sábado, 4 de setembro de 2021

A antiga Casa da Câmara Municipal e a Instalação da Província do Amazonas

Casa da Câmara Municipal, local onde foi Instalada a Província do Amazonas. Desenho do pesquisador Ed Lincon Barros Silva.

A Elevação do Amazonas à Categoria de Província é a data maior da História do Estado do Amazonas. Apesar desse destaque, a capital, Manaus, possui poucos elementos que remetem a esse fato. Um deles poderia ter chegado até os dias de hoje se tivesse sido preservado no passado: a Casa da Câmara Municipal, prédio onde a Província foi Instalada em 01 de Janeiro de 1852.

A Comarca do Alto Amazonas, como se sabe, foi elevada à categoria de Província em 05 de Setembro de 1850 por força da Lei N° 582 de 05 de Setembro daquele ano, desmembrando-se da Província do Grão-Pará. A Instalação ocorreu somente em 01 de Janeiro de 1852. Ela teve lugar em um sobrado localizado entre a ruas Oriental (posteriormente Rua da Instalação), Frei José dos Inocentes e Henrique Antony - na então cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro (Manaus) - que funcionava como a Casa da Câmara Municipal. Estiveram presentes autoridades civis, militares e eclesiásticas, bem como grande número de populares. A população da cidade era estimada em pouco mais de 4.000 habitantes.

O prédio pertencia ao Vereador e comerciante Alexandrino Magno Taveira Pau-Brazil (1797-1862), proprietário de alguns dos melhores estabelecimentos da cidade. As poucas fotos antigas que existem nos permitem visualizar uma construção de estilo simples, com dois andares, poucas janelas e portas. O historiador Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004), descendente de Alexandrino Magno Taveira Pau-Brazil, afirma que ele era de "[..] de taipa socada em pilão arcado" (MONTEIRO, 1998, p. 351). 

Com o passar dos anos, a antiga Casa da Câmara, cujas paredes estavam revestidas de glórias de um passado de lutas por emancipação, ganhou outros usos. Instalou-se no local, em 1902, o Café Suisso, de Chaves & Cia, café e botequim de primeira classe onde eram servidas bebidas e refeições. O Café Suisso foi um empreendimento longevo, chegando até meados da década de 1940-50. À essa altura o prédio já estava em ruínas, necessitando de reparos urgentes. Posteriormente funcionaram uma tabacaria e uma barbearia. O último estabelecimento a funcionar no recinto foi o escritório de representações J. A. Castro, entre 1947 e 1960 (PERET, 1982). 

Em 1950, durante o primeiro centenário da Elevação do Amazonas à Categoria de Província, a antiga Casa da Câmara foi parcialmente recuperada e recebeu uma placa comemorativa de mármore com os seguintes dizeres: "1850-1950. Nesta casa, a 1° de Janeiro de 1852 foi instalada a Província do Amazonas (Lei 582 de 5-9-1850), sendo seu primeiro Presidente João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha. Governador atual - Júlio F. de Carvalho Filho. Em 5 - IX - 950" (DINIZ, 1960).

A recuperação parcial feita em 1950 não foi o bastante. As marcas do tempo estavam bastante visíveis. Parte da estrutura, feita com pau a pique, estava à mostra. O restante estava ruindo. A sociedade e a imprensa, vendo o estado em que o prédio se encontrava, correndo risco de desabar a qualquer momento, protestou e apelou ao poder público para que este intervisse, recuperando e dando ao prédio uma finalidade digna da sua importância histórica. De acordo com o jornalista Almir Diniz de Carvalho (1929-2021), autor da premiada reportagem Relíquias sem teto, publicada em 02 de maio de 1960 no Diário da Tarde, 

"De nada adiantaram nossos gritos de alerta. Pedimos, imploramos que o Govêrno adquirisse o imóvel e o remodelasse, guardando com zêlo e carinho suas linhas gerais, para servir de sede ao nosso Museu Histórico, sendo êle próprio a peça mais preciosa, rara e querida do projetado templo de relíquias. Tudo em vão. Ninguém quis atender nossos apêlos, e todos fecharam os ouvidos ao nosso pedido forrado de altruística justificação" (DINIZ, 1960).

Os apelos, os protestos, como registrou Diniz, não surtiram efeito. O novo Governo que se anunciava dinâmico, renovador, o de Gilberto Mestrinho, não deu atenção a esse templo da memória amazonense. Com a justificativa de que o prédio oferecia perigo aos transeuntes, dado o seu estado, a Prefeitura realizou a sua demolição ainda em maio de 1960. No terreno vazio passou a funcionar uma movimentada feira de frutas. Encerrada a feira, em 1982, na administração municipal de João Mendonça Furtado, foi construída uma réplica da fachada da antiga Casa da Câmara Municipal. A réplica, infelizmente, tornou-se um estacionamento mal organizado, também sofrendo com o desgaste causado pelo uso do local como banheiro público e o crescimento da vegetação.

Assim ficou, mais uma vez, o Amazonas, destituído de seus monumentos. Nesse caso, destituído do seu principal, símbolo de sua independência política, dos anseios políticos e populares por novos tempos. Continuamos esperando por novos tempos, tempos em que o que é nosso, nosso patrimônio, seja cada vez mais valorizado e protegido.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

DINIZ, Almir. Relíquias sem teto. Diário da Tarde, 02/05/1960.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. 2 vol. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998.

PERET, J. Américo. Crime contra a História do Amazonas. A Crítica, 04/07/1982.


sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Jornalismo Literário: Recordando Beruri

Guilherme Aluízio de Oliveira Silva (1937-2019).

A 23 horas de Manaus, 10 horas acima de Manacapuru, 3 horas subindo o rio Purus. Em lancha em marcha regular. Esse é o percurso para se atingir um lugarejo de altas barrancas, duas dezenas de casas e quatro ruas.

Às vezes, em alguns mapas geográficos se encontra marcado, na margem direita do abundante rio Purus, cujo entrelaçamento e comunicação se faz com afluentes como o Rio Iaco e o Rio Acre ao desaguar no Brasil, na margem direita do Purus, na cidade de Boca do Acre. Cerca de mil habitantes moram na cidade, vivendo do plantio e colheita da castanha, da pesca artesanal e da indústria manual. O delegado e a professora são os símbolos do saber acadêmico naquela região.

O comércio de venda e revenda dos produtos alimentícios é um dos mais promissores. Alguns comerciantes prosperaram naquele local. Na década de 30 havia uma serraria de beneficiamento de madeiras e uma usina de extração de óleo de pau rosa fundada por Álvaro Fachina da Silva, Dalila Batalha sua esposa e Izaura Batalha sua sogra.

Existe uma possibilidade que seja encontrado petróleo no seu solo. Uma equipe da Petrobras está trabalhando. O povo tem esperanças de que se encontre o ouro negro, movido das mesmas esperanças do povo de Nova Olinda, houve grandes expectativas noticiadas nos jornais da capital, porém, o ouro negro desapareceu misteriosamente. Beruri talvez tenha maior sorte. Talvez jorre petróleo do seu solo, talvez seja manchete nos jornais. Talvez os mandatários da nação criem coragem e resolvam de uma vez por todas as calamidades de Beruri, de Manaus, do Amazonas, do Brasil.

A terra onde nasci, onde dei os primeiros passos, onde estive nos primeiros nove anos de vida. Local de natureza exuberante e agradável. Existem os problemas como em qualquer outra pequena cidade do mundo, mas, as pestes das plantações, os ladrões do colarinho branco, os estelionatários, a juventude transviada – inspirada no filme lançado em 1955, “Rebel without a cause”, com James Dean – com moto (ou lambreta), casaco de couro, comportamento rebelde, prisão etc., os costumes norte-americanos e nem tampouco se assiste filmes de faroeste. Beruri é livre de tudo isso.

Pequenino lugar encravado no barro vermelho do Purus. Beruri está longe do barulho da cidade grande, das noites intermináveis, da very kar society. Livre dos jipes atropeladores, esses monstros de rodas que matam, que atrofiam os pedestres. Livre da vaidade, da descompostura e do fingimento. É esquecida pelos forasteiros, mas sempre é lembrada pelos seus filhos.

Lugar abençoado, como é abençoado tudo aquilo que é sincero. Não parece diferente de muitos outros lugares espalhados por este imenso Amazonas, perdidos também em muitas barrancas vermelhas. Beruri lembra a cidade do dramaturgo grego Aristófanes, nascido em Atenas, considerado o maior representante da comédia antiga “escravo marcado com ferro em brasa”. Os seus filhos nunca te esqueceram, recordam os momentos vividos em seu chão. O campo de futebol, as peladas de todas as tardes. A igreja com o enorme cruzeiro na frente. A velha Mãe Joana que ainda pega os meninos da redondeza. Os amigos Mário Andrade, Chico Miranda e outros. Beruri tem fama no coração dos seus filhos que a amam.

A Princesinha do Purus jamais sofreu com o desabastecimento de água, nem tampouco de energia elétrica. O imenso Rio Purus, caudaloso, manso nos dias calmos, terrível e furioso ao sopro do menor vento, qual manancial diluviano, mata a sede dos seus filhos e lava o corpo dos seus descendentes. O pequenino conjugado elétrico, impotente para qualquer outra função, ilumina suas ruas nas noites escuras, assegurando o caminhar seguro daqueles que percorrem suas ruas. Os berurienses jamais foram às boates com seus salões banhados a meia luz, desconhecem as rodas literárias e as crônicas sociais.

Os berurienses talvez não entendam o britanismo e o americanismo da chamada High Society. Talvez a própria High Society nunca entendeu tudo isso, apenas repete os termos da língua inglesa pela moda, pela vaidade, pelo alardeio de grandeza, pela ostentação fantasiosa, pelo atrofiamento dos sentimentos, pela pequenez do espírito.


Tu estás livre de tudo isso

Minha querida Beruri,

Estás livre, limpa, sem mancha alguma,

Em reconhecimento a ti, digo assim:


Ó minha mimosa terra

Eu te tenho muito amor

Eu vivi feliz

Sem sentir amarga dor.


Amo teu povo hospitaleiro,

Lá destas terras benditas,

Amo o prado, o chão e o céu

De tuas belezas infinitas.


Ó minha mimosa terra

Eu te tenho muito amor,

Eu aí vivi feliz

Sem sentir nenhuma dor.


(Guilherme Aluízio de Oliveira Silva. Jornalista filiado à Fenaj com registro profissional no 136. Recordando Beruri. Publicado originalmente no jornal A Gazeta, Manaus, 1955).

(Edição de texto por Elcias Moreira, 2 de setembro de 2021).


quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Vila Fanny, em Manaus

Vila Fanny. FONTE: Biblioteca Samuel Benchimol/Instituto Durango Duarte.

A Vila Fanny é um dos mais belos e imponentes palacetes da Manaus do início do século XX. Construída em 1910, na Avenida Joaquim Nabuco, no Centro, foi propriedade da família do Coronel Manoel Dias de Oliveira, corretor da Junta Comercial do Amazonas. Manoel a batizou como Vila Fanny em homenagem a sua esposa, Fanny Hughes de Oliveira, com quem casou-se em 1903.

O historiador Leandro Tocantins, na obra O Rio Comanda a Vida, descreveu o palacete como um "velho sobradão português com influência francesa", onde foram realizados bailes grandiosos e e casamentos de ingleses com amazonenses (TOCANTINS, 1968, p. 270). Luiz de Miranda Corrêa, em seu Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro, registrou que o local, até a década de 1930, era ponto de encontro da elite amazonense e de estrangeiros bem quistos. O nome do palacete estava gravado no frontão e no portão. Sobre sua arquitetura, descreve-o como um "sobradão português de larga fachada, em que certos elementos neoclássicos foram empregados visando a conseguir um efeito palaciano" (CORRÊA, 1969).

Dom João da Mata de Andrade e Amaral, Bispo do Amazonas entre 1941 e 1948, adquiriu o palacete da Vila Fanny em 1948, integrando-o ao patrimônio da Arquidiocese. Ele serviria de residência episcopal, mas no final optou-se por outro prédio. Posteriormente sediou o SESP - Serviço Especial de Saúde Pública. No bispado de Dom João de Souza Lima (1958-1980) foi alugado ao médico Jayme de Paula Gonçalves. Em 1978 Dom João de Souza Lima, Arcebispo Metropolitano, o alugou para o grupo empresarial que administrava o Pronto Socorro e Hospital dos Acidentados. No ano de 1980 o palacete abrigou o Hospital João Paulo II, criado em homenagem ao Papa João Paulo II, que naquele ano visitou a cidade.

Atualmente o palacete da Vila Fanny pertence ao Grupo Samel, tendo sido integrado à estrutura moderna do hospital. Está parcialmente preservado. Alguns elementos, como os alpendres com lambrequins e parte do muro foram suprimidos nas obras de integração e adaptação à unidade hospitalar. A Vila Fanny fica a poucos metros de outra vila, a Vila Nair, também propriedade do Grupo Samel.

Vila Fanny, à esquerda, nos dias de hoje. FONTE: SAMEL.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CORRÊA, Luiz de Miranda. Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro. Manaus: Artenova, 1969.

TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a Vida: Uma Interpretação da Amazônia. 3° ed. Rio de Janeiro: Gráfica Record Editora, 1968.



quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Resenha: O Tigreiro, de Mário Ypiranga Monteiro (1997)

O livro O Tigreiro foi publicado em 1997 pelo historiador amazonense Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004). Ele nos apresenta nesse trabalho as origens e o funcionamento do sistema de coleta e eliminação de dejetos humanos e animais entre os séculos XIX e XX. A figura central é o tigreiro, tipo social de origem escrava, indígena ou mestiça, que ficava encarregado do trabalho diário de recolhimento das impurezas produzidas pela cidade. É mais um trabalho de História Social, juntando-se ao aguadeiro, a lavadeira, o arruador, o homem da matraca e o regatão.

No período Colonial, em que Manaus era o Lugar da Barra, o sistema de esgoto era inexistente, se tornando uma realidade apenas na segunda metade do século XIX, com a Província. O lixo doméstico e os excrementos eram recolhidos pelos tigreiros, que com seus barris, carregados na cabeça, despejavam toneladas de impurezas em locais destinados para esse fim: "[...] os esvãos litorâneos, as pontas de terra que eram então as dos Remédios e de São Vicente-de-Fora, ou os baixios da Fortaleza, à causa da corrente" (MONTEIRO, 1997, p. 08). Era costume, também, atirar pelas janelas das casas as águas servidas, o que causava transtorno aos transeuntes, que vez ou outra eram atingidos. Surgem, junto aos tigres, os arrendadores do serviço de coleta, utilizado carros de condução de duas rodas.

Mário Ypiranga afirma que tigre era o nome do barril utilizado no transporte dos excrementos, enquanto tigreiro era o carregador (MONTEIRO, 1997, p. 40). Por outro lado, os escravos ficavam conhecidos como tigres porquê os dejetos, ao escorrerem pelas frestas dos barris, marcavam suas peles, que ficavam listradas.

Mário Ypiranga chama atenção para as formas e meios utilizados por nossos antepassados para satisfazer suas necessidades fisiológicas. As famílias de baixa renda, explica, utilizavam as margens dos igarapés ou as áreas de mata como banheiros. Dizia-se "vou ao mato", "vou na casinha". Por conta desse costume os banheiros passaram a ser construídos não anexos à residência, mas à parte destas. Os utensílios utilizados eram variados  e para diferentes classes: "coronel", "capitão", "furriel", iamaru ou jamaru, cabungo, capitari e também bacio e noutra extensão comadre" (MONTEIRO, 1997, p. 14). Os banheiros domésticos, com latrinas e bacio de louça, eram privilégio de poucos. A falta de higiene e o despejo de lixo, fezes e urina nos igarapés eram responsáveis pela insalubridade e o consequente aparecimento de doenças.

No período Provincial, com o aumento das rendas públicas, surgem alguns melhoramentos, como o primeiro esgoto, construído em 1866, que saía da Praça da Imperatriz e ia em direção ao Rio Negro (MONTEIRO, 1997, p. 17). Apesar dessa mudança, o tigreiro continuou atuando com seus barris, indo de casa em casa e de repartição em repartição, sendo uma figura extremamente importante naquele período em que ainda eram dados os primeiros passos na construção de um sistema de esgotos apropriado. Os igarapés e o Rio Negro continuavam sendo o destino dos detritos residenciais.

Do ponto de vista cronológico, Mário Ypiranga, retrocede e avança no tempo, sem limites temporais estabelecidos, o que confere ao trabalho uma característica de ensaio. Por exemplo, ao discorrer sobre algumas ações de administradores públicos do passado, que tentaram sanear a cidade, afirma que mesmo com essas lições antigas as autoridades do presente se mostram ineptas no que tange a urbanização:

"Nos dias atuais as autoridades simplesmente são omissas ao proliferamento de casebres imundos à margem dos igarapés centrais e até dentro deles, ali mesmo onde será despejado o lixo e a matéria fecal dos próprios residentes, de vez que essas construções precárias ficam isoladas do sistema de fornecimento d' água potável e de derivação de esgotos!" (MONTEIRO, 1997, p. 40).

É somente entre o final do século XIX e o início do século XX que Manaus, agora enriquecida pela exportação da borracha, é dotada, pela empresa inglesa Manáos Improvements Limited, concessionária do serviço de águas e esgotos, de um sistema eficiente de eliminação de resíduos residenciais e comerciais. Foram construídas galerias subterrâneas, aterrados igarapés, instalados banheiros públicos, importados carros de limpeza, construído um forno crematório no bairro dos Tócos, no Plano Inclinado, criado um sistema de coleta de lixo eficiente e organizado e os Códigos de Posturas tornaram-se mais rígidos nos artigos sobre a limpeza pública. O autor afirma que "O sistema implantado pela Manaus Improvements era no tempo um dos melhores do mundo, similar ao inglês e australiano no dizer de algumas pessoas credenciadas" (MONTEIRO, 1997, p. 70).

Estudando os orçamentos da cidade entre os anos de 1834 e 1906, mostrou como os gastos com limpeza pública (limpeza de ruas, praças, remoção de lixo, capinação etc) foram evoluindo, iniciando de forma tímida até ganharem grandes proporções entre 1850 e 1900. "Isto basta", afirma, "para exemplificar um critério administrativo, progressivamente firmado no desenvolvimento da cidade, com a aplicação de meios na solução do grave problema de saúde e higiene públicas" (MONTEIRO, 1997, p. 99-114). A Manaus dos tigreiros ficou no passado, apesar de alguns hábitos, como o uso do igarapé como banheiro ou a latrina como sanitário, persistam na cidade e no interior.

O Tigreiro é mais um interessante trabalho de História Social que deve ser lido, pois nos mostra as transformações do sistema de coleta e descarte de lixo na cidade, bem como os personagens ligados à essas atividades.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


MONTEIRO, Mário Ypiranga. O Tigreiro. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1997.

sábado, 7 de agosto de 2021

De que morriam os amazonenses antigamente?


A análise dos jornais dos séculos XIX e XX possibilita a compreensão de diferentes aspectos do cotidiano daquela época. Além das notícias, neles eram publicadas as estatísticas comerciais, as estatísticas de entrada e saída de passageiros pelos portos, os anúncios de compras, vendas e fugas de escravos, as leis e os decretos. Nos interessam, nesse texto, dois outros elementos que faziam parte dos periódicos: o obituário e os necrológios. Atualizado diariamente, o obituário trazia informações sobre o número de óbitos na cidade, as causas, os nomes, idades e profissões dos falecidos. O necrológio, um elogio fúnebre, também trazia, em meio aos elogios, essas informações. São fontes valiosas para o estudo da História da saúde na região. A lista abaixo foi produzida através do estudo de obituários e necrológios publicados em jornais do Amazonas entre 1850 e 1900.


Ignácio da Cunha Arruda e Sá
Origem: Mato Grosso
Ocupação: Tabelião Público
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 01/04/1856
Causa: Febres

A doença identificada como 'febres' trata-se de uma reação a outras enfermidades, reação essa que se tornou adversa e causou a morte da pessoa.

Francisca Furtado
Origem: Amazonas
Ocupação: Dona de casa
Idade: 58 anos
Data de falecimento: 1858
Causa: Congestão cerebral

Congestão cerebral era o nome dado, antigamente, ao Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Antonio Felix dos Santos
Origem: Amazonas (Silves)
Ocupação:1° Juiz de Paz, Comissário Literário e Presidente da Câmara Municipal
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 29/09/1866
Causa: Breve e perigosíssima enfermidade

'Breve e perigosíssima enfermidade' trata-se de qualquer doença grave de rápido desenvolvimento.

Juliano José Pereira Guimarães
Origem: Amazonas
Ocupação: Não identificada
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 12/08/1869
Causa: Afecção pleura

Por 'afecção pleura' pode-se compreender diferentes doenças que atingem os pulmões.

João do Nascimento
Origem: Amazonas
Ocupação: Não identificada
Idade: 16 anos
Data de falecimento: 05/04/1879
Causa: Constipação

A 'constipação' que vitimou João do Nascimento é mais conhecida por nós pelo nome prisão de ventre, que é a alteração do trânsito intestinal e a consequente dificuldade em eliminar a matéria fecal.

Maria Francelina de Menezes
Origem: Ceará
Ocupação: Não identificada
Idade: 16 anos
Data de falecimento: 10/04/1879
Causa: Estupor

O 'estupor' de Maria Francelina de Menezes, entendido como um estado de paralisia ou perda da consciência, pode ter sido consequência de outra doença ou acidente.

Antonio Elias
Origem: Ceará
Ocupação: Não identificada
Idade: 25 anos
Data de falecimento: 04/05/1880
Causa: Tísica

A 'tísica' é o mesmo que Tuberculoso Pulmonar.

Florentino José Felippe
Origem: Amazonas
Ocupação: Não identificada
Idade: 40 anos
Data de falecimento: 05/05/1880
Causa: Tísica

Ver o caso anterior.

Maria de Sant' Anna
Origem: Pará
Ocupação: Não identificada
Idade: 114 anos
Data de falecimento: 05/05/1880
Causa: Reumatismo

Maria de Sant' Anna, que viveu incríveis 114 anos, encerrou-se com um reumatismo, doença inflamatória das articulações que acomete principalmente idosos.

João Mollat
Origem: Alemanha
Ocupação: Não identificada
Idade: 35 anos
Data de falecimento: 06/05/1880
Causa: Asfixia

A asfixia que vitimou o alemão João Mollat pode ter sido causada por inalação de gases tóxicos, afogamento ou infecção.

Maria
Origem: Amazonas
Ocupação: Nenhuma
Idade: 2 anos
Data de falecimento: 09/05/1880
Causa: Coqueluche

A coqueluche é uma doença infecciosa pulmonar que atinge principalmente crianças.

Augusto dos Santos
Origem: Amazonas
Ocupação: Nenhuma
Idade: 2 anos
Data de falecimento: 10/05/1880
Causa: Coqueluche

Ver caso anterior.

Antonio Augusio de Goes Tourinho
Origem: Bahia
Ocupação: Farmacêutico
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 02/05/1886
Causa: Faleceu repentinamente

'Morte repentina' e 'faleceu repentinamente' eram termos utilizados para casos de morte súbita.

Joanna Pinheiro
Origem: não identificada
Ocupação: Não identificada
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 21/06/1888
Causa: Disenteria

Disenteria, popularmente conhecida como diarreia, é causada por bactérias e parasitas. Era bastante comum em tempos em que não existiam redes de esgoto, abastecimento por água potável e limpeza pública eficiente.

Filomena da Conceição
Origem: Não identificada
Ocupação:
Idade: 20 anos
Data de falecimento: 27/11/1890
Causa: febre perniciosa

A febre perniciosa é intermitente e, na maioria dos casos, fatal.

João Pinto
Origem: Ceará
Ocupação: Não identificada
Idade: 27 anos
Data de falecimento: 30/04/1899
Causa: Beribéri galopante

O beribéri é causado pela baixa presença de vitamina B1 no organismo, causada pela má alimentação e pelo alcoolismo.

Cassiano Ribas da Silva
Origem: Portugal
Ocupação: Não identificada
Idade: 26 anos
Data de falecimento: 23/05/1900
Causa: Febre amarela

A conhecida febre amarela, transmitida por mosquitos, fez estragos consideráveis nos séculos XIX e XX. A epidemia mais grave, no Amazonas, ocorreu em 1856, quando cerca de 70% da população foi atingida.

José Domingos Soriano Alves da Silva
Origem: Amazonas (Manacapuru)
Ocupação: Coronel
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 11/11/1900
Causa: Congestão cerebral

Ver segundo caso.

Manoel Joaquim Guedes Filho
Origem: Ceará
Ocupação: Não identificada
Idade: Não identificada
Data de falecimento: 1903
Causa: febres de mau caráter

'Febres de mau caráter' foi o termo utilizado para descrever as febres intermitentes.

Domingos Queiroz de Oliveira
Origem: Não identificada
Ocupação: Indigente
Idade: 26 anos
Data de falecimento: 23/01/1904
Causa: Síncope Cardíaca

'Síncope Cardíaca' nada mais é que o clássico ataque cardíaco.


As principais causas de morte em 1901 eram malária, beribéri, tuberculose, pneumonia, acessos, síncope, bronquite, disenteria, enterite, diarreia, caquexia, hemorragia, meningite, tétano, sífilis, fimatose, asfixia, hepatite, anemia, congestão cerebral, paralisia, hipoxemia, enterocolite, gastroenterite, lesão cardíaca, atrepsia, alcoolismo e outras moléstias não classificadas. Juntas causaram cerca de 1316 óbitos de janeiro a dezembro. Nos anos seguintes a principal causa de mortes na cidade seria o impaludismo.

Os avanços da medicina, ao longo do século XX, com o surgimento de medicamentos e, principalmente, vacinas, garantiram um melhor enfrentamento de doenças que imperavam por séculos no Amazonas, como a febre amarela, o impaludismo, a tuberculose e a coqueluche.


IMAGEM:

IStock

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Bôla, o salgado português mais amazonense que existe


Hoje vou falar sobre a História de um salgado famoso entre nós amazonenses: a Bôla. De acordo com o Diário de Notícias de Portugal, em matéria de 02 de maio de 2011, a Bôla começou a ser produzida ainda na Idade Média, no reinado de D. Afonso Henriques (1143-1185).

De acordo com o escritor português Paulo Moreiras, autor do livro Pão & Vinho, mil e uma histórias de comer e beber, publicado em 2014, a Bôla teria origem numa receita do antigo Convento de Lamego.

Ela é um salgado de origem portuguesa que se popularizou no século XIX, provavelmente tendo chegado aqui através dos imigrantes. A receita tradicional da Bôla de Lamego, produzida na cidade de Lamego, no Norte de Portugal, leva trigo, banha de porco (ou azeite), margarina, fermento, água e sal. No Brasil a adaptamos, adicionando ovos, açúcar, óleo de cozinha e leite. Os recheios são variados: linguiça, calabresa, carne de boi, chouriço, frango, presunto, queijo e o mais famoso, sardinha.

Era vendida nas principais confeitarias da cidade, como a Confeitaria São Jorge, na Avenida Sete de Setembro, no Centro, que vendia a Bôla portuguesa nos sabores queijo e sardinha:

"CONFEITARIA S. JORGE

A Confeitaria S. Jorge deseja aos seus amigos e freguêses um bom Natal e Feliz Ano Novo e aproveita para comunicar que terá a venda nos dias 24 e 31 do corrente os seguintes artigos:

Bola portuguêsa (presunto e sardinha), Bolo Inglês e Rocamboles recheados com cupuassú e chocolate" (JORNAL DO COMMERCIO, 25/12/1963, p. 04).

Essa iguaria tem sabor de infância. Lembra as merendas da tarde, ao redor da mesa, em que esperávamos ansiosos nossas mães e avós transformarem aquela massa em um prato sem sem igual, simples e extremamente saboroso, em uma perfeita combinação de massa fofa com recheio úmido. Para acompanhar, um bom café. 





quarta-feira, 28 de julho de 2021

Monumentos: da construção à destruição

Via Ápia, em Roma. FONTE: Alamy.com

Nos últimos dias, ao lado das manchetes sobre as Olimpíadas de Tokyo, um fato ocorrido no Brasil chamou a atenção: um incêndio provocado contra a estátua do bandeirante Borba Gato (1649-1718), localizada no distrito de Santo Amaro, em São Paulo. A obra, de autoria do escultor Júlio Guerra e com mais de 10 metros, foi inaugurada em 1963, durante as comemorações do IV Centenário de Santo Amaro. O que motiva a construção de monumentos? Não precisa ser um especialista para saber que monumentos, desde as mais simples placas às esculturas monumentais, são construídos para celebrar e eternizar determinadas memórias e personagens. O historiador Jacques Le Goff explica o sentido do monumento através da análise filológica:

"A palavra latina monuentum remete para a raiz indo-européia men, que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa 'fazer recordar', de onde 'avisar', 'iluminar', 'instruir'. O monumentum é um sinal do passado. Atendendo às suas origens filológicas, o monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos. Quando Cícero fala dos monumenta hujus ordinis [Philippicae, XIV, 41], designa os atos comemorativos, quer dizer, os decretos do senado. Mas desde a Antiguidade romana o monumentum tende a especializar-se em dois sentidos: 1) uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura: arco de triunfo, coluna, troféu, pórtico, etc; 2) um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada: a morte" (LE GOFF, 1990, p. 535-536).

Em síntese, monumentos são erguidos desde que os grupos humanos organizaram-se e passaram a querer deixar suas marcas na sociedade, evocando eventos naturais, grandes feitos, guerras, heróis e líderes políticos. Foi por iniciativa do Estado, aliás, com apoio das elites, que muitos monumentos surgiram, pois a ele interessava, e ainda interessa, a preservação e o apagamento de certas memórias.

Manuel de Borba Gato (1649-1718) foi um bandeirante paulista dos séculos XVII e XVIII. Os bandeirantes foram responsáveis pela expansão do território da América Portuguesa, desbravando novas terras, ouro e pedras preciosas e fundando cidades. Além de pedras preciosas, os bandeirantes também procuravam mão de obra, capturando indígenas e negros em quilombos. Borba Gato também participou da Guerra dos Emboabas (1707-1709), em que enfrentaram-se os bandeirantes, que primeiro descobriram metais preciosos no interior e queriam a exclusividade na exploração, e os emboabas, portugueses e brasileiros de outras regiões, que também procuravam por metais preciosos. Vivia-se um contexto bélico, de carnificina e escravidão.

Passados quase três séculos, a historiografia brasileira tradicional construiu um mito em torno da figura dos bandeirantes, destacando suas qualidades de desbravadores e conquistadores. Tomemos como exemplo a síntese de benefícios feita pelo professor Gaspar de Freitas no livro didático Pontos de Geografia e História do Brasil, publicado na década de 1930 para ser utilizado nos ensinos primário, secundário e comercial: "As entradas e bandeiras prestaram muitos serviços ao Brasil; descobriram minas de ouro, diamantes e outras pedras preciosas; aumentaram o território brasileiro muito para Oeste; iniciaram o povoamento dos sertões; abriram caminhos; exploraram os grandes rios; praticaram a navegação; etc" (FREITAS, 1939, p. 148). Gaspar de Freitas cita Borba Gato como um dos principais bandeirantes, ao lado de Fernão Dias Pais Leme, que exploraram Minas Gerais (FREITAS, 1939, p. 147).

Se os bandeirantes foram importantes para o país, o foram ainda mais para o Estado de São Paulo, onde a partir deles construiu-se uma identidade regional, como registra o escritor Euclides da Cunha, de forma romântica, no início do século XX: "O paulista – e a significação histórica deste nome abrange os filhos do Rio de Janeiro, Minas, S. Paulo e regiões do Sul – erigiu-se como um tipo autônomo, aventuroso, rebelde, libérrimo, com a feição perfeita de um dominador da terra, emancipando-se, insurreto, da tutela longínqua, e afastando-se do mar e dos galeões da metrópole, investindo com os sertões desconhecidos, delineando a epopéia inédita das bandeiras" (CUNHA, 1984 Apud SOUZA, 2007,  p. 156).

Pouco importava, nesse período, se os bandeirantes escravizaram e dizimaram indígenas e negros. Isso se torna um mero detalhe em meio a inúmeros feitos heroicos que trouxeram inúmeros benefícios para o país. Era esse o discurso laudatório na época em que o monumento a Borba Gato foi construído. Fabricavam-se heróis que estabeleceram, no passado, as bases do nacionalismo e, nos casos dos bandeirantes, do regionalismo paulista.

Nas décadas seguintes, sobretudo as de 1970 e 1980, a historiografia brasileira passou por profundas transformações. Certas análises começaram a ser questionadas e os processos históricos passaram a ser estudados de forma crítica. O discurso laudatória deu lugar às relações dialéticas, aos embates entre vencedores e vencidos, sendo valorizado, agora, o protagonismo destes últimos. Indígenas, escravos, mulheres e pobres ganharam voz. As ações dos bandeirantes passaram a ser vistas como violentas e sanguinárias, sendo responsáveis pela morte de milhares de pessoas. Outros estudos, no entanto, passaram a destacar os pontos positivos e negativos das bandeiras. Assim o fizeram os historiadores Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo:

"As bandeiras contribuíram significativamente para ocupar e povoar o interior do Brasil, fundando povoados, criando vilas e dando início à exploração mineradora. Por outro lado, dizimaram muitos grupos indígenas e submeteram-nos à escravidão. Sua atuação, contudo, foi decisiva na consolidação da presença portuguesa além do tratado de Tordesilhas, ampliando consideravelmente as fronteiras da colônia" (VICENTINO E DORIGO, 1997, p. 128).

Nos últimos anos as homenagens a personagens da História do Brasil ligados à escravidão indígena e africana e ao Regime Militar passaram a ser questionadas e criticadas. Esses questionamentos e críticas, que se transformam em ações concretas como ataques, ganharam impulso após a derrubada, por grupos que se intitulam revolucionários, de inúmeros monumentos históricos na Europa e nos Estados Unidos. O ataque à estátua de Borba Gato é de autoria do Coletivo 'Revolução Periférica'.

Sem dúvida alguma, nos dias de hoje, seria inaceitável uma homenagem à Borba Gato. Deve-se levar em conta, no entanto, que sua estátua foi erguida há quase 60 anos. Vivia-se outro contexto, como foi mostrado na pequena discussão historiográfica acima. Isso justifica alguma coisa? Claro que não, pois se assim fosse, teríamos que contextualizar e tentar ver com "bons olhos" períodos obscuros de nossa História, como Nazismo, o Fascismo e o Apartheid. Mas antes de sairmos derrubando e incendiando estátuas que, em sua maioria, foram erguidas há pelo menos 50 anos, devemos nos questionar sobre o seguinte: Quais as relações da população com essas obras? Qual o impacto delas em suas vidas? Elas sabem quem são os homenageados? Duas gerações de paulistas conviveram com a estátua de Borba Gato, transformando-a em símbolo desse distrito de São Paulo. A Mestre em Ciências Humanas Márcia Maria da Graça Costa e a historiadora Alzira Lobo de Arruda Campos, após analisarem a estátua de Borba Gato como um elemento de memória e identidade de Santo Amaro, concluíram que

"Trata-se, portanto, de um problema ideológico que deforma a realidade e manipula a fim de passar mensagens aprazíveis à própria identidade. Assim, a imagem do bandeirante foi falseada fazendo com que ele, de um predador de homens, se transformasse em um herói destemido ao qual se deveria a extensão das fronteiras do Brasil, além do hipotético meridiano de Tordesilhas" (COSTA E CAMPOS, 2019, p. 50).

Se fizéssemos, em Manaus, um questionário perguntando das pessoas quem é o homenageado com a estátua da Praça da Saudade, possivelmente poucos saberiam responder. Mas se perguntássemos se seriam a favor de sua demolição, a resposta, sem dúvida, seria não. Por mais que as pessoas não conheçam a História por trás do monumento, elas criam, através dos anos, uma relação com ele, relação essa de memória afetiva, pois aquele espaço marcou a vida das pessoas de diferentes formas.

A população vai continuar sendo expectadora das mudanças ou será convidada a participar delas?


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


COSTA, M. M. G,; CAMPOS, Alzira L. de A. A Estátua de Borba Gato: Memória e Identidade de Santo Amaro. Veredas - Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, v. 2, p. 34-54, 2019.

FREITAS, Gaspar de. Pontos de Geografia e História do Brasil. 150° ed. Rio de Janeiro: Gráfica Sauer, 1939.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão [et al.]. Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.

SOUZA, Ricardo Luiz de. A Mitologia Bandeirante: Construção e Sentidos. História Social, Campinas, n° 13, p. 151-171, 2007.

VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História do Brasil. São Paulo: Scipione, 1997.