Eusébio, bispo de Cesareia, pioneiro na história da Igreja Cristã.
A
Historiografia do Mundo Clássico, ou Historiografia Pagã, e a
Historiografia Cristã, entram em ruptura, guardando-se, no entanto,
o latim, já com algumas mudanças, como língua utilizada para a
produção escrita. Desde a conversão do imperador Constantino ao
Cristianismo, em 312, e ao consequente fim das perseguições a essa religião, uma nova historiografia viria
para suplantar a do mundo clássico.
Os
historiadores cristãos "ignoravam" os autores clássicos, com algumas
exceções, como Salústio, que trazia em sua obra a retórica
moralizante; e Suetônio, como modelo para
a produção de biografias. Em síntese, as obras clássicas serviam
como fonte de anedotas, utilizadas como exemplos morais, adaptadas
para milagres cristãos, largamente utilizados nessa nova
historiografia.
Para
os historiadores cristãos, era necessário inserir a história
universal na perspectiva religiosa, a cristã. Para isso foi criada
uma cronologia capaz de englobar, sob o relato bíblico, a história
dos povos do Oriente Próximo e greco-romanos, a relação dos
soberanos assírios ou egípcios, a periodização grega por
olimpíadas ou a série dos magistrados romanos. O pioneiro nessa
tarefa foi Eusébio, bispo de Cesareia, grego da palestina, autor da
História Eclesiástica,
primeira sobre a Igreja Cristã, que cobre o período que vai de
Jesus Cristo a Constantino.
A
Historiografia Cristã não busca a explicações para os fenômenos
históricos na sociedade, nas causas naturais ou nas ações do
indivíduos, mas em um determinismo divino, que já possui
planejado o curso da História. Essa concepção de busca histórica
era baseada na História desenvolvida por Santo Agostinho, em A
Cidade de Deus e Confissões,
onde contrasta a eternidade
de Deus com o tempo. As ideias de Santo Agostinho entrariam na
historiografia através de seu discípulo, Orósio, autor de
Histórias contra os pagãos,
livro no qual argumentava que a história era a ação da vontade de
Deus na terra, com a premiação das virtudes e o castigo aos vícios,
e, finalmente, o Juízo Final.
A
veracidade dos fatos relatados pelos autores cristãos era um tema
secundário, importando, de fato, o discurso moral e religioso. A
história, para eles, servia não para compreender o mundo, mas sim
como um preparo para o futuro que, segundo os planos divinos,
terminaria com o Juízo Final. É linearidade histórica, com um
início e fim determinados.
Voltando
à cronologia, temos uma preocupação com a prática litúrgica,
principalmente no que diz respeito à fixação de uma data para a
comemoração da Páscoa, que daria início a outras festividades
religiosas. Isso era um problema, pois, como foi dito, ainda existiam
no mundo cristão sistemas de computo temporais
oriundos do paganismo. Uma
nova datação foi feita pelo abade Dionísio, que, analisando
algumas tabelas da Páscoa, fixou como origem da era cristã o ano de
754 da fundação de Roma.
Nas
tabelas pascais dos mosteiros, os monges começaram a anotar os
acontecimentos mais importantes do ano, como tempestades, colheitas,
mortes de pessoas importantes, fenômenos astronômicos; e também
foram responsáveis por uma marcação mais exata das horas do dia.
Nos séculos VI e IX, surgiriam no mundo bárbaro alguns
historiadores cristãos. Entre
os bárbaros destaca-se, por exemplo, Beda, o Venerável, monge da
Britânia que, diferente de outros autores da época, não realizou
uma história universal, mas sim uma História Eclesiástica
da Inglaterra.
Portanto,
podemos destacar como principais pontos da historiografia cristã:
Rejeição pelos autores
clássicos, aproveitando-se apenas destes alguns ensinamentos morais
ou estilo literário; a História universal era vista e estudada sob
a perspectiva bíblica; História com início e fim divinamente
determinados; preocupação com os ensinamentos morais e religiosos,
estando a veracidade dos fatos em plano secundário; e
Cronologia ligada à liturgia.
FONTES:
FONTANA, Josep. A História dos Homens. Bauru, SP, EDUSC. Tradução de Heloísa Jochims Reichel e Marcelo Fernando da Costa, 2004.
CRÉDITO DA IMAGEM:
commons.wikimedia.org
adorei o artigo
ResponderExcluirMuito obrigado. É de extrema importância que as pessoas conheçam a historiografia cristã produzida nos primeiros séculos. Volte sempre.
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