forma como alguns guerreiros bárbaros intimidavam seus inimigos.2
Baseando-se nessas informações, pode-se constatar a verdadeira necessidade da ligação entre a caracterização física e o simbolismo existente na figura do Diabo como uma maneira de retratar um ser tão poderoso quanto o Bom Deus, uma entidade que também detinha o controle sobre as ações da humanidade, exclusivamente os atos maus. Sobre isso, Le Goff afirma que “o grande erro do maniqueísmo era pôr Deus e Satã em pé de igualdade”. Essa grande cisão será amplamente difundida através dos escritos e da arte no geral.
A hagiografia foi um fator importante para a difusão da representação do Diabo tanto como um ser tentador, como também uma figura aterrorizante e perseguidora. Santo Antônio é tido como a vítima mais conhecida das intervenções satânicas, como é mostrada na sua biografia escrita por Atanásio. Em tais escritos, pode-se observar o papel de Satã como um agente das forças malignas e dos hábitos mundanos, sendo assim um constante inimigo dos santos durante suas jornadas litúrgicas.
A síntese dos relatos de aparições do Diabo aos santos se encontra na Legenda Aurea, o conhecido conjunto de hagiografias, assim como narrativas de andarilhos que se sentiam atraídos por uma jovem e bonita mulher durante suas peregrinações, assim como Satã também poderia assumir a forma de outro peregrino que estivesse disposto a oferecer algo de maior valor aos mais ingênuos. Embasando-se em tal afirmativa, podemos constatar a relação entre o Diabo e os locais considerados inóspitos (desertos, vales, florestas, etc).
A figura do Diabo como representante do conhecimento oculto e desconhecido pelo homem torna-se evidente no Elucidarium de Honorius Augustodunensis, referido pelo autor como Sathael. Partindo da ideia de que Sathael seria o primeiro anjo caído, pode-se concluir que o mesmo seria o princípio do ímpio e do vicioso, e seus lacaios seriam os responsáveis por corromper as mulheres humanas além de ensinar a sua prole as chamadas “artes proibidas”, como a confecção de espadas e armaduras.3
Sobre Satã e seus asseclas é escrita toda uma literatura que trata desde sobre os seus poderes sobrenaturais, a hierarquia infernal e até mesmo sobre a geografia do Inferno.4 A poesia se mostrara uma força motriz quanto a representação do anjo caído, fato que exercerá uma enorme influência sobre o poeta inglês John Milton na criação de “O Paraíso Perdido”, durante o século XVII. Quanto a demonologia desenvolvida durante a Idade Média, foi uma das grandes responsáveis pela inquietação do homem medieval.
Considerando o Elucidarium como um instrumento de catequização em um período onde o Diabo residia no inconsciente coletivo, não é necessário dizer que o livro possui trechos explicando a forma como Satã e os demônios perturbam os cristãos. Um grande exemplo dessa explicação é o diálogo entre o Mestre e seu Discípulo, onde o primeiro explica a queda do Diabo e, consequentemente, a origem do mal. É evidenciada por Honorius também a companhia constante dos demônios em conjunto aos homens e aos anjos, observando os vícios humanos e as impurezas por eles cometidas.
Como última observação, vale ressaltar a importância do maniqueísmo para que o medo que as pessoas nutriam pelo Diabo dominasse o inconsciente coletivo do medievo, e a literatura, sendo um massivo instrumento de difusão, contribuiu para que a figura misteriosa do poderoso personagem se transformasse em um símbolo do mal e da rebeldia, a representação da tentação e do ímpio.

NOTAS:

1 LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval / Jacques Le Goff ; tradução José Rivair de Macedo. – Bauru, SP : Edusc, 2005, p. 154
2 RUSSELL, Jeffrey Burton. Lucifer: el diablo em la Edad Media / Jeffrey Burton Russell ; traducción Rufo G. Salcedo. – Barcelona, Espanha : Editorial Laertes, 1984, p. 238
3 I Enoch 8 : 1; “Azazel ensinou aos homens a confecção de espadas, facas, escudos e armaduras, abrindo seus olhos para os metais e as maneiras de trabalhá-los. Vieram depois os braceletes, os adornos diversos o uso de cosméticos, o embelezamento das pálpebras, toda sorte de pedras preciosas e artes de tintas.” In: TRICCA, Maria Helena de Oliveira Tricca. Apócrifos III – Os proscritos da Bíblia. São Paulo: Mercuryo, 1996. P. 210
4 CARVALHO, João Rafael Chió Serra. Honorius Augustodunensis e o Elucidarium. Um estudo sobre a reforma, o diabo e o fim dos tempos entre o fim do século XI e o começo do XII./ João Rafael Chió Serra Carvalho ; Orientador: Professor Doutor Carlos Roberto Figueiredo Nogueira- Dissertação (Mestrado) – Faculdade de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval / Jacques Le Goff; tradução José Rivair de Macedo. – Bauru, SP : Edusc, 2005.
RUSSELL, Jeffrey Burton. Lucifer: el diablo em la Edad Media / Jeffrey Burton Russell; traducción Rufo G. Salcedo. – Barcelona, Espanha : Editorial Laertes, 1984.
CARVALHO, João Rafael Chió Serra. Honorius Augustodunensis e o Elucidarium. Um estudo sobre a reforma, o diabo e o fim dos tempos entre o fim do século XI e o começo do XII./ João Rafael Chió Serra Carvalho ; Orientador: Professor Doutor Carlos Roberto Figueiredo Nogueira- Dissertação (Mestrado) – Faculdade de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

*Vinicius Maciel Braga, 18, é graduando do 4° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Sua área de interesse é História Medieval, com ênfase no desenvolvimento do Oculto e nas relações entre o sagrado e o profano.








CRÉDITO DA IMAGEM:
commons.wikimedia.org

domingo, 3 de dezembro de 2017

O Corpo na Idade Média

Continuando as postagens sobre história social e história cultural da Idade Média, hoje temos um artigo em que são abordadas questões referentes ao corpo humano, sobre sua construção durante o período medieval e as diferentes concepções de mundo que nortearam os sentidos da matéria humana: a sacralidade, a degradação, a sexualidade, a doença, o trabalho e a estética.


O CORPO NA IDADE MÉDIA

Roberval Nascimento da Silva Júnior*

RESUMO
O artigo aqui apresentado é uma reflexão que procura discutir sobre a história do corpo, especialmente na Idade Média, com a intenção de refletir sobre a história do corpo, suas dimensões variadas que concorriam na existência humana e os variados sentidos provenientes das tensões causadas na concorrência. Por meio da bibliografia produzida dentro da temática medieval, este trabalho procurou trazer dados e discussões sobre como foi construída a imagem do corpo humano na Idade Média.
Palavras-chave: Corpo na Idade Média, história do corpo, Sociedade medieval, representações do corpo.

1. INTRODUÇÃO
Liber divinorum operum, iluminura 2, folio 9: O espírito e o mundo (detalhe), século XIII.

A Idade Média tem em sua forma complexa de cosmovisão um caráter altamente simbólico de composição dos sentidos. Isso se deve principalmente ao deslocar radical da esfera de experiência do mundo físico para um mundo metafísico, pois a noção de tempo linear determina isso ao pôr como finalidade da existência e da própria história da humanidade a volta de Cristo, a reencarnação, o subir aos céus, por fim, a salvação eterna (salvar-se de que, senão da finitude da vida mortal e cotidiana enfrentada na terra?). Nessa cosmovisão então se encontra presente e com força motora de sentidos a religião do Cristianismo, sendo importantes combustível dessas movimentações os debates teológicos empreendidos no período. À proposição anterior salvaguardo, cautelosamente, que as análises das fontes empreendidas até o momento sobre o caráter cosmovisionário demonstram que a percepção medieval do sobrenatural e do natural não oferece fronteiras tão delimitadas e chegam a compor, concomitantemente, uma realidade observável e cotidiana formada das duas.

Esse matiz simbólico composto pela Idade Média cujo os estudos históricos-antropológicos buscam propor é, em nível de experiência, significadora de uma realidade sensível, física, de experiência imediata com as coisas materiais, que, como no caso do corpo, teria uma imanência configurada no pensamento religioso e comporia uma polissemia da percepção e da experiência com essas coisas materiais.
O corpo, então, é visto como depositário de diversos sentidos sobre uma matéria dócil, cujo a representação se movimenta com as vicissitudes do vivido e que tem, também, uma dimensão simbólica que movimenta seu sentido num frenesi de proposições como a sacralidade do corpo, sua degradação, sexualidade, as doenças, o trabalho, uma estética reprimida, onde o corpo é lugar de pecado e salvação, ao mesmo tempo. É dos componentes dessa polissemia em torno do corpo, na sua relação contextual-histórica medieval, que destino a reflexão neste presente artigo.

2. A CARNE

O corpo humano é substância dotada, além de sua materialidade, de alma e espírito, segundo a tradição cristã. O historiador que se debruça sobre a reflexão desse objeto de estudo na temporalidade medieval deve estar alerta quanto a própria linguagem: apesar de ser possível entrever uma matriz da sociedade Ocidental contemporânea na história da Idade Média, os conceitos utilizados, apesar de guardarem semelhança ou exatidão quanto a sua forma, a palavra, seu significado encontra-se na dimensão da experiência histórica e da significação humana dada no transcorrer desse tempo que é histórico, se transformando nesse processo. Schmitt (2014) expõe bem esse paradigma do pesquisador: “Se o antropólogo é imediatamente confrontado a sistemas de classificação e a um vocabulário radicalmente diferentes daqueles com os quais está familiarizado, o historiador dos períodos antigos da cultura ocidental deve prestar atenção para não considerar como evidente uma terminologia que ele parece reconhecer, mas cujos valores semânticos puderam, ao longos dos séculos, mudar mais rápido do que a forma.”. (p. 305)
A cristandade medieval representa a pessoa dotada de um corpo perecível e sua existência está em dívida com a força de criação divina. Em coabitação ao corpo está a alma, que é também devedora da criação divina, mas não encontra o valor da perecidade em si – é imortal.
A idade Média é marcada pela criação de dualidades, como a do corpo e da alma, componentes do ser humano, mas também de categorias como carne e espírito, que se configuram como moralizantes e determinam condutas boas ou ruins.
A Igreja cristã em seus primórdios (cristianismo primitivo) preconiza a metáfora de um corpo glorioso da pessoa de Cristo que carrega o símbolo da permanência do Verbo da criação entre nós. A carreira do corpo de Cristo é então projetada para o corpo de cada cristão – nascer, morrer e ressuscitar em grande glória. O pecado não deprime esse corpo-templo redimido por Cristo.
Porém, cedo se faz a relação entre potência carnal1 e pecado. Schmitt (2014) fala sobre o elo estabelecido: “Ele coloca, de um lado, que a mácula do pecado original, a falta dos primeiros pais, transmite-se pela geração humana e, por outro, que o corpo, em suas emoções (a “concupiscência”, a “tentação da carne”), é o lugar e o instrumento por excelência do pecado.” (p.306)
Esse elo estabelecido entre carne e pecado tem profundas marcas na cultura medieval do corpo e cria sobre ele um paradigma de desqualificação e repressão. A seguinte afirmação, em resumo, pode ser feita: o corpo dá lugar às trevas do pecado, do pesar e do castigo. O corpo passa a ser um peso. São Gregório Magno qualificará o corpo de abominável vestimenta da alma. (LE GOFF; TRUONG, 2006, p.11).

3. O TRABALHO NA IDADE MÉDIA

A noção de trabalho da Idade Média não escapa desses valores dualistas que se manifestam, estabelecendo um “lugar reservado ao trabalho manual, sucessivamente, alternativamente e por vezes simultaneamente desprezado e valorizado.” (LE GOFF; TRUONG, 2006, p.64)
Os ofícios na idade Média, então, estão submersos nesses movimentos de valorização e desvalorização, entre um trabalho dignificante, a obra criadora do trabalho divino, e o labor, como forma de castigo dado para a humanidade a partir de Adão: “No suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gênesis 3:19).
A mulher carrega um peso ainda maior, pois está destinada a ela o trabalho do parto, como diz as Escrituras: Para a mulher sentenciou o SENHOR: “Multiplicarei grandemente o teu sofrimento na gravidez; em meio à agonia darás à luz filhos” (Gênesis 3:16)
Uma influência do mundo greco-romano é a divisão entre o trabalho manual e o ócio, o primeiro é escarnecido e o segundo é louvável. Tal modelo parece se repetir de um lado no modo de vida monástico e na crença medieval de que o trabalho que suja as mãos é de natureza não-nobre e era mal visto perante as camadas de elite da sociedade medieval.
Entre as profissões, algumas foram condenáveis em sua prática e por detrás dessas condenações estão tabus que remontam às sociedades primitivas. Temos o tabu do sangue, da impureza, do dinheiro. (LE GOFF,1979)
A prática da prostituição, que consiste no uso do corpo como mercadoria sexual, é uma profissão que reúne vários desses aspectos condenáveis na sociedade medieval. Em contrapartida, como nos conta Jeffrey Richards (1993) no seu livro sobre minorias, a prostituição era uma prática comum na Europa medieval e existiam poucas cidades que não contavam com um prostíbulo, ou “boa casa”. (p.121)
Enquadro a prostituição neste subtítulo cuja a temática é trabalho baseado nos vestígios que demonstram a essencialidade da prática para o controle social e das tentativas de organizar esse trabalho e pela existência de hierarquias administrativas-organizacionais dentro do ofício.
Tal necessidade de controle social e a relação aparentemente contraditória de uma sociedade profundamente pudica, moralista quanto ao corpo e ao comportamento, e uma prática onde se utiliza do corpo para o sexo em troca de algum benefício, permite entrever atritos entre os intentos de controle moral religioso e os costumes sociais correntes na europa medieval. Era tolerável socialmente que os jovens e solteiros pudessem frequentar das “boas casas”, pois era um meio de afirmar a masculinidade numa sociedade que reprime a homossexualidade, bem como aliviar as necessidades sexuais masculinas, num ganho de controle dos casos de estupros de não-prostitutas e filhas de famílias respeitáveis. Haviam muitos casos de estupro por parte da clientela na prostituição.

4. FOLIA E PENITÊNCIA: BALANÇA MORAL DO MEDIEVO

A vida cotidiana na Idade Média vê sua dinâmica articulada entre “Quaresma e Carnaval”, remetendo ao famoso quadro de Bruegel de título “O Combate do Carnaval e da Quaresma”. São os representantes de dois extremos, resumidos pela falta e pelo excesso.
Foi a Igreja que iniciou a normatização dos atos sexuais alheios, buscando enquadrar nas regras os momentos, os tipos de parceiro e em que lugares as pessoas poderiam praticar seu sexo.
O corpo em sua dimensão sexual na Idade Média é majoritariamente desvalorizado, as pulsões e o desejo carnal, amplamente reprimidos. O casamento cristão, que aparece, não sem dificuldade, no século XIII, será uma tentativa de remediar a concupiscência. Só tolerável e compreensível a relação sexual com a única finalidade de procriar. A profilaxia frente a um corpo que tem em sua carne as fraquezas das paixões é justamente dominá-las e reprimi-las. Qualquer método contraceptivo era mal visto pelos clérigos pois se caracterizaria como um ataque à natureza criada pelo divino por desejo de prazer.
Para cada forma de pensamento e intenções, principalmente de cunho moralizante, é preciso que uma elaboração de terminologias seja empreendida de forma que sejam determinantes no seu universo de significação, quase como se santificadas na linguagem, como explícito na citação: “caro (a carne), luxuria (a luxúria), fornicatio (a fornicação), forjam o vocabulário cristão da ideologia anticorporal.” (LE GOFF; TRUONG, 2006, p.42)
Santo Anselmo, arcebispo da Cantuária (1033-1109) escreve em uma de suas orações:
Existe um mal, um mal acima de todos os males, que tenho consciência de que está sempre comigo, que dolorosa e penosamente dilacera e aflige minha alma. Esteve comigo desde o berço, cresceu comigo na infância, na adolescência, na minha juventude e sempre permaneceu comigo, e não me abandona mesmo agora que meus membros estão fraquejando por causa da minha velhice. Este mal é o desejo sexual, o deleite carnal, a tempestade de luxúria que esmagou e demoliu minha alma infeliz, sugando dela toda a sua força e deixando-a fraca e vazia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SCHMITT, Jean-Claude. O corpo, os ritos, os sonhos, o tempo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na idade média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed.,1993.
LE GOFF, Jacques. TRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na idade média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
LE GOFF, J. O homem medieval. Lisboa: Editorial Presença, 1989.
LE GOFF, J. A civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1995. v. 2. [original: 1964].
NOTAS:
1 Aqui entende-se como a força de desejo, ligada à carne, que leva ao ato.


*Roberval Nascimento da Silva Júnior, 20, é acadêmico do 4° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Suas áreas de interesse acadêmico são a Antropologia e a Teoria da História, com ênfase na relação entre História e Memória nas obras de Paul Ricoeur e Alessandro Portelli.




















CRÉDITO DA IMAGEM:

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sábado, 2 de dezembro de 2017

Cristianismo e heresias: O nascimento de uma nova fé à luz do Império Romano no século II. O contexto pagão e suas influências para as apologias cristãs

Hoje estarei dando início a uma série de postagens sobre história social e história cultural da Idade Média, a partir de artigos produzidos pelos alunos do 4° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), da disciplina História Medieval II, ministrada pelo professor Me. Tiago José Cavalcanti Atroch e da qual fui Monitor esse ano.

CRISTIANISMO E HERESIAS: O NASCIMENTO DE UMA NOVA FÉ À LUZ DO IMPÉRIO ROMANO NO SÉCULO II. O CONTEXTO PAGÃO E SUAS INFLUÊNCIAS PARA AS APOLOGIAS CRISTÃS

Inara Kezia Gama Araújo¹

RESUMO
A ênfase do artigo é apresentar o impacto do cristianismo no império romano no século II d.C. Sua proliferação interferiu na política, cultura e religião. Os cristãos não adoravam os deuses pagãos, e com isso os seguidores acreditavam que se alguma desgraça ao povo acontecesse, era imediato culpar os cristãos por não cultuar os deuses. Do século II a III d.C, o crescimento do cristianismo não podia ser mais controlado, e isso chamou atenção dos romanos. As escrituras apologéticas cristãs mostravam sua racionalização da fé cristã, sua moral e argumentos filosóficos. Afinal, a multicultural de Alexandria é o princípio de vários povos vivendo em uma cidade de tamanha exuberância de filosofia, arte, cultura, linguagem, religião e costumes. Os apologistas cristãos tinham admiração pela erudição grega, e em suas escritas, harmonizam o cristianismo para com os gregos. O imperador romano Constantino oficializou o cristianismo como a verdadeira religião, assim, abolindo o paganismo. Apesar disso, é difícil acreditar nessa abolição. Suas influências são visíveis, tanto pelo contexto, como na construção de sua identidade cultural.
Palavras-chave: cristianismo primitivo, apologias, heresias, paganismo, doutrina, identidade cultural.

1 INTRODUÇÃO

Fílon de Alexandria (circa 20 a.C. - 50 d.C.), filósofo judeu-helenista. Gravura presente na obra "Les vrais pourtraits et vies des hommes illustres grecz, latins et payens" (1584), de André Thevet.

O resgate do contexto da antiguidade tem o objetivo de enfatizar a forma como o cristianismo foi se expandindo e ganhando seguidores. Apesar muitos terem abandonado suas antigas crenças, o cenário de templos, exaltação ao ser Divino e sua imagem, é fruto da identidade pagã. Como é possível se converte e deixar de seguir tudo que fez parte da construção da identidade social, político, econômico e social?
Segundo Werner Jaeger, a civilização grega exerceu uma profunda influência sobre a mentalidade cristã. A filosofia grega tem suas influências nas doutrinas cristãs. O novo testamento é o início do cristianismo primitivo, tem suas raízes na Paideia Grega e é onde se encontra uma postura ética e moral. Clemente de Alexandria e Orígenes de Alexandria são os primeiros escritores cristãos, e eles fizeram parte da educação grega.
A influência pagã no cristianismo, tem uma relação mítica. É notável, como os cristãos eram obedientes ao seu Deus e acreditavam na ressurreição de cristo. Não é diferente a dos pagãos. Se tratando de mito, o paganismo é recheado de mitologias na qual, todos os deuses, tinham seus aspectos, seja ela na guerra, na colheita, na prosperidade, na fertilidade, na sabedoria e etc. O mito serve para exaltar seu Deus, seus deuses. Afinal, Mitologia e religião têm suas diferenças.
E claro, como a proposta do artigo é mostrar a fundação do cristianismo, é impossível esquecer-se dos judeus. Logo no início, o cristianismo se difundiu nas cidades helênicas entre os judeus da Diáspora, sendo assim, vista como uma seita no judaísmo. O Judaísmo se tornou subitamente conhecido, e tem uma relação com a educação grega, onde Fílon de Alexandria adaptou-se com a filosofia grega.
A diversificação de religiões (egípcia, grega, romana e judia) é um dos assuntos que busco explicar por meio da nova religião nascida no império romano. É um assunto complexo, contudo, procurei especificar suas características que o contexto apresenta.
Os conflitos religiosos após a oficialização do cristianismo, é importante para melhor compreensão de como eles fazem parte do nosso cotidiano e a construção do imaginário. Sendo assim, cabe a nós reconhecer de como a antiguidade nos proporciona tamanha atração com seus legados e construção histórica. Minha intenção de buscar o cristianismo primitivo, foi para melhor enriquecimento e entendimento de como os pagãos são tratados com mais fervor como hereges na idade média, já em um período na qual é o ápice do cristianismo, formada como uma doutrina e a igreja católica sendo a elite.

2 OS APOLOGISTAS: A ERUDIÇÃO GREGA NA CONSTRUÇÃO DO CRISTIANISMO

Alexandria, por seu notório esplendor cultural e filosófico, tem como os primeiros apologistas cristão, Clemente e Orígenes. Grandes admiradores da erudição grega aproveitaram da Paideia grega pra desenvolver a nova crença. Tornaram-se os principais fundadores da filosofia cristã. Ambos nasceram na metade do século II. A inclusão do cristianismo no ambiente helênico era para fortalecer seu crescimento e assim sendo, adaptar-se a cultura grega para desenvolver suas apologias e o discurso teológico-cristão.
Os apologistas do século II tem um nível de intelectualidade, por isso, precisavam fazer do cristianismo, uma filosofia apropriada para com a cultura de Alexandria.
A intenção de Clemente era a “conversão” dos helenos, porém, sabia que para tal iniciativa, teria que traduzir a linguagem cristã. Assim, as apologias cristãs são herdadas da filosofia helênica, como diz Joana Clímaco:
Clemente, ele próprio um grego converso, vivenciou a atmosfera da Segunda sofistica; era um grande admirador da cultura e tradição filosófica dos helenos, apesar de repudiar o politeísmo e suas práticas. Fazia uso da Paideia grega para justificar racionalmente a sua fé e exortar os gregos à conversão. Nesse sentido, empregava sua erudição e sua capacidade retórica com o intuito apologético, pois acreditava que só por intermédio da razão se conheceria a verdadeira essência de deus. Dessa forma, conciliava sua fé cristã com uma curiosidade pelo universal, comparando textos de tradições diversas. Seu ponto de partida foram as escrituras judaicas, que transformaram em objeto de teologia, associando a fé e razão. (Alexandria Greco-romana: hibridismo cultural do contexto a fundação ao cristianismo, p. 81-82).
O neoplatonismo, uma escola filosófica, na qual Orígenes de Alexandria fez parte, é uma escola pagã. Uma escola que se organiza a partir de Plotiano. O filósofo estimulava praticas ascéticas como importante aspecto de vida do filósofo, com o intuito de fazer as pessoas caminhem em uma vida contemplativa separada de preocupações corpóreas e terrenas. Seguindo isso, a semelhança entre o cristianismo e o neoplatonismo, onde o individuo acreditava na alma personifica e liberta para alcançar a salvação. Porém, apesar das tendências espiritualistas e místicas do neoplatonismo, o comprometimento com a argumentação filosófica, o distingue da percepção cristã. Mas, ambas são formadas no cenário intelectual de Alexandria.
Fílon de Alexandria é do século I d.C conseguiu conciliar a fé judaica com a educação helenizada. Conquistou a cidadania alexandrina e incluído em suas esferas administrativas, um caso raro entre os outros judeus da cidade. Podemos considerar Fílon o primeiro filósofo judeu, sua utilização da filosofia grega, apesar de suas crenças judaicas, pode se dizer que foi um meio de participar do processo de interação da linguagem grega. Influenciou apologistas cristãos e pensadores judeus posteriores, filósofos islâmicos, dando origem ao neoplatonismo medieval. Joana Clímaco diz o seguinte:
A familiaridade de Fílon com a filosofia grega fora talvez uma consequência de proximidade entre a intelectualidade judaica de Alexandria e as escolas filosóficas gregas difundidas até então (orfismo, estoicismo, ceticismo, pitagorismo e platonismo), muitas das quais foram revitalizadas no ambiente eclético da cidade. Sua filosofia judaico-helenística também se somou ao sincretismo resultante do contato da filosofia grega com as religiões orientais. Ao conciliar escrituras bíblicas com a filosofia grega, as obras de Fílon foram fundamentais para a expansão da cultura clássica do mundo romano, para a interpretação bíblica desenvolvida pelos Padres da Igreja e formação da teologia cristã e para a difusão do neoplatonismo nos séculos seguintes, que teve Alexandria como um de seus centros mais expressivos. Nesse sentido, a metrópole ainda facilitava o encontro de mundos através de seus núcleos intelectuais. (Alexandria Greco-romana: hibridismo cultural do contexto de fundação ao cristianismo, p. 79)

3 MITOLOGIA E RELIGIÃO: A NARRATIVA GLORIOSA DE SEUS DEUSES, ASSOCIADA À FIGURA DO HOMEM PARA SUA EXALTAÇÃO DIVINA

Como de costume de antigas civilizações politeístas, seus deuses são sempre associados com os acontecimentos da humanidade. Seus feitos são eternizados em templos, esculturas, rituais e o mais digno dentro dessas características, é sua relação com a imagem do rei. Quando se trata de prosperidade do reino, o estabelecimento da ordem cósmica é o primordial para a segurança do povo e é claro, do rei. Grandes faraós egípcios, helênicos, ptolomeus e romanos, têm suas características semelhantes à do Egito faraônico.
O faraó (casa grande) era o principal da escala social. Rei, sacerdote, chefe militar, senhor dos exércitos, filho e protegido de tais deuses, era uma figura exaltada, repeitada e temível. Gregos, macedônios e romanos, são incluídos nesses aspectos. Ora, quem que quisesse se tornar o faraó, não queria ser glorificado? Foi assim que Alexandre, o Grande, em 332 a.C. quando ele derrotou os persas no segundo domínio no Egito, foi recebido como o salvador, e se tornou o faraó, sendo conhecido como o filho de Zeus-Amon. Otaviano (futuramente Imperador Augusto), após sua batalha de Àcio em 31 a.C, derrotando Marco Antônio e se tornando o Senhor do Egito, se tornou faraó e governou o Egito como seu domínio pessoal. No Egito Romano, o período faraônico “perde seu esplendor”, mas a sua identidade é mantida, principalmente na imagem do imperador.
Augusto transformou o Egito como província imperial, governada por um prefeito de ordem equestre, designado diretamente pelo imperador. O prefeito era a autoridade máxima local: comandante do exército, chefe da administração civil e das finanças e magistrado.
Os cultos aos deuses, é uma das tradições pagãs, na qual, determinado deus(a) tem sua personificação e narrado a sua história, cuja sua ênfase é retratar o seu significado e sua grandiosidade para que seu nome seja um feito místico escrito, narrativo e eternizado.
Qual a relação dos cultos pagãos para os cultos cristãos? Um dos mais famosos mitos egípcios é de Isis e Osíris. O episódio conta o assassinato de Osíris e a busca de Isis pelos pedaços de Osíris espalhados pelas margens do rio Nilo. No ritual, a pessoa que queria iniciar-se, deveria se apresentar em publico como um deus e chamava a ele mesmo de renascido. Assim, para com os cristãos. Quando Jesus foi crucificado, morto e sepultado, e no terceiro dia ressuscitou. Quando eles eram batizados, acreditavam que estavam renascendo. Suas semelhanças, é clara nas suas crenças e que seus Deuses e Deus voltaram a viver após a morte.
Essas crenças é anterior a época cristã, sendo assim, é visível que a religião pagã tem participações nas crenças cristãs. Faço observações de traços semelhantes nas partes da oração do Credo: “Creio no espírito Santo” “Na ressurreição da carne, na vida eterna “, é explícito como suas crenças é comparável aos dos pagãos, eram obedientes aos seus Deuses e mostravam isso através de cultos e rituais, na qual suas praticas são para agradecer e retribuir o que suas proteções, prosperidade e também em aspectos mais pessoais, são atendidos através de sua divindade.
Seja no politeísmo ou monoteísmo, suas semelhanças são em questão da função do divino eterno, como seu feito histórico faz parte de suas vidas e de que a gratidão, respeito e benevolência são executados através de seus cultos e rituais.
Minha intenção não é misturar as crenças religiosas, e sim, deixar notório como cada uma tem sua semelhança e de como podemos compreender a essência do poder divino em nossas vidas, como esses seres fizeram e ainda fazem parte da nossa identidade cultural. Atribuir as comparações, é enfatizar de como mitologia e religião, por mais que muitas vezes possamos juntá-las em um único corpo, é possível e correto separá-las para melhor conhecimento de que mito é uma história recheada de feitos históricos, cujo determinado Deus ou Deus tem seu legado construído e sua função para a vida de seus seguidores e religião é uma instituição formada que parte do poder da crença e tem seu princípio sobrenatural e tem sistemas de doutrina.

4 HERESIAS: O SEU IMPACTO NA DOUTRINA CRISTÃ E SEU CRESCIMENTO PARTINDO DA ANTIGUIDADE AO CONTEXTO DA IDADE MÉDIA

De origem grega, hairesis, significa “escolha, preferência pessoal”, porém certas vezes a versão portuguesa traduz como “seita”. Por isso, procurei contextualizá-la com o seu impacto perante os cristãos e de que como os hereges têm sua resistência até na Idade Média, onde a igreja católica apostólica romana exerce seu poder e sua poderosa elite.
No século IV d.C, o imperador romano Constantino(306-337), até então pagão, se batizou e oficializou a verdadeira religião: cristianismo. A partir de então, o paganismo entra em decadência (prefiro usar essa palavra do que dizer que foi abolida ou teve seu fim), dando um ponta pé inicial para um fervoroso cenário de conflitos religiosos onde cristãos e pagãos são os protagonistas.
O fortalecimento da fé cristã, causou um profundo impacto de identidade cultural, nas estruturas política, militar, sacerdotal, administrativo, e econômico, como fala Márcia Vasques:
Esta nova estrutura política alterou completamente a estrutura antiga do poder egípcio e, embora o país, no geral, tenha se mantido próspero durante o período romano, o enfraquecimento da economia dos templos e o rígido controle sobre a classe sacerdotal, preparou o caminho para o colapso dos templos egípcios e abriu espaço, no século IV d.C, para uma nova religião que crescia rapidamente: o cristianismo. (Crenças funerárias e identidade cultural no Egito Romano: máscaras de múmia, p. 10-11)
Assim como o cristianismo no início foi considerado uma seita perante os judeus e que os próprios consideravam os cristãos como hereges, por não seguirem sua doutrina religiosa, agora consideram os pagãos como hereges, aqueles de uma falsa mediação cultural.
A igreja católica na idade média era uma organização totalitária. Doutrinal, hierarquizada, autoritários e rituais estabelecidos. Qualquer divergência em relação a essa organizada e abrangente estrutura, infligia à ordem temporal divinamente ordenada, portanto, não seria tolerado.
A heresia era, como definiu o bispo Roberto Grosseteste no século XIII “uma opinião escolhida pela percepção humana, contrária à Sagrada Escritura, publicamente admitida e obstinadamente defendida”. A heresia popular não parecia preocupar a igreja, a sociedade estática, defensiva contra-ataques vindos de forças exteriores e havia pouco tempo para a experiência religiosa ou para debate intelectual. Contudo, isso mudou com uma explosão de exercício que os eruditos nomearam de “o Renascimento do século XII”. Esse fervor religioso foi acompanhada de uma denominação que Brenda Bolton chama de “a reforma medieval”.
Ambos foram fundamentais para o favorecimento de concentração no indivíduo, e na religião, uma procura individual pela redenção e o desejo do cristão leigo comum por uma relação mais direta e pessoal com Deus.
A igreja também começou a reforma-se. O papado que foi salvo de uma decadência no final do século XI por uma sucessão de papas reformadores, tiveram a responsabilidade de ordenar a casa. Lançou uma campanha contra a simonia (a venda de indulgências), o controle leigo sobre bispados e benefícios, o casamento de clérigos e impudência do clero.
Essa reforma, fez com que o papado fosse uma instituição monárquica organizada, burocrática e legalista, com o clero transformando-se numa casa fechada e exclusiva. Uma escola de pensamento que encara toda heresia ocidental como essencialmente maniqueísta. As ações e opiniões dos hereges ocidentais era um evangelismo provocado pela reação ao mundismo percebido e á corrupção da Igreja. Defino segundo Jeffrey Richards:
[...] a busca por uma vida religiosa mais completa e satisfatória através da austeridade pessoal, da adesão ao evangelho e da pregação foi um tema central. Foi a recusa da Igreja de reconhecer plenamente essas aspirações e essas práticas que transformou seus adeptos em hereges. [...] A heresia medieval nasceu das condições e da psicologia da sociedade medieval. tratava-se de dissensão religiosa e, em sua parte, de dissensão religiosa popular.(Sexo, desvio e danação: as minorias na idade média, p. 55)

5 CONCLUSÃO

É nítida a influência do paganismo no cristianismo. Seja ela em apologias, cultos e rituais. A inclusão tem como concepção, observar a forma de que como as identidades são plurais e como é uma construção social e mostram-se moveis. Pagãos, judeus e cristãos fazem parte do mesmo contexto. O paganismo não teve seu fim, pelo contrário, apesar dos cristãos abolirem os cultos Deuses, sua identidade esta viva em cultos, templos, escrituras e a imagem do ser divino exaltado, mais eficaz dentro de uma doutrina

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

JAEGER, Wener. Cristianismo primitivo e a Paideia grega. Tradução: Daniel da Costa. Santo Andre, SP: Academia cristã, 2014.
KOESTER, Helmut. Introdução ao novo testamento. São Paulo: Paulus, 2005. v.2
CLÍMACO, Joana Campos. Alexandria Greco-romana: hibridismo cultural do contexto de fundação ao cristianismo./ Atravessando mundos: ensaios sobre a imaginação medieval./ Sínval Carlos Mello Gonçalves. Manaus: EDUA, 2015
VASQUES, Márcia Severina. Crenças funerárias e identidade cultural no Egito Romano: máscaras de múmia. São Paulo, 2005. v.1

RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na idade média. Tradução: Marco Antonio Esteves da Rocha e Renato Aguiar. Rio de janeiro: Jorge Zahard Ed, 1993.


¹ Inara Kezia Gama Araújo, 18, é acadêmica do 4° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Sua área de pesquisa é a História Antiga, com destaque para o Egito Antigo, com ênfase no resgate da importância da imagem do faraó em torno do sistema político-religioso. Trabalha a identidade cultural, crendo na importância de se esclarecer como o contexto multicultural faz parte da nossa identidade, abrangendo aspectos sociais, políticos, econômicos, linguísticos e religiosos.







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