quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco (1892-1969)

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco (1892-1969). FONTE: O Jornal, 16/08/1969.

Existem personagens da História de Manaus que marcaram várias gerações. Um deles foi o Vovô Vasco, cujo nome verdadeiro era Vasco José de Faria (1892-1969), português do Porto que chegou ao Amazonas aos 13 anos. Vasco Faria foi por longas décadas gerente do Cine Guarany e sócio da empresa cinematográfica A. Bernardino & Cia. Ltda (quando entrou na empresa ela se chamava Empresa Cinema Avenida Ltda., mudando de nome apenas em 1942). Antes disso trabalhou no Teatro Amazonas e na empresa Fontenelle & Cia (Cine Polytheama). Neste 15 de agosto de 2019 seu falecimento completou 50 anos.

Vasco Faria deixou sua marca como gerente do Cine Guarany entre as décadas de 1930 e 1960. Ele começou suas atividades no cinema em 1938 como Auxiliar Interessado, uma espécie de sócio minoritário (A Tarde, 19/02/1939). Todos os anos, a festa de aniversário do cinema ficava por sua conta. Assim foi descrito pelo Jornal do Comércio o aniversário por ele organizado em 1955:

"Em comemoração à festiva data, foi organizado um caprichado programa, constante de 7 sessões cinematográficas, no decorrer dos quais serão sorteados valiosos brindes ofertados pelo comércio local. A matinal, encanto da petizada e da gente grande também, foi organizada com carinho pelo conhecido e estimado "vovô" Vasco. Será exibido na ocasião o filme Branca de Neve e os Sete anões, a maravilha colorida de Walt Disney, que transportou para a téla tôda a meiguice e encanto daquela aplaudida história infantil. Antes serão distribuidos revistas, kibons, petecas, balões, e haverá ainda sorteio de uma bola de futebol, 1 caminhão de carga de 8 rodas, 3 garrafas de Martini e outros artigos. As demais sessões serão também magnificas, havendo o sorteio de carissimos brindes" (Jornal do Comércio, 05/08/1955).

Um interessante registro fotográfico da década de 1950 mostra Belmiro Vianês, radialista da Rádio Baré, Adriano Bernardino Filho e o Vovô Vasco em dia de festa no Cine Guarany. Na ocasião eles estavam entregando uma batedeira como prêmio a um frequentador após o famoso sorteio comemorativo.

Entrega de prêmio no dia do aniversário do Cine Guarany, com o Vovô Vasco à direita. Década de 1950. FONTE: Acervo de Ed Lincon.

Vasco Faria fazia a alegria das crianças e adolescentes. Muitas vezes, quando estes não tinham todo o dinheiro do ingresso ou mesmo nenhum para as matinês, as deixava entrar de graça nas sessões. Além disso, distribuía a eles balões, doces e bombons. O poeta amazonense Farias de Carvalho escreveu um soneto em sua homenagem, soneto esse presente no livro Pássaro de Cinza (1957):

"O VASCO DO GUARANY

Seu Vasco, eu tenho só quinhentos Réis,
deixa eu entrar? eu vou pra galeria
Êle enculava as mãos, caiam os niqueis,
e a meninada aos empurrões subia

Quanto garôto lhe ficou devendo
o sabor, - deliciosas emoções
dos primeiros encontro com os cow-boys
tiroteando em cavalos e em vagões!

A vida, Vasco, é como o teu cinema:
uns tem bilhete inteiro, outros tem meio
a maior parte, fora, sem bilhete;

e o mais duro o mais triste é que entre os donos das platéias imensas deste mundo
existem poucos, muito poucos Vascos!". (Jornal do Comércio, 16/08/1969).

No dia 29 de janeiro de 1968, foi homenageado no salão de honra do Palácio Rio Negro, pelos 50 anos de atividades ligadas ao cinema no Estado. O Governador Danilo Duarte de Mattos Areosa lhe entregou o troféu 'Alcazar' e um diploma de Honra ao Mérito. O Prefeito Paulo Pinto Nery, na ocasião, leu uma mensagem que seria encaminhada à Câmara Municipal, conferindo a Vasco José Faria o título de Cidadão de Manaus. A homenagem, organizada pelo Departamento de Cultura da SEC, pelo Grupo de Estudos Cinematográficos e pelo DEPRO, contou com a participação do poeta Elson Farias e de Joaquim Marinho, diretor geral do DEPRO (Jornal do Comércio, 30/01/1968).

Vasco José Faria faleceu em Manaus no dia 15 de agosto de 1969 aos 77 anos. Sua morte foi bastante sentida pela sociedade, sendo divulgada nos principais jornais da capital. O jornal A Notícia publicou o seguinte sobre o ano que antecedeu sua morte: 

"Seo Vasco, ano passado, foi aposentado. Em nenhum momento, entretanto, deixou que outro - enquanto vivo fôsse - assumisse ou tomasse o lugar no Guarany. Viveu os melhores e mais intensos momentos do cinema mais popular e amado do Amazonas. Talvez sua presença tenha inspirado isso". (A Notícia, 16/08/1969).

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco, partiu deixando um grande legado no ramo dos cinemas. Agradeço encarecidamente ao pesquisador Ed Lincon Barros pela cessão de valiosos jornais sobre a trajetória de Vasco José de Faria, sem os quais não seria possível realizar esse texto.

FONTES:

A Tarde, 19/02/1939, Edição Comemorativa (cedido por Ed Lincon).

Jornal do Comércio, 05/08/1955.

Jornal do Comércio, 30/01/1968.

Jornal do Comércio, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon)

O Jornal, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon Barros).

A Notícia, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon Barros).

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