segunda-feira, 24 de junho de 2019

História da Criminalidade em Manaus: O Caso Waldeglace Granjeiro (1968)


Manaus, fevereiro de 1968. Nova ordem política, novos horizontes. Fazia quase um ano que a Zona Franca havia sido instalada, trazendo novo vigor econômico a capital. Os agentes financeiros novamente voltaram seus olhos para a região. O dinheiro voltou a correr pela cidade. Mas nem tudo ocorreu como as classes dirigentes esperavam. Com o crescimento vieram os problemas sociais, a falta de habitação, a criminalidade. Naquele ano, um jovem engraxate era assassinado de forma brutal. Quem escreve as linhas a seguir é o professor e historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo. O Caso Waldeglace, sobre o qual discorre, em texto a ser publicado em livro inédito, abalou aquele início de 1968, seja pela gravidade, seja pelo desfecho, um tradicional embate entre os que detêm influência político-econômica e aqueles que vivem à margem da sociedade, sendo o confronto desfavorável a estes últimos.


OS MAIORES CRIMES DE MANAUS: O CASO WALDEGLACE GRANJEIRO


Por Aguinaldo Nascimento Figueiredo


Este texto faz parte do livro – Os Dez Maiores Crimes de Manaus – a ser publicado quando dispuser de condições financeiras para tal. Espero que seja breve. Esse foi um dos mais estarrecedores crimes cometidos na Manaus dos anos de 1960, por ter tido como vítima um adolescente de família humilde que ganhava a vida no ofício de engraxar sapatos e, do mesmo modo, envolver figuras notórias da sociedade manauara, bem como a forma brutal que foi materializado. Com características de sadismo (naquela época não existiam crimes de pedofilia), seguido de homicídio doloso, o crime foi largamente explorado pelas mídias locais, acabando por se tornar num acalorado debate acadêmico jurídico e assunto em todos os lugares da cidade, em razão dos contornos que tomou. Cotejando as informações divulgadas na época, produzimos aqui uma síntese dos acontecimentos. Boa leitura a todos.


UM CORPO APARECE


O corpo de Waldeglace Granjeiro. FONTE: Jornal do Comércio, 16.02.1968.

Na passagem do dia 14 para 15 de fevereiro de 1968, o corpo do engraxate Waldeglace Fernandes Granjeiro foi encontrado sem vida na Estrada do Parque 10 de Novembro (atual Humberto Calderaro Filho) por um grupo de moradores da região, que era considerada, até então, área inóspita e utilizada pela população para acessar os balneários da cidade, principalmente o Parque 10 de Novembro, o mais famoso. Estirado à beira da estrada, 200 metros do Fazendário Clube, o corpo estava nu da cintura para baixo, com a calça envolta em seu pescoço, aparentando ter sido estrangulado, bem como com duas perfurações de armas de fogo, provavelmente um revólver calibre 22, segundo apurou, posteriormente, a autoridade responsável pelo inquérito policial. O cadáver do jovem, de apenas 14 anos apresentava, do mesmo modo, indícios de sevícias e abuso sexual. O crime comoveu a cidade, mobilizando a imprensa, os segmentos policiais e jurídicos, pois, a época, Manaus possuía pouco mais de 200 mil habitantes e tudo que acontecia de extravagante logo chegava ao conhecimento público. Embora a cidade já convivesse com os primeiros momentos do projeto Zona Franca trazendo promessas de prosperidade econômica, os comportamentos ainda são de uma cidade provinciana, marcada fortemente por traços moralistas tradicionais, por isso mesmo, acontecimentos como esses chocavam a sociedade, em razão de serem raros, ainda mais quando cometidos com requintes de perversidade a exemplo do que foi submetido o adolescente. Dias depois de aberto o inquérito para apurar o caso, a cargo do Chefe de Polícia, Bacharel João Valente, a autoria do crime se desviava para um caso de “curra” ou “geral”, que era uma repugnante prática criminosa em que, grupos de rapazes estupravam e seviciavam pessoas indefesas, geralmente mulheres e crianças, abandonando-as à própria sorte em lugares ermos como forma de punição ou por pura sandice. Infelizmente essa era uma ação doentia tolerada pela sociedade manauara, porque, na maioria dos casos, envolviam “filhinhos de papai” do jet set baré. Do mesmo modo, na ótica caricata da moral elástica local, as vitimas eram pessoas de baixo estrato social, “facilitadores dessa permissividade” e “sem vergonha” que andavam a procura dessas aventuras e que mereciam esses “castigos”.


ENCONTRA-SE UM SUSPEITO


José Osterne de Figueiredo. FONTE: Instituto Durango Duarte.

Com os avanços das investigações policiais, muito material probatório foi recolhido, muitas testemunhas foram ouvidas e os primeiros resultados apontaram na direção do comerciante José Osterne de Figueiredo, proprietário da “’’Pensão Maranhense”, localizada na Avenida Eduardo Ribeiro, no centro de Manaus, como o provável autor do delito. Após quase um mês de esperas, os laudos periciais foram entregues ao doutor João Valente pela equipe de investigações composta pelo delegado Ribamar Afonso, comissários Geraldo Dias, Omar Salum, Dinancy Barroso, Mariolino Pinheiro e os peritos Cláudio Reis, Hudson Cordeiro e Antônio Frota, que adiantou então as primeiras intimações sobre o processo. Segundo João Valente, os exames periciais realizados por técnicos do INPA e da DESP no carro do senhor José Osterne de Figueiredo, atestaram que o sangue nele encontrado, tratava-se mesmo de sangue humano, provavelmente de Waldeglace Grangeiro. Outras provas foram apresentadas pelo delegado para consolidar as acusações contra o comerciante e, assim, pedir sua prisão preventiva. Além do sangue do jovem e da constatação da presença do automóvel do suspeito na área do delito, havia uma camisa com as iniciais JOF (José Osterne de Figueiredo) nela inscrita, vestindo o menino quando do óbito, além dos exames de corpo delito, a necropsia e os relatos de testemunhas e de vítimas de aliciamento, sequestro e intimidação do suposto assassino. Pesavam ainda contra José Figueiredo ou Figueiredo as condenações a que foi submetido por ter assassinado, em setembro de 1954, o comerciante português Antônio Dias, morador da Rua Taqueirinha e o alfaiate Anacleto Gama, seu empregado, morador da Rua Joaquim Sarmento e, portanto, já ser reincidente em prática de homicídios.


ANTECEDENTES DO CRIME


A “Pensão Maranhense” era point gastronômico muito frequentado por figurões da elite local, que iam até lá fazer suas refeições, bebericar ou para outras finalidades, algumas suspeitas mesmo. De acordo com versões colhidas pela imprensa a época, a tal “pensão” era ponto de encontro de pedófilos e outros tipos de aliciadores de menores, que ali assediavam suas vitimas ou marcavam encontros para esses fins. Aliás, Figueiredo e sua esposa eram donos de casas de prostituição em Manaus, sendo uma delas conhecida como “Verônica”, localizado nas cercanias da cidade, mais precisamente na Estrada dos Bilhares, bairro de Flores. A “pensão”’ estava sempre repleta de gente abonada e, em função dessa frequência e do poder aquisitivo dos habitues, ela era ponto de trabalho para menores carentes que lá exerciam seus ofícios para ganhar algum dinheiro para ajudar no sustento da família, a exemplo de jornaleiros, vendedores ambulantes e engraxates. Waldeglace morava na Rua São Domingos, próximo à antiga estrada do Aleixo, numa casa humilde com seu pai Walter Granjeiro, de 57 anos, a mãe Zilma e mais sete irmãos. A casa de chão batido, com as paredes feitas de restos de tambores de piche asfáltico e madeiras toscas, tinha três cômodos e apenas um velho guarda roupa como móvel na pequena saleta. A água vinha de um igarapé próximo e a iluminação era de lamparinas. Mesmo assim era um lugar tranquilo e tinha bons espaços para brincadeiras e muita diversões infantis. Walter era pedreiro e fazia serviços inopinados, pois nem sempre estava formalmente empregado, e a esposa, dona Zilma, era lavadeira. Por certo é que a vida dessa família era muito sofrida e carente materialmente, mas nem por isso menos abastada em afeto e solidariedade entre seus membros.

Waldeglace, vendo a situação difícil da família, pois a mãe acabara ter o último filho, resolve ajudar no sustento da casa trabalhando de engraxate nas ruas mais movimentadas da cidade. A princípio, seu primeiro ponto de trabalho foi a Praça da Saudade, onde já havia se familiarizado com outros colegas fazendo sua própria “turma”. Tempos depois, relatam as pessoas que o conheciam mais próximo, Waldeglace passou a faturar mais que os outros colegas e levar para casa sanduiches, roupas e sapatos novos e não mais queria usar as roupas velhas, segundo a mãe, e dizia para ela que era um “homem lá da Eduardo Ribeiro que está me ajudando”. Certa ocasião, passando com a mãe pela frente da “Pensão”, disse-lhe: “É aqui mamãe que mora o homem que me ajuda, não vamos entrar porque tem muita gente”. Até então dona Zilma não tinha nenhuma ideia do que poderia acontecer com seu filho. Ele também disse à mãe, que o homem havia proibido os outros engraxates entrarem na pensão e que ele parasse de falar com os mesmos, a quem os chamava de “sujos e mal educados”. Waldeglace era um menino sadio, cheio de desejos e muito alegre, segundo narrativa dos pais e de vizinhos que o conheciam. Estudava e tinha sonhos de ajudar os pais e irmãos com quem tinha grande afeto e senso de solidariedade, a terem uma vida melhor, pois, quando chegava com algum trocado, comprava bombons para os irmãos mais novos, como forma de agradá-los.

Naquele fatídico dia 14 de fevereiro de 1968, Waldeglace desce do ônibus “Aleixo via sete de Setembro”, na parada próxima à grande avenida e caminha rumo a “pensão” para iniciar seu trabalho às 18:00h. Estava acompanhado do companheiro Mário Jorge de Magalhães Oliveira, de quem se separa em frente à Lobrás. Foi à última vez que o amigo ou outras pessoas o viram com vida. Naquela noite, o vigia do Fazendário Clube, por várias vezes impede que um veículo de luxo adentre os limites da agremiação já que, apesar de não ter cercas, o local era propriedade privada e tinha a entrada proibida a estranhos. Ainda, de acordo com o relato desse vigilante, era comum automóveis se dirigirem àquelas paragens a noite, principalmente com casais fugindo de olhares indiscretos para namorar com tranquilidade e sempre ele os afugentava, mas sem muito alvoroço. Entretanto, nessa noite o que chamou sua atenção foi que este veículo, por três vezes, tentou entrar nas dependências do clube e, por três vezes, ele o repeliu para que se afastasse dali. Segundo ele, já passava da meia-noite quando o mesmo veículo tenta invadir novamente o espaço do clube e é novamente rechaçado por ele. Depois disso, ele ser recolhe para dormir e não mais percebe nenhum movimento rumo ao portão. No dia seguinte, um grupo de guardas noturnos que voltava do trabalho, avistou o corpo do engraxate à beira da estrada, embaixo de um buritizeiro, junto a folhas espinhosas e muito mato seco, a uns 20 passos da entrada do balneário do doutor Moura Tapajós, próximo ao lugar relatado pelo vigilante sobre a presença do automóvel suspeito. O que se seguiu foi um burburinho enorme de policiais, profissionais da imprensa e curiosos se aglomerando no local, querendo saber o que havia acontecido. Horas depois, o Instituto Médico Legal remove o corpo para realizar exame cadavérico e outras providências técnicas e periciais. Com a liberação oficial, o cadáver do jovem é levado à residência da família para o velório e sepultamento. Foram momentos de muita angústia e dor para os parentes e amigos da pequena comunidade da estrada do Aleixo, todos revoltados com o insólito ocorrido e questionando quem teria coragem de cometer tão bárbaro crime contra uma criança ainda?

Sobre José Osterne de Figueiredo, sabe-se que não era amazonense e tinha mais de 50 anos. Era dono de comércios no centro da cidade e administrava também casas de lenocínio. Era muito discreto e trajava-se elegantemente, sempre vestido com roupas e sapatos brancos, ostentando uma acentuada calvície e fumava muito. Por fim, depois de feita a reconstituição do crime, o Chefe de Polícia João Valente solicitou ao Juiz de Direito, doutor Luiz Furtado de Oliveira Cabral, o pedido de prisão preventiva do acusado, alegando ter todos os elementos plausíveis para indiciar e processar o nacional José Osterne de Figueiredo como responsável pelo assassinato do menor. Tão logo Figueiredo soube das acusações que estava sendo imputado, contratou um time de advogados de peso para promover sua defesa. Faziam parte desse escrete os doutores Gebes de Medeiros, Jurandir Toledo e Hachimo Munneyme, todos causídicos de renome na cidade. Em nome da família Grangeiro, ofereceram-se para auxiliar na promotoria os doutores Vicente Mendonça, Milton Assensi e Nilton Figueiredo. No dia 24 de fevereiro, o juiz Luiz Cabral aceitou os argumentos da Polícia Civil e expediu o mandado de prisão contra José Osterne de Figueiredo, fundamentado nos artigos 121 e 312 do Código Penal Brasileiro. As 09:30h desse mesmo dia, quando o documento oficial da prisão de Figueiredo chegou à Chefatura de Polícia, levado pelo oficial de justiça João Ferreira de Castro, o doutor João Valente solicitou ao comandante da Polícia Militar, coronel Omar Gomes, uma escolta policial reforçada e uma viatura tipo pick-up para levar o preso de sua residência a Penitenciária Central do Estado na Avenida Sete de Setembro, tendo em vista temer pela segurança do mesmo, já que uma multidão o aguardava na frente de sua casa, bem como outras turbas se concentravam nas imediações da chefatura na Rua Marechal Deodoro e cercanias da penitenciária.

Disponibilizados os recursos, a comitiva destinada a cumprir o mandado de prisão chegou à residência do acusado por volta das 09:50h e logo se deparou com a patuleia enfurecida em frente à casa de Figueiredo, gritando palavras de ordem como “cadê o monstro”, “tarado” e “assassino, assassino”. Em alguns momentos, a tensão e o alarido protagonizados pela choldra, obrigou a polícia agir com energia e dispersar os mais exaltados ante a quebra da ordem e das garantias pessoais do implicado, chegando, inclusive, a “jogar” o jipe contra a multidão inflamada, segundo palavras do Chefe de Polícia. Preso em sua residência, situada a Rua Saldanha Marinho 617, no centro da cidade, onde se encontrava recluso desde o dia 15, Figueiredo saiu acompanhando do delegado José Ribamar Afonso, do comissário Salum Omar e do promotor de justiça Altair Thury, designado para acompanhar o caso. Para garantir sua integridade, a viatura foi praticamente “colada” rente à porta e ele entrou na mesma chorando copiosamente e se dizendo, insistentemente, que era inocente do crime lhe atribuído e pedindo para que não tirassem fotos. Antes, no interior da residência, ouviam-se gritos de membros de sua família dizendo que o mesmo era inocente das acusações e aquilo era uma injustiça. Também chorando muito, eles se despediam com tristeza do pai que se encaminhava para o calabouço da penitenciária estadual para aguardar o andamento de mais um processo por atentado contra a vida dos outros. Durante o trajeto até a casa de detenção, Figueiredo ameaçou, por diversas vezes, o delegado Ribamar Afonso com a frase: “Delegado, vou matá-lo quando sair da prisão. O senhor arruinou minha vida”. Minutos depois declara a essa autoridade que desde o dia 24 de agosto do ano passado não colocava “uma gota” de bebida alcoólica na boca e que estava vivendo normalmente com sua família. Ao chegar a PCE o comboio sofreu as mesmas represálias por parte do povo aglomerado a entrada da cadeia, querendo ver o rosto do “Monstro do Parque 10”. Alguns mais irritados proclamavam fazer “justiça com as próprias mãos” ali mesmo e, assim, acabar com impunidade que marcou a vida do arrogado comerciante. Novamente a tensão obriga a polícia a agir com medidas repressoras, com o carro em quem ia o prisioneiro sendo obrigado a dar marcha ré e entrar sozinho no interior do complexo. Dentro do prédio somente alguns repórteres e autoridades presenciaram a saída do detido do veículo oficial rumo à carceragem, onde foi confinado e isolado dos demais presos por medida de segurança. Ainda chorando muito, caminhando no longo corredor que leva ao “’raio 6”, ele continuou a alegar inocência, tendo uma crise nervosa ao assinar a ficha de entrada do presídio na presença do diretor doutor João Bosco Araújo. De acordo com informações da direção do presídio, a única companhia de Figueiredo naquele momento era uma fotografia do jogador de futebol Garrincha, deixada por outro preso que era torcedor do Botafogo. Mas, a tal angústia do detento Figueiredo foi por pouco tempo. Alegando ser um comerciante importante da cidade, membro da Junta Comercial do Amazonas e ter residência fixa, seus advogados conseguiram sua transferência para o quartel da Polícia Militar do Amazonas na Praça da Polícia no dia seguinte, sendo colocado junto a outros presos detentores de regalias. Meses depois do “Crime do Engraxate”, como ficou conhecido o triste episódio na cidade, o juiz Luís Cabral não acata as denúncias e impronuncia o acusado José Osterne de Figueiredo por falta de provas consistentes, alegando apenas circunstancialidades no processo. Figueiredo é posto em liberdade para aguardar a anulação do processo, para a desgraça da família do menor assassinado.

Walter Granjeiro, o pai de Waldeglace, sendo recebido pelos presos na Penitenciária Central do Estado do Amazonas. FONTE: Jornal do Comércio, 26.01.1969.

Essa decisão monocrática do juiz foi questionada pela autoridade policial, que prometeu, se necessário, ir até as instâncias do Supremo Tribunal Federal em Brasília, para levar o acusado as barras da Justiça. Três meses se passaram sem que a autoridade judicial se pronunciasse sobre a decisão de levar Figueiredo a júri popular e decidir sobre sua inocência ou culpabilidade e assim a justiça se faça, para por fim a angústia de todos os envolvidos. Desesperado e incrédulo em relação à punição de fato e de direito do acusado de ter assassinado brutalmente seu filho, o biscateiro Walter Granjeiro, há tempos planeja fazer justiça ele mesmo e reparar sua perda inestimável, já que nunca acreditou na justiça dos homens. Durante meses Walter estudou a rotina do acusado, observando meticulosamente seus passos e hábitos para arquitetar sua tão almejada vingança, sempre repetindo - “Se eu não morrer matarei o assassino do meu filho”. Depois de espreitar por dias e meses, inclusive disfarçado de mendigo, chegando a montar campana a frente da residência do suposto assassino de seu menino, mas não conseguia realizar seu desejo e isso o exasperava ainda mais. Walter teve o tão esperado momento para concretizar suas promessas de reparação. Em 24 de janeiro de 1969, por volta de 19:30h, ele encontrou Figueiredo em frente ao seu estabelecimento na Avenida Eduardo Ribeiro que, no momento, estava lotado de turistas fazendo suas refeições. Ao ver o algoz de seu filho tranquilo, fumando um cigarro, Walter se encaminha até ele com a arma engatilhada, toca-lhe o ombro que e ao se virar, encarando-o, dispara contra Figueiredo, com o primeiro tiro atingindo seu ouvido. Em seguida descarrega as cinco outras balas, acertando outras partes do corpo do inimigo, deixando-o agonizante ao chão, até ser levado ao pronto socorro da Santa Casa de Misericórdia, próximo ao local do crime. Submetido a intervenções cirúrgicas Figueiredo sobrevive ao atentando, inclusive viajando dias depois para outro estado para se restabelecer melhor. Walter é preso logo em seguida, sendo encaminhado para o presídio estadual como criminoso que agora se tornara. Desde a morte do filho, o pedreiro jamais se conformou com a situação de impunidade de Figueiredo, o qual achava sempre estar protegido pelas leis ambíguas do país e acobertado por amigos influentes, já que tinha dinheiro e poder. A prova disso foram as duas mortes anteriores que cometeu e quase nada foi feito para puni-lo. Mesmo depois de encarcerado Waldeglace não demostrou nenhum arrependimento quanto ao crime cometido contra o verdugo de seu filho, pelo contrário, seu único arrependimento era tê-lo deixado escapar, pois queria que o assassino de seu menino sofresse o máximo possível de dor e lamentou: - eu queria era cortá-lo em pedaços. No presídio Walter foi recebido com efusão pelos outros detentos que o saudaram com um - “sarava irmão” e “você é cabra macho”. Submetido a júri popular o pedreiro foi condenado a 29 anos de prisão, cumprindo um terço da pena sendo liberto por bom comportamento. Figueiredo, depois de perder quase todos os seus bens, faleceu pobre no decorrer dos anos de 1980 de morte por complicações de doenças adquiridas ao longo da vida.


PESQUISA DAS IMAGENS: 

Fábio Augusto de C. Pedrosa

sábado, 25 de maio de 2019

Os enterros em Barcelos no século XVIII


Prospecto da Vila de Barcelos. José Joaquim Freire, 1784.

O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), durante sua extensa Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro e Mato Grosso, realizada entre 1783 e 1792, fez interessantes anotações, na Vila de Barcelos (antiga Mariuá), capital da Capitania de São José do Rio Negro, a respeito das práticas funerárias daquela localidade. Por vários séculos os enterros foram realizados no interior das igrejas católicas ou em seus arredores. Em Barcelos não foi diferente. Tais escritos constituem-se em fontes ainda não exploradas no que tange os estudos das práticas funerárias e atitudes diante da morte no Amazonas.

Alexandre Rodrigues Ferreira chegou na Vila de Barcelos em 1784. No período em que esteve na capital da Capitania de São José do Rio Negro descreveu seus elementos naturais, propriedades do solo e matérias-primas; sua evolução histórica e práticas culturais. Ele observou que a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, erguida em 1728 e restaurada em 1738, estava localizada em um terreno bastante úmido, fazendo com que

[…] os cadáveres que nele se sepultam, com dificuldade se consomem. Donde procede que, para sepultar uns, vem a ser preciso, algumas vezes, descobrir outros que ainda não estão absolutamente consumidos, e a atmosfera particular da igreja se faz neste caso intolerável(FERREIRA, 2005, p. 214).

Além do terreno inapropriado para inumações, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição era pequena, sendo a única igreja que recebia os enterramentos de toda a vila. A construção de um cemitério público seria a solução.

Na Europa, os enterros dentro das igrejas vinham sendo proibidos desde os séculos XVI e XVII. Contribuiu para isso a urbanização das cidades e as teorias sanitárias. Os médicos Thomas Sydenham e Giovanni Maria Lancisi desenvolveram a teoria miasmática, segundo a qual os gases expelidos pelos cadáveres seriam prejudiciais aos vivos. As igrejas, lugares de grande circulação diária e ao mesmo tempo espaços de inumação, ofereciam um perigo a saúde pública. Dessa forma vão surgindo os cemitérios públicos, afastados da área urbana. Tais discussões, no entanto, só chegaram ao Brasil no início do século XIX, com proibição efetiva apenas na segunda metade, após fortes epidemias que atingiram as províncias de Norte a Sul.

De acordo com Alexandre Rodrigues, Gabriel Ribeiro, procurador da Câmara de Barcelos, apresentou uma representação do vigário da vila, Francisco Marcelino Sotto Maior, que versava sobre a precisão que havia de se fazer um cemitério para jazigo dos mortos, por quanto os lugares das sepulturas da igreja paroquial não consumiam os cadáveres que nelas se conservam, pela muita umidade que havia nelas” (FERREIRA, 2005, p. 214). A representação foi escrita pelo vigário em 17 de fevereiro de 1784. Seu conteúdo, na íntegra, era o seguinte:

Como na única igreja desta vila e em seu Adro apenas se abre uma sepultura, sem que se cave e se perturbe também os corpos dos que nela descansam em paz, ainda no curso da sua corrupção e sem que se descubra um só, cujos ossos humilhados não tenham ainda parte das suas carnes, do que pode igualmente resultar grande perigo aos que formam o sepulcro e frequentam a igreja, considero ser muito conveniente para conservação, não só da saúde dos vivos, como do repouso dos mortos, que se faça um cemitério. Se Vossas Mercês consideram o mesmo, podem, atendendo ao bem público, arbitrar um terreno hábil ao mesmo cemitério, ordenando-lhe uma fácil cercadura, que o distinga e defenda. Eu não faço senão representar a necessidade. Vossa Mercês, contudo, mandarão o que forem servidos” (FERREIRA, 2005, p. 214).

Além da preocupação com a saúde dos vivos, o vigário esperava que o cemitério atendesse principalmente ao repouso dos mortos. Parece algo óbvio, mas é preciso entender que, diferente do que vem ocorrendo desde a segunda metade do século XX, quando a morte se tornou um tabu, ela ocupava, no período colonial, boa parte da vida dos luso brasileiros, que se dedicavam aos mínimos detalhes, desde o testamento, o pressentimento da morte (agouros, visões etc), a preparação do corpo, as vestes fúnebres, o velório, o enterro e a quantidade de missas. Os mortos poderiam intervir em favor dos vivos, assim como poderiam voltar-se contra eles caso não tivessem uma “boa morte”. O senado da câmara respondeu o vigário no dia 21:

A carta que Vossa Mercê nos dirigiu sobre a representação a respeito da precisão que há de um cemitério para nele se sepultarem os que desta vida mortal passam à eterna, por se não poderem já acomodar, não só dentro da igreja, que unicamente existe na vila, como ainda fora dela, em seu adro, recebemos com aquela atenção que não só do alto caráter de Vossa Mercê é merecida, mas também da bem fundada razão e necessidade que Vossa Mercê expõe. Ao que com a atenção devida, imos a dizer a Vossa Mercê que, quanto ao lugar ou situação para o dito cemitério, estamos prontos para a assinação dele, precedendo, porém, o voto de Vossa Mercê, para se acertar com o melhor e mais cômodo terreno. Enquanto, porém, ao cercado que se faz justamente necessário para defesa e guarda dos animais, para que não ultrajem aqueles cadáveres que, descansados, jazem, se-nos faz preciso haver algumas informações a nós, para, à imitação do que na cidade do Pará se obrou com outra igual manufatura, assim se proceder” (FERREIRA, 2005, p. 215).

O ouvidor interino da Capitania, Bento José do Rego, em ofício de 22 de março, respondeu que o terreno e os operários deveriam ser escolhidos, e que até a decisão do Capitão General do Estado as despesas ficariam a cargo do Senado da Câmara. Por decisão do Capitão General, as despesas continuaram a cargo do Senado da Câmara. As obras do cemitério, juntamente às de três pontes de madeira, foram arrematadas em novembro de 1784. Elas ficaram a cargo do mestre carpinteiro Romualdo José de Andrade, que apresentou três propostas, uma de 280, 260 e 240 mil réis. A Câmara aceitou a última. O cemitério da Vila de Barcelos teria “doze braças de terreno em quadro, murado forte e coberto de telha e um frontispício de madeira” (FERREIRA, 2005, p. 215).

Alexandre Rodrigues Ferreira também registrou a atuação de uma irmandade religiosa diante da morte de seus membros. As irmandades religiosas eram organizações católicas formadas por leigos em torno da devoção a um santo. Essas pessoas tinham inúmeras obrigações. Uma das principais era o acompanhamento do cadáver do irmão até a sepultura.

No artigo XI do “Compromisso da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Vila de Barcelos(FERREIRA, 2005, p. 272-273), ficava estabelecido que, falecendo um dos irmãos da irmandade, os demais que estivessem na vila deveriam acompanhar seu corpo, no esquife, à sepultura. As ausências só seriam aceitas mediante justificativa legítima. Também seriam levados no esquife os filhos até a idade de doze anos, as mulheres e as mães viúvas. Assim como para o irmão falecido, seria rezado pelos membros um terço para os familiares deste. Caso o morto fosse juiz da irmandade, seriam rezadas doze missas. Se fosse escrivão, procurador, tesoureiro ou mordomo, oito. Para os demais, seis. Todos os anos seriam rezadas 25 missas pelos irmãos vivos e mortos para que os bens espirituais fossem alcançados. Durante essas missas seriam recolhidas as esmolas estabelecidas no compromisso. Também seria feito, anualmente, em nome dos irmãos mortos, um ofício de nove lições, com missa e sermões. O ofício deveria ser realizado na segunda-feira seguinte à dominga da eleição da nova mesa da irmandade. Caso não fosse possível, os irmãos deveriam escolher o melhor dia (mas antes da eleição da nova mesa), para que não fosse interrompido o ofício dedicado aos mortos. A Irmandade não se preocuparia apenas com o acompanhamento dos cadáveres de seus membros, mas também com o pagamento das sepulturas para os mesmos.

O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira tinha um olhar arguto, registrando diferentes aspectos das aldeias e vilas pelas quais passou durante sua Viagem Filosófica. Seus registros sobre os enterros na igreja da Vila de Barcelos, as discussões sobre a construção de um cemitério público e a atuação da Irmandade do Santíssimo Sacramento, são fontes indispensáveis aos estudos das práticas funerárias no Amazonas no período colonial, campo pouco explorado na historiografia, permitindo compreender suas dinâmicas e mudanças.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Diário da Viagem Filosófica pela Capitania de São José do Rio Negro com a Informação do Estado Presente. CiFEFil, Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Diários, p. 209-350, 22/10/2005.

CRÉDITO DA IMAGEM:

Biblioteca Nacional (RJ).

sexta-feira, 17 de maio de 2019

A Ilusão do Fausto: 20 anos depois


IMAGEM: Editora Valer.


Logo mais, às 19 horas, será lançada no IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) a terceira edição do livro A Ilusão do Fausto, da historiadora Edinea Mascarenhas Dias. O texto abaixo é uma pequena introdução aos que desejam conhecer essa obra:

No dia 05 de março de 1999, às 19 horas, era lançado na então Livraria Valer o livro que se tornaria um divisor de águas na historiografia amazonense: A Ilusão do Fausto: Manaus, 1890-1920, da historiadora paraense radicada em Manaus Edinea Mascarenhas Dias. Assim que foi lançado, tornou-se tema de debates e de textos que discutiam sua importância diante de tudo o que se tinha publicado até aquele momento sobre a capital amazonense1. O livro é resultado de dissertação de Mestrado defendida em 1988 na PUC-SP. Quais as mudanças ocorridas com a publicação dessa obra?

Muito já havia sido publicado sobre a história da cidade de Manaus, principalmente sobre o período que vai de 1890 a 1920, marcado pela ascensão e declínio do sistema de produção gomífera. A historiografia mais tradicional descrevia a capital como um lugar em que “a população vivia à europeia, viajando para o Velho Mundo, especialmente Paris2. Autores como Agnello Bittencourt (1876-1975), oriundos de famílias tradicionais, cristalizaram a imagem de uma cidade sem conflitos sociais, sem miséria. O discurso das classes dominantes foi constantemente reproduzido e chegou aos nossos dias.

Em 1988, e posteriormente em 1999, a historiadora Edinea Mascarenhas Dias estudou o mesmo período, tendo como fontes falas de presidentes da Província, do Estado, do Município, jornais etc, mas apresentou uma Manaus que destoava dos discursos oficiais e da historiografia: A cidade transformada pelas demandas do capital na virada do século XIX para o XX era marcada por contradições, pela imposição de valores culturais e de trabalho e pela criação de mecanismos de ordenamento e segregação de classes populares. Aqueles que acreditavam (e ainda acreditam) em uma cidade antigamente ordeira, pacata, na verdade estavam mergulhados em uma ilusão construída pelo fausto econômico.

Edinea não deixou de apresentar a cidade do fausto da borracha, que crescia em decorrência das demandas do capitalismo industrial europeu e norte-americano, em pleno processo de expansão nos mais distantes rincões como a Amazônia. Todo um aparato burocrático e, principalmente, urbanístico, foi erguido em Manaus para atender às necessidades de fixação, importação e exportação de empresas e produtos. Igarapés foram substituídos por largas avenidas. Foi erguido um teatro, um palácio para o judiciário e inúmeras construções que até hoje marcam a paisagem de nossa cidade. Através dos Códigos de Posturas e de seus fiscalizadores, antigos hábitos e costumes foram repreendidos e aos poucos eliminados do cotidiano, pois iam em desencontro aos ditames da civilização.

No entanto, diante dessa aquisição de feições modernas, da opulência aparentemente desmedida, existiu a miséria, a exclusão e a contradição. A cidade é organizada de forma a deixar o mais distante possível as classes trabalhadoras, os pobres e os doentes. Ocorre uma verdadeira assepsia social. Nos arrabaldes, Flores, São Raimundo, Educandos, nunca ou pouco assistidos pelo poder público, vivem os trabalhadores do porto, os imigrantes pobres. Nesses lugares era queimado o lixo da área urbana, abatido o gado que abasteceria as mesas de políticos e empresários. Ocorre no espaço urbano o que o filósofo francês Michel Foucault chamou de heterotopia de desvio, “aquela na qual se localiza os indivíduos cujo comportamento desvia em relação à média ou à norma exigida3.

A cidade inchou. Não foi pensado um projeto de habitação pública. Inúmeras famílias aglomeravam-se em casas de madeira e palha, em cortiços, que não apareciam nos cartões-postais, nos almanaques comerciais e álbuns editados em gráficas francesas, semelhante ao que continua acontecendo em nosso e em outros países, preferindo-se não divulgar ou mesmo esquecer tal imagem.

Esses trabalhadores, que ergueram a cidade mas foram excluídos do processo de modernização, não foram passivos diante dessas imposições. Mal pagos e sofrendo com condições precárias, rebelaram-se contra o patronato, realizando greves, protestos e fazendo reivindicações por maiores vencimentos e melhores condições de trabalho. Quebra-se toda uma visão de que a urbanização de Manaus foi realizada de forma homogênea, sem contradições sociais e embates entre as classes dirigentes e trabalhadoras.

De acordo com o historiador Hélio da Costa Dantas, Edinea Mascarenhas Dias é adepta da “[…] perspectiva teórica de Edward P. Thompson”, inserindo na historiografia regional “[…] questões até então esquecidas pela historiografia tradicional, tais como as condições de existência da classe trabalhadora urbana e os mecanismos de controle a que foram submetidos todos os desfavorecidos socialmente4. Perspectivas teóricas que buscavam a visibilidade da classe trabalhadora, a história social inglesa com sua ‘história vista de baixo’, já estavam sendo amplamente debatidas no Sudeste, sobretudo nas universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. O contato de Edinea Mascarenhas Dias com a pós-graduação em História na PUC-SP permitiu a disseminação desses aportes teóricos em produções históricas locais posteriormente.

A Ilusão do Fausto é um clássico, e como todo clássico ele é datado. Trabalhos como o da historiadora Francisca Deusa da Sena Costa mostraram que a população excluída do processo de modernização não foi apenas segregada em lugares distantes da área central, mas também coexistiu no espaço de circulação do capital e das elites, ameaçando a imagem e ordem desejadas pelos dirigentes locais5. São inegáveis as contribuições do livro de Edinea Mascarenhas Dias. Passados 20 anos, ele continua sendo lido e debatido dentro e fora da academia, instigando pesquisadores, dando origem a novos trabalhos, servindo como referencial teórico.

NOTAS:

1 FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A Ilusão do Fausto: Manaus, 1890-1920. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 21, n. 40, p. 273-276, 2001.

2 BITTENCOURT, Agnello. Fundação de Manaus - Pródromos e Sequências. Manaus: Editora Sergio Cardoso, 1969, p. 69.

3 FOUCAULT, Michel. Outros Espaços, 1984 [1967]. In: Ditos e Escritos III. Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. Tradução de Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011, p. 416.

4 DANTAS, Hélio da Costa. Pesquisa Histórica no Amazonas: uma breve análise. Jamaxi, UFAC, v.1, n.1, 2017, p. 191.

5 COSTA, Francisca Deusa Sena. Quando viver ameaça a ordem urbana – trabalhadores urbanos em Manaus (1890/1915). Manaus: Valer, 2014. O livro de Deusa Costa é fruto de dissertação de Mestrado defendida na PUC-SP em 1997.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

As representações imagéticas da Amazônia segundo os naturalistas dos séculos XVIII e XIX


Caça de Jacaré. Gravura de 1874 do viajante, desenhista e engenheiro alemão Franz Keller-Leuzinger.
Por Roosewelt Sena
A ideia do fascínio natural que há na Amazônia, desde sempre despertou o olhar de cientistas, geógrafos, cronistas e outros estudiosos que para cá vieram. Desde a chegada dos espanhóis tem-se empreendido em terras amazônicas tentativas de explicar o oculto e sublime que há nessa porção de terra continental.
Nos séculos XVI e XVII os espanhóis que aqui chagaram trataram de utilizar a mão de obra indígena para extrair as riquezas aqui existentes. Não demorou muito para que a fama a respeito de uma grande quantidade de riquezas naturais provenientes da floreta chegasse aos ouvidos do restante da Europa. O historiador Hideraldo Costa nos informa, em sua obra ‘Cultura, trabalho e luta social na Amazônia (2013)’, que expedições de diversas nacionalidades desembarcaram nas terras amazônicas que legaram, como resultado, a Amazônia revelada ao mundo e imortalizada no cenário internacional por meio das descrições que os europeus fizeram da região e incluíram em seus relatos de viagem (Costa, 2013, p. 27). Essas narrativas descortinavam a Amazônia para o mundo, claro muitas vezes de maneira supersticiosa e até mesmo degradante, o que confirmava as certezas que já se alimentavam sobre a região.
O mundo moderno aplicou uma aura de racionalidade às narrativas de viajantes que antes eram dominadas por conjecturas fantásticas e místicas, haja vista que Isso se deve ao fato do Iluminismo que influenciou a forma de ver o mundo, deixando de lado as ideias subjacentes ao imaginário que muito estava em voga até então. Deixou-se de crer em ilusões criadas pelos sentidos e deu-se lugar à racionalização da realidade.
Devido às relações coloniais ainda presentes no século XVIII os expedicionários que aqui vieram deveriam atender a pelo menos dois requisitos. O primeiro diz respeito à autorização concedida por Portugal e Espanha para que essas expedições ocorressem, sendo necessário que houvesse um consentimento para a divulgação dos resultados dessas expedições. Como precursor das expedições científicas modernas à Amazônia, La Condamine, foi enviado para a América do Sul, juntamente a outros estudiosos, com uma missão: buscar possíveis soluções para uma questão que permeava os debates científicos do século XVIII: a forma da Terra (Safier, 2009, p. 3). O percurso empreendido por esse expedicionário iniciava ao lado oriental da cordilheira dos Andes e seguia rumo à foz do rio Amazonas.
Apesar de La Condamine ter tido uma grande reputação na comunidade científica europeia, buscou adequar dados contidos em relatos de outros viajantes aos seus próprios objetivos. O Prof. Dr. Neil Safier do Departamento de História da (University) British Columbia, aponta em seu artigo intitulado ‘Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de La Condamine e a Amazônia das Luzes (2009)’ que La Condamine apoiou-se nas observações do marquês Dom Josep Pardo de Figueroa y Acunã, o marquês de Velleumbroso, sobrinho-neto de Cristóbal De Acuña, autor da crônica de viagem que Pedro Teixeira realizou na Amazônia em meados dos anos de 1637 e 1639.
Um ponto que Safier também descreve sobre as contribuições do marquês de Velleumbroson para La Condamine é a quantidade de argumentos expressivos na descrição da realidade local, como por exemplo, dados geográficos. Ora, entende-se que as conclusões de La Condamine referentes sobre as localizações do espaço geográfico não estavam apenas relacionadas com suas observações feitas quando descia o rio Amazonas, mas estreitamente associadas às leituras de cartas de um morador de Cuzco que passou boa parte de sua vida tentando descobrir o caminho traçado por seu bisavô no século anterior (Safier, 2009, p 97).
Como dito anteriormente, La Condamine baseou suas ideias em outros relatos e não a partir de suas próprias observações. Safier (2009) nos indica que La Cadamine literalmente copiou outros textos sem seus relatos, absorvendo muito do que sabia sobre a cultura amazônica do que havia lido (Safier, 2009, p 98). Do mesmo modo, pode-se perceber que as conclusões sobre os nativos da região de Maynas foram copiadas do relato de Jean Magnin que tratava sobre as missões nessa região. O texto tinha como título “Descrição da província e das Missões de Maynas no reino de Quito” e apresentava características “bizarras” da vida cultural ameríndia, como por exemplo, o hábito de deformar o rosto das crianças, um costume dos Omáguas. Sobre essa prática Magnin comenta que os Omáguas estavam “convencidos de que é belo ter uma face lisa como a lua” (Magnin, 1993, p. 95 In: Safier, 2009, p 98).
Além de La Condamine, outros naturalistas vieram para a América do Sul, em especial a região Amazônica movida pelo pensamento científico. No século XIX houve uma crescente adesão na confiança no progresso, muito influenciada pelo pensamento Iluminista voltado para a razão. Esses cientistas possuíam um capital intelectual muito semelhante, assim como também possuíam similaridade nas ideologias pelas quais baseavam a sua interpretação da realidade, além da perspectiva teórica metodológica que orientava a formação do discurso que compunha os seus relatos. Assim, atendiam às propostas profissionais dos seus ofícios, aplicando sua metodologia na observação, classificação dos elementos que encontravam pelo caminho. Portanto, o nativo da região Amazônica era visto mais como objeto de análise, e a floresta seria o mundo que serviria como uma espécie de “observatório”, do que como seres humanos agentes de sua própria história (Costa, 2013, p 41-42). Ainda que os naturalistas voltassem para a análise dos problemas da natureza do homem amazônico, eles estavam imbuídos de uma visão científica. Esse processo caracteriza o que o professor chamou de “perversão da memória” (Costa, 2013, p. 47).
Alfred Russel Wallace, através de investimentos particulares, viajou para as terras amazônicas com o objetivo de estudar a origem das espécies. Ele passou três anos (1848 – 1850) estudando as peculiaridades da região, em uma viagem na qual subira o rio Negro. Antes de retornar para a Inglaterra, o navio em que estava tragicamente naufraga, causando o prejuízo de grande perda de material coletado. Dessa viagem resulta o seu primeiro livro, ‘Narrativa de viagens pelo Amazonas e o Rio Negro (1853)’ atingindo enorme sucesso editorial. A segunda edição dessa obra (1889) foi publicada sem o apêndice do vocabulário das línguas indígenas. O que demonstra uma crescente preocupação por parte dos naturalistas viajantes com os leitores de sua obra. (Lima, 2008, p. 37).
A obra “Viagens pelo Amazonas e Rio Negro” não é apenas exemplo de um gênero literário de divulgação científica, pois apresenta os pormenores das paisagens e os costumes das populações das regiões por onde Wallace excursionou, não se preocupando exclusivamente em descrever aspectos geológicos, zoológicos ou botânicos do Brasil.
Wallace fez pesquisas sobre o clima e a geografia da região. O nativo era visto como um ser atrasado, incivilizado. Porém, a partir de sua convivência com eles, Wallace criticaria os viajantes que compartilhavam da ideia de que os modos de vida dos nativos eram os mesmos entre todos, uma generalização dos elementos da cultura indígena.
No relato citado anteriormente no qual descrevia sua estadia em meio à floresta diante de um anoitecer com ameaças de chuva, Wallace tão orientado pelos seus sentidos de repente vê-se em situação difícil: o medo de encontrar com animais peçonhentos e feras selvagens. Logo, neste cenário uma inversão de papéis tornava-se incomoda: Wallace que, antes, apoderado de sua espingarda em plena a luz do dia, podia ver e permanecer vivo, agora diante da escuridão temia ser visto e morto. Uma vez que diante dessa penumbra que se espalhava por todos os lados na floresta e tudo tornava em breu tornava um breu, Wallace afirmava que seguia fitando a escuridão, esperando a cada momento a aparição dos cintilantes olhos de uma onça, temendo escutar o seu rosnado vindo da mata. (Wallace,1979,p. 158. In: Fritzen, 2007,p.192)
É notável a partir do relato de Wallace o quanto o homem tenta a dominar seus sentidos para certa racionalização do espaço no qual está imerso. No caso, Wallace se vê diante de uma situação na qual tentar “racionalizar” seu medo, pondo em um foco de razão toda e qualquer superstição ou fantasia que o possa amedrontar.
Neste sentido, diante dos autores e temas elencados podemos coligir que no decorrer dos séculos XVIII e XIX, em virtude das transformações científicas que permearam a visão europeia do restante do mundo, levando-se aqui em consideração os relatos etnográficos, geográficos e com víeis culturais realizados por inúmeros estudiosos, foram fundamentais para a constituição da Amazônia diante do mundo. O mundo que se dizia moderno à época que por isso trouxe como bagagem preconceitos culturais, formulações não coerentes com o “Novo Mundo” que surgia diante de seus olhos.
Ademais, os inúmeros registros referentes à cultura que foram realizados na região tiveram como incentivo principal a ideia de progresso. Mostrando ou a visão deturpada de uma vasta região considerada um “vazio demográfico”, ou ainda de maneira positiva, a abrir oportunidades para uma amplitude de estudos que traçariam, classificariam, esquematizariam as riquezas e realidades originadas da Amazônia

Referências bibliográficas
COSTA, Hideraldo. Amazônia Paraíso dos Naturalistas In: Cultura, Trabalho e Luta Social na Amazônia: Discursos dos Viajantes – Século 19, Manaus: Editora Valer e Fapeam, 2013, p. 26-68.
FRITZEN, Celdon. A ilustração viajante e as suas sombras. In: Revista Brasileira de Literatura Comparada, nº 11, 2007, p. 191-225.
SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles-Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 29, nº 57, 2009, p. 91-114.

Roosewelt Sena, 25, é graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).








CRÉDITO DA IMAGEM:
Manaus Sorriso

sábado, 11 de maio de 2019

A Doutrina Espírita: Os preâmbulos do Espiritismo no Amazonas

Prédio da Federação Espírita Amazonense, na rua José Clemente, no Centro de Manaus. FOTO: Fábio Augusto, 2019.

No artigo A Doutrina Espírita: os preâmbulos do Espiritismo no Amazonas, o historiador amazonense Narciso Passos de Freitas, autor convidado da semana, discorre sobre o movimento espírita no Amazonas, seus primeiros representantes e atividades desenvolvidas no Estado.

Resumo: A Doutrina Espírita: os preâmbulos do Espiritismo no Amazonas é um artigo que evidencia a história do Movimento Espírita em terras amazônicas, mostrando seus seguidores numa época que o Amazonas passava por grandes transformações em conseqüência da Belle Époque, que encheu os bolsos dos coronéis da Borracha, mas que revela também mudanças culturais, preconceitos e dificuldades que a doutrina enfrentou para se concretizar pelas plagas das terras consideradas pulmão do mundo.

Palavras – chaves: Espiritismo, Amazonas, Belle Époque, Borracha, Doutrina.


Abstract: The spiritist doctrine: The beginnings of Spiritualism in the Amazon come o show the history of the Spiritist Movement in the Amazon lands, showing his followers at a time when the Amazon was undergoing major changes as a result of the Belle Époque that filled the pockets of the time of the colonels Rubber, but also see the cultural changes, prejudices and difficulties that faced the Doctrine to be realized both in land considered in the lungs of the world when other countries. Keywords: Spiritualism, Amazonas, Belle Époque, Rubber, Doctrine.


Introdução


A partir deste momento o véu do desconhecido é retirado para se colocar em realidade o processo de realização da Doutrina Espírita em terras amazônicas. Reconstruindo os caminhos de seu surgimento que aconteceu no século XIV, com as mesas girantes ou mesas dançantes, que era como se chamava o fenômeno que ocorriam nas noites de bailes da alta sociedade francesa, mas tendo suas raízes no estado de Nova Iorque, para ser mais exato na cidade de Hydesville, onde as irmãs Fox relataram um assassinato de um comerciante, e este tendo se comunicado através de batidas na parede, e todos os noticiários da época repercutindo os fatos, que foram confirmados com o encontro do corpo, que inclusive foi informado pelo espírito do comerciante. 2 Mas como as noticias e esses efeitos se espalharam pelo mundo, ganhando curiosos e adeptos, Hippolyte Léon Denizard Rivail, que se viu desafiado por um amigo a provar que os fenômenos das mesas eram uma farsa e que as mesas não possuíam nenhum fenômeno inteligente, acaba afirmando que realmente quem mexia as mesas eram espíritos, sendo que mais tarde ele organizaria as comunicações, criando as bases da Doutrina Espírita. No Amazonas, na época áurea da borracha, as noticias também passaram a correr pela cidade, pois a Vila Manáos mantinha ligação direta com a Europa, surgindo disso uma das primeiras facilidades para a implantação da Doutrina pelas paragens amazônicas. O texto objetiva mostrar também alguns dos precursores do Espiritismo, as casas espíritas que surgiram junto com a Federação Espírita Amazonense, a FEA, destacando as influências dos centros Espíritas sobre a sociedade do Amazonas.


1. A atmosfera na França: Allan Kardec e as mesas girantes


Uma das primeiras manifestações que se tem registrado no mundo sobre as ocorrências das comunicações com os espíritos começa nos Estados Unidos, mais precisamente em 1844 com a família Weekmans, na casa onde residia, tudo com inicio em sons estranhos e pancadas na parede da resistência, uma casa humilde e simples que se localizava na cidade de Hydesville. Wantuil define:

"(...) historia das pancadas e dos ruídos misteriosos, Rappings, Noises e Knockings, que, segundo a descrição da Sra. Emma Hardinge Britten, principiaram em fins de 1844 na aldeia de Hydesville, no estado de Nova Iorque, numa casa que residiam os Weekmans, manifestações que continuaram após a saída do antigo dono e a entrada da família Fox". (WANTUIL, 1994).

As manifestações (pancadas na parede e ruídos misteriosos) movimentaram a pequena cidade na época, ficando conhecidas nos jornais, constituindo-se assim, nos primeiros passos da Doutrina Espírita. Logo após as noticias nos jornais, em todo o mundo a questão das mesas girantes começam a mover muitos curiosos, e na mesma época um intelectual surgiu com vários questionamentos. Como diz Hama:

"Nascido em Lyon, em 3 de outubro de 1804, Hippolyte Léon Denizard Rivail era filho de juiz e de família católica, estudou na Suíça, (...) O pseudônimo pelo qual Rivail se tornou conhecido foi adotado depois que, numa das sessões espíritas, um médium lhe contou que em vidas passadas ele teria sido um druida de nome Allan Kardec". (HAMA, 2007).

Hippolyte Rivail foi um homem conhecido na história da França, por ser um intelectual de alto grau. Ele mudou seu nome nas obras básicas espíritas para que não fossem confundidas com as suas obras de pesquisas, pois as obras básicas eram de autoria dos espíritos e Rivail apenas os tinha organizado, fazendo-se de um mero curioso dos fenômenos que usava diversos métodos de pesquisa. Hama enfatiza que “Kardec foi o codificador do Espiritismo. Com raciocínio lógico e investigador, ele conseguiu compreender o fenômeno mediúnico e possibilitar a análise aprofundada e séria da existência dos espíritos (...).” (HAMA, 2007).

Kardec fez várias experiências para poder afirmar que as mesas tinham uma inteligência por trás dos objetos; para ter respostas coerentes e se as respostas eram as mesmas que em vários pontos do mundo onde ocorriam as mesmas manifestações. Assim, Kardec lançou as bases do tríplice aspecto da Doutrina. Hama enfatiza:

"A Doutrina Espírita era definida como uma ciência que tratava da natureza, da origem e do destino dos espíritos, assim como de suas relações com o mundo corpóreo. (...) Apliquei a essa nova ciência o método experimental. Nunca elaborei teorias preconcebidas. Observava cuidadosamente comparava para remontar as causas, escreveu Kardec.” (HAMA, 2007)

Rivail, que na época, já buscava colher e estudar os ensinamentos dos espíritos, submeteu tudo à razão, reunindo os tmas afins em partes, capítulos, itens e questões. Assim, a Doutrina passou a ter um tríplice aspecto, abarcando: Ciência, Filosofia e Religião. Ao organizar tudo, teve sua primeira publicação em 18 de abril de 1857. E uma revisão em 1860, anos de muitos conflitos. Hama relata que:

"No sec.XIX, na França se dividia entre católicos e ateus, esses últimos influenciados pelas idéias iluministas, que entre outras coisas, pregavam o fim da intromissão da Igreja em assuntos do Estado. Apesar de ser definida como uma Doutrina Cristã, o Espiritismo foi duramente perseguido pela Igreja Católica". (HAMA, 2007).

Nessa dura perseguição, destaca-se o episodio chamado de Auto da Fé de Barcelona, na cidade de Barcelona, quando em 1861, por ordem do bispo local, da Igreja Católica, 300 livros espíritas, encomendados pelo Sr. Lachâtre, foram queimados no na praça da cidade, mais especificamente no dia 9 de outubro.

Doyle registra sobre essa perseguição contra a Doutrina:

"Há gente 'religiosa' ficando irritada por ser sacudida nas suas praticas tradicionais e, como selvagens, se dispunha a admitir que tudo aquilo era obra do diabo. Assim católicos romanos e seitas evangélicas se encontraram unidos na sua oposição". (DOYLE, 2007).

O catolicismo e o protestantismo se viam ameaçados com os argumentos e as revelações se que faziam contra os dogmas das religiões e suas promessas de vida no paraíso. Mais mesmo assim a Doutrina sair dos meios da antiga França e ganhar o mundo com diz Wantuil:

"Com eles vinha o Modern Spiritualism. Os fenômenos, principalmente as manifestações com as mesas girantes espalharam se pela Escócia, ganharam Londres e em menos de um ano se generalizaram por quase toda a Inglaterra". (WANTUIL, 1994).

A Doutrina Espírita começa á se expandir em outros países, e ganhando mais forças com os seus adeptos, assim que a nossa religião relacionada com a existência dos espíritos, chegar ao Brasil, sendo uma das primeiras cidades a acolher a Doutrina.


2. História, cultura e economia do Amazonas: Fatores importantes para o surgimento da Doutrina nas terras Amazônicas.


A cidade que hoje se chama Manaus, no seu inicio tinha uma vida muito pacata com á vivencia dos seus moradores, uma vila muito pobre com 8500 habitantes. Como citado por MELO:

"Em 24 de outubro de 1848 através da lei nº 145, a Vila de Manáos foi elevada à categoria de cidade com a denominação de Cidade da Barra do Rio Negro. Nesta época, os dados demográficos registravam 8500 habitantes, sendo 8120 livres e 380 escravos". (MELO, 2009).

Essa população passou a viver uma época em que o látex extraído da arvore da seringueira já tava seus frutos é já mostrava exemplo na sociedade com os estilos Europeus, as pessoas passavam a semana com roupas simples e nos dias de missa na igreja, todos vestiam roupas luxuosas e chapeis lindíssimos, proporcionando uma cidade moderna na época. ANDRADE cita:

"Manaus possui algumas características que a tornou uma capital singular, embora submetida permanentemente às depredações violentas e criminosas que infelizmente lhe desfiguraram diariamente sua estrutura original, destruindo seus monumentos históricos e artísticos, despindo-a de sua roupagem original de fachadas coloridas e sentimentais". (ANDRADE, 1984).

Nessa época de grandes monumentos feitos em decorrência da produção da borracha e o estilo dos Europeus adquiridos pela sociedade, não deixou de esquecer alguns poucos lugares que havia na vila, como pode se relatado por ANDRADE:

"As suas ruas são regularmente traçadas; não tem, no entanto, nem calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos, o que torna o caminho sobre os seus leitos muito desagradável, principalmente à noite. (...) Da „Barra‟, ou antigo forte, só havia presentemente, uns restos de muralhas e um monte de terra". (ANDRADE, 1984).

Mas mesmo assim os moradores da cidade se mantinham com alguns estilos trazidos pelos comerciantes que compravam os látex‟s, esse produto que trouxe varias evoluções mais também uma formação de população muito precária em seu contexto histórico, informa ANDRADE:

"Como a borracha era a razão principal de todo esse burburinho, evidentemente que os instrumentos utilizados na sua extração também eram prioritários, por isso as funilarias espalhadas em toda a cidade". (ANDRADE, 1984).

O estilo de elegância e luxo da Europa, também trouxe para as estruturas das instituições publicas matérias que vinham do exterior com uma arquitetura européia, italiana e indiana, mostrando que a nova cidade que tinha com o economia forte a borracha, uma Europa em outro continente, ou seja, a Belle Époque dos trópicos nascer .

"O conjunto de obras públicas construído em Manaus, durante o período provincial, já indicava um gosto arquitetônico bastante diversificado, apresentando uma forte influencia eclética que é revelada através da adoção de diferentes estilos arquitetônicos, misturando épocas, estilos e étnicas, mas a opção por essa tendência não foi exclusividade de Manaus (...)". (MESQUITA, 1999).

Essas tendências não de estilo exigiam Mao de obra qualificada para ordena os nativos que aqui viviam, assim viram-se a necessidade de contrata mestres responsáveis pelas obras, e grandes intelectuais e estudiosos que não só tinham noção de obra mais, médicos, professores e outros, passaram a conviver nas terras amazônicas é as noticias da Europa passaram também a vim com essas pessoas como podemos ver com MELO:

"Além do aspecto físico, o que de mais importante aconteceu, foi a atração, tanto para Belém quanto para Manáos de uma elite de intelectuais, artistas, profissionais liberais e homens de negócio, que em parte se radicou na região, estimulando a vida artística, as atividades intelectuais, a medicina, a advocacia, a engenharia civil, as demarcações de terras, incorporando-se à magistratura ou entrando para o comando da economia da região". (MELO, 2009).

Os intelectuais e estudiosos que começaram a vim da Europa e outros países, comentavam muito os casos das mesas girantes e os fenômenos que ocorriam em todo o mundo, e assustando mais ainda quanto viram que um intelectual da França passava a estudar esse momento, sendo que com esses mesmos homens passam a trazer as obras quanto foram publicadas, levando um português a se interessa e praticar com um pescador as sessões espíritas.


3. No coração da Floresta: A implantação da Doutrina Espírita no século XIX na jovem Província do Amazonas


As noticias das mesas girantes e as manifestações que ocorriam em vários pontos do mundo, começaram a chegar ao Brasil, sendo essas noticias vindas com as pessoas que viajavam e comerciantes da época que fazia comentários irônicos e ate mesmo invalidando as tais noticias que dividiam opiniões. Magalhães e Monteiro comentam bem essa época:

"Como em toda comunidade brasileira os fenômenos espíritas estiveram presentes na jovem Província do Amazonas no séc. XIX, (...) O registro mais antigo por nós localizado fez referencia a fato insólito observado no lugar denominado Freguesia do Moura, Interior da Província, que foi publicado no Diário de Belém e transcrita pela revista O Reformador". (MAGALHAES; MONTEIRO, 2003).

As diversas publicações da época, revelam-nos que os fenômenos já haviam atingido a Província, mas ao mesmo tempo a época da Borracha se fazia muito forte na cidade e a Belle Epoque começava a se fazer presente no contexto da Província, sendo esta cidade comunicadora direta com Europa em conseqüência da Borracha. Neves diz:

"Era inquestionável tanto o avanço material quanto o intelectual proporcionando uma autoconfiança dos intelectuais da época que, cientes que naquele momento os homens conheciam muito mais dos que os anteriores traçavam o caminho de desenvolvimento cientifico". (NEVES, 2003).

Nessa citação podemos ver que os olhares estavam todos voltados para o meio intelectual, as pessoas queriam saber ou ter conhecimento de tudo, o meio cientifico estava com força total no meio da sociedade. Neves relata o fato:

"Uma identidade independente do resto do país e a ligação direta com a Europa são características amazônicas com raízes no século XVIII, trazidas pela visão iluminista do Marquês de Pombal que, em seu governo, já conduzia ações especificas para a região do Grão-Pará". (NEVES, 2003).

O Amazonas tinha uma ligação direta com a Europa, pois estava no apogeu com a produção e extração da do látex das seringueiras, ou seja, a época da Borracha já se fazia presente no momento, sendo a cidade uma exportadora da matéria, é também copiando estilos e vivencias dos Europeus, assim tornou-se um "Clone" da Europa no Brasil. Mais ainda hoje se tem dificuldades em encontrar fonte, como faz notar Neves:

"O dialogo com as fontes históricas sobre o movimento Espírita no Amazonas ainda se mostra muito limitado, não só pelos documentos que são escassos e mal conservados, mas também pelas fontes orais que não podem ser diretas, pois falamos de um período compreendido entre o final do século XIX e o início do século XX.” (NEVES, 2007).

Esse é um fato que todos os pesquisadores e observadores da Doutrina Espírita, encontramos com a falta de registros, pois esses se perderam com o tempo, é a outra observação e porque nessa época à igreja Católica era contra qualquer manifestação religiosa contraria ao Catolicismo, mas as experiências sobre as sessões espíritas já aconteciam em Manaus, Neves nos informa:

"Sabemos da existência de grupos com conhecimento sobre o Espiritismo desde 1884, conforme publicações em "O Reformador", citadas anteriormente. Mas as análises das fontes disponíveis indicam o português Bernardo Rodrigues de Almeida como representante dos primeiros momentos do Movimento Espírita no Amazonas". (NEVES, 2007).

A história de Bernardo com a Doutrina começo quanto o mesmo viu um anúncio de um crime que aconteceu, é o réu dizia que foi influenciado por espíritos a matar a família, o caso chocou a cidade, mas o criminoso talvez tivesse mentindo para não se acusado, ou poderia realmente se verdade, assim começo suas experiências e leitura dos livros Espíritas segundo Samuel Magalhães:

"Com as leituras iniciais, teve o desejo de conhecer o Espiritismo na prática. Contudo, faltava-lhe um médium. Informando de que em Manaus existia um médium chamado Lamarão, homem simples que trabalhava com catraieiro, convidou-o para uma reunião experimental". (MAGALHÃES, 2004).

Com muitas reuniões e estudos, as praticas passaram a se responsáveis e ganhando cada vez mais adeptos, é sendo assim ele Bernardo de Almeida lança a Doutrina Espírita nas terras Amazônicas, a primeira sendo seguida e organizada com base nas obras de Kardec.


4. Doutrina Espírita e seus Pioneiros nas terras Amazônicas


Os pioneiros da Doutrina eram pessoas de grande moral e intelectualidade na cidade de Manaus, sendo cada um com os seus compromissos em suas áreas com a sociedade, fundando e criando instituições na área social e política, como nos revela Machado:

"Este assunto envolve a tentativa de desvendar o que unia os pioneiros em suas atuações sociais, além do Espiritismo. Uma boa rota de pesquisa é a verificação da relação que eles tiveram com os fatos relevantes da época, como fundação da Escola Universitária Livre de Manáos (hoje Universidade Federal do Amazonas), a fundação de lojas maçônicas, a atuação na vida artística e outros".(MACHADO, 2009).

Todo esse relacionamento com a sociedade e com a política, área de atuação de Leonardo Malcher, facilitou muito para a Doutrina, pois conseguir que muitas gentes se simpatizassem com a mesma, e tornando as ordens burocráticas mais responsáveis e tinham noticias mais fáceis da Europa com os mercadores e comerciantes da borracha, Neves mais uma vez coloca em pauta essa realidade:

"(...) pioneiros iniciaram no Espiritismo, mas perceber-se que o fato manterem contato com a França ou pela ascendência, formação educacional ou suas relações comerciais, nos leva a crer que o contato com o Velho Mundo propiciou o conhecimento da Doutrina francesa". (NEVES, 2007).

O português Bernardo Almeida viu a necessidade de a Cidade ter um hospital para atende os doentes e estrangeiros que não tinham condições de pagar médicos, assim o mesmo foi um dos fundadores que em 1873 fundou a Sociedade Portuguesa Beneficente, Neves:

"Alem de suas atividades na sociedade Portuguesa Beneficente, podemos considerar Bernardo Almeida como fundador da primeira instituição Espírita que se tem registro: A Sociedade de Propaganda Espírita". (NEVES, 2007).

Com a sua intensa relação com á alto sociedade Bernardo acabou em conhecer Leonardo Malcher que por suas diversas viagens para a Europa, se interessava pelos fenômenos Espíritas e convidou Bernardo e seus amigos de reunião, para uma sessão em sua residência com a família Malcher, é com o tempo dou um terreno e construiu primeira Federação Espírita Amazonense, Magalhães:

"O seu trabalho culminou, mesmo após o seu retorno à Pátria Espiritual, com a criação da Federação Espírita Amazonense, em 1º de janeiro de 1904, dando uma nova e sustentada conformação ao movimento espírita local". (MAGALHÃES, 2003).

Logo após o falecimento de Bernardo, a Federação foi inaugurada á como em toda a cidade feita em moldes e estilos Europeus, não poderia de deixa essa linha de estilo, e a instituição foi feita próximo ao imponente é sagrado templo da Arte na cidade, Teatro Amazonas como podemos ver com Magalhães:

"A sua fachada é de uma elegante aparência, mas de uma ornamentação singela e expressiva. Sobre o alto destaca-se em letras a denominação do edifício – Templo da Verdade, o Ensino do Bem. No interior não havia decoração alguma, (...)". (MAGALHÃES, 2003).

Desde então a Federação foi se organizando mantendo estudos de doutrinação, tendo obras com a sociedade mais carente e também organizou a sua diretoria para manter as obras em atividade, é também nomeando o primeiro presidente honorário Leonardo Malcher, FEA:

"Na sessão seguinte, era nomeada uma proposição de autoria de Antônio Lucullo, dando a Leonardo Malcher o titulo de presidente honorário da Federação Espírita, em demonstração de agradecimento pelo muito que vinha fazendo em beneficio da nascente sociedade". (FEA, 1984).

Com a inauguração, a organização da Federação Espírita Amazonense e a grande influencia com a Europa, ainda se viu um grande problema em relação ao movimento em planos regional, pois, apesar de haver grande aparado a favor, a Federação ainda não possuía vínculos com as casas espíritas que iriam nascendo, deixando um pouco deslocada as casas dos eventos regionais como relata documentos da FEA:

"Continuava a Federação sem caracterizar-se como tal. Nada havia de organização, de vinculação mais concreta entre a Federativa e Federados". (FEA, 1984).

Isso aconteceu, pois ate a criação do seu conselho federativo titulado: Conselho Federativo Estadual, passando a ter casas filiadas a federação, alias no começo havia 17 casas Espíritas na cidade de Manaus, sendo que destas hoje só uma casa se mandem em atividade esta com o nome de Centro Espírita Caridade e Resignação no bairro de Matinha.


5. Atuação da Doutrina Espírita: Espiritismo hoje na atualidade no Amazonas


A Doutrina Espírita hoje se ver bem mais difundida do que no inicio, pois a questão do misticismo cristão já não tem tanta força nos dias atuais, a Doutrina no Amazonas possui casas federadas e não federadas com a Federação Espírita. Sendo uma destas federadas a Sociedade Espírita de Assistência “Nosso Lar”, uma casa localizada no Bairro Amazonino Mendes I, zona norte de Manaus, tendo preferência para o Bairro, como cita TOCCHETTO:

"Bairro este escolhido por situar-se na periferia da Zona Norte de Manaus, com expressiva concentração de habitantes, que foi povoado através de invasões e mutirões distribuição de lotes e kits de casas de madeira doados pelo governo, onde seus moradores vivem de forma precária, com deficiência de água, (...)". (TOCCHETTO, 2006).

A casa ainda viver essa realidade junto com a comunidade, mais em relação as primeiros tempos, a situação esta mais acessível para a população que ali viver com muitas precariedades, mas assim nasceu a S.E.A. “Nosso Lar”, como nos mostra TOCCHETTO:

"A Sociedade Espírita de Assistência “Nosso Lar”, fundada em 07 de setembro de 1992 e declarada de Utilidade Pública pelo Decreto Estadual nº 2695 em 22 de novembro de 2001 é uma organização religiosa, de caráter assistencial, cultural, beneficente e filantrópica, sem fins lucrativos". (TOCCHETTO, 2006).

Hoje a casa tem orientado e apoiado 69 famílias com atividades de intervenção social mantêm um trabalho de assistência e educação com 61 crianças em situação de risco, tem trabalhos de qualificação para 14 pessoas das famílias assistidas pela casa para qualificá-las pro mercado de trabalho, como cita TOCCHETTO na descrição da missão da casa:

"A missão do Nosso Lar é a promoção integral das famílias, que vivem em situação de risco pessoal e social, através do enfrentamento das causas que produzem as situações de vulnerabilidade e de misérias, material, social, moral e espiritual, construindo para o seu equilíbrio psico-social". (TOCCHETTO, 2006).

Essa é a grande missão da casa que hoje se envolver com os problemas da comunidade, e entra em parceria com vários amigos e o apoio do governo para que as atividades sejam desenvolvidas, e a mesma tem seus organizadores moradores do bairro, revela Nosso Lar:

"Dos cargos da diretoria Executiva, preenchido para o Presidente a Senhora Eliana Saraiva Tocchetto Dinardi; a Vice-Presidente pelo Senhor José Severo de Carvalho, a Secretaria pela Senhora Jarcileia Ferreira Castro, (...)".

Essa é a diretoria que se faz presente na casa, pois assim os trabalhos se fazem com mais facilidade nas casas espíritas, e vemos que a doutrinação não se impõe na casa, mas sempre a questão social de amparo às famílias se vê presente.


Considerações Finais


O objetivo desse trabalho se propõe em realizar um estudo abrangente, elaborando um conjunto de informações bibliográficas e qualitativas sobre os fatos concernentes a implantação da Doutrina Espírita nas terras amazônicas, pois segundo alguns estudos se têm um grande potencial para se descobrir sobre o assunto e também se descobrir por conseqüência algumas épocas de grande importância para a história do Amazonas.

A primeira fase do trabalho foi identificar os primeiros passos que a Doutrina deu na França, é revelando a priori a relação da Vila de Manáos, atual cidade chamada de Manaus, é se fez uma relação e organização dos fatos que ocorreram tanto econômico, social, político e religioso que a cidade passava.

 Também se fez em relatos os precursores e seus objetivos com a sociedade, levando as suas realidades e os fundamentos que eles usavam para mostrar a Doutrina que se comunicava com os mortos ou espíritos. Observa-se mais ainda que a Doutrina Espírita se fez exemplo para as comunidades da cidade com os seus serviços comunitários, abrangendo as necessidades espírito e morais do ser humano.


Referências

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MACHADO, José Alberto da Costa. Movimento Espírita no Amazonas: Sistematização de um programa de pesquisa para ampliar o conhecimento de sua história. I Simpósio FAK “O Espiritismo nas terras amazônicas: origem, realizações e compromissos”. Manaus: Fundação Allan Kardec, 2009.

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Narciso Passos de Freitas, 28, é graduado em História pela Universidade Nilton Lins (2011), professor da SEDUC e Mestrando em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).