sábado, 20 de junho de 2015

A Insustentável Leveza de Tanta Primavera (crônica de Ellza Souza)


Velhice. Um estágio, uma etapa. Não tem para onde "correr", ela sempre nos alcança. Não é um bicho de sete cabeças, mas sim uma primavera, como bem expressa a crônica da leitora e amiga Ellza Souza, que trata essa etapa da vida com muito humor e energia. Sobre a História da velhice, recomendo o livro História da Velhice no Ocidente, do historiador francês Georges Minois (edição em português, 1999). Leiam abaixo a crônica de Elza Souza.

Fazia tempo que meu aniversário não "caía" no domingo, um dia que adoro, que é azul, em que o mato é mais verde, em que o mundo é mais calmo. Agora que o Celdo me confirmou que na Amazônia tem sim primavera, posso me regozijar com as minhas também e distribuir com vocês para não ficar tão pesado esse buquê. Convenhamos que mesmo sendo primavera que implica em beleza e flores, que pesa, pesa.


Amanheci com a sensação do peso de tantas primaveras. Com a sensação de quem está mais pra lá do que pra cá. Lógico que é assim e tem que ser assim pois o tempo não para e precisamos subir aos céus para dar lugar a outros, quem sabe nós mesmos em outra configuração.

Ao chegar na 61ª. primavera da minha existência percebo com clareza o que chamam por aí de “melhor idade”. Apesar de estar apenas começando uma nova etapa de vida, todos já te olham como se estivesse no fim. E o pior como se não tivesse mais capacidade de pensar e de ser feliz. Claro que não me refiro aos parentes e amigos mas aos que correm por fora. No ônibus, por exemplo, quando precisamos correr com a carteirinha para provar o que está na cara e no corpo todo. É meus amigos, a pele afrouxa, o bucho cresce, o braço engrossa, as pestanas acho que já eram. O olhar perde a tonalidade, o viço. Aí lascou-se. Vai-se formando todo o jeitinho de uma simpática velhinha bondosa, mas gagá, segundo os “por fora” como disse antes.

As dificuldades são muitas e precisa de grande esforço para continuar. Ao fazer 50 anos escrevi por aí que nunca ia usar uma bata pois achava que era roupa de velha. Mas confesso que tenho reavaliado as ditas vestimentas. E estou olhando-as com outros olhos e dando preferência as de manga longa e gola role. Captou? Não que ache feia a velhice. Acho que existe beleza numas preguinhas bem feitas mas que pesa, pesa e vou me preparar para a minha primeira bata, que ninguém é eterno.

De tudo que vivi até aqui o melhor foi o amor que tenho pelos meus filhos, Suzana e Eduardo, o convívio com meus familiares e esses encontros que de vez quando fazemos com as pessoas que gostamos e admiramos. Vocês. Uns mais outros menos na “melhor idade” e como a melhor idade é a idade que cada um vive vamos mesmo é aproveitar momentos como esse e enriquecer a VIDA de boas histórias.

Desculpem a xaropada...mas é o que gosto de fazer: escrever. E na melhor idade ganhei o direito de fazer o que gosto nem que os que correm por fora achem que “velho não faz isso ou aquilo”. Não faz se não quiser, amigos.  Vamos fazer: amor, amizade, solidariedade, bondade. Vamos dançar, rebolar, contar piada, rezar, conversar, ler, ouvir música. Pronto já nem estou sentindo mais o peso das 61 primaveras e sim estou envolvida na leveza das 16. Essa é a leveza que devemos preservar até a primeira bata.




Ellza Maria Pereira Souza é Jornalista formada pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), com vários cursos na área de produção de rádio, Televisão e roteiro para cinemas. É autora do livro São Raimundo: Do "alto" da minha colina - sem os bucheiros o bairro de São Raimundo perdeu o encantamento, publicado em 2008.

Algumas impressões sobre o bairro de Aparecida (Manaus)

Beco Carolina das Neves

A sensação de “voltar” no tempo é uma das melhores que se pode ter. Já a tive várias vezes ao visitar locais históricos da cidade. Em passeio no bairro Nossa Senhora de Aparecida, zona Sul de Manaus, presenciei a continuação de antigos costumes e tradições e também tomei nota sobre as características de algumas ruas e construções. A seguir, minhas impressões sobre os lugares visitados.

Beco Carolina das Neves: Esse é um dos vários becos existentes no bairro e também o mais famoso. As casas são simples, construídas em alvenaria e madeira, a maioria de apenas um andar e algumas aparentando possuir mais de 50 anos. A proximidade das casas é tanta que permite que os vizinhos conversem sem precisar ir para a rua. Nela fica o “Boteko da Fundação”, que recebe este nome por ter sido, em 15 de março de 1980, o local de fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Aparecida, é um típico comércio das antigas, onde é possível encontrar desde a manteiga salgada, “sebo de holanda” e as quase extintas bolinhas de gude.

A "Casa dos Leões". Infelizmente, por ser um péssimo fotógrafo, não consegui enquadrar o terceiro leão.

Beco da Indústria: O que mais me chamou atenção no Beco da Indústria (antigo Chora-Vintém) foi uma residência, que parece ser do início do século passado. Janelas, gradis Art-Nouveau e, em destaque, no muro, as esculturas de três leões. Essa é uma simbologia nobre, que representa as feras em posição de guarda, como se estivessem protegendo a casa. Outras casas antigas podem ser vistas no beco, com um autêntico sobrado português próximo à “casa dos leões”.

Beco Vera Cruz: Sem placa de identificação ou alguma residência suntuosa, o ponto de destaque do Vera Cruz é a proximidade que este tem com o Igarapé de São Raimundo. As poucas casas do local, a maioria delas construída em madeira, ficam, na época da cheia, com a água batendo na porta. Galinhas são criadas livremente no lugar, alimentando-se de capim e dos detritos presentes na água.

Uma parte do Beco Vera Cruz.

Rua Dr. Aprígio: A rua do castelo da Cervejaria Miranda Corrêa, prédio de destaque na paisagem e na História do bairro. No seu início, do lado esquerdo, existe uma fonte de água potável, na qual o líquido sai da boca de uma figura grotesca, semelhante às fontes coloniais existentes nas cidades históricas de Minas Gerais. Do lado direito, um conjunto de 7 residências construídas na década de 1930 para abrigar os altos funcionários da Cervejaria. A última residência, a maior, no sentido de quem vem do Igarapé de São Raimundo, é curiosa. Com decoração mais rebuscada, frontão trabalhado no estilo Art-Nouveau, semelhante às residências históricas do Centro, ostenta a data de 1958, bem posterior à construção das outras casas. As águas do Igarapé de São Raimundo estão desgastando o terreno em que as casas foram erguidas, comprometendo suas estruturas, que correm o risco de desabar. Com a cheia do Rio Negro, uma parte da rua invadida pela água serve para o atraque de canoas e barcos de médio porte.


Rua Dr. Aprígio de Menezes.

Essas foram minhas impressões sobre quatro dos vários lugares pitorescos do bairro. Não foram profundas análises do passado histórico (com algumas exceções necessárias), mas sim a construção de relatos do tempo presente. Recomendo aos que ainda não conhecem visitar o bairro de Aparecida, onde os mais antigos se conhecem e guardam recordações do passado, e a vida ainda parece ser regida pelas cornetas do já inexistente Batalhão do bairro de São Vicente, de forma bem provinciana.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Aprendendo a Identificar os Séculos



O século (cem anos), tradicionalmente identificado por algarismos romanos, é uma unidade de tempo bastante utilizada no ensino da História. Além dessa unidade de tempo, também temos o biênio (dois anos), quinquênio (cinco anos), década (dez anos), quartel (vinte e cinco anos) e milênio (1000 anos). Saber identificar o século é bastante importante para o historiador situar os fatos, o contexto em que estes ocorreram e, principalmente, organizá-los em ordem cronológica. A contagem do tempo é diferente para cada cultura. O calendário muçulmano é diferente do calendário judaico. O Cristianismo, presente na maior parte do mundo, influencia a contagem do tempo da seguinte forma: a . C. (antes de Cristo) e d. C. (depois de Cristo).

Para saber a que século pertence um ano, utilizamos uma conta simples, somando o 1 ao número referente à centena do ano:

- 1895 – 18 + 1 = 19. O ano de 1895 pertence ao século 19.

Quando o ano terminar em zeros, a centena indica o século:

- 1700 – 17 . O ano de 1700 pertence ao século 17.


ANOS/SÉCULOS

1 a 100/ século I
101 a 200/ século II
201 a 300/ século III
301 a 400/ século IV
401 a 500/ século V
501 a 600/ século VI
601 a 700/ século VII
701 a 800/ século VIII
801 a 900/ século IX
901 a 1000/ século X
1001 a 1100/ século XI
1101 a 1200/ século XII
1201 a 1300/ século XIII
1301 a 1400/ século XIV
1401 a 1500/ século XV
1501 a 1600/ século XVI
1601 a 1700/ século XVII
1701 a 1800/ século XVIII
1801 a 1900/ século XIX
1901 a 2000/ século XX
2001 a 2100/ século XXI


FONTES: 

COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. 7° edição, São Paulo, Saraiva, 1994.


BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2° edição, São Paulo, Moderna, 2010.


CRÉDITO DA IMAGEM: www.comoassim.com.br

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Conexões Historiográficas na Antiguidade Grega (Prof. Dr. Auxiliomar Silva Ugarte)

Amigos e amigas leitores, venho por meio deste avisar que estou, por causa das aulas na universidade, sem tempo para escrever artigos bem elaborados. Deixo aqui para vocês um quadro de conexões historiográficas na Antiguidade Grega, que mostra as ligações entre autores daquela região e suas obras. O quadro foi aqui reproduzido com a permissão do Prof. Dr. Auxiliomar Silva Ugarte, do Departamento de História da UFAM.


terça-feira, 17 de março de 2015

Rio de Janeiro "City of Splendour" (documentário de 1936)


Este belo documentário foi filmado no Rio de Janeiro em 1936, quando este ainda era a capital do Brasil. Intitulado Rio de Janeiro "City of Splendour", faz parte da série de documentários The Voice of The Globe, produzidos pelo jornalista e documentarista  norte-americano John A. Fitzpatrick, e distribuídos pela Metro Goldwyn Mayer. A Technicolor, técnica de colorização de filmes em preto e branco, foi utilizada. Nele aparecem cenas do Palácio Monroe, Teatro Municipal, praças e a Avenida Beira Mar.

Palácio Monroe em 1936.


CRÉDITO DA IMAGEM: http://imagesvisions.blogspot.com.br/

domingo, 15 de março de 2015

A História do primeiro segredo de Estado das Américas (por Miguel Angel Arce Peña)

Naylamp, o Deus Pássaro.

Na região do litoral norte do Peru nasceu uma civilização conhecida hoje como Mochica. Ainda não foi descoberta exatamente a procedência desse povo. Teorias acreditam que eles vieram de alguma civilização da Centro América (territórios dominados pelos maias e astecas). Pelo alto conhecimento de navegação eles vieram em embarcações até o território hoje conhecido como Lambayeque. Entre eles veio um jovem príncipe conhecido como Naylamp. Provavelmente eles eram sobreviventes de uma invasão e massacre de seu povo, e procuravam uma nova terra longe dos bárbaros maias ou astecas.
Naylamp conseguiu fazer crescer o novo povo que o acompanhou nesse êxodo, e como toda cultura ocidental eles criaram mitos e lendas de Deuses e deidades. Naylamp era considerado um ser divino em vida, e por ser uma divindade não podia mostrar a seu povo seu lado mortal. Igual à cultura Egípcia, ele fez construir um templo (pirâmide) onde ele colocaria uma imagem de um Deus que ele trouxe consigo de seu antigo povo.
Com o passar do tempo, Naylamp envelheceu, e isso poderia causar confusão nos súditos de seu reinado, pois deuses são imortais. Naylamp, então, decidiu isolar-se até a morte, mas antes se viu na necessidade de sumir, mas sem fazer seu povo perder a crença de que ele era filho dos deuses. Ele, em companhia de seus sacerdotes, foi para o templo onde descansariam seus restos mortais, e lá pensaram em criar uma História pra imortalizar ele e a sua descendência. Depois de muita conversa, decidiram contar a seguinte História: O príncipe Naylamp subiu para o alto de uma montanha, onde aos olhos de seus subordinados (sacerdotes) ele se transformou em um pássaro, e voando falou para eles que continuaria governando e cuidando de seu povo do céu.
Aqueles sacerdotes tinham a obrigação de difundir essa história em todo seu povo e em todos os territórios vizinhos, nascendo assim o primeiro segredo de Estado da História americana.
Depois disso Naylamp se confinou em seu templo onde ele envelheceu e morreu, sendo enterrado ao lado de seus sacerdotes e pessoas mais próximas. O enterro dos reis moches era da mesma maneira que dos faraós egípcios. Os Moches ou Mochicas também acreditavam na vida após a morte. Por anos muito falou-se sobre Naylamp, o Deus Pássaro que do céu cuidava e abençoava seu povo. O neto do Deus Pássaro quis tirar do templo de Naylamp a estátua sagrada dele, e, como consequência caiu uma maldição sobre o seu povo, com muitos dias de chuva, criando uma atmosfera de caos e incertezas. O povo, então, decide castigar aquele neto de Naylamp. Ele foi pego, amarrado e jogado ao mar, dando assim fim a dinastia de Naylamp.


Miguel Angel Arce Peña é natural do Peru, graduado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes de Ayacucho - Peru; Pós-graduado em Métodos do Ensino Superior pela UNINTER (Centro Universitário Internacional) - RO; Assistente em Projetos Elétricos pela ULBRA (Universidade Luterana do Brasil) - RO; e atualmente é professor do Centro Universitário do Norte (UNINORTE) em Exatas e Arquitetura.



CRÉDITO DA IMAGEM: literaturadelperu.wikispaces.com


Amigos leitores e leitoras do História Inteligente, esse é o primeiro texto que me foi enviado para ser publicado aqui no blog. Está interessado? envie seu texto para historiadorcarvalho@gmail.com (com nome e, se quiser, uma foto). Não é obrigado ter formação acadêmica. Apenas envie um texto sobre algum assunto relacionado a História. Os créditos serão todos seus.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Zona Oeste de Manaus: Casarões antigos (1908 e 1913)

No bairro de São Raimundo, na Zona Oeste de Manaus, existem alguns prédios históricos (foram identificados 4), infelizmente abandonados pelo poder público. Se existem prédios caindo aos pedaços dentro da área de tombamento do Centro Histórico, no coração da cidade, imagine em áreas mais afastadas, como a Cachoeirinha e a Praça 14 de Janeiro, por exemplo.

Essas fotos foram feitas no dia 10/02/2014, durante um passeio com a jornalista, escritora e pesquisadora Elza Souza, especialista na História do bairro de São Raimundo. Esse casarão, localizado no bairro anteriormente citado, foi construído em 1908. Fica na rua da Sede. Ainda não se sabe quem mandou construí-lo. A atual moradora já o comprou em péssimo estado de conservação, e atualmente não possui recursos para restaurá-lo. O interior é ricamente decorado com pinturas realizadas na década de 1930. Eu e a pesquisadora Elza Souza vamos fazer uma pesquisa mais apurada e descobrir de quem foi a residência.




Teto da Sala, decorado com motivos florais.

Uma das pinturas que ornamentam a residência.

O segundo casarão, construído em 1913, está localizado na rua 5 de Setembro, perto da ponte Fábio Lucena. Foi, por décadas, residência da família Valentim Normando, cujo membro mais ilustre foi o político Ismael Benigno. Em péssimo estado de conservação, funciona em suas dependências um comércio. A foto abaixo foi retirada do Google Maps em 2012, quando o local funcionava como salão de beleza. Antes de terminar o passeio ainda pude fotografar uma casinha construída entre 1940 e 1950, no bairro da Glória.


Casa construída entre 1940 e 1950, no bairro da Glória.

Espero que os órgãos responsáveis pelo Tombamento Histórico tomem conhecimento da existência dessas construções, que precisam urgentemente de reparos.