domingo, 10 de dezembro de 2017

Os Dois Lados da Moeda: O Ingresso e a Ascensão da Prostituição entre os séculos XII e XIII

A prostituição é uma das práticas mais antigas da humanidade, estando presente em diversas sociedades. O ato sexual com fins religiosos, com fins medicinais e de alívio, foi visto de diferentes formas pela sociedade ao longo dos séculos, indo da aceitação à proibição. No presente artigo é analisada a ascensão da prostituição no medievo entre os séculos XII e XIII, destacando a visão que a Igreja tinha dessa prática e suas reações contra a mesma.

RESUMO

Taynara Alves Lobato*
Com base em algumas obras específicas dos autores Jeffrey Richards (1993), Jacques Le Goff (1989) e artigos publicados por acadêmicos e professores especializados na área, esse artigo tem como finalidade entender as variadas leituras e diferentes olhares sobre a prostituição em sua ascensão no medievo, mais precisamente entre os séculos XII e XIII, mostrando a visão e reação da igreja sobre a mesma.
Palavras-chave: Prostituição. Ascensão. Igreja. Gênero


INTRODUÇÃO

A mulher medieval, segundo o historiador Jacques Le Goff, foi categorizada pela sua natureza, representada por “Eva”, personagem bíblica que influenciou “Adão” a pecar e como consequência de seu pecado, foram expulsos do Paraíso. “Antes de ser camponesa, castelã ou santa a mulher passou a ser categorizada pelo seu corpo, pelo seu sexo e pelas suas relações com os grupos familiares” (Le Goff,1989). Sendo considerada um ser místico, a mulher foi usada como paz, capaz de manipular os seus maridos e os levar para o pecado.

Desde o século IV, a igreja alicerçou seu poder para estabelecer supremacia sobre o pilar político-religioso, sendo o agente responsável pela diversidade sobre o corpo, vivente durante todo período medieval. A sequela de seus preceitos foi o surgimento de uma nova conduta moral, nos moldes culturais da Idade Média. Sendo considerada a mais marcantes das profissões, a prostituição sempre teve uma relação íntima em todos os períodos históricos entre si própria e a sociedade, nos levando para uma investigação sobre a sua existência histórica.


A PROSTITUIÇÃO NA IDADE MÉDIA

Um prostíbulo em uma casa de banho por volta de 1470. Aquarela de Anthony da Borgonha.

A palavra ‘prostituir’ vem do verbo latino prostiuere que significa expor publicamente, pôr a venda, referindo-se as cortesãs, da Roma Antiga, que se colocavam na entrada das ‘casas da devassidão’ (Durigan & Mina, 2007).
Na Idade Média, as mulheres ingressavam na prostituição por motivos óbvios: A pobreza. Vendiam seu próprio corpo para sobreviver, boa parte delas eram filhas de assalariados, domésticas e operários. As viúvas, as que tinham sofrido estupro ou as que possuíam posses e status adentravam nesse meio por necessidade.
A família era uma das grandes incentivadoras para que as mulheres se infiltrassem nos prostíbulos, com intuito de aumentar a renda familiar. Havia uma idade mediana (15 a 17 anos) queera considerada a idade ideal para que as mulheres iniciassem sua vida de forma considerada profana.
O trabalho de Jacques Rossiaud sobre a prostituição na Borgonha nos dá algumas estatísticas precisas. Na Dijon do fim do período medieval, quatro em cada cinco prostitutas pertenciam aos setores mais pobres da população, sendo dezessete anos a idade mais comum de entrada para a prostituição. Um quarto delas havia sido colocado na prostituição pela família ou havia entrado nela para fugir a uma situação familiar intolerável. Apenas 15% das prostitutas haviam abraçado a profissão por livre e espontânea vontade. (Rossiaud, Jacques Apud Richards, Jeffrey, 1993).
A prostituição chega à sua ascensão entre os séculos XII e XIII, justamente com a homossexualidade perseguida pela sociedade principalmente pela igreja. Assim como foi a igreja com a sua supremacia que predominava na vida moral e espiritual dos seus seguidores na idade média que tomou a iniciativa de especificar quais eram os atos sexuais que as pessoas podiam se permitir, tendo como especificações as posições, o dia, sendo que nos dias Santos as práticas sexuais não eram permitidas com penas de penitência ou sacrifícios carnais.
O sexo foi taxado pela igreja como ‘símbolo do pecado’, dessa forma a igreja “guia” seus fiéis numa espécie de rito religioso e corporal, tendo como a finalidade do sexo somente para a procriação, e assim sendo realizado somente entre os cônjuges.
Com tantas proibições da igreja perante o casamento e o sexo, foram crescendo os casos de prostituição nas cidades, onde alguns homens desviavam-se dos seus compromissos perante a esposa, buscando fora o que não podia ter em casa como prazeroso. Foi a Igreja, a força dominante na vida moral espiritual das pessoas na Idade Média, que tomou a iniciativa de especificar que atos sexuais as pessoas poderiam se permitir e de regulamentar, quando e com quem o sexo poderia ter lugar. O grau em que os objetivos dos eclesiásticos foram atingidos provavelmente jamais será conhecido com precisão. Mas, de qualquer modo, estimativas precisas do grau de conformidade das pessoas às normas sociais e sexuais são em qualquer tempo difíceis. Com tudo, a parti das ações e reações da Igreja, seus pronunciamentos e preocupações, podemos deduzir alguma coisa quanto às atitudes e práticas que os eclesiásticos estavam procurando combater. (RICHARDS, JEFFREY, 1993, p.33)
Contudo no período posterior a Idade Média, surgiu uma hierarquia dentro do campo da prostituição. No topo estava o bordel Municipal em plena atividade, cujas residentes prestavam juramento as autoridades, pagavam aluguel semanal à sua cafetina e muitas vezes contribuam para os custos de aquecimento e proteção por parte da vigilância.
“Quase não existia uma cidade que não tivesse sua “boa casa”, como era às vezes conhecido o bordel. Ivan Bloch (1912-25) identificou setenta e cinco cidades e vilas alemãs que possuíam bordéis. Um observador do século XV estimou que havia de cinco a seis mil prostitutas em Paris, dentro de uma população de 200 mil pessoas. Foram identificadas cem prostitutas na Dijon do século XV, dentro de uma população de menos de dez mil pessoas”. (Richards, 1993)
Em seguida vinham as casas particulares menores (bordelages), geralmente dirigidas por mulheres com uma equipe residente de “jovens servas”. Existia uma prostituição generalizada nas casas de banhos. A correlação dessas atividades era tal, que o mesmo termo (stews) acabou por ser aplicado em inglês tanto às casas de banhos quanto aos bordéis. Isso acontecia a despeito do fato de que o regulamento das casas de banho proibia sistematicamente as prostitutas. Finalmente, havia as prostitutas autônomas que operavam ao ar livre. Em Paris, as muralhas, os descampados, os jardins públicos, as vielas, as margens do rio, as pontes e os terrenos baldios serviam todos como lugares de prostituição — qualquer lugar, em suma, onde a prostituta pudesse conseguir um momento de privacidade com o cliente. Privacidade não era coisa fácil de se obter no mundo medieval urbano, e as atividades das prostitutas eram frequentemente expostas à observação pública. Por exemplo, num caso judicial em Florença, em 1400, quando uma certa Salvaza estava sendo processada por prostituição ilegal, diversas testemunhas oculares forneceram evidências sobre o seu estilo de vida, uma delas declarando que “havia frequentemente olhado por uma janela da casa de Salvaza e a tinha visto nua na cama com homens, realizando esses atos indecentes que são praticados por prostitutas”.
“As prostitutas estavam em toda parte nas ruas e bairros da cidade, tentando arrastar clérigos passantes à força para dentro de seus bordéis. Se os clérigos se recusassem a entrar, elas imediatamente lhes gritavam pelas costas: “Sodomita!” Num mesmo único edifício, poderia haver uma escola no andar de cima e um bordel no de baixo. Enquanto os mestres ensinavam a seus pupilos na parte de cima, as prostitutas dedicavam-se a seu comércio nefando na parte de baixo. Numa parte, as prostitutas batiam boca umas com as outras e com seus cafetões; na outra parte, os eruditos discutiam sobre assuntos eruditos”. (Jeffrey, 1993).

E mesmo depois de todas as medidas que a igreja tomou para abolir a prostituição, ou para perdoar o pecado com passando a propor o que podemos classificar como um acordo de paz, para que as mulheres que estavam se prostituindo se arrependessem de seus pecados arranjassem um marido e formassem uma família para que se tornassem mulheres respeitadas, donas de casa e não uma pecadora, mesmo depois de tudo, a prostituição cresceu, se organizou, se transformou, se renovou com a sociedade, e o que era considerada uma prática infame e pecaminosa, hoje é considerado uma profissão, ainda um tabu mas estão conquistando o seu espaço, os seus diretos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ROSSIAUD, Jacques: A Prostituição na Idade Média; tradução Cláudia Schilling. Rio de janeiro: Paz e terra, 1991.
RICHAED, Jeffrey: Sexo, desvio e danação: as minorias da Idade Média/Jeffrey Richaed; tradução: Marco Antônio Esteves da Rocha e Renato Aguiar – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1993.
BASSERMANN, Lujo: História da Prostituição: Uma Interpretação Cultural; tradução: Rubens Steckenbruck – Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira S.A 1965.
TEDESCHI, L. A. História das Mulheres e as Representações do feminino. Campinas, SP:Editora Curt Nimendajú, 2008.
LE GOFF, Jacques: O Homem medieval, tradução: Editorial Presença, Lisboa 1989.

COSTA, Ricardo: A imagem da mulher medieval em O Sonho (1399) e Curial e Guelfa (c. 1460).

*Taynara Alves Lobato, 20, é graduanda em Licenciatura Plena História (4° período) na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Área de pesquisa: História da mulher medieval.










CRÉDITO DA IMAGEM:

The Prostitute Throughout The Ages - A brief introduction on the history of prostitution - http://www.amsterdamredlightdistricttour.com/history-of-amsterdam/history-of-prostitution/

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