domingo, 18 de outubro de 2015

Manaus nos anos 30 (II) - Final

Guia Turístico e Comercial da cidade de Manaus e seus arredores.

Segunda e última parte da postagem Manaus nos anos 30, com recortes do Coronel Roberto Mendonça. Na primeira parte, foram apresentadas informações sobre a educação, a saúde e a mobilidade urbana. Nessa segunda parte, serão apresentados alguns dados estatísticos, como o número de atendimentos dos hospitais da cidade, e fatos curiosos da época, como a contabilização, em 1936, de 21 suicídios:

A Inspetoria de Veículos oferecia o seguinte cadastro em 1936: automóveis de aluguel, 55; automóveis particulares, 58; caminhões, 71; bicicletas, 161; motocicletas, 4; carrinhos de bagagem, 42; carrinhos de frutas, 4; carroças, 22; carros de gelo, 6; animais de cangalhas, 115; cavalos de sela, 10 e 22 cavalos de corrida.

Outra evidência do início da década se constituía nos meios de comunicação escrita e falada, específico para o interior do Estado, na divulgação de informes de interesse governamental; e aquele, exercitado pela iniciativa privada constante de jornais e revistas e do Diário Oficial como órgão inerente aos atos e procedimentos do Poder Público, inclusive com edição aos domingos.

Em verdade, o veículo oficial se apresentava com dupla função: a de editar os atos oriundos do Poder Judiciário e de oferecer informações locais e nacionais, transcrição diversas de origem pública e privada, além dos programas de diversão. "Muito grato ficarei prezado amigo se numa das vagas do serviço sanitário ou da profilaxia ocorridas com a saída de Paulo Cerqueira fosse aproveitado o doutor Moraes Rego. Abraços. Efigênio” (nota: tratava-se de um telegrama do senador Efigênio Salles ao presidente Dorval Porto – Diário Oficial, 5 de outubro de 1930).

Outra interessante noticia reproduzia o bilhete seguinte: Rio de Janeiro, 12 de setembro (de 1930). "Meucaro Raimundo Moraes. Recambiado de Madri, onde não estou desde julho passado, recebi aqui o País das Pedras Verdes, que acabei ontem de ler. Como felicita-lo por mais essa obra-prima? V. é de fato um grande escritor e, além disso, um escritor inconfundível. Ex corde. Luís Guimarães.

Outro anúncio, esse de caráter mercantil exercido pelo próprio órgão: "Venda de hoje em diante (10.10.30) lindos álbuns do Brasil, ilustrados, encadernados, dourados a fogo. Próprios para fino presente a preço de Rs. 10$000 quanto cobramos por exemplar, chega ser irrisório. Pedimos ao publico para vir ver o famoso trabalho”.  Tratava-se, portanto, de uma originalidade que os tempos modernos não admitem mais o seu emprego, da mesma maneira, em noticiar os filmes que seriam oferecidos pelos cinemas Odeon, Politeama e Popular, sempre no horário noturno das 8h30, discriminando tanto o elenco como o número de partes de cada exibição.

Os convites naturais aos responsáveis de Na. Sa. de Nazaré em benefício da construção de uma capela, iniciativa de frei José de Leonissa, pároco de São Sebastião, "obreiro incansável da Fé e da Igreja”:“Ontem vieram a esta casa, a Sra. Emília de Castro Santa Cruz e senhorita Maria Cruz  Valdez, a convidar o nosso diretor para mordomo dos solenes festejos que a religião de Manaus promove em honra e benfazeja santa. Tais solenidades que constam de novenário e de quermesse em benefício  da capela de Nossa Senhora de Nazaré prometem revestir-se de desusado brilho”.

A comunidade manauara servia-se do horário oficial adotado pelo Governo, de conformidade com o decreto específico, que indicava o Relógio Municipal situado à Praça Osvaldo Cruz como seu informante, após os melhoramentos elaborados pela administração Araújo Lima, assim como a partir de 3 de outubro de 1931 a 31 de março de 1932, assumia-se a "hora da economia da luz" (versão antiga do Horário de Verão) em cumprimento ao Decreto n.º 20.466, do Ministro da Justiça.
 
Outros acontecimentos comunitários:
 
• as audiências públicas na Interventoria Federal eram realizadas nas segundas e últimas quartas-feiras das 10 às 12 horas e na primeira e terceira terça-feira, de todos os meses, das 20 às 22 horas, sendo proibida a audiência às senhoras no horário noturno. 

• no período de maio/dezembro de 1932, o Posto Lactométrico de Manaus aprovou para consumo os seguintes produtos: 839.470 litros de leite, 9.703 quilos de manteiga, 5.705 quilos de queijos e condenou 11.209 litros de leite pela sua má qualidade.

• o consumo de carne vermelha obtida do abate no Matadouro Municipal apresentou o seguinte resultado no ano: 15.384 bovinos com 2.418.700 quilos; 8.046 suínos com 387.500 quilos; 996 ovinos com 13.600 quilos e 89 caprinos com 750 quilos.

• embora sob promessa da realização da primeira viagem aérea para o dia 20 de outubro de 1933, ao Dr. Waldemar Pedrosa, Interventor interino, a Panair de Brasil somente realizou no dia 25, chegando de Belém às 16horas, cujo regresso ocorreu na manhã de 28 do referido mês.

• a iniciativa do jornalista Jorge de Andrade de solicitar ao funcionalismo estadual, voluntariamente, a doação de um dia de vencimento por mês, para auxiliar o Estado a cumprir seus compromissos externos, era um dos destaques do Diário Oficial do Estado, em virtude da adesão que "continuava a merecer o apoio de tão alevantada ideia".

• o trabalho benemérito da Cruzada Nacional da Educação sob a administração do Dr. André Vidal de Araújo, para cujo empreendimento a Associação Comercial contribuiu com 500 cartas de ABC, 500 tabuadas, 12 dúzias de lápis "Especial", 10 caixas de giz "Victória", 2 resmas de papel almaço "Victória"e 35 volumes de publicações diversas.

• Edezio de Freitas editava o primeiro Guia Turístico de Manaus, contendo inúmeras fotografias de edifícios e trechos de nossa urbe.

• a instalação da Sociedade dos Amigos das Árvores com o escopo primordial de incentivar o culto e proteção das árvores, concorrendo, também quanto possível, para evitar as devastações das nossas reservas florestais, já bastante desfalcadas pela imprevidência humana.
 
• algumas autoridades do início da década: Dr. Vicente Telles de Souza, diretor da Escola Normal; comandante Braz Aguiar da Marinha Nacional; Prof. Marciano Armond, prefeito de Manaus; Dr. Odilon Conrado, delegado Fiscal; Prof. Plácido Serrano, diretor de Instrução Pública; Dr. Jatyr Pucu de Aguiar, diretor da Repartição das Águas; Desembargador Hamilton Mourão, presidente do Tribunal de Justiça; Dr. Júlio Nery, Fiscal Federal de Ensino; Dr. Francisco Pereira, secretário-geral do Estado; Prof. Felismino Soares, secretário da Escola Normal; Dr. Gentil Bittencourt, secretário da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais.

• a Escola Royal , direção de Hylma e Zenir de Medeiros Raposo, realizou exames finais em 1º.11.30, com a presença do Prof. Agnello Bittencourt, na qualidade de presidente da Banca Examinadora, da senhorinha Sylvia Carneiro dos Santos e do Dr. Admar de A. Thury, examinadores, do Dr. Álvaro Maia, como paraninfo. Diplomados: Leonilda de Carvalho Barroco 
Adrião, Plínio Ferreira dos Santos, Cecília Silva, Guilherme Marques de Souza, Gilberto Queiroz Rodrigues, Maria Fernandes Ferreira, Aurélia Albano Romero e Laura Couceiro.

• a nova diretoria da União dos Proprietários de Alfaiatarias de Manaus apresentava a seguinte composição: presidente - José M. Figueiredo; vice-presidente - José Bezerra; 1º secretário - Manuel Arraes P. Barreto; 2º dito - Guilherme Johnson; tesoureiro - José Mafra Filho. Diretores: José Alves Ribeiro do Souto e Nicolau Miguel; Conselho Fiscal: Inácio Coelho, Miguel Antônio da Silva e Assírio de Aguiar Silva.

• a Sociedade Portuguesa Beneficente tinha a seguinte administração: Presidente da Assembleia-Geral, comendador Joaquim Gonçalves de Araújo; 1º Secretário, barão Joaquim de Machado e Silva; 2º dito,José Corrêa dos Santos. Diretoria: Francisco da Silva Mattos Cardoso, presidente; Joaquim Pereira de Moraes Carneiro, vice; João Travassos Vinagre, 1º secretário; 
Armando Arnaldo Ferreira de Miranda, 2º dito, José Pinheiro Vieira, tesoureiro; José Pereira Manarte, adjunto e Joaquim Pinto da Silva Junior, como procurador.

• concluíram o ensino secundário no triênio de 1934 a 1936, no Ginásio Pedro II e no Colégio Dom Bosco, 84,51 e 60 alunos respectivamente, enquanto na Escola Normal colocou a disposição da sociedade no mesmo período: 48, 52 e 53 professores de 1º grau.

• o ensino comercial no ano de 1936 apresentou um quadro de134 concludentes preparados pela Escola Solon de Lucena, Colégio Dom Bosco, Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, Instituto Benjamin Constant e Escola Prática Senador Lopes Gonçalves.

• o curso superior nos anos de 1934 a 1936 teve a seguinte performance: Faculdade de Direito, 17 advogados, Faculdade de Farmácia e Odontologia, 66 profissionais e Faculdade de Agronomia, 16 agrônomos.

• a Santa Casa de Misericórdia atendeu 1.331 internações, sendo 772 do sexo masculino e 559 mulheres, enquanto o movimento do Hospício Eduardo Ribeiro foi de 23 homens e 22 mulheres, segundo o relatório do governador, Dr. Álvaro Maia, perante à Assembleia Legislativa do Estado no ano de 1936, com referência a assistência hospitalar sob a responsabilidade do Poder Público.

• a estatística criminal expressada pelo Estado, no ano de 1936, ofereceu o seguinte desempenho: 18 defloramentos, 22 estupros, 1 rapto, 4 atentados contra o pudor, 33 homicídios, 4 tentativas de homicídios, 44 lesões corporais leves, 18 lesões corporais graves, 2 castigos imoderados, 16 crimes culposos, 1 calúnia, 1 dano, 11 furtos, 2 estelionatos, 3 roubos 1 desacato, totalizando 182 contravenções e crimes.

• ocorreram em 1936: 21 suicídios, sendo 15 diurnos e 6 noturnos, tendo como causas presumíveis: amores/3, alienação mental/3, revés da sorte/4, doenças diversas/2, desgostos de família/2 e sem qualquer possibilidade de presunção/7. Os locais do infortúnio apresentaram como ambiente: casas de família/17, baia do Rio Negro/2 e casas de prostituição/2.

• a movimentação aeroportuária constituída de aeronaves, embarcações interioranas, navegação de cabotagem e de longo curso no ano de 1936, exibiu a seguinte performance: 55 aviões, 86 motores, 394 lanchas, 357 vapores e 56 paquetes, sendo sua procedência do interior (621), outros Estados (240) e do exterior (87).



CRÉDITO DA IMAGEM: catadordepapeis.blogspot.com.br

Manaus nos anos 30 (I)

Praça do Comércio, 1933.

Fazia quase duas décadas que Manaus viu sua principal fonte de rendas, o comércio da borracha, ser barrado pela concorrência asiática. O Brasil tomava novos rumos, com o fim da República Velha e o governo de Getúlio Vargas. Mas as oligarquias continuavam a influenciar o cenário local. Em Manaus, a sociedade vivia de forma tranquila, sem aquela pujança do início do século, e o Estado tentava manter, mesmo com a arrecadação em baixa, um nível de vida aceitável.

O Coronel e historiador amazonense Roberto Mendonça, em seu blog Catador de Papéis, no qual publica artigos diversos sobre a História de Manaus, compartilhou conosco recortes do livro Amazonas: aspectos socioeconômicos (1930-1939), produzido por José Lopes da Silva (SESC/AM, 1995). Neste livro temos informações sobre a educação, a saúde e a mobilidade urbana naqueles não tão longínquos anos 30. Seguem abaixo os recortes feitos pelo Coronel Roberto Mendonça:

Sem a ostentação do início do século, a capital do Amazonas contentava-se com a singeleza de uma urbe provinciana, estigmatizada por um centenário econômico decadente sem maiores perspectiva de seu soerguimento. Entrementes, com toda essa adversidade estrutural herdada da "belle epoque", convivia-se com uma comunidade sem traumas, lúcida e até certo ponto tranquila, em decorrência do exercício da verdadeira cidadania, onde os direitos e obrigações eram devidamente respeitados, mesmo com os desequilíbrios sociais, à época, menos danosos que os da atualidade. 

Desenvolvia-se uma educação sob à custodia da Instrução Pública, onde o respeito pelo mestre iniciava-se com a conquista do cargo de Professor, submetido a concurso com defesa de tese e dissertação, prova escrita, preleção e arguição. A educação secundária na escola pública era exercitada na Escola Preparatória com acesso a Escola Normal e no Ginásio Amazonense Pedro Il,cuja frequência dos alunos e das aulas não dadas pelo professor responsável era publicada no Diário Oficial do Estado, diariamente, bem como todas as notas das provas parciais e finais. Havia um compromisso firmado entre a classe docente e discente.

A Escola de Aprendizes Artífices localizada na Cachoeirinha, em um prédio modestíssimo todo coberto de zinco, antigamente destinado a uma feira municipal, exercia um papel preponderante na formação profissional do amazonense de extraordinária utilidade a sociedade.

Era administrada pelo Dr. Esmeraldo Coelho, em cujas salas de aula aprendiam-se a arte das forjas, marcenarias, da modelagem, sapatarias e tantas outras profissões. Tratava-se de uma escola federal, que tinha como fundamento transformar a Escola em casa de educação prática e de disciplina do trabalho, nas quais a criança aprendia, educava-se e habilitava-se a competição no mercado de trabalho.
A saúde pública na capital do Amazonas era motivo de regozijo para o amazonense, principalmente, quando nos defrontamos com o noticiário da Revista da Associação Comercial, que transcreve a seguinte publicação:

Além de Euclides da Cunha, muitos escritores e sábios têm escrito sobre o nosso ótimo estado sanitário. Falem agora as estatísticas. Nas últimas, distribuídas pelo Governo Federal, há o seguinte: as capitais de maiores coeficientes de mortalidade são Recife, Natal e Vitória, sendo Curitiba e Manaus os de menores coeficientes. É a maior prova em prol de nossa terra, ora procurada pelas correntes migratórias.


A infraestrutura hospitalar independente daquela oferecida pelo setor privado, representada pela Beneficente Portuguesa, apresentava como base física a Santa Casa de Misericórdia, o Hospital São Sebastião, o Asilo de Mendicidade e a Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro, que se corporificou na gestão do provedor Dr. Aluísio de Araújo, sucessor do coronel Leopoldo Matos, nomeado pelo Dr. Efigênio de Salles, então presidente do Estado, em 23 de janeiro de 1928.

Confrontando-se com as dificuldades financeiras inerentes a assistência hospitalar, em um interregno de depressão econômica inibidora de maior arrecadação do Erário estadual, o Dr. Aluísio de Araújo, empreendeu um movimento benemerente junto à sociedade, objetivando arrecadar recursos para remodelação de toda a estrutura física do edifício, que obrigava o hospital base de Manaus, incluindo dentro de suas perspectivas as demais unidades.

O projeto consistiu na construção de três bangalôs localizados nas imediações da atual Praça do Congresso, ainda hoje existentes, os quais foram sorteados mediante a venda de bilhetes, com relativo sucesso “apesar da crise avassalante, entorpecente de todas as iniciativas, conseguiu-se vencendo tremendas dificuldades dotas a cidade de mais esse próprio”, conforme assinalou o articulista, após o sorteio do terceiro prédio em 25 de abril de 1930. Empregando os seus conhecimentos de arquiteto, dentro da filosofia de Le Corbusier, o jovem e promissor provedor viabilizou, segundo informes da época,

“atacar de frente todas as dificuldades, prosseguindo e aumentando o plano delineado para a transformação e remodelação do grande hospital. Essa obra patriótica serve prova-o o suntuoso hospital de hoje, no largo trecho da rua Dez de Julho, em frente ao jardim Leopoldo Matos. De prédio desengonçadamente colonial, brotou o palácio esplendoroso com seu gramado simétrico valorizando o busto do homenageado. Entre as suas modificações é consolador ver a maternidade para indigentes, a enfermaria de segunda classe, o salão nobre, além de outros melhoramentos”.

A reforma alcançou o custo de mais de 3 mil contos de réis.

O corpo clínico era composto pelos médicos Basílio de Seixas, Alfredo Augusto da Mata, Antônio Ayres de Almeida Freitas, Fulgêncio Martins Vidal, Álvaro Madureira de Pinho, Vivaldo Palma Lima, José Francisco de Araújo Lima, Jeronimo Ribeiro, Xavier de Albuquerque, Turiano Meira, Jeremias Valverde, José Linhares de Albuquerque, Agenor de Magalhães, Flávio de Castro, H. Wolferstan Thomas e Cruz Moreira. Havia um quadro de suplentes para a clínica médica formada pelos médicos Joaquim Augusto Tanajura, Galdino Ramos, Adriano Jorge e Aurélio Pinheiro. Hamilton Nelson, J. Miranda Leão e J. de Brito Pereira atuavam como substitutos na pediatria.

As especialidades médicas eram oferecidas pelo Hospital, como o de otorrinolaringologia, Dr. J. de Brito Pereira; cirurgia geral, Moraes Rego e Angelo D'Urso; tendo os Drs. Carlos Bunetti e Jorge de Moraes como responsáveis pela sala de operações. Moraes Rego também atuava no segmento de "doenças de senhoras"; obstetrícia e ginecologia eram atribuições de Almir Pedreira e J. Miranda Leão. Sífilis e pele eram da competência de Paulo Cerqueira e de tisiologia o Dr. Hamilton Nelson.

Independente desse elenco de profissionais altamente credenciados, existia outro corpo médico considerado "em disponibilidade" constituído de Teogenes Beltrão, José Antônio de Figueiredo Rodrigues, Jorge de Moraes, Sebastião Barroso Nunes, Fernando de Castella Simões, Basílio Franco de Sá,  Manoel Barreto Lins, Francisco da Costa Fernandes, Carlos Studart Filho, Almério Diniz e Luís Paulino de Mello.

Esses abnegados cidadãos respondiam pela assistência médica vinculada aos serviços prestados pela Santa Casa, dedicada praticamente aos carentes, já que o movimento de pensionistas não era relevante. Os recursos recebidos em 1930, foram de Rs. 77:331$000 do Tesouro Público; Rs. 80:019$200 do imposto sobre caixas e castanhas junto a Manáos Harbour Limited; Rs. 7:519$338 do imposto de caridade; Rs. 8:000$000 de quotas lotéricas do 1º semestre de 1930 e Rs. 76:275$241 de rendimentos da porta, prédios e contas. A assistência aos desamparados foi de 164 indigentes, 80 alienados do Hospício Eduardo Ribeiro e nove tuberculosos no Hospital São Sebastião.

A cidade era servida por um sistema de transporte urbano, que tinha nos bondes a sua principal estrutura, como meio de locomoção popular, cuja concessão de exploração era exercida por uma companhia inglesa -- Manáos Tramyaws Ltd., cujos serviços eram prestados através dos seus 35 quilômetros de rede, abrangendo praticamente toda a periferia, tendo o centro como seu núcleo, excetuando-se os bairros de Educandos e São Raimundo, possivelmente pela inexistência de acesso racional, havendo transportado em seus 36 carros de passageiros e 10 carros mistos (reboques) cerca de 8.434.000 usuários no decorrer de 1930.
Tratava-se de um serviço eficiente, seguro e com uma pontualidade de sua veiculação invejável. Para o transporte de grandes cargas a empresa possuía 6 outros carros de características específicas. O total de veículos existentes na cidade completava-se com 156 automóveis, 80 auto-caminhões e 1 auto-ônibus, que pela ausência de normas disciplinadoras de trânsito legais, obedecia aos critérios emanados do comandante da Guarda Civil, tenente Ismael Tomas de Lima.


CRÉDITO DA IMAGEM: catadordepapeis.blogspot.com.br





domingo, 11 de outubro de 2015

Geografia antiga do Centro de Manaus

Mapa do Centro de Manaus, na zona Sul.

O Centro, conhecido por abrigar os lugares de maior interesse histórico da capital, sofreu, nos últimos 100 anos, mudanças expressivas em sua geografia e urbanização. Muitos logradouros desapareceram ou tiveram o nome alterado. O Centro, que de acordo com a Lei Municipal N° 287, de 23 de maio de 1995, é um bairro que começa no Ig. Dos Educandos com o Rio Negro; deste último até o Ig. De São Vicente; deste até a rua José Clemente; desta até a rua Luiz Antony; desta até o Ig. Da Castelhana; deste até a Av. Constantino Nery; desta até a Av. Sen. Álvaro Botelho Maia; desta até a rua Major Gabriel; desta até a rua Ramos Ferreira; desta até o Ig. Do Mestre Chico; deste até o Ig. Dos Educandos e deste até o Rio Negro (1), era, há mais de um século, dividido em “distritos” menores, cada um com suas delimitações.

Para elucidar a localização e os limites (com o nome das ruas atualizados) desses distritos desaparecidos há tempo, utilizo aqui informações retiradas do livro Bombeiros do Amazonas: Retrospectiva (1876-1998), do historiador e Coronel Roberto Mendonça, que utiliza para tal a obra descritiva Um olhar pelo passado, de Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha.

Bairro da Campina: começava onde hoje está a Praça e o Colégio Dom Bosco, passando pela sede do Atlético Rio Negro Clube, em frente a Praça da Saudade, e se estendia até os reservatórios da Castelhana e do Mocó.

Bairro Espírito Santo: estava limitado pela rua da Instalação, avenida Sete de Setembro (entre a rua Instalação e a avenida Eduardo Ribeiro), Henrique Martins, Lobo D' Almada, Joaquim Sarmento e Saldanha Marinho.

Bairro São Vicente: tinha seus limites nas ruas 5 de Setembro, Bernardo Ramos, Frei José dos Inocentes, Visconde de Mauá, Monteiro de Souza, Tamandaré e Itamaracá.

Bairro dos Remédios: estava limitado pelas ruas Marquês de Santa Cruz, Leovigildo Coelho, Barés, Miranda Leão, dos Andradas, Barão de São Domingos, Rocha dos Santos e Joaquim Nabuco.

Bairro de Nazaré (Alto de Nazaré): No local onde hoje fica a Praça Santos Dumont, considerado o mais distante da cidade.

Bairro República: Limitado pela Avenida Sete de Setembro (entre a Avenida Eduardo Ribeiro e Avenida Floriano Peixoto), e as ruas Marechal Deodoro, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Teodoreto Souto, Marcílio Dias, Dr. Moreira, José Paranaguá e Rui Barbosa.

Como subúrbios existiam o Alto da Bela Vista (Constantinópolis, mais tarde Educandos); São Raimundo, Saco de Alferes (Cornetas, bairro dos Tocos, Aparecida) e a ilhota de Caxangá, onde hoje está localizado o Makro Atacadista, na Av. Lourenço da Silva Braga. Quando algum incêndio atingia esses locais, os bombeiros, apoiados pelas Igrejas Católicas da cidade, tinham uma forma de saber em qual desses distritos ocorria o fogo:

Uma badalada para o bairro de S. Vicente; Duas ditas para o do Espírito Santo; Três ditas para o da Campina; quatro ditas para o dos Remédios; Cinco ditas para o de Nazaré (2). Para não confundir os bombeiros, havia um entre o sinal do bairro e o toque de rebate, um espaço de tempo.

Com o crescimento da cidade, o surgimento de novos bairros e zonas, e a constante prática de mudança de nomes de logradouros, essas divisões do Centro desapareceram, tornando-se o local um único bairro. Em São Paulo, por exemplo, a região do Centro é formada pelos distritos de Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Sé e Santa Cecília. Para as autoridades culturais de Manaus, seria bom pelo menos espalhar placas com a identificação antiga, de forma que resgatasse essa memória.


NOTAS E FONTES:

(1) Lei Municipal N° 287, de 23/05/1995

(2) MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013, Pág. 16.

ARANHA, Bento de Figueiredo Tenreiro. Um Olhar pelo passado. Manaus, Imprensa Oficial, 1897.

MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013.


CRÉDITO DA IMAGEM:

mapasblog.blogspot.com.br


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Os governos de Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro

Amigos e amigas, depois de ter ficado um tempo afastado do blog, retorno agora com uma série de postagens sobre História de Manaus, pois neste mês (10), a capital amazonense completa 346 anos.

É uma tendência da nova historiografia deixar o tema de grandes personagens de lado. Não acho que isso seja algo bom, pois existem nomes que merecem ser celebrados por seus feitos. Aqui, me dedico a dois: Manuel da Gama Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro, dois importantes personagens da História do nosso estado e, principalmente, da capital. De épocas diferentes, o primeiro do final do século 18 e o outro do alvorecer da República Velha, esses dois homens empreenderam governos que ficaram eternizados por sua eficiência em modernizar e dotar Manaus das condições necessárias para o seu crescimento.


Quartel das Tropas da Guarnição da Vila de Barcelos. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Alexandre Rodrigues Ferreira, 1783-1792.

Ao assumir a Capitania de São José do Rio Negro, em 178
8, Manuel da Gama Lobo D' Almada, Brigadeiro e engenheiro militar português, deu início a uma série de mudanças na estrutura política e econômica da região. Transferiu, em 1791, a capital de Mariuá (Barcelos) para o Lugar da Barra (Manaus), que possuía localização geográfica privilegiada, na confluência dos rios Negro e Amazonas, o que acabava facilitando a defesa e o comércio da Capitania. Prédios públicos foram erguidos: No lugar da antiga Igreja de N. S. da Conceição, erguida em 1695, manda construir um novo templo; construiu um Palácio dos Governadores, Quartel e Cadeia Pública.

No campo econômico, deu destaque para a indústria e expandiu o setor primário. Introduziu gado no Vale do Rio Branco, atual estado de Roraima. Foram construídas uma fábrica de panos de algodão, uma de tecidos e redes; um depósito de pólvora; uma terracena para construir embarcações [...]; uma padaria de pão de arroz; uma fábrica de panos de algodão em rolos, com 18 teares e 10 rolos de fiar com 24 fusos cada uma; cordoaria para fabricação de cordas e amarras de piaçaba e calabres; uma fábrica de fécula de anil, uma nora para distribuir água; uma horta; olaria fábrica de velas de cera, um açougue; e um engenho para moer cana e fabricar cachaça e mel (1). Parafraseando o professor Carlos Moreira Neto (1928-2007), essa foi uma administração extremamente proveitosa, diferente do que acontecia até então em outras localidades colônia portuguesa.

Além de aumentar consideravelmente o “parque industrial” do Lugar da Barra, também construiu uma escola de música e aumentou o número de soldados para a proteção da capital. Foram, sem dúvida, os melhores tempos dos quais a Barra desfrutou durante o período colonial. Temeroso pelo rápido crescimento do Lugar da Barra e o prestígio de Lobo D' Almada, que acreditava poder tomar seu posto de governador, o Capitão-general Francisco de Sousa Coutinho, do Grão-Pará, com o auxílio de seu irmão Rodrigo, Ministro de Portugal, corta as verbas para a Capitania do Rio Negro e persegue Almada, conseguindo fazer a capital retornar para Barcelos, em 1799. Pobre e abandonado, Lobo D' Almada morre em Barcelos, em 27 de outubro de 1799.

Eduardo Gonçalves Ribeiro.

A 27 de fevereiro de 1892 tem início o governo de mais um militar, que ficou marcado como um dos mais bem executados do Amazonas. Era o governo do engenheiro militar maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro, que já havia estado no cargo entre 2 de novembro de 1890 e 5 de maio de 1891.

Nos quatro anos em que governou o Amazonas, de 27 de fevereiro de 1892 a 23 de julho de 1896, Eduardo Ribeiro soube aproveitar perfeitamente o aumento da arrecadação dos cofres públicos, em ascensão graças à exportação da borracha, e realizou obras de embelezamento, saúde e educação. 

Em sua administração, nivelou e criou bairros; pavimentou ruas; construiu o Instituto Benjamin Constant para jovens órfãs; foram entregues seis escolas públicas primárias em Manacapuru, Humaitá e Lábrea; Criou um hospício; abriu a estrada Manaus – Rio Branco; construiu as Pontes Romanas, Ponte Benjamin Constant e Ponte da Cachoeira Grande; Teatro Amazonas; Iluminação elétrica a arco voltaico; contratou o serviço de navegação com escalas para o Mediterrâneo; implantou o telégrafo subfluvial; e inaugurou o serviço de locomotivas de tração a vapor (2). Essas são apenas algumas das realizações do ex-governador, que em uma de suas memórias, afirma ter governado o Amazonas duas vezes como um ditador, talvez uma referência às suas ações contra membros do Partido Nacional, opositor ao seu governo ligado ao Partido Democrata. Talvez Eduardo Ribeiro tenha governado com mãos de ferro, mas não podemos negar a eficiência de sua administração.

Em tempos de disputas violentas como os da República Velha, Eduardo Ribeiro sofreu perseguições políticas. Seu mais célebre adversário foi a oligarquia da família Nery, que desejava assumir o governo em nome do Partido Nacional. O “Pensador”, como era conhecido por ter sido um dos editores do jornal republicano Pensador, no Maranhão, faleceu em Manaus em 14 de outubro de 1900, aos 38 anos.

Manuel da Gama Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro, administradores visionários, perseguidos e caluniados por aqueles que procuraram no Estado um apoio para seus interesses pessoais. Sem dúvida estão no Hall de homens ilustres que viram na Amazônia o potencial para o engrandecimento do Brasil. Os dois, cada um em seu tempo, utilizando os recursos disponíveis, garantiram o progresso da capital amazonense, a liberdade individual de seus habitantes e o bom funcionamento da máquina pública, coisas que se esperam de um digno representante do povo.


NOTAS E FONTES:

(1) MONTEIRO, Mário Ypiranga. Fundação de Manaus. Manaus, Editora Metro Cúbico, 4° edição, 1994. Pág. 51 (adaptado).

(2) MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: A trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus, Governo do Estado do Amazonas, 1990. Pág. 96 - 97 (adaptado).

REIS, Arthur Cézar Ferreira. Lobo D' Almada – Um estadista colonial. Manaus, Editora Valer, 3° edição, 2006.


CRÉDITO DAS IMAGENS:

brasil500anos.ibge.gov.br
catadordepapeis.blogspot.com.br




sábado, 22 de agosto de 2015

Educandos: 159 anos do Alto da Bela Vista

Estabelecimento dos Educandos Artífices, na antiga Olaria Provincial.

Neste dia 21 de agosto, o bairro de Educandos comemora 160 anos de fundação. Está Localizado na zona Sul de Manaus, em frente ao Rio Negro, limitado pelos bairros de Santa Luzia, Colônia Oliveira Machado, Cachoeirinha (através das pontes Ephigênio Salles e Juscelino Kubitschek) e Centro (ponte Pe. Antônio Plácido de Souza).

A origem desse bairro é ligada à criação do Estabelecimento dos Educandos Artífices, instituição educacional criada através da Lei N° 60, de 21 de agosto de 1856, onde eram ensinados os ofícios de tipografia, sapataria, carpintaria, alfaiataria etc. Estudavam nessa instituição jovens órfãos e de origem humilde. O nome pelo qual o bairro ficou conhecido é uma lembrança do antigo Estabelecimento dos "Educandos". Essa escola foi instalada no prédio da Olaria Provincial, no local conhecido como Barreira de Baixo.

De acordo com o Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município, de 1927, as primeiras ruas do local foram abertas em 1901, num total de 6, sob as ordens do superintendente Dr. Arthur Cezar Moreira de Araujo. Por meio do decreto n° 67, de 22 de julho de 1907, do superintendente interino Coronel José da Costa Monteiro Tapajós, a localidade de Educandos é batizada com o nome de Constantinópolis (Cidade de Constantino), uma homenagem ao governador da época, Constantino Nery.

Ainda com base nesse documento e nas informações do historiador Cláudio Amazonas, em 1908 a Intendência Municipal, sob os comandos do superintendente Domingos José de Andrade, através das Leis N° 487 (29 de fevereiro), 491 (4 de março), 507 (29 de maio) e 538 (9 de dezembro), dá a denominação das primeiras seis ruas que foram abertas no bairro: 

A rua Norte/Sul n°1 passa a chamar-se Boulevard Sá Peixoto, "em homenagem ao sr. Senador Antonio Gonçalves de Sá Peixoto que tão relevantes serviços ha prestado ao Estado do Amazonas e especialmente à cidade de Manáos; As ruas Norte Sul n° 2 e 3 passam a chamar-se monsenhor Amâncio de Miranda e Innocêncio de Araújo; As ruas Leste/Oeste n° 1 e 2 passam a chamar-se Delcídio Amaral e Manuel Urbano; A que poderia ser a Norte/Sul n° 3, seria chamada pelo povo de Boulevard Rio Negro, pois se constitui a faixa marginal o bairro frente ao rio Negro. Quanto à praça, seria batizada de Dr. Tavares Bastos, advogado e político alagoano, morto no dia 3 de dezembro de 1875 em Nice, na França, que, dentre outros feitos importantes de sua vida, inclui-se a luta pela abertura dos portos do Amazonas ao comércio mundial e pela libertação dos escravos.

Após essas pequenas mudanças, Educandos necessitava integrar-se com o restante da cidade, localizada no Centro e na Cachoeirinha. Até então, o contato era feito através das catraias, com seus portos localizados nas ruas Delcídio Amaral e Manoel Urbano. O primeiro porto levava em direção à rua Lima Bacury; o segundo, rua dos Andradas.


Pontes


A integração do Educandos ao restante da cidade se deu por meio das pontes. Ao todo, em sua História, foram construídas três. A primeira começou a ser construída em 1927, no governo de Ephigênio Salles, sendo entregue à população dois anos depois, em 1929. Foi batizada com o nome do referido governador. Com isso, o Educandos estava conectado com o bairro da Cachoeirinha e, através desse, ao Centro.



Em 1° de maio de 1959, o então governador, Gilberto Mestrinho, inaugurava a Ponte Juscelino Kubitschek, que esteve em Manaus para a inauguração. Essa ponte também ligava o bairro à Cachoeirinha. Sua construção se deu pelo aumento da demanda do tráfego na cidade, da ligação com a estrada do Paredão para o aeroporto de Ponta e Pelada e da Refinaria de Isaac Sabbá.




A terceira e última é a Ponte Pe. Antônio Plácido de Souza, que liga o Educandos, através da rua Delcídio Amaral, ao Centro, pela rua Quintino Bocaiuva. Começou a ser construída em 1972, na administração do prefeito Frank Lima, e foi concluída e inaugurada em 18 de outubro de 1975, na administração de Jorge Teixeira. Seu nome é uma homenagem ao primeiro vigário da paróquia de N. S. do Perpétuo Socorro.


Lugares Históricos

Com 159 anos de existência, o bairro possui lugares históricos que valem a pena conhecer.



Av. Leopoldo Péres - Com suas obras iniciadas em 1928 e concluídas em 1929, a "Estrada de Constantinópolis", como era conhecida na época, foi aberta pelos membros da Sociedade Sportiva e Beneficente de Constantinópolis, para facilitar o acesso dos moradores ao bairro da Cachoeirinha, através da ponte Ephigênio Salles. No final da Grande Guerra, com os Acordos de Washington encerrados e a nova queda dos preços da borracha, muitos nordestinos passaram a se alojar em subúrbios da cidade. A Estrada de Constantinópolis passou a ser habitada por essas pessoas, que passaram a instalar no local pequenos comércios. A presença dos nordestinos fez a estrada ficar conhecida como Estrada dos Arigós. Atualmente, a avenida mantém a tradição comercial, com inúmeras lojas de pequeno e médio porte.



Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Em 1928, durante as obras da Estrada, foi construída uma pequena capela em madeira, dedicada à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O Pe. Antônio Plácido de Souza assume o Curato Provisório de Constantinópolis, que se tornou, em 15 de dezembro de 1941, Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A estrutura atual, de alvenaria, começou a ser construída em 1946, sendo concluída anos mais tarde. Está localizada na rua Inocêncio de Araujo.


Vila Cavalcante - Uma das primeiras construções em alvenaria do bairro, a Vila Cavalcante, construída em 1912, é um dos últimos prédios históricos do bairro. O nome é de origem de uma rica família de seringalistas do Juruá. Foi adquirida por Manuel Figueiredo de Barros, regatão, que a vendeu em 1935 para o comerciante Joaquim Ferreira da Silva. Em 1924, em suas dependências, funcionou o Grupo Escolar Machado de Assis e, na década de 1930, o escritório dos Correios. Atualmente o prédio pertence à Fundação Santa Catarina, organização religiosa da Igreja Católica. Está localizado no Boulevard Sá Peixoto.


Orla do Amarelinho - O calçadão, de frente para o Rio Negro, é o principal cartão postal do Educandos. De noite, é o point certo dos que querem se divertir nos bares e casas de dança que ficam ao redor. Fato interessante e trágico é que, às 9 horas do dia 2 de abril de 1971, a área que atualmente compreende o Amarelinho desmoronou, consequência de forte tempestade ocorrida um dia antes. Nenhuma pessoa morreu, ocorrendo apenas a destruição das residências de madeira e palha que existiam no local. Está localizado no Boulevard Rio Negro.



Usina Labor - Em 1938, o empresário Isaac Sabbá adquire um grande terreno na Estrada de Constantinópolis, construindo nele a Usina Labor, destinada ao beneficiamento de sorva e borracha. A mão de obra empregada nessa indústria vinha do próprio bairro. Nos anos 1970 foi transformada em Fitejuta, agora funcionando como tecelagem de juta. O prédio é onde funcionou, até 2014, um dos supermercados DB. Fica na Avenida Leopoldo Péres.




FONTES: AMAZONAS, Cláudio. Memórias do Alto da Bela Vista: Roteiro Sentimental de Educandos. Manaus: Norma Propaganda e Marketing, 1996.

Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município. 1927. Administração do prefeito Basílio Torreão Franco de Sá. Disponível em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2015/08/livro-tombo-da-prefeitura-de-manaus-1.html. Acesso em 22/08/2015.

AMAZONAS, Cláudio. Constantinópolis: Origens e Tradições. Manaus: Edições Muiraquitã, 2008.


CRÉDITO DAS IMAGENS: Skyscrapercity
                                     Educandos, Cidade Alta
                                     Blog do Coronel Roberto
                                     Manaus de Antigamente



terça-feira, 14 de julho de 2015

O Modo de Produção Asiático

Lavoura – Pintura na tumba de Sennedjem.

O Modo de Produção Asiático, termo cunhado por Karl Marx, refere-se ao modo de produção das sociedades do Antigo Oriente Próximo. Temos aí civilizações que floresceram na região do Mar Mediterrâneo e também entre os rios Tigre e Eufrates. O Egito e a Mesopotâmia são os exemplos mais clássicos. O período em que se observa esse modo de produção vai de 4000 a.C. a 3.500 a. C.

Nessa época, o homem, graças ao domínio da agricultura e de outras técnicas de trabalho, já havia passado do nomadismo para o sedentarismo, fixando-se permanentemente em uma região, geralmente próximo à um rio, criando aglomerados urbanos que mais tarde deram origem às cidades-estados.

A economia dessas civilizações era predominantemente agrária. As terras cultivadas pertenciam ao Estado, representado pela figura de um monarca, considerado representante divino na terra. Esse monarca passou a dominar as terras por meio da força. Para poder exercerem suas atividades, os agricultores entregavam ao monarca tributos, formados pelo excedente da produção agrícola. Esse excedente era então dividido entre a nobreza, funcionários de alta patente e sacerdotes.

Esses agricultores estavam em um regime de servidão coletiva, pois para tirar seu sustento da terra, deveria submeter-se ao pagamento dessa "taxa". Além desses tributos, esses trabalhadores também eram deslocados para a construção de canais e irrigação e monumentos.

Antes de se tornar sedentário e mais complexo, o homem vivia em comunidades tribais divididas em caçadores (homens) e coletores (mulheres), onde os alimentos adquiridos eram distribuídos de forma igualitária entre os componentes da comunidade.

No Modo de Produção Asiático, temos grandes comunidades agrícolas sedentárias submetidas à um poder centralizador, o monarca (Estado), que se apropria do excedente de produção - Despotismo Oriental -  e marcada pela divisão social entre dominadores e dominados. Além da força e da religião, o Estado utilizava como instrumento de dominação a escrita, destinada à um pequeno grupo de funcionários públicos que controlavam a produção e recolhiam os tributos.

O nome "Modo de Produção Asiático" é uma referência à observação feita por Karl Marx, que registrou que, em alguns países da Ásia do século XIX, ainda existia uma economia dominada por um chefe tribal, em oposição ao liberalismo econômico da Europa.

Em síntese, podemos entender o Modo de Produção Asiático como uma forma de economia do Antigo Mundo Oriental marcada por forte intervenção estatal, quase inexistência de propriedade privada e pelo surgimento das divisões de classes.


CRÉDITO DA IMAGEM: antigoegito.org



sábado, 4 de julho de 2015

O que diferencia a História das demais Ciências Humanas?



Essa foi uma das perguntas da prova de Teoria da História, matéria lecionada pelo prof Almir de Carvalho Júnior. É uma pergunta interessante, se levarmos em conta que no centro das Humanidades, está o homem. Compartilho aqui com vocês a minha resposta.

Primeiro, devemos tomar conhecimento de que cada campo disciplinar possui sua singularidade, isto é, um aspecto que lhe torna único. O Direito, por exemplo, estuda o funcionamento das leis em sociedade. Essa é a singularidade desse campo. O objeto de estudo do Direito são as leis.

A História como ciência tem por objeto de estudo o homem. O sujeito é, ao mesmo tempo, objeto de estudo. Mas outras Ciências Humanas, como a Antropologia e a Sociologia, também possuem o mesmo objeto de estudo.

O que torna a História diferente das demais Ciências Humanas é a forma como esta explora e analisa seu objeto: A História estuda as ações do homem no tempo, utilizando como fontes os vestígios por ele deixado - materiais, imateriais etc; e utiliza para a construção de seu discurso um variado arcabouço de Teorias.

O que diferencia, enfim, a História das demais Ciências Humanas, é o pano de fundo em que seu objeto de estudo (o homem) está inserido, nesse caso, o Tempo.

Um dos livros lidos para a realização da prova e que também recomendo é: Teoria da História - princípios e conceitos fundamentais (Vol. 1), de José D' Assunção Barros.


CRÉDITO DA IMAGEM: curiososlinks.com.br