segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Casarão abandonado da família Grosso, na Avenida Joaquim Nabuco (n°472)

Imóvel abandonado na Av. Joaquim Nabuco, no Centro de Manaus.

Não é novidade o péssimo estado de conservação de boa parte das construções do Centro Histórico de Manaus, região em constante processo de esvaziamento e abandono. Dentro e fora da região tombada, é fácil encontrar um prédio descaracterizado, prestes a desabar ou já em ruínas. O sobrado português n° 472, na Avenida Joaquim Nabuco, apesar de estar em uma via inserida na área de tombamento e proteção do patrimônio, é mais um exemplo de que essa delimitação de nada serve se não for posta em prática.

Sobre sua origem e antigos proprietários, temos fragmentos dispersos mas que ajudam na construção, mesmo que breve, de sua trajetória. Em 2015, o jornalista Osvaldo Neto, na matéria História abandonada: Casarões que marcaram tempos antigos vivem carregados de descaso, publicada no jornal A Crítica, recolheu com um responsável por um estacionamento ao lado do imóvel, Marcos Brito, na época com 59 anos, informações importantes sobre a construção.

De acordo com Marcos Brito, residiu nesse sobrado a família Grosso, de Portugal. O patriarca era dono de uma padaria e gostava muito de festas, ficando a casa cheia de convidados todas as semanas. Essas poucas informações desse texto jornalístico serviram de norte para outras pesquisas sobre a família Grosso.

José Ferreira Barbosa Grosso e Lourdes Grosso. FONTE: Jornal do Comércio, 13/06/1976

José Ferreira Barbosa Grosso, o patriarca dessa família portuguesa, veio para o Brasil em 1927, se estabelecendo como comerciante no Estado do Pará. Anos depois se radiciou em Manaus, no Amazonas. Era casado com Lourdes Grosso (1). Nesta capital criou, na década de 1940, a Fábrica Modelo (2), padaria e mercearia, sendo admitido como membro efetivo do Conselho Fiscal da Indústria Moageira de Trigo 'Amazonas' S.A. (3) Atuante na comunidade luso-brasileira, ajudava instituições como o Hospital Beneficente Portuguesa do Amazonas (4) e a APAE (5).

Após décadas de abandono, restaram apenas alguns elementos que possibilitam uma descrição arquitetônica. Trepadeiras tomaram parte do topo e os fundos da construção. O antigo assoalho de madeira já está bastante deteriorado. O telhado está bastante comprometido, bem como a estrutura, com os tijolos expostos. Na parte de trás do imóvel resta um gradil importado que ladeava dois quartos. No frontão, elementos de inspiração nobre como jarros e outras figuras com motivos florais que lembram o Art Nouveau.

Resta, na parte de trás da construção, entre telhas quebradas e vegetação densa, um gradil de época.

O atual proprietário do imóvel o administra de longe, auferindo um renda do estacionamento que aluga ao lado. Talvez não interesse o restauro do imóvel, ou o dono esteja enfrentado os dois principais problemas de quem possui uma construção antiga: O alto valor do restauro e os entraves burocráticos do IPHAN e da Prefeitura, que chegam a inibir qualquer iniciativa. Se nenhuma medida for tomada, o casarão da família Grosso é mais um que pode deixar de existir em breve, entrando na lista do patrimônio literalmente 'tombado' do Centro.


NOTAS:

(1) Jornal do Comércio, 10/04/1977
(2) Jornal do Comércio, 09/01/1949
(3) Jornal do Comércio, 06/06/1974
(4) BAZE, Abrahim. Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, 125 anos de História (1873-1998). Manaus, Editora Valer, 1998.
(5) Jornal do Comércio, 19/08/1977

CRÉDITO DAS IMAGENS:

Jornal do Comércio, 13/06/1976
Jornal A Crítica, 2015/defender.org.br


6 comentários:

  1. Sem contar o alto risco de desabamento que a construção está sujeita, o colapso de suas estruturas é visível e iminente. Vidas de transeuntes estão ameaçadas e as fatalidades são reais. Além dos bens materiais como os veículos em movimento e os estacionadas nas imediações também serão atingidos num prognóstico bem realista. É necessário muita atenção das autoridades a fim que sejam tomadas as providências adequadas antes de um evento geológico qualquer ou puramente por total decrepitude.
    Sou engº civil e especialista e perícias de engenharia.

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    1. Sim, sem dúvidas, MOLAR. O pior é, caso desabe (espero que não), terá uma verdadeira briga entre o proprietário e o Estado, ambos culpados pelo processo de degradação da construção.

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  2. Parabéns pela matéria!

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  3. Somos da família Grosso triste ver isso

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    1. Imagino como deve ser a sensação. Infelizmente a fiscalização e proteção do patrimônio histórico de Manaus é das piores do país.

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  4. Eu morei ali perto,por volta de 67/69 e a lembrança que eu tenho dessa casa e mesma,ABANDONADA.

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