Via Ápia (aberta em 312 a.C. e ampliada em 264 a.C.), estrada romana com 600 quilômetros de extensão, ligando Roma até a cidade de Brindisi.
Hoje,
quem passa por uma rua, avenida, beco ou travessa, independente da
cidade, talvez não se questione sobre a origem daquela via pública,
quais os motivos para a sua abertura e quais as mudanças ocorridas
com isso. As vias públicas como as conhecemos atualmente são o
resultado de um longo processo de aperfeiçoamento social e técnico:
social no sentido de ligar diferentes pontos de uma cidade, onde são
realizadas transações comerciais, oferecidos serviços, abriga
templos religiosos e, claro, as casas; e técnico pela forma como são
construídas e com quais materiais foram produzidas.
Quando
os homens ainda se agrupavam em comunidades primitivas, com
atividades de subsistência baseadas na pesca, coleta e troca de
produtos, talvez a abertura de caminhos não tivesse um sentido
técnico-econômico complexo, servindo apenas para atalhos, localizar
um curso d' água ou para facilitar a comunicação entre as casas ou
um local de adoração a divindades. Com algumas exceções, já
existe uma preocupação no traçado desses caminhos (ruas e
avenidas), como ficou claro em escavações arqueológicas na
Turquia, em 1996-7, que revelaram a antiga cidade de Titris Hoyuk
(cerca de 5.000 anos), que chegou a abrigar 10.000 habitantes.
Na
Antiguidade Clássica, as ruas da Roma Imperial eram construídas em
ângulos retos, e largas, possibilitando um tráfego fluente de
carruagens, liteiras e transeuntes sem maiores problemas. Os templos
e foros se comunicavam; comerciantes anunciavam os mais variados
produtos em cavaletes e barracas instaladas de uma ponta a outra da
via; semblantes de diferentes nacionalidades se aglomeravam em busca
das melhores ofertas, de um lugar para repousar, como os albergues e
pensões, ou cuidar da higiene em um dos vários banhos públicos. O
anfiteatro, casas de prostituição e tavernas prolongam a vida
noturna, iluminada por tochas ou pela queima do azeite, mas perigosa
nas estradas mais afastadas, que ligavam Roma à diferentes pontos da
Itália.
As ruas medievais eram estreitas, ou porque seguiam a linha da
muralha, uma necessidade de defesa para a cidade; a direção dos
ventos, para arejar; ou a formação geográfica tortuosa da região.
Eram, no entanto, movimentadas pelo comércio e por atrações dos
tipos mais variados. A nomenclatura das ruas é definida por nomes
populares, geralmente ligadas a uma atividade comercial nela
estabelecida: Rua dos Ourives, Rua dos Cuteleiros, Rua dos Livreiros.
Existem também nomes de santos e de nobres. A pavimentação das
vias era feita com pedras sob uma camada de cimento. Esgotos eram
construídos para dar vazão aos detritos públicos, e o resto era
queimado. Construídas na rua principal, a fim de dominarem a
paisagem e servirem de confluência política, social e religiosa,
estavam as catedrais, abadias e capelas.
Nos
séculos 16 e 17, as ruas e avenidas das principais metrópoles
europeias foram favorecidas pela exploração ultramarina, que
possibilitou o escoamento de riquezas para essas cidades, riquezas
essas investidas em Lisboa, Paris, Madri e Amsterdã. As vias
públicas mais preteridas pela burguesia eram aquelas com localização
privilegiada, no caso a orla da cidade ou próximo a ela. A Rua Nova
d' EL REI era a principal via da Lisboa Manuelina. Nela estavam os
prédios públicos mais suntuosos e importantes e as principais lojas
do país. Estrangeiros, vendedores de escravos, nobres e aristocratas
frequentavam o local. O Óleo de baleia era utilizado na iluminação. Não só na Europa, mas também nas terras
recém-descobertas, as ruas eram suntuosas. Hernán Cortés se impressionou com ruas de Tenochtitlán, largas e retas, tão grandes quanto as de Sevilha ou Córdoba, com praças e pontos de venda e troca de produtos.
Os
caminhos do Brasil Colonial ligavam a Igreja ao forte, o forte a casa
do administrador, e a produção econômica ao porto. Esses caminhos
eram definidos pelas construções e muitas vezes eram o
reaproveitamento de antigas trilhas indígenas. Na enriquecida Minas
Gerais, por exemplo, os caminhos de terra batida interligavam a
produção da região: Pelo Caminho Velho ou Caminho do Ouro, que
passava pela Vila do Falcão, descendo o vale do rio Paraíba e
atingia Vila Rica, o ouro das minas era transportado até o Rio de
Janeiro, de onde partia para Lisboa. Os caminhos eram tortuosos,
estreitos, iluminados apenas em algumas cidades, por meio de velas
feitas com cera de abelha ou pela queima de óleos vegetais e
animais. As cidades mais importantes recebiam o acompanhamento de
engenheiros militares na hora de definir o traçado das ruas. A rua,
junto à praça pública, era o local do divertimento popular, das
procissões religiosas, do comércio, dos castigos no Pelourinho,
trajeto dos condenados à morte, e local de exposição das partes
dos corpos de rebeldes esquartejados. As nomenclaturas eram
pitorescas, levando em conta alguma característica especial da
região, nomes religiosos ou de moradores ilustres.
Os
avanços industriais dos séculos 18, 19 e 20 permitiram o
prolongamento da vida urbana, com o advento da iluminação pública
mais eficiente. Os caminhos do passado agora eram ruas e avenidas
propriamente ditas, construídas sob a supervisão de engenheiros e
através de códigos de conduta rígidos. O asfalto produzido através
do petróleo substituiu as pedras e o cimento; a iluminação a gás
ou energia elétrica permitiu que a ópera acabasse mais tarde, que
as casas de diversão, os cafés e tavernas atendessem por mais
tempo. A rua ganhou a função social que possui até hoje: é o
local de lazer, das práticas mundanas e religiosas, das trocas
comerciais, do trabalho, é elemento concreto das relações sociais,
de manifestações públicas, o caminho que leva a diferentes locais
e partes vitais da cidade.
CRÉDITO DA IMAGEM:
europeantrips.org
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