terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Semelhanças e diferenças entre Eusébio, Gregório e Beda


Eusébio de Cesareia (263 d.C.-339 d.C.); Gregório de Tours (538 d.C.-594 d.C.); Beda, o Venerável (672 d.C.-735 d.C.).

Eusébio inaugura a História da Igreja Cristã, analisa a História universal sob a perspectiva das Sagradas Escrituras e tece uma linha sucessória dos bispados das principais sedes episcopais desde os tempos apostólicos. Gregório de Tours e Beda, também cristãos, escreveram uma História episcopal e mais local, referente aos seus locais de atuação (Gália e Britânia, respectivamente).

Eusébio escreveu uma crônica na qual comparava a história hebreia com a de outros povos. Gregório não dava muita importância para aspectos étnicos da Gália, fazendo apenas algumas digressões necessárias sobre os francos, que governaram a região. Beda apresenta, dentre os três, um maior interesse pelo etnográfico, descrevendo os diferentes povos que habitavam a Britânia, suas línguas e costumes.

Eusébio defendia, de forma parcial, o estabelecimento da ortodoxia e a unidade da Igreja, atacando judeus, pagãos e hereges. Gregório de Tours, ideologicamente, atacava os seguidores da heresia Ariana. Beda criticava, além dos monges irlandeses, a forma como o Cristianismo era praticado em sua terra, sem uma unidade ou cronologia (data fixa para a comemoração da Páscoa).

Quanto à língua, Eusébio escreveu em grego koiné, que mais tarde foi traduzido para o latim. Gregório escreve em um latim simplório, sem estilo e regras gramaticais. Beda, que escreve sobre sua terra natal, também usa o latim.

Eusébio foi considerado um historiador erudito, pois como fonte tinha uma incrível biblioteca composta de escritos do mundo antigo. Gregório não era um grande conhecedor das obras clássicas, mas teve contato com os escritos de Orósio e Eusébio. Beda tinha acesso à biblioteca do mosteiro de Wearmouth-Jarrow, que reunia em sua época um bom número de livros. Teve contato com os escritos de Orósio, Eusébio, Constâncio, Gildas e Gregório de Tours.

Eusébio escreveu em outro gênero, o martirológio (relato sobre os mártires, em especial a perseguição ocorrida em Cesareia). Gregório de Tours escreveu martirológios, biografias dos Patriarcas da Igreja, de São Martinho de Tours, e uma coletânea de Milagres. Sua obra parece ser de caráter homilético, isto é, voltada para a pregação religiosa. Beda escreve gêneros diversos, como a martirologia, hagiografia (estudo da biografia dos santos), cronologia, hinologia (estudo dos cânticos) e poesia.

Eusébio reúne Igreja e Império Romano em um só, pondo fim à ideia de cidade eterna que, dentro de um plano divino, tem um início e um fim determinados. O status de religião oficial do Império permitiu que sua historiografia dominasse por longos séculos o mundo Ocidental. Gregório, na posição de bispo de Tours, reporta-sse à Roma apenas em épocas de conclaves. Beda não possuía grande relação com a cidade de Roma, mas acreditava que o povo inglês era um povo escolhido, pois aquela região era alvo constante de tentativas de cristianização.

Eusébio tentou usar uma cronologia que, de alguma forma, se relacionasse com o relato bíblico. Na Gália, Gregório funde história secular e eclesiástica e, em determinado momento do livro, o vemos utilizando o ano de coroação dos reis como marco cronológico. Ainda assim, este escreve os fatos em ordem embaralhada e confusa. Beda, focado na história eclesiástica, cria a notação cronológica datando os fatos entre antes e depois de Cristo.

No campo social, Eusébio permitia que as personagens de sua obra, fossem eles bons ou maus, se defendessem, ou que, pelo menos, existissem com um nome ou data. Gregório não privilegia fatos ou classes sociais, desde que estas passem ensinamentos morais ou espirituais. Fala sobre reis, bispos, padres, escravos, impostores etc. Beda registra os exemplos notáveis de bondade e maldade. Critica a covardia, a inércia e a delinquência moral dos bretões.

Eusébio tem uma visão providencialista da História, isto é, com Deus como personagem principal e o homem como instrumento do criador. Gregório cria uma história cheia de anedotas e marcada pela curiosidade do social, do vívido em diferentes estratos sociais. Beda conclui sua história com a ideia de povo escolhido: os pictos e os irlandeses se converteram ao Cristianismo, com exceção dos bretões, que preservaram seus hábitos.

Eusébio descreve de forma pitoresca a “vingança de Deus” contra seus perseguidores. Gregório é detalhista, descreve cada ação e sentimentos de suas personagens, como se quisesse se comunicar com os leitores. Beda é autoridade tanto na forma da escrita quanto na apresentação das fontes. Sua obra tem um tom dramático, exemplificado quando este relata vividamente os embates entre cristãos e pagãos.



CRÉDITO DA IMAGEM:


http://congregalupino.blogspot.com.br/

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