segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Eusébio de Cesaréia (obras, metodologia e linguagem)

História Eclesiástica, a Magnum Opus de Eusébio. Editora Novo Século, 1999.

Eusébio, bispo de Cesareia, cidade da Palestina, é conhecido por ser o primeiro historiador a discorrer sobre a História da Igreja Cristã. Presenciou boa parte das perseguições aos cristãos, bem como a conversão do imperador Constantino ao Cristianismo. Eusébio foi herdeiro dos ensinamentos de Orígines de Alexandria, apologista grego pioneiro nas leituras simbólicas e tipológicas da Bíblia.

A leitura que Eusébio faz da História é providencialista, isto é, com Deus sendo o protagonista e sujeito da história, sendo o homem apenas um instrumento da força criadora. Sua obra mais conhecida, História Eclesiástica, abrange o período que vai do nascimento de Cristo até a época em que escrevia (320 da nossa era), foi escrita em grego koiné e traduzida mais tarde para o latim. Também escreveu Crônica, um resumo sobre a história dos povos da Antiguidade e dos romanos, sob a cronologia pagã e a hebreia. A obra tem caráter apologético, pois tenta mostrar que a religião dos hebreus é mais antiga que a de outros povos.

Eusébio também escreveu martirológio cristão, gênero que ganharia bastante popularidade no decorrer da expansão do Cristianismo. Esse gênero é um relato da perseguição aos cristãos ocorrida em Cesareia. Os mártires triunfavam na morte, em morrer sem renunciar sua fé. Eusébio descreve com detalhe essas cenas, que em certos casos lembravam das ações de alguns heróis do mundo pagão.

A História de Eusébio era inédita e polêmica. Atacava judeus, pagãos e hereges. Diferente da historiografia clássica, na qual percebemos a imparcialidade em suas obras, Eusébio deixava evidentes seus objetivos: estabelecer e defender a ortodoxia da Igreja. Ao mesmo tempo em que se distancia de alguns aspectos do rigor histórico clássico, a obra de Eusébio, uma defesa religiosa, é produzida através de uma minuciosa escolha e análise das fontes. Sua biblioteca, repleta de clássicos do mundo antigo, possibilitou a escrita de seu livro. Menos historiador que os historiadores clássicos, Eusébio era mais erudito – e mais parcial.

Antes de começar a registrar os fatos de seu tempo contemporâneo, Eusébio tece uma lista sucessória de bispados das principais sedes episcopais dos tempos apostólicos. Esse objetivo é nitidamente apresentado na introdução da obra, e consiste no principal pilar da ortodoxia católica. Outro interesse do autor é o estabelecimento e a justificativa do cânone que compõe as Sagradas Escrituras. Entre a encarnação de Cristo e a conversão de Constantino, são apresentadas na obra apenas os martírios e as renúncias de fé durante as perseguições.

Além do assunto, a originalidade encontrada na obra de Eusébio se refere ao fato de que este registra o que é certo e errado, o aprovável e o e reprovável, deixando que os virtuosos ou errantes justifiquem seus atos, ou que existam como nomes e datas. Boa parte das obras se constitui de citações.

Nos três últimos livros, dedicados aos mártires da Igreja, percebemos a mudança na abordagem de Eusébio, que perde seu caráter complacente e, tomado por uma eloquência religiosa, utilizando citações e alusões, contempla os castigos divinos contra os infiéis e falsos cristãos e da vitória final da Igreja. Descreve também, de forma pitoresca e bem detalhada, as doenças que afligiam aqueles que no passado perseguiram os cristãos. Gibbon afirma que Eusébio faz isso com “uma acuidade singular e aparente prazer”. Constantino, que se converteu ao Cristianismo e tornou essa a religião oficial do Império, é visto por Eusébio como um representante de Deus na terra, e em sua obra é citado sempre em analogia com personagens ou passagens bíblicas. Eusébio combina a redenção da Igreja com unificação do Império. Igreja e Império começavam a tornar-se um só e começava o fim da ideia de Roma como uma cidade eterna, pois para os cristãos existia um fim vindouro.

A oficialização do Cristianismo como religião do Império permitiu que a visão de História providencialista de Eusébio, com centro em Roma, perdurasse por muito tempo. A expressão Sacro Império Romano evidenciava a supremacia da historiografia cristã.

Vamos sintetizar as ideias da obra de Eusébio: visão providencialista, com Deus sendo o principal personagem histórico e o homem um instrumento do criador; Foi escrita em grego koiné, mais tarde traduzida para o latim; possui o gênero martirológico, que trata sobre as perseguições aos cristãos ocorridas em Cesaréia; é apologética, com a defesa da religião cristã; defende o estabelecimento da ortodoxia cristã, sendo uma obra parcial; uso recorrente de analogias e citações bíblicas ou de autores antigos e detalha de forma pitoresca os males que afligem os “inimigos”.



FONTES:


Eusébio de Cesaréia. Veritatis Splendor: Memória e Ortodoxia Cristãs. In: http://www.veritatis.com.br/patristica/biografias/392-eusebio-de-cesareia. Acesso em 14/12/2015.


BURROW, John. Uma História das Histórias - de Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro/São Paulo, Record. Tradução de Nana Vaz de Castro, 2013.


CRÉDITO DA IMAGEM:


pt.slideshare.net

2 comentários:

  1. Em que contexto se passa a vida de Eusebio?
    O que se sabe a respeito da vida crista quando ele estava em Cesareia?
    Quanto tempo durou o ministerio dele e como ele veio a falecer?

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    1. Eusébio de Cesareia vive em um mundo "parcialmente" cristão. Parcialmente pelo fato de o paganismo ainda existir no Império Romano, pois seria proibido apenas em 392, quando o Cristianismo se torna a religião oficial do Império. Ele também se faz presente no início do estabelecimento da liturgia cristã, com inúmeros editos e assembleias sendo realizadas. As dioceses iam substituindo a antiga divisão imperial de províncias, e o Cristianismo Niceno, estabelecido em 325 no Concílio de Niceia, entrava em choque com diferentes vertentes dessa religião. Seus bispado provavelmente durou de 313 à 340, ano de sua morte (alguns citam 339). Faleceu de causas naturais em 339-40, aos 74 ou 75 anos.

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