quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A casa manauara entre os séculos XVIII e XIX

 
Casas na região do Rio Amazonas. Albert Frisch, 1865. FONTE: Brasiliana Fotográfica/Instituto Moreira Salles.

A casa, do latim domus, domínio, é um espaço que vem chamando a atenção historiadores que buscam analisar suas transformações ao longo do tempo, pois ela é o local de desenvolvimento da vida privada, de toda uma sociabilidade que diz respeito à família. Como era a casa manauara dos primeiros séculos? Como era mobiliada? No presente texto buscaremos responder essas perguntas.

As casas da maior parte dos habitantes do Brasil Colônia eram bastante simples, sem maior apuro arquitetônico. Também eram pouco confortáveis e pobremente mobiliadas. Poucas tinham algum estilo e mobília refinada, pertencendo a senhores de engenho, militares de alta patente e ricos comerciantes. A historiadora Leila Mezan Algranti elenca como causas dessa simplicidade, vista por cronistas e viajantes como marca de um primitivismo, a condição de colônia do território, ou seja, um local de passagem; a vida marcada pela dureza, que deixava pouco tempo sobrando para se pensar de forma detalhada na organização residencial; e o pouco interesse em relação à vida íntima1. Nos dão notícia sobre a casa manauara viajantes estrangeiros e brasileiros que estiveram na cidade entre os séculos XVIII e XIX.

No final do século XVIII (1786), o naturalista brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, durante sua Viagem Filosófica, passou pelo então Lugar da Barra. Seu relato nos revela algumas particularidades sobre as residências daquela época. Ele registrou que a casa do vigário era térrea, coberta de palha e dividida em quatro casas interiores, todas com portas, janelas de madeira e fechaduras, o que revela o desejo de manter preservado e seguro tal ambiente. A casa do comandante, por outro lado, também servia de armazém. Igual à do vigário, era coberta de palha. Raras eram as que tinham cobertura de telhas de barro. Ferreira afirma que as melhores casas eram as dos moradores brancos Manoel Tomé Gomes, Manoel Pinto Catalão, Inácia Lindoza e Madalena de Vasconcelos. “Todas as outras ficavam mais ou menos arruinadas”2.

Por volta de 1819, os naturalistas alemães Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix, durante sua viagem pelo Brasil, estiveram no Lugar da Barra. As casas por eles descritas eram simples, de um único pavimento, “[…] cujas paredes são construídas de pau-a-pique e barro, cobertas geralmente de folhas de palmeira”3. Restaram desse tempo apenas dois exemplares, localizados na rua Bernardo Ramos, antiga rua de São Vicente, em bairro homônimo. Possuem um único pavimento, tendo sido construídas de taipa de pilão. No lugar das folhas de palmeira, foram cobertas com telhas. Possuem portas e janelas largas, facilitando a ventilação. São típicas residências do período Colonial. Poucas eram mais arrojadas, como era o caso do sobrado do Capitão Francisco Ricardo Zany, onde Martius e Spix ficaram hospedados, que era mais imponente que a residência do Governador da Capitania. Deve-se destacar que Manaus não chegou a ter residências senhoriais como as do Pará, onde se encontram belíssimos exemplares construídos entre a segunda metade do século XVIII e o início do século XIX.

O militar e historiador português Antônio Ladislau Monteiro Baena informa que, em 1838, a maioria das casas do Lugar da Barra era coberta de palha, assim como o Palácio dos Governadores, a Provedoria, o Quartel e os edifícios da ribeira onde eram construídas canoas e batelões. Por outro lado, “São cobertos com telha a olaria, o hospital militar, os armazéns da provedoria e os dos meios de guerra como aramas e pólvoras e algumas casas dos moradores”4. A paisagem ainda era a mesma dos tempos coloniais.

Alfred Russell Wallace, de passagem pela agora Cidade da Barra em 1849, registrou que suas casas continuavam com um único pavimento, mas já eram cobertas com telhas vermelhas e assoalhadas com tijolos. As paredes eram pintadas de branco ou de amarelo, e as portas e janelas de verde. “Quando o sol bate sobre elas, o efeito é muito bonito”5. Ele ficou hospedado em uma residência de propriedade do comerciante italiano Henrique Antony, um dos mais prósperos do Amazonas. Wallace não teceu maiores comentários sobre a moradia, o que nos leva a pensar que ela atendeu as expectativas do visitante no que diz respeito às instalações, móveis e outros objetos. Somente relatos posteriores nos dão algumas notícias sobre o mobiliário.


Sala de jantar em Manaus. Gravura de Édouard Riou publicada na obra Dois Anos no Brasil, de François-Auguste Biard, 1862. FONTE: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.

Na obra Dois anos no Brasil (1862), do pintor e desenhista francês François-Auguste Biard, temos a gravura de uma sala de jantar em Manaus. Podemos observar alguns aspectos do local. Existe uma mesa, mas não se veem cadeiras. O habitante da Manaus daquele tempo, assim como o de outras partes do Império, estava acostumado a sentar-se no chão ou em esteiras, como se fazia desde o início da conquista. Chão esse, aliás, de terra batida. Os talheres ainda eram raros na maioria das casas. O normal era comer com as mãos. Garfo, faca e colher, geralmente importados, só em casas de mais posse. O fogão, a lenha, ficava fora de casa. Só mais tarde, por volta de 1870-1880, com surgem os fogões como conhecemos atualmente. Outro detalhe interesse é a presença de muitos macacos no recinto. Os animais de estimação eram criados soltos, sendo encontrados espalhados pela casa.

Em 1865 o casal de viajantes Louis e Elisabeth Agassiz, em visita a Manaus, ficaram hospedados na casa do Major Coutinho. Encontraram a residência sem mobília. Para dar um bom aspecto ao local, foram emprestadas cadeiras e mesas de um vizinho. A pobreza mobiliária se fazia presente até mesmo nas residências dos membros mais destacados da sociedade. Sobre o aspecto geral da cidade, afirmaram que ela era “[…] uma pequena reunião de casas, a metade das quais parece prestes a cair em ruínas”6. Após retornarem de uma viagem, ficaram instalados em um prédio que havia funcionado como secretariado de finanças. Ele era espaçoso, tinha várias portas e janelas. Um salão era usado como quarto e sala. Nos fundos ficavam penduradas as redes, as malas e as caixas. Do outro lado ficavam duas mesas de escrever, uma cadeira de balanço, uma de viagem e outros móveis. Os Agassiz, agora melhor acomodados, perceberam que essa mobília dava “[…] a esse canto do apartamento um certo ar de intimidade e o tornam mesmo bastante confortável”. A construção, apesar da grandeza, tinha as paredes sem reboque, com cumieiras descobertas e “[…] pavimentos de tijolos em que passeiam os ratos”7. Ao comentar sobre um baile a ser realizado na residência do Presidente da Província, notaram que apesar do pomposo título de Palácio, não passava de uma casa pequena sem maiores atrativos.


Tapuias em sua residência em Manaus. Albert Frisch, 1865. FONTE: Brasiliana Fotográfica/Instituto Moreira Salles.

Também são de 1865 dois registros feitos pelo fotógrafo alemão Albert Frisch. No primeiro temos uma família de tapuias na porta de sua casa em Manaus. Entre a numerosa família e a casa simples, de pau-a-pique, vemos uma esteira, absorvida pelo colono desde o início da colonização, fazendo a vez de cama; um banco, do lado de fora; e um tear mecânico onde estava trabalhando uma mulher. Em uma cidade ainda privada de maiores divertimentos, esse aparelho funcionava como objeto de trabalho e também de passatempo. O segundo registro mostra duas casas na região do Rio Amazonas. É uma paisagem bucólica quase inalterada, lembrando as casas descritas por Martius e Spix em 1819 e Baena em 1838.

Outros móveis faziam parte da mobília da casa do manauara entre os séculos XVII e XIX. O historiador Mário Ypiranga Monteiro os divide da seguinte forma: “baú, arca, rede de dormir e canastra. Suas posições na casa, a partir da sala de visitas, eram cativas, determinadas pelas necessidades práticas e não pelo bom gosto: baú na sala (e rede de dormir, não raro), arca na alcova (e rede de dormir), esteira na sala, na alcova e na casa de refeições; rede de dormir (essencial) na alcova e na varanda; canastra na casa de refeições ou num quarto a mais se houver”8. Ainda demoraria algum tempo para que a residência manauara ganhasse outro aspecto e uma mobília mais numerosa e refinada.

Encontramos indícios de mudanças em anúncios de jornais publicados no final do século XIX. Em 1877 o jornal Amazonas informava que na rocinha do Comendador Mesquita, localizada no bairro dos Remédios, estavam disponíveis para venda os seguintes objetos: “um bom piano, uma mobilia, uma meza elastica com vinte e dois palmos de comprimento, uma dita para escriptorio, duas bancas para quarto com gaveta, duas sacretarias, um espelho grande e doirado, dois theares, bancos envernisados, cabides, camas de lona, lavatorios e seus pertences, tamboretas com assento de palinha, dois oratorios, e outros objecto para o uzo domestico”9. Em um leilão de móveis realizado em 1890 foram vendidas “uma mobilia de mogno para sala, 2 cadeiras de balanço, seis cadeiras de varanda, 1 commoda, 1 toillet, 1 cama com colchão de molla, 1 manequim, um par de candieiros, um dito de castiçaes de vidro com pingentes, uma maquina de costura, um almofadão, uma bilheira, quatro bancos, um berço, bidet, uma cama de madeira, um lavatorio e outros objectos”10. Os móveis eram construídos por marceneiros profissionais, pelos alunos do Instituto de Educandos Artífices e também importados de outras Províncias e países.

E o banheiro, um dos locais mais importantes da casa? Mário Ypiranga nos informa que o manauara de baixa renda satisfazia suas necessidades às margens dos igarapés e nas áreas de mata, abundantes na Manaus dos primeiros séculos. Esse costume fez com que os banheiros fossem construídos fora da residência. Eram as famosas casinhas de madeira. Um anúncio de venda de uma casa em 1888 nos mostra que existia uma divisão entre o banheiro, para o asseio corporal, e a latrina, onde se faziam as necessidades: “Nesta typographia informa-se quem vende uma boa casa com bastantes accomodações para numerosa família: contende alem de cinco bons quartos, de dous grandes salões, da cozinha e varanda, um quintal regular todo plantado de arvores fructiferas, com poço, banheiro, latrina etc”11. Além da casinha existiam utensílios como o coronel, capitão, furriel, iamaru ou jamaru, cabungo, capitari e comadre. Quando esses objetos ficavam cheios de urina e fezes, eram recolhidos pelo tigreiros, escravos que tinham a função de despejá-los em locais distantes da área urbana. Os banheiros domésticos com latrinas e bacios de louça eram privilégio das classes mais abastadas12.

No Código de Posturas Municipais de 1848 ficou estabelecido que as edificações só poderiam ser erguidas após receberem licença da Câmara Municipal para que a obra ficasse alinhada à rua. As casas deveriam ser elegantes e seguir uma regularidade externa determinada pela Câmara. No Código de Posturas de 1872 encontramos um interessante artigo que determina que

Fica proibido de ora em diante, nas ruas dos Remédios, Boa-Vista, Espírito Santo, Marcílio Dias, Flores, Imperador, Brasileira, Manaus até o aterro, Henrique Martins, Cinco de Setembro, S. Vicente, Independência e Travessas que lhe são correspondentes, e em todas as praças, a edificação de casas cobertas de palha; sob a pena de demolir-se a obra por conta de quem a fizer e sujeito a multa de trinta mil réis ou oito dias de prisão”13.

Essa postura revela a tentativa de se modificar a aparência da cidade, dotando-a de características modernas. O artigo 2° da Postura de 1875 determina que ficava proibida a construção de casebres ou pequenos quartos dentro do alinhamento das ruas, praças e travessas sem que seus proprietários, antes, levantassem um muro simulando a fachada de uma casa. A pena era de 30$000 réis ou oito dias de prisão. Os Códigos publicados a partir de 1890, além de reafirmarem antigas proibições como a necessidade de autorização da Câmara para o início de qualquer construção, determinam que os prédios de alvenaria ou taipa que estivessem sem reboco deveriam ser rebocados e caiados dentro de seis meses, sob pena de multa de 30$000 réis ou 4 dias de prisão.

Vivia-se um novo período marcado por profundas transformações urbanas gestadas pela economia da borracha. Gestores e a elite local, visando atrair investimentos para a cidade, passam a buscar dotá-la de melhoramentos e apagar os vestígios de uma cultura local marcada pela simplicidade e vista como atrasada. De acordo com a historiadora Edinea Mascarenhas Dias,

A modernidade em Manaus não só substitui a madeira pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarapé pela avenida, a carroça pelos bondes elétricos, a iluminação a gás pela luz elétrica, mas também transforma a paisagem natural, destrói antigos costumes e tradições, civiliza índios transformando-os em trabalhadores urbanos, dinamiza o comércio, expande a navegação, desenvolve a imigração. É a modernidade que chega ao porto de lenha, com sua visão transformadora, arrasando com o atrasado e feio, e construindo o moderno e belo”14.

Antigo Palacete Garcia. Gravura de 1885. FONTE: NERY, Frederico José de Sant'Anna. Le Pays des Amazones, 1885, p. 309.

Palacetes e casarões, residências com certa imponência, surgem timidamente na cidade a partir da segunda metade do século XIX. O Palacete Garcia foi um dos primeiros. Com construção iniciada por volta de 1860, seria a residência de Custódio Pires Garcia, Capitão da Guarda Nacional. Foi adquirido pelo Governo da Província em 1867 para abrigar diferentes repartições públicas, sendo a Polícia Militar a que mais tempo o ocupou. Foi concluído em 1874. Atualmente funciona como Centro Cultural Palacete Provincial, na Praça Heliodoro Balbi (da Polícia). O Palacete de Leonardo Ferreira Marques, o Barão de São Leonardo, funcionou posteriormente como Asilo Orfanológico Elisa Souto, Museu Botânico do Amazonas e Instituto Benjamin Constant, inaugurado em 1894. Está localizado na rua Ramos Ferreira. Data de 1899 o belíssimo Palacete Nery, entre a Avenida Joaquim Nabuco e a rua dos Andradas. Antiga propriedade da família Nery, foi projetado em estilo Neoclássico pelo arquiteto e engenheiro italiano Filinto Santoro.

A casa manauara dos primeiros séculos, no geral, era simples, construída de taipa, coberta com palha ou folhas de palmeira e pobremente mobiliada. Existiam algumas exceções, como os sobrados e palacetes de ricos comerciantes que começaram a surgir na segunda metade do século XIX. Mas mesmo nessas nobres residências faltava conforto, que só seria plenamente encontrado ao final de 1800, quando a economia gomífera começou a modificar o espaço urbano, o cotidiano, a moda e os modos da sociedade.


NOTAS:


1 ALGRANTI, Leila Mezan. Famílias e vida doméstica. In: NOVAIS, Fernando A. História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 111.

2 FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Diário da Viagem Filosófica pela Capitania de São José do Rio Negro com a Informação do Estado Presente. CIFEFIL, Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos, 2005, p. 355.

3 SPIX, F., Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil (1817-1820). Tradução de Lúcia Furquim Lahmeyer. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2017, p. 196.

4 BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio corográfico sobre a província do Pará. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004, p. 289.

5 WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. Notas de Basílio de Magalhães. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004, p. 214.

6 AGASSIZ, Jean Louis Rodolph. Viagem ao Brasil 1865-1866. Tradução e notas de Edgar Süssekind de Mendonça. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000, p. 196.

7 Ibidem, p. 245.

8 MONTEIRO, Mário Ypiranga. O recheio das casas nos séculos XVII a XIX. 6° ed. Manaus: Secretaria de Estado de Cultura, Turismo e Desporto, n° 88, novembro de 2002.

9 Amazonas, 16/01/1877, p. 04.

10 Amazonas, 03/07/1890, p. 03.

11 Jornal do Amazonas, 04/02/1888, p. 04.

12 MONTEIRO, Mário Ypiranga. O Tigreiro. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1997.

13 SAMPAIO, Patrícia Melo (Org.). Posturas municipais, Amazonas (1838-1967). Manaus: EDUA, 2016.

14 DIAS, Edinea Mascarenhas. A Ilusão do Fausto – Manaus 1890-1920. Manaus: Editora Valer, 2° Ed, 2007, p. 29.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

O jornal A Marreta e os homossexuais de Manaus (1912)

Edição de 03/11/1912 do jornal A Marreta.

Em 03 de novembro de 1912 o jornal A Marreta, dirigido por Chico Piaba, denunciou o crescimento vertiginoso do número de homossexuais - ou invertidos, como se dizia à época - em Manaus. Ele cobrava providências urgentes das autoridades, apresentando soluções como o encarceramento deles em uma ilha isolada, onde realizariam trabalhos forçados. Nesse período, marcado pelo controle social de práticas e saneamento urbano, a homossexualidade era entendida como um "distúrbio, anomalia, carecendo de cura, correção" (MOREIRA, 2012, p. 263). Esse recorte de jornal constitui-se, dessa forma, em uma importante fonte para os estudos sobre a História da sexualidade na cidade. Jornais desse tipo, explica a historiadora Maria Luiza Ugarte Pinheiro, se apresentavam como humorísticos, mas "[...] nada mais faziam do que externar críticas moralistas e propor ações segregadoras" (PINHEIRO, 2015, p. 231):

"A MARRETA

Augmenta, dia a dia, de uma forma assustadora entre nós, o numero dos invertidos.

Esses infelizes, inuteis a sociedade, que cospurcam os direitos sagrados da natureza, que envergonham o lar e a patria, gosam aqui de toda a liberdade no exercicio de suas infames profissões.

Nas immediações do botequim "O Malho", nas proximidades do Mercado Publico e em outros pontos desta cidade, á noite se encontram, a cada passo esses miseraveis de olhares languidos, de gestos afeminados, de falla docil, confabulando com os seus pares, se ajustando para a pratica dos actos indecorosos de que fazem vida.

Eles se conhecem, ao mais insignificante signal, segundo affirmam muitos medicos que tem estudado essa questão.

O dr. Jules Proust em sua importante obra, sobre este assumpto, affirma que entre os invertidos, existe como uma especie de maçonaria, de maneira que, os de todas as nacionalidades do mundo, se conhecem e se entendem logo da primeira vista.

Esse vicio terrivel, essa aberração, que une o homem de bem ao ladrão o elegante ao sujo, o miseravel ao abastado; essa infamia que torna o homem mais altivo - um timido, um covarde, um nada, vae progredindo em Manáos de tal forma, que se os homens que nos governam não tomarem providencias urgentes e sevéras, em breve as immediações do nosso Mercado estará como os Altos da Avenida da Liberdade e outros pontos da nossa cidade como o Poço dos Negros, em Lisbôa.

Em Portugal, (embora não haja uma justificativa para esse crime) muitos o praticam para saciarem a fome. E a fome é uma coisa negra!

Em Manáos, porém, não ha em absoluto derimente. Aqui, soffre a fome quem é inutil e o que é inutil deve ser lançado fóra do nosso meio.

Os invertidos de Manáos são de indole perversa, corruptos de natureza, excessivos e bandidos.

Convidamos pois a todos os homens de bem a levantarem campanha contra taes.

Se os nossos governantes quizerem expurgal-os de nosso meio, bem o podem. E' só uma questão de querer.

Pode-se arranjar uma ilha, e nella se colocar os invertidos, obrigando-os a trabalhos forçados.

E a se fazer isso, deve-se começar pelos grandes, que occupam logares importantes em nossa sociedade.

Aqui de "Marreta" em punho, estamos promptos a trabalhar pelo saneamento moral de Manáos".

(A Marreta, 03/11/1912, p. 01).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


MOREIRA, A. S. A homossexualidade no Brasil no século XIX. Bagoas: Revista de Estudos Gays, v. 6, p. 253-279, 2012.

PINHEIRO, Maria Luiza Ugarte. Folhas do Norte: letramento e periodismo no Amazonas (1880-1920). 3° ed. Manaus: EDUA, 2015.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Vila Georgette, em Manaus

Vila Georgette. FOTO: Roberto Mendonça.

A Vila Georgette é uma vila de casas do início do século XX localizada na rua Lauro Cavalcante, no Centro de Manaus. É uma das construções mais tradicionais da cidade, chamando a atenção de quem passa por aquela parte do Centro Histórico. Quando foi construída? A referência mais antiga foi encontrada em uma edição de 1905 do Jornal do Commercio, em uma nota em que moradores da Avenida Silvério Nery (Joaquim Nabuco), com casas que davam para o fundo da vila, reclamavam sobre o lixo que era jogado naquelas imediações (JORNAL DO COMMERCIO, 07/09/1905, p. 01). Outras referências são encontradas em queixas dos moradores da vila, como a publicada em 17 de agosto de 1908 no Jornal do Commercio, em que eles denunciavam que a iluminação do beco que dava acesso às casas, todas as noites, por volta das 22:00 horas, deixava de funcionar, tornando o trânsito no local bastante perigoso (JORNAL DO COMMERCIO, 17/08/1908, p. 02). Nesse período (1900) seu endereço era a rua Henrique Martins. Esse trecho foi renomeado como Lauro Cavalcante apenas em 1917, em homenagem ao médico Lauro E. Cavalcante, falecido naquele ano. De acordo com o historiador Mário Ypiranga Monteiro, ela foi construída pelo comerciante português Isaías Bento Luiz, fundador da Central de Ferragens. Teve como último herdeiro Isaías Soares Bento (GUERREIRO, 2019, p. 75). Era bastante comum, em todo o Brasil, que comerciantes construíssem vilas para aluguel, de forma a incrementar a renda familiar. Eles supriam as demandas por habitação surgidas com o crescimento das cidades entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. Sua arquitetura é tipicamente portuguesa, em estilo eclético, sem maior rebuscamento arquitetônico. Analisando as publicações de jornais de época, percebe-se que os moradores da Vila Georgette pertenciam a diferentes classes sociais: eram operários, militares, funcionários públicos e pequenos comerciantes. Mário Ypiranga registra ainda que no porão da última casa funcionava o jornal Vanguarda, de Jacy Zany, onde iniciou sua carreira jornalística em 1927 (GUERREIRO, 2019, p. 75). Em 08 de agosto de 2012 um incêndio destruiu sete casas da vila (STRAHM; PEREIRA, 2012). Ela era formada por 16 casas, reduzidas a 09 após o incêndio.

Registros antigos da Vila Georgette. FONTE: MELLO, Thiago de. Manaus, amor e memória, 1983, p. 108-109.


FONTES:

Jornal do Commercio, 07/09/1905.

Jornal do Commercio, 17/08/1908.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

GUERREIRO, Ana do Nascimento. Vilas Urbanas de Manaus - Habitação Coletiva, Herança Cultural e Lugares de Memória (1900-1950). Dissertação (Mestrado em História), UFAM, 2019.

STRAHM, Bruno; PEREIRA, Camila. Incêndio atinge Vila 'Jorgete' no Centro de Manaus. A Crítica, 09/08/2012.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

O movimento Republicano no Amazonas

O Amazonas aderiu à República em 21 de novembro de 1889. Naquela data o último Presidente da Província, Manuel Francisco Machado, o Barão do Solimões, entregava o Governo à Junta Governativa Provisória, constituída por Domingos Teófilo de Carvalho Leal, Manoel Lopes da Cruz e Antônio Florêncio Pereira do Lago. Não chegou-se a constituir um movimento republicano de grandes proporções como em outras regiões do Império, o que não quer dizer que ele tenha sido menos importante.

O comerciante, arqueólogo, numismata Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1851-1931) registra que o movimento Republicano no Amazonas ia se desenvolvendo lentamente e fazendo adeptos da causa (RAMOS, 1929, p. 01). Um dos mais antigos republicanos do Amazonas foi o jornalista e historiador paraense Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1841-1919), filho do primeiro Presidente da Província do Amazonas, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha (1798-1861). Bento Aranha defendia os ideais republicanos através da imprensa, criticando tanto a família imperial quanto o Governo da Província. Por suas ações chegou a ser preso e afastado de cargos públicos.

Em 29 de junho de 1889 foi fundado, no Largo de São Sebastião, o Clube Republicano do Amazonas (RAMOS, 1929, p. 01). Foram membros fundadores Domingos Theophilo de Carvalho Leal, Gentil Rodrigues de Souza, Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, Olympio F. da Motta, Aureliano A. Fernandes, João Francisco Soares Filho, Graccho de Souza Freire, Manoel Carlos Cabral, Faustino L. Mendes, José Arthur Pinto Ribeiro Filho, João da Cruz M. Fernandes, Joaquim Serra Carvalho, Joaquim Ferreira Prata, José Telles de Souza Lima, João Rodrigues de Mello, José Pinto de Araújo Rebello Junior, Manoel Mendoza, J. V. Catharino Silva, Sergio Gollaço Vera, Raymundo Baptista Duarte, Antonio José Ferreira Netto, Francisco de Araújo Dias, Rodolpho Pinto Mesquita, Eduardo da Silva Perdigão, Capitão João Eneas da Silva, João Vianna, Julio Pinto de Almeida, Francisco Marques de Lemos Bastos, Antonio José Ferreira Netto, Hygino José Claudino Oliveira, Francisco Sisnando Baptista, Almachio Alisidino Pinto Bandeira, Francisco de Barros Cardoso, Ernesto de Pinho Ferreira, Trajano Gomes da Costa, José Jeronymo Bandeira de Mello, Augusto Botelho da Cunha e João Gonçalves Pinto (RAMOS, 1929, p. 01).

A instalação do Clube Republicano do Amazonas ocorreu em 03 de julho, data em que aportou na cidade Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o Conde d'Eu (1842-1922), em viagem às Províncias do Norte do Império. A direção do clube distribuiu boletins convidando a população para a solenidade, protestando contra o fato de só existirem no Amazonas jornais que defendiam a Monarquia. Bernardo Ramos conta que um desses boletins chegou às mãos do Conde d'Eu, que perguntou ao Presidente da Província: "Também por cá já há disto?". O Presidente, confirmando, perguntou se ele não gostaria que os membros dessa organização fossem castigados, no que ouviu: "Não, não vim aqui tolher a liberdade de ninguém" (RAMOS, 1929, p. 01). De acordo com Arthur Cezar Ferreira Reis, os republicanos lançaram um manifesto em que pediam, além da Proclamação da República, 

"[...] o restabelecimento do crédito e das finanças da província, diminuição dos impostos, garantia do funcionalismo provincial e municipal, organização do ensino público tornando-o livre, criação de escolas técnicas e agrícolas, proteção ao indígenas, desenvolvimento da navegação interna e externa pela livre concorrência, desenvolvimento da indústria fabril, rural e comercial, organização do trabalho" (REIS, 1989, p. 243).

No dia 21 de novembro surge o jornal O Americano, com redação e tipografia na Praça Tamandaré, atual Tenreiro Aranha. Essa folha era descrita como uma defensora dos ideais republicanos, contra a monarquia e seus privilégios. Nesse mesmo dia, após quase uma semana do ocorrido, chegou à Manaus a notícia de que na capital Federal os militares haviam proclamado a República. Arthur Cezar Ferreira Reis explica com detalhes como a notícia chegou ao Amazonas: "Não havia telégrafo pondo o Amazonas em comunicação com o Sul. A linha chegava apenas até Belém, de sorte que só à tarde, às 17 horas de 21 de novembro, fundeado no porto de Manaus, o vapor Manaus, da Companhia Brasileira de Navegação, hoje Lloyd Brasileiro, soube a cidade do que se estava passando no país" (REIS, 1989, p. 244). Joaquim Travassos da Rosa, Antonio Filipe de Souza e Antônio Pedro Borralho, membros da Junta Provisória do Pará, inteiraram o Clube Republicano do Amazonas sobre os fatos que haviam ocorrido no Rio de Janeiro.

A adesão à República ocorreu no Eden-Theatro, localizado na Praça Dom Pedro II, posteriormente Praça da República. Ali foi organizado um governo provisório constituído por três membros do Clube Republicano do Amazonas: Domingos Teófilo de Carvalho Leal, Manoel Lopes da Cruz e Antônio Florêncio Pereira do Lago. O novo governo, ao lado da população, que estava eufórica, se dirigiu ao Palácio do Governo (Paço da Liberdade) ao som da Marselhesa, onde encontrou o Presidente da Província, Manuel Francisco Machado, o Barão do Juruá. Ele não ofereceu resistência, entregando o cargo.

Ao comentar a Proclamação da República, um articulista de O Americano escreveu:

"O povo brazileiro, neste momento solemne em que se apresenta perante o mundo proclamando a sua liberdade, e expulsando do seio da patria os vampiros da realeza, essa familia privilegiada que especulava com a nossa generosidade, para alimentar a vaidade de uma supposta fidalguia, o povo brazileiro se mostra verdadeiramente heroico, verdadeiramente grande" (O AMERICANO, 21/11/1889, p. 01).

O Governo Provisório do Amazonas administrou o Estado até 04 de janeiro de 1890, quando foi nomeado para o cargo o político e militar gaúcho Augusto Ximeno de Vilerroy (1862-1942), que o ocupou até 02 de novembro do mesmo ano. Nesse pouco tempo empreendeu algumas mudanças: dissolveu a Assembleia Provincial e as câmaras municipais, fazendo novas nomeações, acabou com o ensino religioso, criou novas escolas, o Instituto Normal Superior e extinguiu o Museu Botânico. Encerra-se assim a primeira fase do movimento republicano no Amazonas.

FONTES:

O Americano, 21/11/1889.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

RAMOS, Bernardo de Azevedo da Silva. A República no Amazonas, I. Jornal do Commercio, Manaus, 09/06/1929, p. 01-01.

RAMOS, Bernardo de Azevedo da Silva. A República no Amazonas, II. Jornal do Commercio, Manaus, 23/06/1929, p. 01-01.

REIS, Arthur Cezar Ferreira. História do Amazonas. 2° ed. Belo Horizonte: Itatiaia [Manaus]: Superintendência Cultural do Amazonas, 1989.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Lágrimas de Saudade: o Dia de Finados

Cemitério de São João Batista, em Manaus, durante o Dia de Finados de 1935. Colorização digital. FOTO: Robert Swanton Platt. FONTE: University of Wisconsin - UWM Libraries.

Hoje boa parte da humanidade reverenciará seus mortos. A História registra que a data foi instituída primeiramente na Abadia de Cluny, na França, em 02 de novembro de 998 pelo Abade Odilon, posteriormente Santo Odilon (962-1049). Ele determinou que a partir daquele momento, em todo 02 de novembro, Igreja e comunidade dedicariam orações aos mortos para que estes diminuíssem a estadia no Purgatório e alcançassem o Paraíso. A partir daí a data tornou-se uma das principais do calendário cristão. Mas muito antes disso os seres humanos já se dedicavam com afinco aos que faleciam. Os homens pré-históricos enterravam seus semelhantes com objetos como pedras, conchas, estatuetas e armas, o que mostra, já naquele período, a crença na vida após a morte. O filósofo e antropólogo francês Edgar Morin, autor de O Homem e a Morte (1970), afirma que não existe nenhum grupo, por mais arcaico que seja, que abandona seus mortos, e que os cuidados dedicados a eles, como a construção de monumentos, são uma das principais características de nossa espécie.

Quando os portugueses e espanhóis chegaram à América, depararam-se com diferentes sociedades, cada uma com suas formas de encarar a morte. Os Maias e Astecas, por exemplo, celebravam seus mortos no nono mês do calendário solar, realizando grandes festas com banquetes, danças e músicas. Os povos do litoral brasileiro, registrou Frei Vicente do Salvador em História do Brasil (1500-1627), embrulhavam os cadáveres nas redes em que dormiam e os sepultavam em covas profundas com comida, tabaco, água e armas. As mulheres e filhas se pintavam e choravam dias a fio. Às práticas nativas mesclaram-se as oriundas da Velha Europa Medieval, Cristã Católica. Em seguida vieram as influências africanas através dos escravos, com seus cultos aos ancestrais. Os enterros, como já ocorria na Europa desde a Antiguidade tardia, passaram a ser realizados no interior e ao redor das igrejas. Quanto mais importante e rica a pessoa, mais próxima do altar ela era sepultada. Ricos templos de Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Minas Gerais ainda ostentam lápides de séculos passados.

Os cemitérios como conhecemos são produto de uma nova mentalidade em relação à morte surgida entre os séculos XVIII e XIX. Os enterros em Igrejas e seus terrenos passaram a ser combatidos em nome da saúde pública, pois esses lugares estavam localizados na área urbana, emanando, segundo especialistas, gases putrefatos sobre a população. Médicos recomendaram às autoridades a construção de cemitérios afastados das regiões mais habitadas. Mas mesmo na Europa, dita adiantada, foi encontrada resistência por parte dos adeptos desse costume. Cemitérios no Brasil apenas por volta de 1850, quando epidemias de cólera e febre amarela forçaram suas construções. Em Manaus, então Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, os mortos eram enterrados na antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e em seus largos. Crianças, jovens e adultos enterrados em terrenos úmidos, pegajosos, muitas vezes impróprio, mas santos. Era o que importava no final. Era no claustro da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios que a família Antony ia chorar a sua inocente Leocádia, falecida em 09 de janeiro de 1854 e ali sepultada. Era nas Igrejas que a população da Barra visitava seus entes queridos. O primeiro cemitério da cidade surgiu de improviso em 1854 através do cercamento do terreno que ficava atrás da Igreja dos Remédios e que já era utilizado como local de sepultamento. O Cemitério dos Remédios funcionou até 1856, quando, sem espaço para receber a grande quantidade de vítimas da febre amarela, foi desativado. Nesse mesmo é aberto na Estrada da Cachoeira Grande (Avenida Epaminondas) o Cemitério de São José, concluído em 1859.

Por mais de três décadas as romarias de Dia de Finados dirigiram-se ao Cemitério de São José, à época em região afastada da zona urbana, como preconizavam as autoridades. Em frente a ele foi aberto, em 1865, um largo, logo batizado de Largo da Saudade, hoje Praça da Saudade. Os preparativos começavam semanas antes, com a limpeza e ornamentação dos túmulos. As visitas tinham início no dia 01. Seguia-se um roteiro. Às 9 horas eram realizadas as missas e a encomendação das almas pelo Vigário Geral. As músicas eram cantadas pelos alunos do Instituto de Educandos Artífices. Novos ofícios religiosos eram realizados pela parte da tarde. À noite encerrava-se a visitação. Sobre a comemoração de 1885, um articulista do ‘Jornal do Amazonas’ escreveu que “a concorrência foi enorme, e a dor foi sincera”. O mesmo ocorria distante do Centro, no bairro de São Raimundo, que contava com um cemitério para as vítimas da varíola desde a década de 1870. Em 1888 ele passou a atender o público em geral. A memorialista Elza Souza, autora de Do “Alto” da minha colina – sem os bucheiros o bairro de São Raimundo Perdeu o Encantamento (2008), registra que algumas famílias abastadas da cidade construíram no local mausoléus luxuosos, que contrastavam com os montículos de terra das pessoas mais humildes oriundas do próprio bairro, habitado em sua maioria por retirantes, pescadores e operários.

Os cemitérios de São José e de São Raimundo, ambos sem espaço, foram desativados em 1891, ano em que foi inaugurado, no dia 05 de abril, o Cemitério de São João Batista, no antigo bairro do Mocó (Vila Municipal, Adrianópolis/Nossa Senhora das Graças), ainda hoje em atividade. O novo cemitério era obra do Governo modernizador de Eduardo Gonçalves Ribeiro (1862-1900). Manaus, agora capital da borracha, necessitava de obras à altura de sua nova condição de cidade exportadora e centralizadora das atividades econômicas da região. A necrópole, melhorada ao longo dos anos, tornou-se reflexo dessa busca pelo progresso. Cemitério da elite, espaço cívico, última morada de grandes personalidades e pessoas afortunadas, enterradas nas quadras principais em mausoléus suntuosos, verdadeiras obras de arte esculpidas em mármore e assinadas por marmorarias e artistas renomados. O luxo em um local em que se acreditava ocorrer um nivelamento social explica-se pelo desejo do burguês de buscar sempre diferenciar-se e atestar seu poder. O homem continuaria vivendo enquanto fosse lembrado, defendia a filosofia Positivista. Cemitério também do povo, mas em quadras mais afastadas e em jazigos simples. Diferenças em vida que permaneciam na morte. Que trágico e poético.

A Prefeitura organizava – como ainda faz – todos os detalhes para as comemorações. Cuidava da limpeza das quadras, do aparo da vegetação, da disponibilização de bondes suficientes para levar a população para o Cemitério de São João Batista e da segurança pública. Nos jornais eram publicados anúncios de venda de velas, flores, cruzes, imagens sacras, instalações elétricas e outros adereços para túmulos. Em frente ao cemitério eram instaladas barracas para a venda de comidas e bebidas. A mesma agitação era verificada nos bairros periféricos de São Raimundo e Colônia Oliveira Machado. Este último tinha um cemitério, o de São Francisco, aberto no Governo de Constantino Nery (1904-1908). Nessa época, e por época podemos compreender aqui o período 1890-1960, utilizava-se uma indumentária própria para esse dia. De acordo com o antropólogo e historiador Thales Olympio Góes de Azevedo, autor de ‘Ciclos da vida: ritos e ritmos’ (1987), as mulheres usavam roupas pretas e roxas em combinação com o branco e véu para cobrir o rosto. Os homens usavam fumo no braço direito ou na lapela e roupa escura, cinza e branca. Essas cores eram associadas à morte e ao luto. 

Na década de 1960 os cemitérios de São João Batista, Santa Helena, no bairro de São Raimundo, e São Francisco, no bairro Colônia Oliveira Machado, já estavam sem espaço. Para sanar esse problema foram construídas na década seguinte mais duas necrópoles: o Cemitério de Nossa Senhora de Aparecida, conhecido como Cemitério Tarumã, e o Cemitério Parque de Manaus, ambos localizados no bairro Tarumã, na zona Oeste. O Cemitério Parque de Manaus seguia o modelo dos modernos cemitérios parques norte-americanos, sem construções e apenas com placas de identificação. Abria-se um novo tempo, o da praticidade. Economizava-se tempo e dinheiro.

Que alívio, depois de um ano turbulento por conta da Covid-19, que acabou impedindo a visitação aos campos santos em novembro de 2020, poder se deslocar para reverenciar aqueles que foram caros em vida. O mesmo ocorreu em 1918, durante a pandemia de Gripe Espanhola. Nesse Dia de Finados o manauara visitará não só o Cemitério de São João Batista, entre os bairros de Adrianópolis e Nossa Senhora das Graças, o Cemitério de São Francisco, hoje no Morro da Liberdade, o Cemitério de Nossa Senhora de Aparecida e o Cemitério Parque de Manaus, no bairro Tarumã, mas também o Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, no Tarumã; e o Cemitério de Santo Alberto, na Colônia Antônio Aleixo. Não mais de bonde, mas de carro e ônibus. Nem de preto, cinza, branco ou roxo. Os simbolismos foram abandonados. Mas irá com o mesmo sentimento de saudade que tão bem caracteriza essa data há milênios.


Cemitério de São Francisco, em Manaus

Alguns jazigos do Cemitério de São Francisco. FOTO: Roberto Mendonça, 2018.

A Colônia Oliveira Machado, inicialmente conhecida como Colônia Santa Maria, era uma colônia agrícola criada pela Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas em 08 de julho de 1854. Nela trabalhavam colonos de origem portuguesa e espanhola que vieram para o Brasil para substituir a mão de obra escrava africana após o fim do tráfico de escravos em 1850. A colônia não apresentou resultados satisfatórios, ficando abandonada até 1888, quando passou a receber famílias de migrantes nordestinos que fugiam da seca. Em 02 de abril de 1889 o Presidente Joaquim de Oliveira Machado a batizou com o seu nome (LEÃO, 2010). O local carecia de boa infraestrutura. Faltava o básico, como escolas, estabelecimentos comerciais e um cemitério público, que só surgiria no final daquele século. Antes disso, os moradores mais antigos relatam que os enterros eram feitos nos terrenos de suas propriedades.

O Cemitério da Colônia Oliveira Machado, dito de São Francisco (atualmente localizado no bairro Morro da Liberdade, surgido através de desmembramento da Colônia Oliveira Machado), tem origens que remontam ao ano de 1898. No Governo de José Cardoso Ramalho Júnior foi decretada a Lei N° 240 de 13 de Outubro daquele ano, que “auctoriza o Governo do Estado a abrir o crédito necessario para a construcção de um cemiterio na colonia ‘Oliveira Machado’” (DIÁRIO OFFICIAL, 19/10/1898, p. 01). Autorizada a abertura de crédito, o cemitério foi aberto e concluído anos mais tarde “[…] pelo governo do Estado na administração do Dr. Antonio Constantino Nery [1904-1908]” (RELATÓRIO DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO TOMBO DOS PRÓPRIOS DO MUNICÍPIO, 1922). Durango Duarte cita o ano de 1908 como sendo o de sua fundação. O primeiro enterro, de Manoel José de Santana, foi realizado em 12 de maio daquele ano (DUARTE, 2009, p. 153).

Mesmo sendo contemporâneo do Cemitério de São João Batista, sua localização e, claro, a condição de cemitério suburbano, o tornava um local de difícil acesso pelo poder público, o que o fazia sofrer com problemas em sua estrutura e conservação. Em relatório apresentado ao Conselho Municipal em 05 de outubro de 1909, o Superintendente Agnello Bittencourt afirmava que o cemitério da Colônia Oliveira Machado estava “com a cerca a desabar” (RELATÓRIO, 05/10/1909).

Apesar da situação de abandono, os moradores da região não deixavam se relacionar com esse espaço. No dia 01 de janeiro de 1908, Luiz Maciel de Mattos ofereceu um cruzeiro ao cemitério da Colônia Oliveira Machado em agradecimento ao fato de o bairro não ter sido atingido pela varíola em 1907. Durante a entrega compareceram 500 pessoas, que comemoraram o acontecimento com a queima de fogos (JORNAL DO COMMERCIO, 03/01/1908, p. 01).

Em 1928, pensando na acessibilidade dos frequentadores, o vereador Severiano de Souza apresentou à Câmara Municipal um parecer autorizando a Prefeitura a abrir uma estrada que ligasse o bairro de Constantinópolis (Educandos) ao Cemitério da Colônia Oliveira Machado (JORNAL DO COMMERCIO, 11/05/1928, p. 01). Apenas em 1937 essa estrada seria aberta, ligando o cemitério à Estrada João Zany por um ramal acessível a veículos. As obras foram realizadas por Pedro Telles pela importância de 2:136$258 réis (MENSAGEM, 15/04/1937).

Uma caminhada por essa necrópole nos permite observar sua simplicidade e o histórico abandono. Construída em terreno de geografia ondular, caracterizada por pequenas e médias elevações, não possui túmulos suntuosos. Os jazigos familiares são simples, construídos em sua maioria por pedreiros e também por pessoas sem experiência na área, com materiais como tijolos e azulejos. Alguns exemplares são de mármore e granito, revelando certo poder aquisitivo dos proprietários. Aos interessados em visitá-lo, ele está localizado na antiga rua Coronel Pedro de Souza, atual Antônio Lacerda, no bairro Morro da Liberdade.


FONTES:


Diário Official, 19/10/1898.

Relatório da Commisão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município, Manáos, Typographia Cá & Lá, 1922.

Relatório apresentado ao Conselho Municipal em sessão extraordinaria de 5 de Outubro de 1909 pelo Superintendente Cel. Agnello Bittencourt.

Jornal do Commercio, 03/01/1908.

A edilidade. Jornal do Commercio, 11/05/1928.

Mensagem que o Prefeito de Manaos Agronomo Antonio Botelho Maia dirigiu á Camara Municipal em a primeira reunião ordinaria de 15 de abril de 1937.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


DUARTE, Durango Martins. Manaus entre o passado e o presente. Manaus: Ed. Mídia Ponto Comm, 2009.

LEÃO, Hamilton de Oliveira. Colônia Oliveira Machado. Manaus: Edições Muiraquitã, 2010.

sábado, 23 de outubro de 2021

Manaus: a fortaleza, o lugar e a cidade

Orla de Manaus, 1865. Ao fundo, à direita, as ruínas da Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro. FONTE: MACHADO, Maria Helena P. T. O Brasil no olhar de William James: cartas, diários e desenhos, 1865-1866. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010.

A cidade de Manaus tem sua origem ligada à construção da Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro na segunda metade do século XVII. Os relatos mais antigos sobre a Fortaleza surgem entre o final do século XVII e o século XVIII. O Pe. Samuel Fritz (1654-1728), em seu Diário, registra que chegou ao Rio Negro na noite de 7 de Setembro de 1690, lugar “[…] onde o rei de Portugal, há anos, mandou fazer uma fortaleza” (PINTO, 2006, p. 106). Entre 1774 e 1775, o Ouvidor e Intendente Geral Francisco Xavier Ribeiro Sampaio esteve na Capitania de São José do Rio Negro em viagem de correição de suas povoações. Sampaio relata que “O general do estado Antonio de Albuquerque Coelho mandou edificar a fortaleza da barra deste rio por Francisco da Motta Falcão, e foi o seu primeiro commandante Angelico de Barros” (SAMPAIO, 1825, p. 89).

A fortaleza, erguida na margem esquerda do Rio Negro, tinha como objetivo assegurar o domínio português naquela distante região da Colônia e de resguardá-la das pretensões conquistadoras de espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. Ao redor do forte foram reunidos os grupos indígenas barés, aruaquis, manaus, tacu, passé, baníua, tarumã, muras, merequenas e juris. Esse povoado nascente, formado por indígenas, europeus e um número diminuto de escravos, ia crescendo lentamente. De acordo com o historiador amazonense Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004), em meados do século XVIII

"Havia a pequena indústria doméstica de redes, manufatura de manteiga ou banha de ovos de tartaruga que se exportava, colheita de tabaco, roças de maniva, plantação de cacau, de milho, extração de drogas, exportação de madeiras, e para o consumo, a pesca, a viração de tartarugas, o beneficiamento da mandioca, do milho. Era um princípio de comunidade, copiado, não há que ver, da comunidade indígena" (MONTEIRO, 1994, p. 46).

O naturalista brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), de passagem pelo povoado em 1786 durante sua Viagem Filosófica, registrou a existência de dois bairros, divididos por igarapés, algumas ruas e prédios públicos e particulares como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a olaria, a casa das canoas e as casas do vigário, do comandante e de outros moradores (FERREIRA, 2005, p. 353-355).

O Lugar da Barra teria seu auge ainda no século XVIII, mais especificamente entre 1791 e 1798 no Governo do Brigadeiro português Manuel da Gama Lobo d’ Almada. Lobo d’ Almada assumiu a Capitania de São José do Rio Negro, criada em 1755, em 1788. Esta era subordinada ao Grão-Pará. Seu governo foi marcado por transformações políticas e econômicas na Capitania. Até 1791 a capital daquela unidade territorial era a Vila de Barcelos. Almada decide transferi-la para o Lugar da Barra, por este oferecer uma melhor localização geográfica, na confluência dos rios Negro e Solimões, facilitando a defesa e comércio locais. De acordo com o historiador paraense Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1841-1919), Lobo d’ Almada foi o grande impulsionador do progresso da Barra, sendo responsável pela construção dos seguintes estabelecimentos:

"1 padaria de pão de arroz moido em atafona movida por bestas; 1 fabrica de panno de algodão (em rolos) tendo 18 teares e 10 rodas de fiar com 24 fusos cada uma; 1 cordoaria de cordas e amarras de piassaba e calabres; 1 fabrica de fecula de anil; 1 nora para distribuir agua para a fabrica de anil e para uma horta; 1 horta; 1 olaria com excellentes amassieiras, estendedouros, fornos calcinatorios e de torrefação de telha e ladrilho; 1 fabrica de velas de cera; 1 açougue; 1 ribeira para construcção de canoas; 1 fabrica de redes de fio d’ algodão; 1 fabrica de redes de fibras de tucum, curauhá e murity; e muitos engenhos de moer canna e fabricar cachaça e mel" (ARANHA, 1990, p. 11-12).

Temeroso pelo rápido crescimento do Lugar da Barra e o prestígio de Lobo D' Almada, que acreditava poder tomar seu posto de Governador, o Capitão-general Francisco de Sousa Coutinho, do Grão-Pará, com o auxílio de seu irmão Rodrigo de Sousa Coutinho, Ministro e Secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos em Portugal, corta as verbas para a Capitania de São José do Rio Negro e persegue Almada, conseguindo fazer com que a capital retornasse para Barcelos em 1799. Um período de marasmo econômico atingiria o Lugar da Barra, destituído da condição de capital da Capitania.

Em 1804, o novo Governador da Capitania do Grão-Pará, D. Marcos de Noronha e Brito, Conde dos Arcos, refletindo sobre a boa administração de Lobo d’ Almada e a situação em que ficou a Barra, sugeriu ao novo Governador da Capitania de São José do Rio Negro, José Simões de Carvalho, que fizesse retornar a capital para o Lugar da Barra. A mudança só ocorreu quatro anos mais tarde, conforme explica o historiador amazonense Arthur Cézar Ferreira Reis (1906-1993): “Só, porem, em 1808, já sob o governador capitão de mar e guerra José Joaquim Victorio da Costa, a suggestão era acceita, deixando-se em definitivo Barcellos e reinstalando-se a capital na Barra, aos 29 de março” (REIS, 1934, p. 56).

A elevação à condição de vila era algo esperado pelos habitantes do Lugar da Barra. Ela não ocorreu em 1791 e nem em 1808. O Lugar se tornaria vila mais de duas décadas depois, em 1833, através do Código de Processo Criminal, promulgado pela Regência em 1832, tendo como objetivo uma nova organização dos termos e comarcas das Províncias. O Presidente da Província do Grão-Pará, executando o Código em decreto de 25 de junho de 1833, dividiu a mesma em três comarcas: Grão-Pará, Baixo Amazonas e Alto Amazonas. No artigo 27 ficou estabelecido que

"O Logar da Barra do Rio Negro fica erecto em villa com a denominação de Manáos, servindo de cabeça de termo, em o qual se comprehende a mesma villa e a de Silves, que perde o predicamento de villa e a denominação de Silves, sendo substituída pela de Saracá; e bem assim as Freguezias de Aturiá e Amatary (supprimindo o título que cada uma tinha de Missão) e de Jaú, que era denominada Ayrão, com os seus limites actuaes" (REIS, 1934, p. 69-70).

Após ascender à condição de vila, o novo desejo era a cidade. A Assembleia Provincial do Grão-Pará decidiu que a capital da Comarca do Alto Amazonas, a vila de Manáos, já tinha condições para ser elevada à categoria de cidade. A elevação foi garantida pela Lei N° 145 de 24 de Outubro de 1848, conforme registrado em documento de 1849 transcrito por Mário Ypiranga Monteiro:

"Foi presente a ley do orçamento Provincial que trata á Acta da antecedente; e ponderando o Sr. Presidente, avista della, que por Ley de 24 d’ Outubro do anno passado, sob n° 145, foi ellevada esta Villa a cathegoria de Cidade, julgava portanto necessario sua publicidade, e sendo concordado pela afirmativa ordenaraõ se fezesse esta noticia publica por Editaes convidando-se aos habitantes para que illuminem afrente de suas rezidencias por trez noites sucessivas, e que os demais festejos ficariaõ paraquando o Exo. Senr. Presidente comunicasse officialmente. Resolveraõ a mais que na forma do art. 117 da Ley de 19 de Agosto de 1846, fossem chamados os 1° e 2° Suplentes para vierem tomar assento como proprietarios em consequencia da elevação desta Villa a Cidade; porem como o 2° Supplente João Ignacio Roiz do Carmo se acha pronunciado em crime de responsabilidade, como consta da parte official, ordenaraõ fosse convidado o 4° Suplente João Fleury da Silva, para vir prestar juramento e servir nesta reunião no empedimento dos proprietarios" (MONTEIRO, 1994, p. 84).

A Vila de Manáos foi elevada à categoria de cidade com o nome de Cidade da Barra do Rio Negro. De passagem pelo local em 1849, o naturalista britânico Alfred Russel Wallace (1823-1913) registrou alguns aspectos da cidade:

"As suas ruas são regularmente traçadas; não têm, no entanto, nenhum calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos, o que torna a caminhada sobre os seus leitos muito desagradável, principalmente à noite. As casas geralmente só têm um pavimento; são cobertas de telha vermelha e assoalhadas com tijolos, têm as paredes pintadas de branco ou de amarelo; e as portas e janelas, pintadas de verde […] A população da cidade é de 5.000 a 6.000 habitantes, dos quais a maior parte é constituída de índios e mestiços" (WALLACE, 2004, p. 214-215).

Planta de Manaus em 1852. FONTE: Instituto Durango Duarte.

Após décadas de lutas pela emancipação do Grão-Pará e transformação em Província, a Comarca do Alto Amazonas, através da Lei N° 582, de 05 de setembro de 1850, é elevada à categoria de Província do Império. A instalação se deu em 01 de janeiro de 1852. É desse ano a planta da cidade feita pelo Presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha (figura 01). Nela vemos uma pequena cidade dominada pelos igarapés de São Vicente, Espírito Santo, Ribeira, Aterro, Cachoeira Grande, Castelhana, Bica, de Manáos, Cachoeirinha, de Monte Cristo e tendo cinco bairros, São Vicente, Espírito Santo, Remédios, República e Campina. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


ARANHA, Bento de Figueiredo Tenreiro. Um Olhar Pelo Passado. Manaus: Prefeitura Municipal/GRAFIMA, 1990. [Original de 1897].

FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Diário da Viagem Filosófica pela Capitania de São José do Rio Negro com a Informação do Estado Presente. CIFEFIL, Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos, 2005.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Fundação de Manaus. Manaus: Editora Metro Cúbico, 1994.

PINTO, Renan Freitas (Org.). O Diário do Padre Samuel Fritz. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas/Faculdade Salesiana Dom Bosco, 2006.

SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de. Diário da viagem que em visita, e correição das povoações da capitania de S. Jose do Rio Negro fez o ouvidor e intendente geral da mesma Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio no anno de 1774 e 1775. Lisboa: Typografia da Academia, 1825. (Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin).

REIS, Arthur Cezar Ferreira. Manáos e outras Villas. Manáos: Typografia Phênix, 1934. (Biblioteca Arthur Reis - CCPA).

WALLACE, Alfred Russel. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2004.