terça-feira, 29 de junho de 2021

Marcos Paulo Mendes Araújo fala sobre o seu mais novo livro, 'O útil e o necessário: breve história dos sargentos pilotos do Exército (1914-1941)'


Na entrevista de hoje o professor e historiador Marcos Paulo Mendes Araújo fala sobre o seu mais novo trabalho, 'O útil e o necessário: breve história dos sargentos pilotos do Exército (1914-1941)', publicado pela editora Dialética.

- Quando e como surgiu a ideia de analisar as trajetórias desses sargentos pilotos do Exército?

R: A ideia surgiu em 1999 durante uma pesquisa que fiz sobre a Aviação do Exército para a montagem de uma exposição. Essa pesquisa estava parada há muitos anos. Em 2019 resolvi voltar a trabalhar nos estudos novamente e o resultado é esse interessante livro.

- Quais as fontes utilizadas e onde elas foram encontradas?

R: Foram utilizadas várias fontes distintas, mas devo dizer que os periódicos disponibilizados pela Hemeroteca da Biblioteca Nacional foram as mais utilizadas.

- Pesquisar é uma tarefa que sempre possui desafios. Nesse caso, quais foram os encontrados durante sua investigação?

R: Ser pesquisador em Manaus é sempre um desafio. As distâncias acabam atrapalhando bastante, principalmente quando necessitamos de fontes que estão em instituições localizadas no Sudeste do país.

- Durante a confecção do trabalho, quais foram as maiores descobertas feitas, além da recuperação da trajetória desses aviadores?

R: Acredito que a maior descoberta a partir desse trabalho é o fato desses sargentos pilotos terem sido também, em sua maioria, precursores da Aviação Civil no Brasil.

- Quando o senhor se deu conta de que estava diante de um tema inédito e ainda não explorado por outros pesquisadores?

R: Durante os levantamentos iniciais isso ficou claro, pois havia uma dificuldade em encontrar referências bibliográficas sobre o tema. Acredito que essa obra irá preencher uma significativa lacuna para esse tema.

- No caso do Amazonas, o senhor encontrou informações ou as fontes tratam apenas das regiões Sul e Sudeste?

R: Bem interessante é o fato de ter encontrado entre esses pilotos alguns amazonenses.

- Interessante. Conte-nos mais um pouco sobre essas descobertas.

R: Foram construídas pequenas biografias profissionais para determinar a origem de cada piloto, sua entrada no Exército e sua trajetória antes, durante e depois de sua formação como piloto militar. Assim, foi possível identificar que dois desses pilotos são amazonenses. Mas para conhecer esses pilotos que são naturais do Amazonas convido os interessados a lerem o livro (risos).

- Onde adquirir o livro?

R: O livro pode ser adquirido no site da Editora Dialética e aos poucos vêm sendo oferecido em outras plataformas de venda.


sábado, 12 de junho de 2021

A antiga Estação dos Bondes, em Manaus

Antiga Estação dos Bondes. Foto de 1928. FONTE: Vistas e Panoramas Modernos de Manáos (1928).

No início do século XX, um dos pontos mais aprazíveis da cidade de Manaus era a Estação dos Bondes, localizada na Praça XV de Novembro, posteriormente renomeada Oswaldo Cruz e popularmente conhecida como Praça da Matriz. Diariamente as pessoas iam e vinham nos bondes elétricos da Manáos Tramways & Light Company Limited, empresa inglesa concessionária dos serviços de iluminação pública e bondes cuja sede ficava na estação. Outras pessoas frequentavam o botequim Bolsa Universal, mais tarde conhecido como Bar Mimosa. Em 1924 foi construído no local um jardim, posteriormente nomeado como Jardim Jaú. Mas nem tudo eram flores. A estação também era palco de vários acidentes de bondes, alguns com vítimas fatais, como o que tirou a vida do pequeno Vicente Loguercia, ocorrido em 17 de novembro de 1911 (JORNAL DO COMMERCIO, 18/11/1911, p. 01). 

O local ficou conhecido como Complexo Booth Line pelo fato de funcionar em um de seus prédios a empresa inglesa de navegação Booth Steamship Company Limited.  De acordo com o historiador Mário Ypiranga Monteiro, no livro Roteiro Histórico de Manaus (1998), o jardim da estação foi recuperado na administração do Prefeito Manuel Severiano Nunes, e para ele foi transferido o monumento ao Barão de Sant' Anna Nery anteriormente erguido na Praça XV de Novembro (MONTEIRO, 1998, p. 374). Na década de 1970, durante várias obras realizadas na administração do Prefeito Jorge Teixeira, a antiga estação e seu jardim foram destruídos, e a partir do final da década de 1990 os prédios do Complexo Booth Line começaram a deteriorar-se, restando apenas as fachadas atualmente.

terça-feira, 8 de junho de 2021

O clima da Manaus antiga

Rua Lobo d' Almada, 1935. Foto de Robert Swanton Platt. FONTE: University of Wisconsin-Milwaukee Libraries.

Uma das maiores dúvidas de quem acompanha páginas que divulgam fotos antigas da cidade é como as pessoas conseguiam vestir-se, no dia a dia, com roupas tão pesadas como ternos e paletós. Não sentiam calor? A cidade era menos quente que atualmente? Ao longo desse texto tentarei responder essas perguntas.

Primeiramente, vamos ao clima propriamente dito. Posteriormente abordarei aspectos relacionados ao vestuário manauara de outros tempos. 

Deixaram interessantes registros sobre nossa situação climática os viajantes, estrangeiros e nacionais, que passaram pela cidade entre a o início do século XIX e o início do século XX.

Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, naturalistas alemães, estiveram no então Lugar da Barra (Manaus) em 1819. Os sábios tiveram boa impressão da cidade, principalmente de seu clima - "A todos êsses encantos junte-se a majestosa tranquilidade do clima equatorial, que proporciona manhãs frescas e noites serenas em alternância regular" (SPIX, MARTIUS, 1981, p. 161).

O naturalista inglês Henry Walter Bates, que viveu na região por 10 anos, entre 1849 e 1859, descreveu o clima de Manaus como "salubre" e "delicioso", ideal para atividades agrícolas (BATES, 1944, p. 362-365).

Lourenço da Silva Araújo Amazonas, Capitão-Tenente da Armada Brasileira e membro do IHGB, no verbete Manáos, do seu 'Diccionario topográfico, histórico e descriptivo da Comarca do Alto Amazonas',  afirmou que nessa parte do Império o clima extremamente quente era amenizado pelas ventanias no verão e pelas cheias no inverno. Os três bairros da cidade, da Matriz, de São Vicente e dos Remédios, por serem cortados por igarapés, "são todos assaz apraziveis e arejados" (AMAZONAS, 1852, p. 187-188).

O Tenente Coronel João Wilkens de Mattos, Presidente da Província do Amazonas, criticava em relatório de 04 de abril de 1868 o traçado das ruas da cidade, muito estreitas, pois "em clima abrasador como o nosso, as quadras ou quarteirões devem ter de 100 metros, pelo menos de face, e as ruas de 20 de largura" (MATTOS, 04/04/1868 Apud SÁ, 2012, p. 55). O Código de Posturas de 1868 proibia o corte de árvores, varas e arbustos maiores de 5 palmos em riachos, igarapés e logradouros públicos, bem como o despejo de lixo nos cursos d' água (SÁ, 2012, p. 54-55).

Em 1893 o médico e escritor riograndense Francisco Lourenço da Fonseca, de passagem pela cidade, registrou em seu livro No Amazonas (1895) que "o clima de Manáos é humido e quente", fazendo algumas análises mais detalhadas: "As nossas observações thermometricas tem accusado oscillações de 24° centigrados (minima) pela madrugada a 31,5° (maxima), isto á sombra, e n' uma corrente d' ar. No verão, é claro, estes limites thermometricos costumam ser mais elevados..." (FONSECA, 1895, p. 97).

O escritor Euclides da Cunha, em 1905, além de tecer críticas ao artificialismo da cidade, que tentava de qualquer forma copiar os modismos no Novo Mundo, sentiu-se bastante incomodado com seu clima. Registrou em carta a Afonso Arinos que o clima de Manaus "[...] traduz-se num permanente banho de vapor - e quem o suporta precisa ter nos músculos a elástica firmeza das fibras dos buritis e nas artérias o sangue frio das sucuruíubas" (CUNHA, 1905, p. 250-251 Apud RIBEIRO, 2006, p. 152-153).

A cidade dos tempos provinciais era recortada pelos igarapés de São Vicente, da Ribeira, da Bica, do Espírito Santo, dos Remédios, da Cachoeirinha, da Cachoeira Grande, de Manaus, da Castelhana e de Monte Cristo (PEDROSA, 2018, s. p). Eles se faziam presentes na vida dos habitantes dos poucos bairros que formavam a urbe, contribuindo para deixar o clima mais ameno. Parte desses igarapés foi aterrada no final do século XIX e início do XX para dar lugar a vias públicas, o que começou a alterar significativamente a sensação térmica dos moradores.

No início do século XX a temperatura de Manaus oscilava entre 24° e 37° graus, segundo consta nos relatórios do Governo do Estado do Amazonas, na seção do Observatório Meteorológico de Manaus. Esse clima tropical, considerado tórrido no verão, fazia com que o Estado tivesse gastos frequentes com a pintura de prédios públicos, que não aguentavam a ação climática:

"Pinturas diversas

E' esta uma das despezas que mais pesam ao Thesouro do Estado, pela necessidade de fazelo a quasi que annualmente, devido ao clima de Manáos; assim foram pintados:

O Quartel de Segurança, nas faces externas.

- Gradis das pontes sobre os igarapés de Manáos e Bittencourt;

- bem como as pontes de ferro sobre os igarapés da Cachoeirinha e da Cachoeira Grande.

- Finalmente, mandei proceder a uma limpeza interna e externa no reservatorio do Mocó.

Este serviço dividiu-se em: limpeza geral das caixas, sua pintura a oleo, caiação geral interna e externamente, e pintura a oleo de todo o travamento de ferro, pintura fingida das faces externas e lisa das internas e divisões da casa dos guardas" (RELATÓRIO, 1905, p. 182).

Os empresários da cidade estavam cientes dos empecilhos que o clima poderia causar aos seus negócios. Alguns buscavam diferentes formas de amenizar o calor tropical, como a firma Ahlers & Cia, que em 1911 divulgava no jornal O Marítimo ter um "magnífico vapor", nomeado Cássio Reis, "dotado de accommodações apropriadas ao nosso clima, com luz electrica e camara frigorifica" (O MARÍTIMO, 16/05/1911, p. 04). Móveis e instrumentos musicais também eram construídos de forma a resistir por mais tempo às intempéries climáticas. Max Brunn, proprietário de uma loja de pianos no Centro, informava por volta de 1899 que vendia "pianos construídos especialmente para clima tropical" (O ANNUNCIADOR COMMERCIAL, 08/07/1899, p. 04).

Como resolver esse "problema"? Márcio Nery, então Chefe da Comissão de Saneamento de Manaus, propôs 5 pontos para amenizar o calor na cidade: I) a forma como as casas são construídas; II) A arborização e cuidado das praças, largos, pátios e ruas; III) o tipo de revestimento das ruas e passeios públicos; IV) o uso de água (fontes, chafarizes e bebedouros) em locais públicos; V) dicas para amenizar o calor no interior das residências (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 132-137).

Márcio Nery registra que as casas construídas em Manaus pouco ofereciam para o aproveitamento dos ventos. Recomendava-se que os cômodos fossem amplos de forma a facilitar a ventilação e a purificação dos ambientes (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 132). 

Rua Municipal (Avenida Sete de Setembro), no trecho da I Ponte Romana, dita Floriano Peixoto, no Centro de Manaus, em 1909. Foto de Huebner & Amaral. FONTE: Cartão postal.

A arborização de ruas, praças, largos e pátios era indispensável. "A plantação de árvores frondosas e capadas", afirma Nery, "é um benefício que se presta ao transeunte. Quando o carregador, o carroceiro, o pedestre enfim, causticado pelo calor, procura um refugio, é sob as arvores das praças e das ruas que o encontra" (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 133). Era recomenda a plantação de eucalyptus rostrataficus religiosa, ficus benjamina, sorveira e oity. Nas ruas estreitas seriam plantadas uma fileira de árvores, enquanto nas largas duas fileiras, uma de cada lado. Os moradores deveriam ajudar com a arborização, plantando árvores, plantas e flores em seus quintais e pátios.

As ruas deveriam ser revestidas com materiais impermeáveis e resistentes como asfalto e paralelepípedos (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 134-135). O uso de água em locais públicos poderia ser feito das seguintes formas:

"1° - Projectando-a na atmosphera, para moderar o calor e recreiar a vista, por meio de chafarizes, repuscos e outros meios de espadamar a agua no ar; 2° - Em fontes públicas, onde os pobres possam encontrar agua para as suas necessidades; 3° - Em tanques apropriados a bebedoiro de animaes; 4° - Nos apparelhos sanitarios diversos dispostos de espaço em espaço; 5° - Na lavagem das ruas e exgottos e na irrigação dos passeios, vias publicas, jardins e logradouros publicos; 6° - No Serviço de incendios; 7° Os lagos, rios e cascatas decorativas de jardins ou quaesquer outros logradouros publicos só devem ser permittidos quando as aguas se escôem facilmente para exgottos, não consentindo que ellas permaneçam paradas mais de tres dias, afim de que se não tornem viveiros de mosquitos ou outros insectos nocivos" (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 135).

Márcio Nery sugere, ainda, que a Prefeitura crie banhos públicos destinados às pessoas mais necessitadas, que poderiam, além de se limpar, se refrescar.

As outras formas de combater o calor eram de caráter mais particular. Elas incluíam a proteção das janelas com toldos, para evitar a penetração da luz solar no ambiente, a abertura das janelas durante a noite, quando o clima é mais agradável ou o uso de persianas, venezianas e vidraças duplas e o uso de ventiladores e resfriadores de ambiente (MENSAGEM, 10/07/1906, p. 136-137).

Analisando essas fontes do início do século XX percebe-se a preocupação do Município com a questão climática. Praças, ruas e outros logradouros foram arborizados em diferentes administrações. Bebedouros, fontes e chafarizes foram construídos em diferentes pontos da cidade. As ruas foram calçadas com paralelepípedos e limpas periodicamente, apesar das deficiências da época. Mesmo nos tempos de crise econômica esses serviços não foram abandonados, sendo desse período interessantes registros fotográficos que mostram a densidade da arborização das ruas centrais (ver a primeira fotografia).

Cachoeira do Tarumã. Cartão postal de 1975. FONTE: Acervo pessoal.

Os igarapés e balneários eram os refúgios da população aos finais de semana. Os mais conhecidos foram o Igarapé do Tarumã, largamente descrito pelos viajantes do século XIX; o Parque 10 de Novembro, inaugurado em 19 de abril de 1943; e a Ponte da Bolívia, de 1958. Eles tiveram uso regular até as décadas de 1980/1990, quando a poluição os tornou impróprios ao uso humano.

A partir desse ponto vamos analisar a moda dos manauaras daquele período e o que faziam a esse respeito para amenizar o calor.

O Professor Agnello Bittencourt (1876-1975), no trabalho memorialístico 'Manaus: pródromos e sequências', registrou que a temperatura média da cidade, entre o final do século XIX e o início do XX, era 2,5 graus mais baixa que a da época em que escrevia o trabalho (1969), mas mesmo assim o calor era, às vezes, grande. Isso não impedia o uso de modas inapropriadas ao clima local:

"Mas, não menor era a elegância da época - as mulheres espartilhadas e vestidas até os pés em pesadas sêdas; os homens, transpirando em seus fraques, croisés e casacas, muitas vêzes talhados em Londres, cartola ou chapéu-côco, colête, peito engomado e colarinho alto sob a forte canícula ou nos animados bailes, tão frequentes nos palacetes particulares, em suntuoso estilo "fin-de-siècle"" (BITTENCOURT, 1969, p. 70).

Algumas senhoras da sociedade e suas filhas após o fim de uma missa na Catedral de Nossa Senhora da Conceição. Foto de 1917. FONTE: Revista Cá & Lá, ano 2, n° 12, julho de 1917 (Biblioteca Mário Ypiranga - CCPA).

O relato de Bittencourt revela uma das disputas que as elites e classes médias das cidades tropicais enriquecidas durante a expansão industrial dos séculos XIX e XX travaram: a da moda importada e do clima local não apropriado às vestimentas. Por mais que as pessoas transpirassem, os códigos sociais, os modos e modas oriundos da Europa, sobretudo da França, falavam mais alto.

Família Armindo Fonseca passeando na Rua Municipal (Avenida Sete de Setembro). Foto de 1917. FONTE: Revista Cá & Lá, n° 13, 21/07/1917 (Biblioteca Mário Ypiranga - CCPA).

A moda europeia, apesar de se impor no cenário amazônico, teve de ser, em parte, "adaptada" ao clima da região. As roupas, mesmo as mais formais, eram feitas com tecidos leves e tinham cores claras. Nesse sentido Pedrosa (2018, s. p. ) chama a atenção para as possibilidades que os álbuns fotográficos da cidade oferecem para os estudos sobre a moda e o clima:

"Um olhar mais atento sobre as fotografias publicadas em álbuns, como o Álbum Comercial de Manaus (1896) e o Vistas de Manaus (1897), permite identificar os tipos de vestimentas das pessoas que aparecem timidamente, quase escondidas, postas em segundo plano ou, em alguns casos, em grande número em espaços públicos" (PEDROSA, 2018, s. p.).

Recorte retirado do 'Álbum Vistas de Manáos', de 1897. FONTE: Instituto Moreira Salles.

O Jornal do Commercio, em 1948, na sua Coluna Social, recomenda para enfrentar o calor manauara, além dos lugares ventilados e dos banhos frios, "(...) roupas leves, folgadas e porosas" (JORNAL DO COMMERCIO, 25/05/1948, p. 02). Uniam-se aos tipos de vestimentas dos habitantes os mecanismos de amenização climática (arborização, fontes, chafarizes etc).

De 1965 a 1973 a pesquisadora Maria de Nazaré Góes Ribeiro, do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), analisou os aspectos climatológicos da cidade utilizando dados da Estação Metereológica da Reserva Florestal Adolpho Ducke. As menores temperaturas foram registradas em 1965 (17,3°), 1967 (15,1°) e 1968 (14,3°). Nesses anos as máximas foram de 37°, 36,6° e 36,6° respectivamente. (RIBEIRO, 1976, p. 231).

Entre as décadas 1960 e 1990 a cidade cresceu de forma desordenada em decorrência da migração ocasionada pela Zona Franca. Em 1960, de acordo com o IBGE, a população era de 175.343. 30 anos depois, em 1990, esse número saltou para 1.010.544 habitantes. Em uma cidade com um elevado déficit habitacional, foram necessárias, para abrigar tantas pessoas, a derrubada de áreas verdes e a ocupação de leitos de igarapés, o que alterou novamente a sensação térmica. Município e Estado foram incapazes de sanar tais problemas.

Pode-se concluir, sem querer encerrar o tema e levando em conta as lacunas da presente pesquisa, que o clima de Manaus não mudou. O que mudou foram as formas de amenização, que praticamente desapareceram. A cidade, em 2012, após pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi classificada como a segunda cidade menor arborizada do país com mais de 1 milhão de habitantes, ficando atrás apenas de Belém. Os igarapés e balneários foram poluídos e destruídos entre as décadas de 1970 e 1990. Manaus distanciou-se enormemente desses elementos, tornando seu clima cada vez mais menos suportável.


FONTES:


Relatório, 1905.

O Annunciador Commercial, 08/07/1899.

Mensagem, 10/07/1906.

O Marítimo, 16/05/1911.

Jornal do Commercio, 25/05/1948.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


AMAZONAS, Lourenço da Silva Araújo. Diccionario topográfico, histórico e descriptivo da Comarca do Alto Amazonas. Recife: Tipografia Comercial de Meira Henriques, 1852. (Biblioteca Guita e José Mindlin).

BATES, Henry Walter. O naturalista no rio Amazonas. Tradução, prefácio e notas do Prof. Dr. Candido de Mello-Leitão. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944. 2 v. (Coleção Brasiliana).

BITTENCOURT, Agnello. Fundação de Manaus - Pródromos e Sequências. Manaus: Editora Sérgio Cardoso, 1969.

FONSECA, Francisco Lourenço da. No Amazonas. Lisboa: Companhia Geral Typographica Editora, 1895.

PEDROSA, Fábio Augusto de Carvalho. Vida e Morte dos Igarapés e Balneários de Manaus. 24/10/2018. Disponível em: https://historiainte.blogspot.com/2018/10/vida-e-morte-dos-igarapes-e-balnearios.html. Acesso em 08/06/2021.

PEDROSA, Fábio Augusto de Carvalho. Modos e Modas dos Manauaras no século XIX. 02/11/2018. Disponível em: http://historiainte.blogspot.com/2018/09/modos-e-modas-dos-manauaras-no-seculo.html. Acesso em 12/09/2020.

RIBEIRO, Fabrício Leonardo. Cartas da selva: algumas impressões de Euclides da Cunha acerca da Amazônia. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 44, 2006, p. 147-162.

RIBEIRO, Maria de Nazaré Góes. Aspectos Climatológicos de Manaus. Acta Amazônica, vol. 6, n. 2, jun. 1976,  p. 229-233.

SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1981.

SÁ, Jorge Franco de. Manaus: higiene, meio ambiente e segurança do trabalho na época áurea da borracha. Manaus: Edua, 2021.

SOUZA, Marina. Manaus e Belém são as capitais menos arborizadas, indica IBGE. G1 Amazonas, 25/05/2012. Disponível em: http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/05/manaus-e-belem-sao-capitais-menos-arborizadas-indica-ibge.html. Acesso em 08/06/2021.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Resenha - nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus, de Aguinaldo Nascimento Figueiredo

Nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus, de Aguinaldo Nascimento Figueiredo.

O livro Nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus (2021) foi escrito pelo Professor e Historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA). Foram necessários anos de pesquisas para que viesse à luz. Aguinaldo, como bom historiador que é, debruçou-se sobre documentos históricos, jornais, revistas, livros, romances históricos, blogs, sites e, principalmente, relatos orais que coletou em diferentes momentos e de diferentes pessoas.

Nesse trabalho histórico-antropológico Aguinaldo reconstituiu as trajetórias da boemia manauara, narrando as origens de diferentes estabelecimentos, tais como pensões, prostíbulos, hotéis, bares, clubes, associações e espaços de lazer naturais como praias e igarapés. E os componentes humanos que trilharam esses caminhos? São os frequentadores, membros da elite, da classe média e populares, as prostitutas, as cafetinas, os cafetões, os valentões, os músicos e personalidades locais e nacionais.

Possui onze capítulos. No primeiro são analisadas as expressões boêmia e boemia. A primeira diz respeito à uma região da Europa Central pertencente à República Checa, famosa pela produção de cristais e cervejas. A boemia, por outro lado, é um movimento que surgiu na França no século XIX em contraponto ao Romantismo e à dominação da aristocracia. Tinha como principais característica a valorização da criatividade e o desprendimento de regras e padrões clássicos. O boêmio, habitante da Boêmia, tornou-se, com o passar dos séculos, o indivíduo materialmente desapegado, despreocupado com a vida, amante das artes e da vida (p. 13-16).

No capítulo seguinte o Professor discorre sobre o primeiro estabelecimento dedicado aos divertimentos instalado em Manaus, ainda no período em que a cidade era o insípido Lugar da Barra, dando início ao roteiro histórico e sentimental: o boteco do português conhecido como "Séo Melgaço", naqueles longínquos tempos localizado na zona portuária, no lugar denominado Ribeira das Naus (p. 16-17). Em um lugar com pouco mais pouco menos de 3.000 habitantes, constituía-se no principal centro de lazer e circulação de informações sobre a vida cotidiana, os escândalos e a política reinol. Com o tempo e crescimento da Barra, foram surgindo outros espaços, desaparecendo o boteco do português Melgaço (p. 17-18).

Saindo da Manaus Colonial, no terceiro capítulo é abordada a boemia no período da borracha, entre fins do século XIX e início do XX. Nele são traçadas as origens de cinco locais marcantes nesse período de crescimento econômico e transformações urbanas: Hotel Cassina, Bar e Café dos Terríveis, Pavilhão Universal, Bolsa Universal e Hotel Restaurant Français. Contrastando com esses lugares, luxuosos e bem frequentados, estavam os cortiços e botequins de terceira categoria, alvos frequentes das investidas das autoridades policiais e sanitárias (p. 18-29).

Com a crise do sistema de produção gomífera a boêmia se reinventou. Surgiram as pensões, onde trabalhavam como prostitutas jovens e senhoras, sem maiores perspectivas dado o estado de calamidade em que se encontrava a cidade (p. 31). Nesse quarto capítulo conhecemos as pensões do período da borracha, destacando-se a Pensão Floreaux, na Avenida Epaminondas, que funcionava como bar, casa de jogos e casa de prostituição frequentada por ricos comerciantes e profissionais liberais (p. 31-35). Com o declínio da economia surgem pensões de menor requinte, mas que ainda prestavam bons serviços. A principal foi a Pensão da Lola, instalada em um sobrado na rua Saldanha Marinho, funcionando com bar, restaurante, salão de dança e quartos para a prática do lenocínio (p. 37-39).

Terminado esse período, Aguinaldo destaca, no quinto capítulo, que Manaus viveu, entre as décadas de 1950 e 1960, o período de ouro da boemia, quando foram instalados os bares, bordéis, prostíbulos e clubes que marcaram gerações. Dos bares, elenca o Bar Avenida, Bar do Quintino, Bar Sibéria, Bar Americano, Bar São Domingos, Bar e Choperia São Marcos, Mandy's Bar, Bar do Carvalho, Bar Jangadeiro, Bar Caldeira, Bar do Armando e Bar Balalaica. Entre os bordéis destacam-se o Cortina de Ferro, Bar do Orlando, Big Bar, Restaurante e Bar Jupaty, Bar Tropical, Dancing Fortaleza, Brasília Bar, Nosso Bar, Copacabana Bar, Bolero Bar, Globo de Ouro e a Pensão Jesus (p. 39-98).

Eram tempos de valentões, cafetões, cafetinas e mulheres famosas, temas do sexto capítulo. Os valentões, heróis e anti-heróis, registra o autor, eram partícipes de brigas memoráveis, pelas quais ficavam famosos. Eram eles os Irmãos Paixão, Tamborete, Cavalo do Cão, Cachoeirinha, Nego Milton, Vinte e Oito, Cabete, Segadilha, Americola e Otinha. Todos eram conhecidos pelas proezas em brigas e arruaças, aparecendo frequentemente nas páginas policiais. Além de valentão, Cavalo do Cão, cujo verdadeiro nome era Valdemar Oliveira, também era cafetão, o mais conhecido da cidade. Já a cafetina mais conhecida foi dona Valdomira, proprietária de vários bordéis pela cidade (p. 98-103). As mulheres mais requisitadas para as práticas sexuais tinham nomes curiosos: Xib*u Venenoso, Maria Jiquitaia, Maria Batalhão, Nise, Maria Tostão, Faricão, Zaira Pé de Pato, Jacaré Ti Pega, Pitioca, Graçona, Peruana, Maria Bangu e Jercina (p. 101-103).

O sétimo capítulo é dedicado aos lupanares, casas de prostituição que muitas vezes funcionavam sob a fachada de bares. Os mais famosos foram o Bar Bom Futuro, Shangri-lá, Lá Hoje, Boate Verônica, Ângelo's, Iracema, Rosa de Maio, Piscina, Chica Bobó, Saramandaia, Selvagem, Patrícia's Bar, Maria das Patas e Poço de Caldas (p. 103-132). Destaca-se a predileção para a abertura deles na Estrada de Flores, dada sua localização, distante da área urbana, permitindo a tranquilidade e discrição entre os frequentadores.

Os clubes e associações recreativas movimentavam a cidade com seus bailes de carnavais e outros bailes temáticos, recebendo atrações artísticas locais e nacionais. No oitavo capítulo figuram o Acapulco Night Club, Maloca dos Barés, Associação Atlética de Constantinópolis e Grêmio Social e Recreativo de Educandos (p. 133-144).

Além dos lugares construídos, Manaus contava com recantos naturais, paragens bucólicas rodeadas de verde e geralmente com igarapés de águas límpidas que os tornavam ainda mais especiais. No nono capítulo conhecemos como se tornaram frequentadas a Ponta Negra, Praia da Ponta Branca (Praia do Canela), Ponte da Bolívia, Tarumã, Tarumanzinho e a Cachoeira das Almas (p. 145-153).

O penúltimo capítulo possui um tom romântico, pois trata das serenatas, dedicadas às jovens da cidade e realizadas por grupos de amigos, os seresteiros. Os seresteiros mais famosos foram Iran e Roberto Caminha, Gebes de Medeiros, Carlos Alberto Maciel, Wilson Campos, irmãos Verçosa, Orsine Marques, Roque Souza, Hélio Trigueiro, Josaphat Pires, Jaime Rebelo, Índio do Brasil, Jorge Santos, Demóstenes Carminé, Toscano, Américo, Elson Farias, José Braga, Estevam Santos, Sebastião Gomes de Medeiros, Normando, Paulo Sadi, Carlinho Chinoca e Paulo Timóteo. Atividade exercida majoritariamente por homens, a partir da década de 1960 aparecem mulheres seresteiras como Kátia Maria, Ilka de Souza, Maria Neide e Guiomar Cunha (p. 154-156). Também despontam os trios musicais e os conjuntos. Dos primeiros cita-se o Ajuricaba, Três Brilhantes e Trio Iraúna. Os conjuntos foram os Embaixadores, The Sunshine e Blue Birds Band, este último fundado em 17 de junho de 1967 e ainda em atividade (p. 156-158).

O último capítulo é uma pequena galeria de artistas que fizeram e ainda fazem parte da boemia manauara. São eles Nelson Gonçalves (1919-1998), Salim Gonçalves (1935-2007), Abílio Farias (1947-2013), Ludimar Teixeira, o Teixeira de Manaus, José Costa de Aquino, o Carrapeta (1936-2019), Cleonice Galvão do Nascimento, a Kátia Maria (n. 1940), e Celestina Maria (p. 158-166).

Faltava em nossa historiografia um trabalho de peso, escrito de forma bem humorada, como pede o tema, que desse conta de reconstituir essa parte da História de Manaus, até então tratada de forma pontual em trabalhos memorialísticos. 


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. Nos caminhos da alegria: roteiro histórico e sentimental da boemia de Manaus. Manaus: edição do autor, 2021.



quarta-feira, 2 de junho de 2021

Manaus e suas escadarias

Escadaria da rua Tapajós, no Centro. FONTE: Google Maps, 2019.

As escadarias, em uma definição bem simples, são vias de acesso formadas por lances de escadas construídas para facilitar nosso trânsito em determinados lugares. Elas são construídas em edifícios públicos, igrejas, residências, portos, escolas e ladeiras. São um dos vários lugares que passam despercebidos no nosso dia a dia, apesar do uso. Nesse texto vou falar de algumas escadarias de Manaus, existentes e já desaparecidas. Me perdoem se esquecer de alguma (s).

Vamos às mais antigas. As da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, a Igreja Matriz, foram construídas na administração de Eduardo Gonçalves Ribeiro (1892-1896). Elas possuem o formato de lira, instrumento musical de corda que na Mitologia Grega era utilizado pelo Deus Apolo, que além de Deus Sol eram também associado às Artes e à Música. Na década de 1990, acima delas, foram instalados azulejos que retratavam a Via Sacra. Eles foram destruídos no último restauro, pois não faziam parte do projeto original de fins do século XIX.

As escadarias da Igreja Matriz vistas de cima. Foto de 1968. FONTE: Blog Baú Velho.

O Teatro Amazonas possui quatro escadarias, todas feitas em mármore de Carrara. As frontais, no Largo de São Sebastião, são as principais, levando aos jardins e à entrada do Teatro. As laterais ficam nas ruas José Clemente e 10 de Julho. As da parte de trás ficam na Avenida Eduardo Ribeiro. Com o mesmo mármore de Carrara foram feitas as belíssimas escadarias do Palácio da  Justiça.

A escadaria de acesso ao segundo andar da Biblioteca Pública do Amazonas, na rua Barroso, é um trabalho artístico ímpar. Foi confeccionada pela empresa escocesa Walter MacFarlane & Company. Da mesma forma são belas as do Palácio Rio Negro, na Avenida Sete de Setembro, feitas com madeiras regionais e decoradas com duas esculturas femininas feitas em bronze. Por ela passaram Governadores, visitantes ilustres e, nos dias de hoje, visitantes do Centro Cultural Palácio Rio Negro.

Escadaria da Biblioteca Pública do Amazonas. FONTE: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas.

Das escadarias localizadas em escolas, pode-se citar as do Instituto Benjamin Constant, na rua Ramos Ferreira, construído em 1894; as do Instituto de Educação do Amazonas (IEA), na mesma rua, de 1944; e as do Gymnasio Amazonense Dom Pedro II, na Avenida Sete de Setembro, concluído em 1886.

No início da rua Xavier de Mendonça, no bairro de Aparecida, às margens do Igarapé de São Vicente, existe uma pequena escadaria feita em pedra do tipo jacaré, abundante em outras épocas. Nela atracam canoas de moradores, trabalhadores da área e banhistas que, entusiasmados com a paisagem, a utilizam como local de salto para as águas escuras do igarapé. Sua construção se deu na administração do Prefeito Antônio Botelho Maia (1936-1941), conforme informado em Mensagem do edil à Câmara Municipal em 15 de abril de 1937, servindo não só para a atracação de embarcações, mas também para o embelezamento dessa parte da via, onde ficava a saída do esgoto.

Orla dos Remédios, 1956. FONTE: Brasil Revista, 1956.

A escadaria da Praça Torquato Tapajós, mais conhecida como dos Remédios, foi erguida em 1944 na gestão municipal de Francisco do Couto Vale, conforme noticiado pelo Jornal do Commercio em edição de 07 de setembro de 1944. As obras ficaram a cargo da empresa 'Electro-Ferro Construções S. A.". Ela durou décadas, desaparecendo com a construção da Avenida Manaus Moderna, entre as décadas de 1980 e 1990. Nela atracavam embarcações de pequeno e médio porte e eram comercializados diferentes gêneros alimentícios. Foi palco de inúmeros assaltos, brigas, tentativas de homicídio e homicídios, sendo uma referência frequente nas páginas policiais.

Na rua Tapajós, no Centro, com início na Escola Estadual Frei Sílvio Vagheggi, existe uma escadaria com três lances de escadas. Ela facilita a comunicação entre essa rua e a Leonardo Malcher, já que o trecho é uma pequena ladeira. Na edição de 13 de maio de 1965 do Jornal do Commercio, em texto dedicado aos serviços de reparo das ruas da cidade pela Prefeitura, é citado que a escadaria, uma velha aspiração dos moradores da rua Tapajós, teria suas obras iniciadas ainda no mês de maio daquele ano. Não se sabe quando foi concluída, mas até hoje é utilizada pelos que enfrentam a descida ou a subida entre as ruas.

Escadaria João Veiga. FOTO: Elza Souza.

De acordo com a memorialista Elza Souza, existem no bairro de São Raimundo pelo menos duas escadarias: a Escadaria João Veiga, localizada na rua Boa Vista, que levava à extinta orla da Beira-Mar, hoje Parque Rio Negro; e a Escadaria da Goela, localizada entre a rua 05 de Setembro e a antiga rua Sagrado Coração de Jesus. Ela lembra de as ter conhecido quando ainda eram de madeira, utilizando-as para chegar na praia que circulava a colina do bairro.

Em outros bairros existe um sem número de escadarias. Simples ou rebuscadas, funcionais ou decorativas, são lugares cheios de Histórias, marcando a paisagem urbana da cidade.


FONTES:


Jornal do Commercio, 13/05/1965, p. 07.

Mensagem, 15/04/1937. In: Jornal do Commercio, 25/04/1937, p. 07.

Jornal do Commercio, 07/09/1944, p. 03.

Entrevista com Elza Souza, 01/06/2021.