A prostituição é uma das práticas mais antigas da humanidade, estando presente em diversas sociedades. O ato sexual com fins religiosos, com fins medicinais e de alívio, foi visto de diferentes formas pela sociedade ao longo dos séculos, indo da aceitação à proibição. No presente artigo é analisada a ascensão da prostituição no medievo entre os séculos XII e XIII, destacando a visão que a Igreja tinha dessa prática e suas reações contra a mesma.
RESUMO
Taynara Alves Lobato*
Com
base em algumas obras específicas dos autores Jeffrey Richards
(1993), Jacques Le Goff (1989) e artigos publicados por acadêmicos e
professores especializados na área, esse artigo tem como finalidade
entender as variadas leituras e diferentes olhares sobre a
prostituição em sua ascensão no medievo, mais precisamente entre
os séculos XII e XIII, mostrando a visão e reação da igreja sobre
a mesma.
Palavras-chave:
Prostituição. Ascensão. Igreja. Gênero
INTRODUÇÃO
A
mulher medieval, segundo o historiador Jacques Le Goff, foi
categorizada pela sua natureza, representada por “Eva”,
personagem bíblica que influenciou “Adão” a pecar e como
consequência de seu pecado, foram expulsos do Paraíso. “Antes de
ser camponesa, castelã ou santa a mulher passou a ser categorizada
pelo seu corpo, pelo seu sexo e pelas suas relações com os grupos
familiares” (Le Goff,1989). Sendo considerada um ser místico, a
mulher foi usada como paz, capaz de manipular os seus maridos e os
levar para o pecado.
Desde
o século IV, a igreja alicerçou seu poder para estabelecer
supremacia sobre o pilar político-religioso, sendo o agente
responsável pela diversidade sobre o corpo, vivente durante todo
período medieval. A sequela de seus preceitos foi o surgimento de
uma nova conduta moral, nos moldes culturais da Idade Média. Sendo
considerada a mais marcantes das profissões, a prostituição sempre
teve uma relação íntima em todos os períodos históricos entre si
própria e a sociedade, nos levando para uma investigação sobre a
sua existência histórica.
A PROSTITUIÇÃO NA IDADE MÉDIA
Um prostíbulo em uma casa de banho por volta de 1470. Aquarela de Anthony da Borgonha.
A
palavra ‘prostituir’ vem do verbo latino prostiuere que
significa expor publicamente, pôr a venda, referindo-se as cortesãs,
da Roma Antiga, que se colocavam na entrada das ‘casas da
devassidão’ (Durigan & Mina, 2007).
Na
Idade Média, as mulheres ingressavam na prostituição por motivos
óbvios: A pobreza. Vendiam seu próprio corpo para sobreviver, boa
parte delas eram filhas de assalariados, domésticas e operários. As
viúvas, as que tinham sofrido estupro ou as que possuíam posses e
status adentravam nesse meio por necessidade.
A
família era uma das grandes incentivadoras para que as mulheres se
infiltrassem nos prostíbulos, com intuito de aumentar a renda
familiar. Havia uma idade mediana (15 a 17 anos) queera considerada a
idade ideal para que as mulheres iniciassem sua vida de forma
considerada profana.
O
trabalho de Jacques Rossiaud sobre a prostituição na Borgonha nos
dá algumas estatísticas precisas. Na Dijon do fim do período
medieval, quatro em cada cinco prostitutas pertenciam aos setores
mais pobres da população, sendo dezessete anos a idade mais comum
de entrada para a prostituição. Um quarto delas havia sido colocado
na prostituição pela família ou havia entrado nela para fugir a
uma situação familiar intolerável. Apenas 15% das prostitutas
haviam abraçado a profissão por livre e espontânea vontade.
(Rossiaud, Jacques Apud Richards, Jeffrey, 1993).
A
prostituição chega à sua ascensão entre os séculos XII e XIII,
justamente com a homossexualidade perseguida pela sociedade
principalmente pela igreja. Assim como foi a igreja com a sua
supremacia que predominava na vida moral e espiritual dos seus
seguidores na idade média que tomou a iniciativa de especificar
quais eram os atos sexuais que as pessoas podiam se permitir, tendo
como especificações as posições, o dia, sendo que nos dias Santos
as práticas sexuais não eram permitidas com penas de penitência ou
sacrifícios carnais.
O
sexo foi taxado pela igreja como ‘símbolo do pecado’, dessa
forma a igreja “guia” seus fiéis numa espécie de rito religioso
e corporal, tendo como a finalidade do sexo somente para a
procriação, e
assim sendo realizado somente entre os cônjuges.
Com
tantas proibições da igreja perante o casamento e o sexo, foram
crescendo os casos de prostituição nas cidades, onde alguns homens
desviavam-se dos seus compromissos perante a esposa, buscando fora o
que não podia ter em casa como prazeroso. Foi a Igreja, a força
dominante na vida moral espiritual das pessoas na Idade Média, que
tomou a iniciativa de especificar que atos sexuais as pessoas
poderiam se permitir e de regulamentar, quando e com quem o sexo
poderia ter lugar. O grau em que os objetivos dos eclesiásticos
foram atingidos provavelmente jamais será conhecido com precisão.
Mas, de qualquer modo, estimativas precisas do grau de conformidade
das pessoas às normas sociais e sexuais são em qualquer tempo
difíceis. Com tudo, a parti das ações e reações da Igreja, seus
pronunciamentos e preocupações, podemos deduzir alguma coisa quanto
às atitudes e práticas que os eclesiásticos estavam procurando
combater. (RICHARDS, JEFFREY, 1993, p.33)
Contudo
no período posterior a Idade Média, surgiu uma hierarquia dentro do
campo da prostituição. No topo estava o bordel Municipal em plena
atividade, cujas residentes prestavam juramento as autoridades,
pagavam aluguel semanal à sua cafetina e muitas vezes contribuam
para os custos de aquecimento e proteção por parte da vigilância.
“Quase
não existia uma cidade que não tivesse sua “boa casa”, como era
às vezes conhecido o bordel. Ivan Bloch (1912-25) identificou
setenta e cinco cidades e vilas alemãs que possuíam bordéis. Um
observador do século XV estimou que havia de cinco a seis mil
prostitutas em Paris, dentro de uma população de 200 mil pessoas.
Foram identificadas cem prostitutas na Dijon do século XV, dentro de
uma população de menos de dez mil pessoas”. (Richards, 1993)
Em
seguida vinham as casas particulares menores (bordelages), geralmente
dirigidas por mulheres com uma equipe residente de “jovens servas”.
Existia uma prostituição generalizada nas casas de banhos. A
correlação dessas atividades era tal, que o mesmo termo (stews)
acabou por ser aplicado em inglês tanto às casas de banhos quanto
aos bordéis. Isso acontecia a despeito do fato de que o regulamento
das casas de banho proibia sistematicamente as prostitutas.
Finalmente, havia as prostitutas autônomas que operavam ao ar livre.
Em Paris, as muralhas, os descampados, os jardins públicos, as
vielas, as margens do rio, as pontes e os terrenos baldios serviam
todos como lugares de prostituição — qualquer lugar, em suma,
onde a prostituta pudesse conseguir um momento de privacidade com o
cliente. Privacidade não era coisa fácil de se obter no mundo
medieval urbano, e as atividades das prostitutas eram frequentemente
expostas à observação pública. Por exemplo, num caso judicial em
Florença, em 1400, quando uma certa Salvaza estava sendo processada
por prostituição ilegal, diversas testemunhas oculares forneceram
evidências sobre o seu estilo de vida, uma delas declarando que
“havia frequentemente olhado por uma janela da casa de Salvaza e a
tinha visto nua na cama com homens, realizando esses atos indecentes
que são praticados por prostitutas”.
“As
prostitutas estavam em toda parte nas ruas e bairros da cidade,
tentando arrastar clérigos passantes à força para dentro de seus
bordéis. Se os clérigos se recusassem a entrar, elas imediatamente
lhes gritavam pelas costas: “Sodomita!” Num mesmo único
edifício, poderia haver uma escola no andar de cima e um bordel no
de baixo. Enquanto os mestres ensinavam a seus pupilos na parte de
cima, as prostitutas dedicavam-se a seu comércio nefando na parte de
baixo. Numa parte, as prostitutas batiam boca umas com as outras e
com seus cafetões; na outra parte, os eruditos discutiam sobre
assuntos eruditos”. (Jeffrey, 1993).
E
mesmo depois de todas as medidas que a igreja tomou para abolir a
prostituição, ou para perdoar o pecado com passando a propor o que
podemos classificar como um acordo de paz, para que as mulheres que
estavam se prostituindo se arrependessem de seus pecados arranjassem
um marido e formassem uma família para que se tornassem mulheres
respeitadas, donas de casa e não uma pecadora, mesmo depois de tudo,
a prostituição cresceu, se organizou, se transformou, se renovou
com a sociedade, e o que era considerada uma prática infame e
pecaminosa, hoje é considerado uma profissão, ainda um tabu mas
estão conquistando o seu espaço, os seus diretos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
ROSSIAUD,
Jacques: A Prostituição na Idade Média; tradução Cláudia
Schilling. Rio de janeiro: Paz e terra, 1991.
RICHAED,
Jeffrey: Sexo, desvio e danação: as minorias da Idade Média/Jeffrey
Richaed; tradução: Marco Antônio Esteves da Rocha e Renato Aguiar
– Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1993.
BASSERMANN,
Lujo: História da Prostituição: Uma Interpretação Cultural;
tradução: Rubens Steckenbruck – Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira S.A 1965.
TEDESCHI,
L. A. História das Mulheres e as Representações do feminino.
Campinas, SP:Editora Curt Nimendajú, 2008.
LE
GOFF, Jacques: O Homem medieval, tradução: Editorial Presença,
Lisboa 1989.
COSTA,
Ricardo: A imagem da mulher medieval em O Sonho (1399) e Curial e
Guelfa (c. 1460).
*Taynara Alves Lobato, 20, é graduanda em Licenciatura Plena História (4° período) na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Área de pesquisa: História da mulher medieval.
CRÉDITO DA IMAGEM:
parabéns esta magnifico
ResponderExcluirobrigada!
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