domingo, 11 de outubro de 2015

Geografia antiga do Centro de Manaus

Mapa do Centro de Manaus, na zona Sul.

O Centro, conhecido por abrigar os lugares de maior interesse histórico da capital, sofreu, nos últimos 100 anos, mudanças expressivas em sua geografia e urbanização. Muitos logradouros desapareceram ou tiveram o nome alterado. O Centro, que de acordo com a Lei Municipal N° 287, de 23 de maio de 1995, é um bairro que começa no Ig. Dos Educandos com o Rio Negro; deste último até o Ig. De São Vicente; deste até a rua José Clemente; desta até a rua Luiz Antony; desta até o Ig. Da Castelhana; deste até a Av. Constantino Nery; desta até a Av. Sen. Álvaro Botelho Maia; desta até a rua Major Gabriel; desta até a rua Ramos Ferreira; desta até o Ig. Do Mestre Chico; deste até o Ig. Dos Educandos e deste até o Rio Negro (1), era, há mais de um século, dividido em “distritos” menores, cada um com suas delimitações.

Para elucidar a localização e os limites (com o nome das ruas atualizados) desses distritos desaparecidos há tempo, utilizo aqui informações retiradas do livro Bombeiros do Amazonas: Retrospectiva (1876-1998), do historiador e Coronel Roberto Mendonça, que utiliza para tal a obra descritiva Um olhar pelo passado, de Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha.

Bairro da Campina: começava onde hoje está a Praça e o Colégio Dom Bosco, passando pela sede do Atlético Rio Negro Clube, em frente a Praça da Saudade, e se estendia até os reservatórios da Castelhana e do Mocó.

Bairro Espírito Santo: estava limitado pela rua da Instalação, avenida Sete de Setembro (entre a rua Instalação e a avenida Eduardo Ribeiro), Henrique Martins, Lobo D' Almada, Joaquim Sarmento e Saldanha Marinho.

Bairro São Vicente: tinha seus limites nas ruas 5 de Setembro, Bernardo Ramos, Frei José dos Inocentes, Visconde de Mauá, Monteiro de Souza, Tamandaré e Itamaracá.

Bairro dos Remédios: estava limitado pelas ruas Marquês de Santa Cruz, Leovigildo Coelho, Barés, Miranda Leão, dos Andradas, Barão de São Domingos, Rocha dos Santos e Joaquim Nabuco.

Bairro de Nazaré (Alto de Nazaré): No local onde hoje fica a Praça Santos Dumont, considerado o mais distante da cidade.

Bairro República: Limitado pela Avenida Sete de Setembro (entre a Avenida Eduardo Ribeiro e Avenida Floriano Peixoto), e as ruas Marechal Deodoro, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Teodoreto Souto, Marcílio Dias, Dr. Moreira, José Paranaguá e Rui Barbosa.

Como subúrbios existiam o Alto da Bela Vista (Constantinópolis, mais tarde Educandos); São Raimundo, Saco de Alferes (Cornetas, bairro dos Tocos, Aparecida) e a ilhota de Caxangá, onde hoje está localizado o Makro Atacadista, na Av. Lourenço da Silva Braga. Quando algum incêndio atingia esses locais, os bombeiros, apoiados pelas Igrejas Católicas da cidade, tinham uma forma de saber em qual desses distritos ocorria o fogo:

Uma badalada para o bairro de S. Vicente; Duas ditas para o do Espírito Santo; Três ditas para o da Campina; quatro ditas para o dos Remédios; Cinco ditas para o de Nazaré (2). Para não confundir os bombeiros, havia um entre o sinal do bairro e o toque de rebate, um espaço de tempo.

Com o crescimento da cidade, o surgimento de novos bairros e zonas, e a constante prática de mudança de nomes de logradouros, essas divisões do Centro desapareceram, tornando-se o local um único bairro. Em São Paulo, por exemplo, a região do Centro é formada pelos distritos de Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Sé e Santa Cecília. Para as autoridades culturais de Manaus, seria bom pelo menos espalhar placas com a identificação antiga, de forma que resgatasse essa memória.


NOTAS E FONTES:

(1) Lei Municipal N° 287, de 23/05/1995

(2) MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013, Pág. 16.

ARANHA, Bento de Figueiredo Tenreiro. Um Olhar pelo passado. Manaus, Imprensa Oficial, 1897.

MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013.


CRÉDITO DA IMAGEM:

mapasblog.blogspot.com.br


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Os governos de Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro

Amigos e amigas, depois de ter ficado um tempo afastado do blog, retorno agora com uma série de postagens sobre História de Manaus, pois neste mês (10), a capital amazonense completa 346 anos.

É uma tendência da nova historiografia deixar o tema de grandes personagens de lado. Não acho que isso seja algo bom, pois existem nomes que merecem ser celebrados por seus feitos. Aqui, me dedico a dois: Manuel da Gama Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro, dois importantes personagens da História do nosso estado e, principalmente, da capital. De épocas diferentes, o primeiro do final do século 18 e o outro do alvorecer da República Velha, esses dois homens empreenderam governos que ficaram eternizados por sua eficiência em modernizar e dotar Manaus das condições necessárias para o seu crescimento.


Quartel das Tropas da Guarnição da Vila de Barcelos. Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Alexandre Rodrigues Ferreira, 1783-1792.

Ao assumir a Capitania de São José do Rio Negro, em 178
8, Manuel da Gama Lobo D' Almada, Brigadeiro e engenheiro militar português, deu início a uma série de mudanças na estrutura política e econômica da região. Transferiu, em 1791, a capital de Mariuá (Barcelos) para o Lugar da Barra (Manaus), que possuía localização geográfica privilegiada, na confluência dos rios Negro e Amazonas, o que acabava facilitando a defesa e o comércio da Capitania. Prédios públicos foram erguidos: No lugar da antiga Igreja de N. S. da Conceição, erguida em 1695, manda construir um novo templo; construiu um Palácio dos Governadores, Quartel e Cadeia Pública.

No campo econômico, deu destaque para a indústria e expandiu o setor primário. Introduziu gado no Vale do Rio Branco, atual estado de Roraima. Foram construídas uma fábrica de panos de algodão, uma de tecidos e redes; um depósito de pólvora; uma terracena para construir embarcações [...]; uma padaria de pão de arroz; uma fábrica de panos de algodão em rolos, com 18 teares e 10 rolos de fiar com 24 fusos cada uma; cordoaria para fabricação de cordas e amarras de piaçaba e calabres; uma fábrica de fécula de anil, uma nora para distribuir água; uma horta; olaria fábrica de velas de cera, um açougue; e um engenho para moer cana e fabricar cachaça e mel (1). Parafraseando o professor Carlos Moreira Neto (1928-2007), essa foi uma administração extremamente proveitosa, diferente do que acontecia até então em outras localidades colônia portuguesa.

Além de aumentar consideravelmente o “parque industrial” do Lugar da Barra, também construiu uma escola de música e aumentou o número de soldados para a proteção da capital. Foram, sem dúvida, os melhores tempos dos quais a Barra desfrutou durante o período colonial. Temeroso pelo rápido crescimento do Lugar da Barra e o prestígio de Lobo D' Almada, que acreditava poder tomar seu posto de governador, o Capitão-general Francisco de Sousa Coutinho, do Grão-Pará, com o auxílio de seu irmão Rodrigo, Ministro de Portugal, corta as verbas para a Capitania do Rio Negro e persegue Almada, conseguindo fazer a capital retornar para Barcelos, em 1799. Pobre e abandonado, Lobo D' Almada morre em Barcelos, em 27 de outubro de 1799.

Eduardo Gonçalves Ribeiro.

A 27 de fevereiro de 1892 tem início o governo de mais um militar, que ficou marcado como um dos mais bem executados do Amazonas. Era o governo do engenheiro militar maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro, que já havia estado no cargo entre 2 de novembro de 1890 e 5 de maio de 1891.

Nos quatro anos em que governou o Amazonas, de 27 de fevereiro de 1892 a 23 de julho de 1896, Eduardo Ribeiro soube aproveitar perfeitamente o aumento da arrecadação dos cofres públicos, em ascensão graças à exportação da borracha, e realizou obras de embelezamento, saúde e educação. 

Em sua administração, nivelou e criou bairros; pavimentou ruas; construiu o Instituto Benjamin Constant para jovens órfãs; foram entregues seis escolas públicas primárias em Manacapuru, Humaitá e Lábrea; Criou um hospício; abriu a estrada Manaus – Rio Branco; construiu as Pontes Romanas, Ponte Benjamin Constant e Ponte da Cachoeira Grande; Teatro Amazonas; Iluminação elétrica a arco voltaico; contratou o serviço de navegação com escalas para o Mediterrâneo; implantou o telégrafo subfluvial; e inaugurou o serviço de locomotivas de tração a vapor (2). Essas são apenas algumas das realizações do ex-governador, que em uma de suas memórias, afirma ter governado o Amazonas duas vezes como um ditador, talvez uma referência às suas ações contra membros do Partido Nacional, opositor ao seu governo ligado ao Partido Democrata. Talvez Eduardo Ribeiro tenha governado com mãos de ferro, mas não podemos negar a eficiência de sua administração.

Em tempos de disputas violentas como os da República Velha, Eduardo Ribeiro sofreu perseguições políticas. Seu mais célebre adversário foi a oligarquia da família Nery, que desejava assumir o governo em nome do Partido Nacional. O “Pensador”, como era conhecido por ter sido um dos editores do jornal republicano Pensador, no Maranhão, faleceu em Manaus em 14 de outubro de 1900, aos 38 anos.

Manuel da Gama Lobo D' Almada e Eduardo Gonçalves Ribeiro, administradores visionários, perseguidos e caluniados por aqueles que procuraram no Estado um apoio para seus interesses pessoais. Sem dúvida estão no Hall de homens ilustres que viram na Amazônia o potencial para o engrandecimento do Brasil. Os dois, cada um em seu tempo, utilizando os recursos disponíveis, garantiram o progresso da capital amazonense, a liberdade individual de seus habitantes e o bom funcionamento da máquina pública, coisas que se esperam de um digno representante do povo.


NOTAS E FONTES:

(1) MONTEIRO, Mário Ypiranga. Fundação de Manaus. Manaus, Editora Metro Cúbico, 4° edição, 1994. Pág. 51 (adaptado).

(2) MONTEIRO, Mário Ypiranga. Negritude e Modernidade: A trajetória de Eduardo Gonçalves Ribeiro. Manaus, Governo do Estado do Amazonas, 1990. Pág. 96 - 97 (adaptado).

REIS, Arthur Cézar Ferreira. Lobo D' Almada – Um estadista colonial. Manaus, Editora Valer, 3° edição, 2006.


CRÉDITO DAS IMAGENS:

brasil500anos.ibge.gov.br
catadordepapeis.blogspot.com.br




sábado, 22 de agosto de 2015

Educandos: 159 anos do Alto da Bela Vista

Estabelecimento dos Educandos Artífices, na antiga Olaria Provincial.

Neste dia 21 de agosto, o bairro de Educandos comemora 160 anos de fundação. Está Localizado na zona Sul de Manaus, em frente ao Rio Negro, limitado pelos bairros de Santa Luzia, Colônia Oliveira Machado, Cachoeirinha (através das pontes Ephigênio Salles e Juscelino Kubitschek) e Centro (ponte Pe. Antônio Plácido de Souza).

A origem desse bairro é ligada à criação do Estabelecimento dos Educandos Artífices, instituição educacional criada através da Lei N° 60, de 21 de agosto de 1856, onde eram ensinados os ofícios de tipografia, sapataria, carpintaria, alfaiataria etc. Estudavam nessa instituição jovens órfãos e de origem humilde. O nome pelo qual o bairro ficou conhecido é uma lembrança do antigo Estabelecimento dos "Educandos". Essa escola foi instalada no prédio da Olaria Provincial, no local conhecido como Barreira de Baixo.

De acordo com o Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município, de 1927, as primeiras ruas do local foram abertas em 1901, num total de 6, sob as ordens do superintendente Dr. Arthur Cezar Moreira de Araujo. Por meio do decreto n° 67, de 22 de julho de 1907, do superintendente interino Coronel José da Costa Monteiro Tapajós, a localidade de Educandos é batizada com o nome de Constantinópolis (Cidade de Constantino), uma homenagem ao governador da época, Constantino Nery.

Ainda com base nesse documento e nas informações do historiador Cláudio Amazonas, em 1908 a Intendência Municipal, sob os comandos do superintendente Domingos José de Andrade, através das Leis N° 487 (29 de fevereiro), 491 (4 de março), 507 (29 de maio) e 538 (9 de dezembro), dá a denominação das primeiras seis ruas que foram abertas no bairro: 

A rua Norte/Sul n°1 passa a chamar-se Boulevard Sá Peixoto, "em homenagem ao sr. Senador Antonio Gonçalves de Sá Peixoto que tão relevantes serviços ha prestado ao Estado do Amazonas e especialmente à cidade de Manáos; As ruas Norte Sul n° 2 e 3 passam a chamar-se monsenhor Amâncio de Miranda e Innocêncio de Araújo; As ruas Leste/Oeste n° 1 e 2 passam a chamar-se Delcídio Amaral e Manuel Urbano; A que poderia ser a Norte/Sul n° 3, seria chamada pelo povo de Boulevard Rio Negro, pois se constitui a faixa marginal o bairro frente ao rio Negro. Quanto à praça, seria batizada de Dr. Tavares Bastos, advogado e político alagoano, morto no dia 3 de dezembro de 1875 em Nice, na França, que, dentre outros feitos importantes de sua vida, inclui-se a luta pela abertura dos portos do Amazonas ao comércio mundial e pela libertação dos escravos.

Após essas pequenas mudanças, Educandos necessitava integrar-se com o restante da cidade, localizada no Centro e na Cachoeirinha. Até então, o contato era feito através das catraias, com seus portos localizados nas ruas Delcídio Amaral e Manoel Urbano. O primeiro porto levava em direção à rua Lima Bacury; o segundo, rua dos Andradas.


Pontes


A integração do Educandos ao restante da cidade se deu por meio das pontes. Ao todo, em sua História, foram construídas três. A primeira começou a ser construída em 1927, no governo de Ephigênio Salles, sendo entregue à população dois anos depois, em 1929. Foi batizada com o nome do referido governador. Com isso, o Educandos estava conectado com o bairro da Cachoeirinha e, através desse, ao Centro.



Em 1° de maio de 1959, o então governador, Gilberto Mestrinho, inaugurava a Ponte Juscelino Kubitschek, que esteve em Manaus para a inauguração. Essa ponte também ligava o bairro à Cachoeirinha. Sua construção se deu pelo aumento da demanda do tráfego na cidade, da ligação com a estrada do Paredão para o aeroporto de Ponta e Pelada e da Refinaria de Isaac Sabbá.




A terceira e última é a Ponte Pe. Antônio Plácido de Souza, que liga o Educandos, através da rua Delcídio Amaral, ao Centro, pela rua Quintino Bocaiuva. Começou a ser construída em 1972, na administração do prefeito Frank Lima, e foi concluída e inaugurada em 18 de outubro de 1975, na administração de Jorge Teixeira. Seu nome é uma homenagem ao primeiro vigário da paróquia de N. S. do Perpétuo Socorro.


Lugares Históricos

Com 159 anos de existência, o bairro possui lugares históricos que valem a pena conhecer.



Av. Leopoldo Péres - Com suas obras iniciadas em 1928 e concluídas em 1929, a "Estrada de Constantinópolis", como era conhecida na época, foi aberta pelos membros da Sociedade Sportiva e Beneficente de Constantinópolis, para facilitar o acesso dos moradores ao bairro da Cachoeirinha, através da ponte Ephigênio Salles. No final da Grande Guerra, com os Acordos de Washington encerrados e a nova queda dos preços da borracha, muitos nordestinos passaram a se alojar em subúrbios da cidade. A Estrada de Constantinópolis passou a ser habitada por essas pessoas, que passaram a instalar no local pequenos comércios. A presença dos nordestinos fez a estrada ficar conhecida como Estrada dos Arigós. Atualmente, a avenida mantém a tradição comercial, com inúmeras lojas de pequeno e médio porte.



Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Em 1928, durante as obras da Estrada, foi construída uma pequena capela em madeira, dedicada à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O Pe. Antônio Plácido de Souza assume o Curato Provisório de Constantinópolis, que se tornou, em 15 de dezembro de 1941, Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A estrutura atual, de alvenaria, começou a ser construída em 1946, sendo concluída anos mais tarde. Está localizada na rua Inocêncio de Araujo.


Vila Cavalcante - Uma das primeiras construções em alvenaria do bairro, a Vila Cavalcante, construída em 1912, é um dos últimos prédios históricos do bairro. O nome é de origem de uma rica família de seringalistas do Juruá. Foi adquirida por Manuel Figueiredo de Barros, regatão, que a vendeu em 1935 para o comerciante Joaquim Ferreira da Silva. Em 1924, em suas dependências, funcionou o Grupo Escolar Machado de Assis e, na década de 1930, o escritório dos Correios. Atualmente o prédio pertence à Fundação Santa Catarina, organização religiosa da Igreja Católica. Está localizado no Boulevard Sá Peixoto.


Orla do Amarelinho - O calçadão, de frente para o Rio Negro, é o principal cartão postal do Educandos. De noite, é o point certo dos que querem se divertir nos bares e casas de dança que ficam ao redor. Fato interessante e trágico é que, às 9 horas do dia 2 de abril de 1971, a área que atualmente compreende o Amarelinho desmoronou, consequência de forte tempestade ocorrida um dia antes. Nenhuma pessoa morreu, ocorrendo apenas a destruição das residências de madeira e palha que existiam no local. Está localizado no Boulevard Rio Negro.



Usina Labor - Em 1938, o empresário Isaac Sabbá adquire um grande terreno na Estrada de Constantinópolis, construindo nele a Usina Labor, destinada ao beneficiamento de sorva e borracha. A mão de obra empregada nessa indústria vinha do próprio bairro. Nos anos 1970 foi transformada em Fitejuta, agora funcionando como tecelagem de juta. O prédio é onde funcionou, até 2014, um dos supermercados DB. Fica na Avenida Leopoldo Péres.




FONTES: AMAZONAS, Cláudio. Memórias do Alto da Bela Vista: Roteiro Sentimental de Educandos. Manaus: Norma Propaganda e Marketing, 1996.

Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município. 1927. Administração do prefeito Basílio Torreão Franco de Sá. Disponível em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2015/08/livro-tombo-da-prefeitura-de-manaus-1.html. Acesso em 22/08/2015.

AMAZONAS, Cláudio. Constantinópolis: Origens e Tradições. Manaus: Edições Muiraquitã, 2008.


CRÉDITO DAS IMAGENS: Skyscrapercity
                                     Educandos, Cidade Alta
                                     Blog do Coronel Roberto
                                     Manaus de Antigamente



terça-feira, 14 de julho de 2015

O Modo de Produção Asiático

Lavoura – Pintura na tumba de Sennedjem.

O Modo de Produção Asiático, termo cunhado por Karl Marx, refere-se ao modo de produção das sociedades do Antigo Oriente Próximo. Temos aí civilizações que floresceram na região do Mar Mediterrâneo e também entre os rios Tigre e Eufrates. O Egito e a Mesopotâmia são os exemplos mais clássicos. O período em que se observa esse modo de produção vai de 4000 a.C. a 3.500 a. C.

Nessa época, o homem, graças ao domínio da agricultura e de outras técnicas de trabalho, já havia passado do nomadismo para o sedentarismo, fixando-se permanentemente em uma região, geralmente próximo à um rio, criando aglomerados urbanos que mais tarde deram origem às cidades-estados.

A economia dessas civilizações era predominantemente agrária. As terras cultivadas pertenciam ao Estado, representado pela figura de um monarca, considerado representante divino na terra. Esse monarca passou a dominar as terras por meio da força. Para poder exercerem suas atividades, os agricultores entregavam ao monarca tributos, formados pelo excedente da produção agrícola. Esse excedente era então dividido entre a nobreza, funcionários de alta patente e sacerdotes.

Esses agricultores estavam em um regime de servidão coletiva, pois para tirar seu sustento da terra, deveria submeter-se ao pagamento dessa "taxa". Além desses tributos, esses trabalhadores também eram deslocados para a construção de canais e irrigação e monumentos.

Antes de se tornar sedentário e mais complexo, o homem vivia em comunidades tribais divididas em caçadores (homens) e coletores (mulheres), onde os alimentos adquiridos eram distribuídos de forma igualitária entre os componentes da comunidade.

No Modo de Produção Asiático, temos grandes comunidades agrícolas sedentárias submetidas à um poder centralizador, o monarca (Estado), que se apropria do excedente de produção - Despotismo Oriental -  e marcada pela divisão social entre dominadores e dominados. Além da força e da religião, o Estado utilizava como instrumento de dominação a escrita, destinada à um pequeno grupo de funcionários públicos que controlavam a produção e recolhiam os tributos.

O nome "Modo de Produção Asiático" é uma referência à observação feita por Karl Marx, que registrou que, em alguns países da Ásia do século XIX, ainda existia uma economia dominada por um chefe tribal, em oposição ao liberalismo econômico da Europa.

Em síntese, podemos entender o Modo de Produção Asiático como uma forma de economia do Antigo Mundo Oriental marcada por forte intervenção estatal, quase inexistência de propriedade privada e pelo surgimento das divisões de classes.


CRÉDITO DA IMAGEM: antigoegito.org



sábado, 4 de julho de 2015

O que diferencia a História das demais Ciências Humanas?



Essa foi uma das perguntas da prova de Teoria da História, matéria lecionada pelo prof Almir de Carvalho Júnior. É uma pergunta interessante, se levarmos em conta que no centro das Humanidades, está o homem. Compartilho aqui com vocês a minha resposta.

Primeiro, devemos tomar conhecimento de que cada campo disciplinar possui sua singularidade, isto é, um aspecto que lhe torna único. O Direito, por exemplo, estuda o funcionamento das leis em sociedade. Essa é a singularidade desse campo. O objeto de estudo do Direito são as leis.

A História como ciência tem por objeto de estudo o homem. O sujeito é, ao mesmo tempo, objeto de estudo. Mas outras Ciências Humanas, como a Antropologia e a Sociologia, também possuem o mesmo objeto de estudo.

O que torna a História diferente das demais Ciências Humanas é a forma como esta explora e analisa seu objeto: A História estuda as ações do homem no tempo, utilizando como fontes os vestígios por ele deixado - materiais, imateriais etc; e utiliza para a construção de seu discurso um variado arcabouço de Teorias.

O que diferencia, enfim, a História das demais Ciências Humanas, é o pano de fundo em que seu objeto de estudo (o homem) está inserido, nesse caso, o Tempo.

Um dos livros lidos para a realização da prova e que também recomendo é: Teoria da História - princípios e conceitos fundamentais (Vol. 1), de José D' Assunção Barros.


CRÉDITO DA IMAGEM: curiososlinks.com.br



segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Espião do Rei (dica de leitura)



Título: O Espião do Rei
Autor: Mário Ypiranga Monteiro
Número de páginas: 335
Local e data: Manaus, 1950


O Espião do Rei é um romance histórico-ficcional, lançado em 1950 pelo professor, advogado, escritor e pesquisador amazonense Mário Ypiranga Monteiro. A trama se desenvolve em 1820, em Manaus, então Vila da Barra naqueles longínquos anos 20 do século 19. Com incríveis descrições histórico-geográficas, esse romance é marcado por intrigas, traições e jogo de interesses, característicos de uma sociedade dividida entre a continuidade da Monarquia Portuguesa e a Independência do Brasil. O contexto amazônico durante esse processo de independência ainda é pouco estudado.

O livro foi reeditado em 2002 pela Editora Valer.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Historiadores Gregos I: Heródoto de Halicarnasso (obra, metodologia e linguagem)


1. Introdução

Heródoto de Halicarnasso (Herodotus Halicarnassus, circa 484 - 425 a.C.) foi um historiador grego, eternizado pelas palavras de Marco Túlio Cícero como o "Pai da História". Esse grande historiador da Antiguidade, nascido na colônia grega de Halicarnasso, na Ásia Menor, teve sua vida marcada por duas grandes guerras: As Guerras Médicas, entre gregos e persas; e a Guerra do Peloponeso, entre diferentes cidades-estado gregas, com destaque para Esparta e Atenas.

Destas duas guerras, Heródoto passou a buscar as causas das Guerras Médicas, conflitos ainda "frescos" nas memórias de gregos e persas. Talvez, essa escolha tenha partido pela importância do conflito, que contribuiu para o fortalecimento econômico, político e militar da Grécia; e pelo contato que o historiador teve com diferentes povos na Ásia Menor. Heródoto foi o primeiro historiador a utilizar a palavra História (historíe, em dialeto jônico) com o sentido de indagar, investigar as causas dos feitos contemporâneos. Ele deixa isso explícito na introdução de sua obra, História:

"Esta é a exposição da investigação feita por Heródoto de Halicarnasso para que nem os feitos dos homens, com o tempo, se reduzam ao esquecimento, nem as obras grandes e admiráveis - tanto as realizadas pelos gregos quanto as realizadas pelos bárbaros - fiquem sem glória e as demais coisas por causa das quais foi o motivo de guerrearem uns com os outros".

Heródoto, assim como outros historiadores da Grécia Antiga, foi exilado. Esse exílio (cumprido em Samos) seu deu após uma tentativa frustrada de derrubar do trono grego o tirano Lígdamis I. Foi durante esse "castigo" que Heródoto viajou e colheu relatos nas principais cidades e regiões da época: Egito, Mesopotâmia, Fenícia, Magna Grécia, Sicília, Scitia, Ásia Menor e Atenas. Não se sabe em que ordem e nem se realmente todas as cidades mencionadas em sua obra foram visitadas. Após essa breve explanação sobre Heródoto, vamos compreender como se divide a obra, a metodologia empregada para a sua realização e a linguagem utilizada.

2. O Conteúdo da obra

A principal obra de Heródoto, História, foi dividida pelos gramáticos alexandrinos em 9 livros, cada um recebendo o nome de uma das musas gregas: Livro I - Clio (musa da História); Livro II - Euterpe (musa da Música); Livro III - Tália (musa da Comédia); Livro IV - Melpômene (musa da Tragédia); Livro V - Terpsícore (musa da Dança); Livro VI - Erato (musa da Poesia Lírica); Livro VII - Polímnia (musa da Música Sacra); Livro VIII - Urânia (musa da Astronomia e da Astrologia); Livro IX - Calíope (musa da Eloquência). Os assuntos abordados em cada livro são:

Livro I: As origens do Império Persa e a descrição dos povos e regiões que o formavam.
Livro II: A ascensão de Cambises, filho de Ciro, fundador do Império Persa e a descrição geográfica, histórica, cultural e religiosa do Egito.
Livro III: Continuação da descrição do Egito, a invasão dessa região pelas tropas de Cambises, as tentativas do monarca em invadir outros territórios, a morte de Cambises e a organização política e econômica do Império Persa.
Livro IV: As campanhas militares de Darío e a descrição das regiões e povos conquistados no processo: escitas, getas, saurómatas etc.
Livro V ao IX: Após abordar a formação do Império Persa e descrever os diferentes aspectos das regiões e povos incorporados a ele, o historiador começa de fato a falar das Guerras Médicas, elencando os fatores que levaram Darío a invadir a Grécia.

Antes de dar início à descrição das causas que motivaram as Guerras Médicas, Heródoto se empenha em descrever as regiões e os povos que englobavam e que foram conquistados pelo Império Persa. Para tal, utilizou conhecimentos em Hidrografia, Botânica, Economia, Política etc, tornado-se, de acordo com José Luís Romero, o precursor de uma História Cultural. O autor também revoluciona ao não deixar a mitologia interferir, apenas em casos necessários, na totalidade de sua narrativa.

3. Metodologia

Para produzir sua obra, Heródoto utilizou três métodos: ópsis, historíe e gnóme. A Ópsis é a observação pessoal, o que foi visto pelo autor durante suas viagens (Geografia, costumes e monumentos); A Historíe é a indagação, a pesquisa acerca do que se quer saber, feita mediante o recolhimento de fontes documentais e principalmente as orais. O autor, quando se refere aos relatos de terceiros, utiliza expressões como "de acordo com", "segundo tal pessoa". Foram consultados registros governamentais, listas administrativas e obras de outros autores. Diferente dos antigos escritores, que apenas compilavam em suas obras diversas informações, sem irem em busca de suas veracidades, Heródoto adota uma postura crítica em relação aos dados obtidos, comparando suas informações e, em alguns trechos de seu livro, demonstra não crer totalmente sobre determinada informação:

"Eu, por minha parte, devo dizer o que me disseram, porém não sou obrigado a acreditar totalmente nisso; tenha isso em conta para o conjunto de minha obra".

A narrativa da obra não segue uma linha cronológica definida. Como unidade de tempo são utilizados os cálculos por gerações (cada uma com duração de 30 a 35 anos; três gerações, 100 anos); como principal referencial para os tempos remotos, a Guerra de Tróia; e o Arconte Epónimo, uma espécie de cargo político com duração de 10 anos, indicado pelo nome de um nobre. Heródoto tinha uma visão cíclica da História, isto é, com início, meio e fim previsível.


4. Linguagem

A escrita de Heródoto é produzida a partir do dialeto jonio, herança dos logógrafos, e do dialeto ático. Seu estilo é marcado pela acumulação de orações, do tipo coordenativo e subordinada, combinadas entre si por seus conteúdos e por verbos de ligação, pronomes, adjetivos e advérbios anafóricos. Também é muito recorrente a repetição de palavras em diferentes orações ou parágrafos; e o uso do discurso direto (com as palavras do próprio autor) e do discurso indireto (através do narrador ou de alguma outra pessoa).


Aos interessados, a obra está disponível no site eBooksBrasil, na célebre versão do historiador francês Pierre-Henri Larcher (1726-1812). No Brasil, o advogado acriano Mário da Gama Kury, considerado o maior tradutor brasileiro de clássicos, foi o responsável por traduzir essa obra para o português (o livro foi editado pela Universidade de Brasília).