O Homem Anatômico, 1411-1416. A relação entre astronomia e medicina era grande na Idade Média, com estudiosos afirmando que o alinhamento entre certos corpos celestes e também as constelações tinham influência no funcionamento do corpo humano.
Mas, claro, cada período possui sua particularidade, pontos positivos e negativos, avanços e ideias consideradas ultrapassadas ou perigosas. A saúde pública e o tratamento de doenças nessa época eram um dos problemas desse período. A doença, que não escolhia a classe social das pessoas, [...] provinha da constelação ou da vingança divina (FREITAS, p. 174) , como afirmou o Papa Clemente VI, em 1349, ao relatar os estragos causados pela Peste Negra na Europa. Alguns médicos da época afirmavam que a má confluência entre corpos celestes poderia influenciar no funcionamento do corpo humano.
Através do guia How would you Survive in the Middle Ages?, traduzido para o português "Como seria sua vida na Idade Média?", de autoria de Fiona MacDonald, professora de História Medieval do Reino Unido, e de outras fontes, teremos um panorama das principais moléstias e os diferentes tratamentos utilizados por médicos, curandeiros e sábios de uma época que transitava entre a visão divina de mundo e avanços técnico-científicos.
Aforismos, a obra médica mais conhecida do grego Hipócrates. De forma prática e concisa, o autor propõe que as doenças são o resultado do desequilíbrio entre nossos quatro humores: sangue, fleuma, bílis e extra-bílis.
Crescer no campo ou nas cidades medievais era uma tarefa que misturava um pouco de sorte com alguns cuidados básicos. Mulheres experientes, que tiveram uma prole considerável, realizavam os partos, mas, mesmo assim, metade dos bebês morriam ao nascer, vítimas de doenças infecciosas, e algumas crianças morriam de forma precoce, antes de completar 5 anos; enquanto algumas pessoas, geralmente com mais posses, chegavam aos 60-70 anos. Perto da morte, a pessoa fazia um testamento, deixando um objeto, terras ou dinheiro para seus herdeiros. Acamado, é hora de confessar seus pecados e receber a extrema-unção de um sacerdote. Ao morrer, era enterrado no cemitério, que geralmente ficava no mesmo terreno de uma igreja.
Cena de um mercado urbano. Iluminura do livro O Cavaleiro Errante, França, 1400-1405.
Os remédios eram os mais variados, indo de sanguessugas à magia de bruxas. Os Médicos, que criavam ou utilizavam antigos diagramas sobre o corpo humano, que continham informações sobre as veias que tinham alguma influência no funcionamento do sistema imunológico, acreditavam que o excesso de sangue no corpo fazia mal, utilizando sanguessugas para retirar o líquido não necessário; ou então incisões conhecidas como sangria. Para infecções e inflamações, cataplasmas com ervas, farelos, água e mostarda eram utilizados. Ervas, mel e água são passados em úlceras, ingeridos contra inflamações na garganta e problemas estomacais. As igrejas tornam-se muito frequentadas, tanto pelos enfermos quanto por seus familiares. Em última ocasião, bruxas, que na verdade são curandeiras, são consultadas e pagas para utilizar suas misturas e mágicas. O primeiro julgamento coletivo por bruxaria aconteceu em 1428, na cidade de Valais, na Suíça.
Os Banhos de Pozzuoli. Miniatura de Pietro da Eboli, século 13.
Os óculos, existentes desde a Antiguidade, foram aprimorados durante o século 13, quando passaram a ser produzidos com lentes corretivas, primeiro monóculos e depois Pince-Nez (óculos sem hastes). Era notável o efeito dessa invenção em olhos desgastados pela idade ou por atividades como a leitura em excesso, no caso de homens cultos. Com pinças e com um conhecimento teórico quase nulo, além de cortar cabelo e barba, barbeiros arrancavam dentes em feiras livres, espetáculos ou em casas dependendo das necessidades do cliente. Um diagnóstico errado fazia serem arrancados tanto dentes podres quanto dentes sadios. Os monges foram proibidos de realizar essas cirurgias no século 12.
Barbeiro dentista extraindo um dente utilizando um fórceps de prata e um colar de dentes. Londres, 1360-1375, da enciclopédia de James le Palmer.
O homem é produto de seu tempo. Quem que viveu durante a Idade Média (476-1454) estava inserido em um período marcado tanto por avanços técnico-científicos significativos quanto pela força do poder eclesiástico. A vida era um constante embate de características bíblicas, com bem e mal eternamente em lados opostos, sendo muitas vezes determinada por condições econômicas ou pela sorte. O aproveitamento desse período fica nítido como a própria mudança nos padrões de higiene, vindos após catastróficas epidemias como a Peste Negra; o melhoramento ou evolução em áreas como a odontologia e a cirurgia; e na desmistificação de algumas doenças. O homem da Idade Média, assim como o homem atual (guardadas as devidas diferenças), não tem uma solução para todos os males, o que permite que o processo de aprimoramento não cesse, o que é benéfico para a evolução do mesmo.
FONTES:
FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, s.d.
MACDONALD, Fiona. Como seria sua vida na Idade Média?. Tradução de Maria de Fátima S. M. Marques. São Paulo: Scipione, 1996. (Coleção Como seria sua Vida). p. 34-35.
SZPILMAN, Marcelo. Judeus - Suas Extraordinárias Histórias e Contribuições para o Progresso da Humanidade. Rio de Janeiro: Mauad, 2012.
SCLIAR, Moacir. Medicina na Idade Média: Doutor Sinistro. Revista Aventuras na História, 01/11/2003.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
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