História Eclesiástica, a Magnum Opus de Eusébio. Editora Novo Século, 1999.
Eusébio,
bispo de Cesareia, cidade da Palestina, é conhecido por ser o
primeiro historiador a discorrer sobre a História da Igreja Cristã.
Presenciou boa parte das perseguições aos cristãos, bem como a
conversão do imperador Constantino ao Cristianismo. Eusébio foi
herdeiro dos ensinamentos de Orígines de Alexandria, apologista
grego pioneiro nas leituras simbólicas e tipológicas da Bíblia.
A
leitura que Eusébio faz da História é providencialista,
isto é, com Deus sendo o protagonista e sujeito da história, sendo
o homem apenas um instrumento da força criadora. Sua obra mais
conhecida, História Eclesiástica,
abrange o período que vai do nascimento de Cristo até a época em
que escrevia (320 da nossa era), foi escrita em grego
koiné e traduzida mais tarde para o latim.
Também escreveu Crônica,
um resumo sobre a história dos povos da Antiguidade e dos romanos,
sob a cronologia pagã e a hebreia. A obra tem caráter
apologético, pois tenta
mostrar que a religião dos hebreus é mais antiga que a de outros
povos.
Eusébio
também escreveu martirológio
cristão, gênero que ganharia bastante popularidade no decorrer da
expansão do Cristianismo. Esse gênero é um relato da perseguição
aos cristãos ocorrida em Cesareia. Os mártires triunfavam na morte,
em morrer sem renunciar sua
fé. Eusébio descreve com detalhe essas cenas, que em certos casos
lembravam das ações de alguns heróis do mundo pagão.
A
História de Eusébio era inédita e polêmica. Atacava judeus,
pagãos e hereges. Diferente da historiografia clássica, na qual
percebemos a imparcialidade
em suas obras, Eusébio deixava evidentes seus objetivos:
estabelecer e defender a ortodoxia da Igreja.
Ao mesmo tempo em que se distancia de alguns aspectos do rigor
histórico clássico, a obra de Eusébio, uma defesa religiosa, é
produzida através de uma minuciosa escolha e análise das fontes.
Sua biblioteca, repleta de
clássicos do mundo antigo, possibilitou a escrita de seu livro.
Menos historiador que os historiadores clássicos, Eusébio era mais
erudito – e mais parcial.
Antes
de começar a registrar os fatos de seu tempo contemporâneo, Eusébio
tece uma lista sucessória de bispados das principais sedes
episcopais dos tempos apostólicos. Esse objetivo é nitidamente
apresentado na introdução da obra, e consiste no principal pilar da
ortodoxia católica. Outro
interesse do autor é o estabelecimento e a justificativa do cânone
que compõe as Sagradas Escrituras. Entre a encarnação de Cristo e
a conversão de Constantino, são apresentadas na obra apenas os
martírios e as renúncias de fé durante as perseguições.
Além
do assunto, a originalidade encontrada na obra de Eusébio se refere
ao fato de que este registra o que é certo e errado, o aprovável e
o e reprovável,
deixando que os virtuosos ou errantes justifiquem seus atos, ou que
existam como nomes e datas. Boa
parte das obras se constitui de citações.
Nos
três últimos livros, dedicados aos mártires da Igreja, percebemos
a mudança na abordagem de Eusébio, que perde seu caráter
complacente e, tomado por uma eloquência religiosa, utilizando
citações e alusões, contempla os castigos divinos contra os
infiéis e falsos cristãos e da vitória final da Igreja. Descreve
também, de forma pitoresca e bem detalhada, as doenças que afligiam
aqueles que no passado perseguiram os cristãos.
Gibbon afirma que Eusébio faz isso com “uma acuidade singular e
aparente prazer”. Constantino,
que se converteu ao Cristianismo e tornou essa a religião oficial do
Império, é visto por Eusébio como um representante de Deus na
terra, e em sua obra é citado sempre em analogia com personagens ou
passagens bíblicas. Eusébio combina a redenção da Igreja com
unificação do Império. Igreja
e Império começavam a tornar-se um só e começava o fim da ideia
de Roma como uma cidade eterna, pois para os cristãos existia um fim
vindouro.
A
oficialização do Cristianismo como religião do Império permitiu
que a visão de História providencialista de Eusébio, com centro em
Roma, perdurasse por muito tempo. A expressão Sacro Império Romano
evidenciava a supremacia da historiografia cristã.
Vamos
sintetizar as ideias da obra de Eusébio: visão providencialista,
com Deus sendo o principal personagem histórico e o homem um
instrumento do criador; Foi escrita em grego koiné, mais tarde
traduzida para o latim; possui o gênero martirológico, que trata
sobre as perseguições aos cristãos ocorridas em Cesaréia; é
apologética, com a defesa da religião cristã; defende o
estabelecimento da ortodoxia cristã, sendo uma obra parcial; uso
recorrente de analogias e citações bíblicas ou de autores antigos
e detalha de forma pitoresca os males que afligem os “inimigos”.
FONTES:
Eusébio de Cesaréia. Veritatis Splendor: Memória e Ortodoxia Cristãs. In: http://www.veritatis.com.br/patristica/biografias/392-eusebio-de-cesareia. Acesso em 14/12/2015.
BURROW, John. Uma História das Histórias - de Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro/São Paulo, Record. Tradução de Nana Vaz de Castro, 2013.
CRÉDITO DA IMAGEM:
pt.slideshare.net
pt.slideshare.net
Em que contexto se passa a vida de Eusebio?
ResponderExcluirO que se sabe a respeito da vida crista quando ele estava em Cesareia?
Quanto tempo durou o ministerio dele e como ele veio a falecer?
Eusébio de Cesareia vive em um mundo "parcialmente" cristão. Parcialmente pelo fato de o paganismo ainda existir no Império Romano, pois seria proibido apenas em 392, quando o Cristianismo se torna a religião oficial do Império. Ele também se faz presente no início do estabelecimento da liturgia cristã, com inúmeros editos e assembleias sendo realizadas. As dioceses iam substituindo a antiga divisão imperial de províncias, e o Cristianismo Niceno, estabelecido em 325 no Concílio de Niceia, entrava em choque com diferentes vertentes dessa religião. Seus bispado provavelmente durou de 313 à 340, ano de sua morte (alguns citam 339). Faleceu de causas naturais em 339-40, aos 74 ou 75 anos.
Excluir