Anúncio de "retratos em Photographia". FONTE: Amazonas, 17/10/1866.
A fotografia surgiu no século XIX, na França. Experimentos vinham sendo realizados desde fins do século XVIII. Em 1822, conforme estudo do historiador da arte espanhol Xavier Barral I Altet, o inventor francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) conseguiu imprimir uma imagem utilizando uma câmara escura e um processo fotoquímico, de aproximadamente 8 horas, conhecido como heliogravura (BARRAL I ALTET, 1990, p. 89).
Essa ainda não era a fotografia propriamente dita. Esta surgiria pelas mãos de outro francês, Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), parceiro de trabalho Niépce, herdando seus inventos heliográficos após sua morte em 1833. Daguerre, em 1839, apresenta ao público o Daguerreótipo, uma câmara escura em que eram fixadas imagens em uma folha de prata sobre uma placa de cobre, precursor das máquinas fotográficas.
No Brasil, o francês Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879) vinha fazendo experimentos de gravação através da luz, conseguindo, através de uma câmara escura, fixar uma imagem em papel utilizando o nitrato de prata, tendo, apesar do pioneirismo, um reconhecimento tardio. O daguerreótipo chegou ao Brasil em 1840, nos informa a pesquisadora Graça Proença (PROENÇA, 2005, p. 226), através abade francês Louis Compte, capelão de um navio escola francês, de passagem pelo Rio de Janeiro. Compte fez alguns registros e apresentou o invento a Dom Pedro II, que pouco tempo depois adquiriu seu próprio aparelho.
O processo fotográfico foi aperfeiçoado e barateado nos anos seguintes. O cientista inglês William Henry Fox-Talbot (1800-1877) criou as fotografias em negativo/positivo, criando o calótipo (ou talbótipo), que permitia obter várias cópias através de um único negativo (BARRAL I ALTET, 1990, p. 89).
O invento foi registrado em 1841. A fotografia revolucionou a prática de registrar diferentes aspectos do cotidiano, públicos ou particulares, anteriormente feitos através de desenhos e pinturas, anunciando um novo período nas artes.
Ela chegou ao Amazonas, na época uma distante Província brasileira, na segunda metade do século XIX, período de expansão do capitalismo industrial e de fluxo intenso de trocas comercias. É o que se concluiu através de anúncios de serviços fotográficos compulsados em periódicos locais. Entre as décadas de 1860 e 1890 é possível encontrar, nas páginas desses jornais, brasileiros e estrangeiros oferecendo seus serviços fotográficos.
Por volta de 1864, Eduardo José de Souza, estabelecido na rua Formosa (atual Theodoreto Souto), em Manaus, fazia fotografias pelos sistemas de ambrótipo e cromótipo e, mediante ajuste especial (um adicional no pagamento), ia em casas particulares e também fotografava pessoas falecidas. Além da fotografia, fazia retratos a óleo e consertava "caixas de muzica e realejos com todo o esmero e promptidão" (O Catequista, 30/01/1864). Em 1867 anunciava-se que na casa do Major Tapajoz, na Praça Tamandaré, tiravam-se fotografias pelos sistemas mais modernos, de casas particulares e de pessoas falecidas. Da mesma forma que no estabelecimento de Eduardo José de Souza, também eram consertadas "caixas de musica, e realêjos, com todo o esmero e promptidão possível", e "galvaniza-se a ouro por menos preço que em outra qualquer parte". A dúzia dos retratos custava 10 mil réis (Amazonas, 30/01/1867).
Nos anos finais do período provincial, marcado pelo crescimento das atividades ligadas à extração do látex, os serviços ofertados na capital tornaram-se mais refinados para atender um público consumidor cada vez mais interessado nas comodidades e praticidades do mundo moderno. Francisco Candido Lyra, em 1888, oferecia seus serviços fotográficos, das 8 da manhã às 16 da tarde, em seu ateliê estabelecido na rua Marcílio Dias, além de realizar viagens periódicas para o interior do Estado, onde tinha clientes:
"Tirao-se retratos de todos os tamanhos, em grupos, a oleonicraion, assim como se executa qualquer trabalho fora da officina, como sejão: vistas de chalets, retratos de pessoas mortas, e todo e qualquer trabalho pertencente à arte photographica, tudo com e, maior perfeição, asseio e modicidade de preços". (Jornal do Amazonas, 22/07/1888). Em 1895, o mesmo Candido Lyra anunciava ter renovado seu ateliê, oferecendo, além do já citado serviço de fotografar pessoas mortas, o de fotografar "anjinhos", crianças mortas (Amazonas Commercial, 10/03/1895).
Bastante organizado era o Ateliê Artístico Photographico do italiano Arturo Luciani, na rua Henrique Martins. Luciani fazia "[...] vistas de edifícios, retratos de mortos ou qualquer outro genero de trabalho. Também fazia reprodução de "[...] desenhos, plantas autographicas ou industrial", tendo especialidade em "retratos de tamanho natural, ao crayon, ao photo-crayon e a oleo". Seu ateliê funcionava das 8 da manhã às 16 horas, recomendando-se roupas escuras para ser fotografado e que "a luz da manhã é preferivel a da tarde" (Diário Oficial, AM, 17/01/1896). Sua tabela de preços era a seguinte:
No final do século XIX e início do século XX os fotógrafo mai afamado do Amazonas era o alemão George Huebner (1862-1935), proprietário, ao lado de Libânio do Amaral, Professor de Belas-Artes , da Photographia Allemã, de Huebner & Amaral, que passou por diferentes endereços antes de se estabelecer na Avenida Eduardo Ribeiro. A Photographia Allemã tinha filiais em Belém do Pará e no Rio de Janeiro.
Huebner & Amaral ofereciam seus serviços fotográficos a particulares, escolas, associações culturais e, principalmente, ao Estado do Amazonas, produzindo famosos almanaques e álbuns de divulgação das transformações (novas obras, melhorias, reformas) que ocorriam na capital, como o Álbum Vistas de Manáos, publicado em 1897 no Governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro.
A introdução das fotografias nos jornais foi uma novidade. O Jornal do Comércio as utilizou largamente, aparecendo com maior frequência a partir de 1912. Elas passaram a estampar as páginas principais dos periódicos, dando destaque às matérias e tornando-se símbolo das transformações técnicas e econômicas que chegavam ao Amazonas.
Os cartões postais de Manaus surgem no início do século XX. Eles foram divulgados em diferentes cidades do mundo, servindo de atrativo para visitantes e empresários com interesse em investir na capital. Deve-se destacar que as fotos dos cartões postais eram produções cenográficas, pois registravam apenas a parte "embelezada" da cidade.
Entre as décadas de 1910 e 1920 as revistas de colunismo social faziam sucesso, sendo os títulos mais famosos a Cá & Lá e Redempção. O fotógrafo mais conhecido desse meio era Gil Ruiz, que fazia registros de membros da alta sociedade, de festas de aniversário, casamentos e de cenas do cotidiano, também colaborando com alguns álbuns.
Outro fotógrafo de destaque foi o português Silvino Santos (1886-1970), que além de fotógrafo era também cineasta, trabalhando por muitos anos para a família do Comendador Joaquim Gonçalves Araújo, produzindo documentários de renome mundial.
Um dos fotógrafos mais longevos do Estado foi Corrêa Lima (1931-2017), que começou a fotografar em 1949. Seus registros eram marcados pela qualidade e grandiosidade, captando diversos elementos para compor um cenário ainda maior. Passou pelo Diário da Tarde, O Jornal, A Gazeta e Laboratório Mesbla no Rio de Janeiro. Foi fotógrafo oficial dos Governadores Danilo Duarte de Mattos Areosa, José Lindoso e João Walter de Andrade, se aposentando como fotógrafo do extinto Departamento de Estradas e Rodagens do Amazonas (Der-AM).
Diário Oficial, AM, 17/01/1896.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARRAL I ALTET, Xavier. História da Arte. Tradução de Paulo F. Anderson Dias. Campinas, São Paulo: Papirus, 1990.
PROENÇA, Graça. História da Arte. 16° Ed. São Paulo: Ática, 2005.
No Brasil, o francês Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879) vinha fazendo experimentos de gravação através da luz, conseguindo, através de uma câmara escura, fixar uma imagem em papel utilizando o nitrato de prata, tendo, apesar do pioneirismo, um reconhecimento tardio. O daguerreótipo chegou ao Brasil em 1840, nos informa a pesquisadora Graça Proença (PROENÇA, 2005, p. 226), através abade francês Louis Compte, capelão de um navio escola francês, de passagem pelo Rio de Janeiro. Compte fez alguns registros e apresentou o invento a Dom Pedro II, que pouco tempo depois adquiriu seu próprio aparelho.
O processo fotográfico foi aperfeiçoado e barateado nos anos seguintes. O cientista inglês William Henry Fox-Talbot (1800-1877) criou as fotografias em negativo/positivo, criando o calótipo (ou talbótipo), que permitia obter várias cópias através de um único negativo (BARRAL I ALTET, 1990, p. 89).
O invento foi registrado em 1841. A fotografia revolucionou a prática de registrar diferentes aspectos do cotidiano, públicos ou particulares, anteriormente feitos através de desenhos e pinturas, anunciando um novo período nas artes.
Ela chegou ao Amazonas, na época uma distante Província brasileira, na segunda metade do século XIX, período de expansão do capitalismo industrial e de fluxo intenso de trocas comercias. É o que se concluiu através de anúncios de serviços fotográficos compulsados em periódicos locais. Entre as décadas de 1860 e 1890 é possível encontrar, nas páginas desses jornais, brasileiros e estrangeiros oferecendo seus serviços fotográficos.
Por volta de 1864, Eduardo José de Souza, estabelecido na rua Formosa (atual Theodoreto Souto), em Manaus, fazia fotografias pelos sistemas de ambrótipo e cromótipo e, mediante ajuste especial (um adicional no pagamento), ia em casas particulares e também fotografava pessoas falecidas. Além da fotografia, fazia retratos a óleo e consertava "caixas de muzica e realejos com todo o esmero e promptidão" (O Catequista, 30/01/1864). Em 1867 anunciava-se que na casa do Major Tapajoz, na Praça Tamandaré, tiravam-se fotografias pelos sistemas mais modernos, de casas particulares e de pessoas falecidas. Da mesma forma que no estabelecimento de Eduardo José de Souza, também eram consertadas "caixas de musica, e realêjos, com todo o esmero e promptidão possível", e "galvaniza-se a ouro por menos preço que em outra qualquer parte". A dúzia dos retratos custava 10 mil réis (Amazonas, 30/01/1867).
Nos anos finais do período provincial, marcado pelo crescimento das atividades ligadas à extração do látex, os serviços ofertados na capital tornaram-se mais refinados para atender um público consumidor cada vez mais interessado nas comodidades e praticidades do mundo moderno. Francisco Candido Lyra, em 1888, oferecia seus serviços fotográficos, das 8 da manhã às 16 da tarde, em seu ateliê estabelecido na rua Marcílio Dias, além de realizar viagens periódicas para o interior do Estado, onde tinha clientes:
"Tirao-se retratos de todos os tamanhos, em grupos, a oleonicraion, assim como se executa qualquer trabalho fora da officina, como sejão: vistas de chalets, retratos de pessoas mortas, e todo e qualquer trabalho pertencente à arte photographica, tudo com e, maior perfeição, asseio e modicidade de preços". (Jornal do Amazonas, 22/07/1888). Em 1895, o mesmo Candido Lyra anunciava ter renovado seu ateliê, oferecendo, além do já citado serviço de fotografar pessoas mortas, o de fotografar "anjinhos", crianças mortas (Amazonas Commercial, 10/03/1895).
Bastante organizado era o Ateliê Artístico Photographico do italiano Arturo Luciani, na rua Henrique Martins. Luciani fazia "[...] vistas de edifícios, retratos de mortos ou qualquer outro genero de trabalho. Também fazia reprodução de "[...] desenhos, plantas autographicas ou industrial", tendo especialidade em "retratos de tamanho natural, ao crayon, ao photo-crayon e a oleo". Seu ateliê funcionava das 8 da manhã às 16 horas, recomendando-se roupas escuras para ser fotografado e que "a luz da manhã é preferivel a da tarde" (Diário Oficial, AM, 17/01/1896). Sua tabela de preços era a seguinte:
FONTE: Diário Oficial, AM, 17/01/1896.
No final do século XIX e início do século XX os fotógrafo mai afamado do Amazonas era o alemão George Huebner (1862-1935), proprietário, ao lado de Libânio do Amaral, Professor de Belas-Artes , da Photographia Allemã, de Huebner & Amaral, que passou por diferentes endereços antes de se estabelecer na Avenida Eduardo Ribeiro. A Photographia Allemã tinha filiais em Belém do Pará e no Rio de Janeiro.
Huebner & Amaral ofereciam seus serviços fotográficos a particulares, escolas, associações culturais e, principalmente, ao Estado do Amazonas, produzindo famosos almanaques e álbuns de divulgação das transformações (novas obras, melhorias, reformas) que ocorriam na capital, como o Álbum Vistas de Manáos, publicado em 1897 no Governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro.
Anúncio da Photographia Allemã. FONTE: Almanak Henault (1910).
Os cartões postais de Manaus surgem no início do século XX. Eles foram divulgados em diferentes cidades do mundo, servindo de atrativo para visitantes e empresários com interesse em investir na capital. Deve-se destacar que as fotos dos cartões postais eram produções cenográficas, pois registravam apenas a parte "embelezada" da cidade.
Entre as décadas de 1910 e 1920 as revistas de colunismo social faziam sucesso, sendo os títulos mais famosos a Cá & Lá e Redempção. O fotógrafo mais conhecido desse meio era Gil Ruiz, que fazia registros de membros da alta sociedade, de festas de aniversário, casamentos e de cenas do cotidiano, também colaborando com alguns álbuns.
Outro fotógrafo de destaque foi o português Silvino Santos (1886-1970), que além de fotógrafo era também cineasta, trabalhando por muitos anos para a família do Comendador Joaquim Gonçalves Araújo, produzindo documentários de renome mundial.
Um dos fotógrafos mais longevos do Estado foi Corrêa Lima (1931-2017), que começou a fotografar em 1949. Seus registros eram marcados pela qualidade e grandiosidade, captando diversos elementos para compor um cenário ainda maior. Passou pelo Diário da Tarde, O Jornal, A Gazeta e Laboratório Mesbla no Rio de Janeiro. Foi fotógrafo oficial dos Governadores Danilo Duarte de Mattos Areosa, José Lindoso e João Walter de Andrade, se aposentando como fotógrafo do extinto Departamento de Estradas e Rodagens do Amazonas (Der-AM).
Corrêa Lima e alguns de seus registros de períodos diversos. FONTE: Acervo do Instituto Durango Duarte.
A fotografia foi um dos grandes marcos tecnológicos do século XIX, tornando-se sensação ao redor do mundo. Surgia como uma técnica, uma arte. Até hoje desperta certo encanto, não tanto quanto no século passado, mas ainda sim é motivo dele. O homem finalmente encontrara uma forma mais rápida de se registrar e registrar o cotidiano.
FONTES:
Amazonas, 17/10/1866.
O Catequista, 30/01/1864.
Amazonas, 30/01/1867.
Jornal do Amazonas, 22/07/1888.
Amazonas Commercial, 10/03/1895.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARRAL I ALTET, Xavier. História da Arte. Tradução de Paulo F. Anderson Dias. Campinas, São Paulo: Papirus, 1990.
PROENÇA, Graça. História da Arte. 16° Ed. São Paulo: Ática, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário