sábado, 22 de agosto de 2015

Educandos: 159 anos do Alto da Bela Vista

Estabelecimento dos Educandos Artífices, na antiga Olaria Provincial.

Neste dia 21 de agosto, o bairro de Educandos comemora 160 anos de fundação. Está Localizado na zona Sul de Manaus, em frente ao Rio Negro, limitado pelos bairros de Santa Luzia, Colônia Oliveira Machado, Cachoeirinha (através das pontes Ephigênio Salles e Juscelino Kubitschek) e Centro (ponte Pe. Antônio Plácido de Souza).

A origem desse bairro é ligada à criação do Estabelecimento dos Educandos Artífices, instituição educacional criada através da Lei N° 60, de 21 de agosto de 1856, onde eram ensinados os ofícios de tipografia, sapataria, carpintaria, alfaiataria etc. Estudavam nessa instituição jovens órfãos e de origem humilde. O nome pelo qual o bairro ficou conhecido é uma lembrança do antigo Estabelecimento dos "Educandos". Essa escola foi instalada no prédio da Olaria Provincial, no local conhecido como Barreira de Baixo.

De acordo com o Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município, de 1927, as primeiras ruas do local foram abertas em 1901, num total de 6, sob as ordens do superintendente Dr. Arthur Cezar Moreira de Araujo. Por meio do decreto n° 67, de 22 de julho de 1907, do superintendente interino Coronel José da Costa Monteiro Tapajós, a localidade de Educandos é batizada com o nome de Constantinópolis (Cidade de Constantino), uma homenagem ao governador da época, Constantino Nery.

Ainda com base nesse documento e nas informações do historiador Cláudio Amazonas, em 1908 a Intendência Municipal, sob os comandos do superintendente Domingos José de Andrade, através das Leis N° 487 (29 de fevereiro), 491 (4 de março), 507 (29 de maio) e 538 (9 de dezembro), dá a denominação das primeiras seis ruas que foram abertas no bairro: 

A rua Norte/Sul n°1 passa a chamar-se Boulevard Sá Peixoto, "em homenagem ao sr. Senador Antonio Gonçalves de Sá Peixoto que tão relevantes serviços ha prestado ao Estado do Amazonas e especialmente à cidade de Manáos; As ruas Norte Sul n° 2 e 3 passam a chamar-se monsenhor Amâncio de Miranda e Innocêncio de Araújo; As ruas Leste/Oeste n° 1 e 2 passam a chamar-se Delcídio Amaral e Manuel Urbano; A que poderia ser a Norte/Sul n° 3, seria chamada pelo povo de Boulevard Rio Negro, pois se constitui a faixa marginal o bairro frente ao rio Negro. Quanto à praça, seria batizada de Dr. Tavares Bastos, advogado e político alagoano, morto no dia 3 de dezembro de 1875 em Nice, na França, que, dentre outros feitos importantes de sua vida, inclui-se a luta pela abertura dos portos do Amazonas ao comércio mundial e pela libertação dos escravos.

Após essas pequenas mudanças, Educandos necessitava integrar-se com o restante da cidade, localizada no Centro e na Cachoeirinha. Até então, o contato era feito através das catraias, com seus portos localizados nas ruas Delcídio Amaral e Manoel Urbano. O primeiro porto levava em direção à rua Lima Bacury; o segundo, rua dos Andradas.


Pontes


A integração do Educandos ao restante da cidade se deu por meio das pontes. Ao todo, em sua História, foram construídas três. A primeira começou a ser construída em 1927, no governo de Ephigênio Salles, sendo entregue à população dois anos depois, em 1929. Foi batizada com o nome do referido governador. Com isso, o Educandos estava conectado com o bairro da Cachoeirinha e, através desse, ao Centro.



Em 1° de maio de 1959, o então governador, Gilberto Mestrinho, inaugurava a Ponte Juscelino Kubitschek, que esteve em Manaus para a inauguração. Essa ponte também ligava o bairro à Cachoeirinha. Sua construção se deu pelo aumento da demanda do tráfego na cidade, da ligação com a estrada do Paredão para o aeroporto de Ponta e Pelada e da Refinaria de Isaac Sabbá.




A terceira e última é a Ponte Pe. Antônio Plácido de Souza, que liga o Educandos, através da rua Delcídio Amaral, ao Centro, pela rua Quintino Bocaiuva. Começou a ser construída em 1972, na administração do prefeito Frank Lima, e foi concluída e inaugurada em 18 de outubro de 1975, na administração de Jorge Teixeira. Seu nome é uma homenagem ao primeiro vigário da paróquia de N. S. do Perpétuo Socorro.


Lugares Históricos

Com 159 anos de existência, o bairro possui lugares históricos que valem a pena conhecer.



Av. Leopoldo Péres - Com suas obras iniciadas em 1928 e concluídas em 1929, a "Estrada de Constantinópolis", como era conhecida na época, foi aberta pelos membros da Sociedade Sportiva e Beneficente de Constantinópolis, para facilitar o acesso dos moradores ao bairro da Cachoeirinha, através da ponte Ephigênio Salles. No final da Grande Guerra, com os Acordos de Washington encerrados e a nova queda dos preços da borracha, muitos nordestinos passaram a se alojar em subúrbios da cidade. A Estrada de Constantinópolis passou a ser habitada por essas pessoas, que passaram a instalar no local pequenos comércios. A presença dos nordestinos fez a estrada ficar conhecida como Estrada dos Arigós. Atualmente, a avenida mantém a tradição comercial, com inúmeras lojas de pequeno e médio porte.



Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro - Em 1928, durante as obras da Estrada, foi construída uma pequena capela em madeira, dedicada à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O Pe. Antônio Plácido de Souza assume o Curato Provisório de Constantinópolis, que se tornou, em 15 de dezembro de 1941, Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A estrutura atual, de alvenaria, começou a ser construída em 1946, sendo concluída anos mais tarde. Está localizada na rua Inocêncio de Araujo.


Vila Cavalcante - Uma das primeiras construções em alvenaria do bairro, a Vila Cavalcante, construída em 1912, é um dos últimos prédios históricos do bairro. O nome é de origem de uma rica família de seringalistas do Juruá. Foi adquirida por Manuel Figueiredo de Barros, regatão, que a vendeu em 1935 para o comerciante Joaquim Ferreira da Silva. Em 1924, em suas dependências, funcionou o Grupo Escolar Machado de Assis e, na década de 1930, o escritório dos Correios. Atualmente o prédio pertence à Fundação Santa Catarina, organização religiosa da Igreja Católica. Está localizado no Boulevard Sá Peixoto.


Orla do Amarelinho - O calçadão, de frente para o Rio Negro, é o principal cartão postal do Educandos. De noite, é o point certo dos que querem se divertir nos bares e casas de dança que ficam ao redor. Fato interessante e trágico é que, às 9 horas do dia 2 de abril de 1971, a área que atualmente compreende o Amarelinho desmoronou, consequência de forte tempestade ocorrida um dia antes. Nenhuma pessoa morreu, ocorrendo apenas a destruição das residências de madeira e palha que existiam no local. Está localizado no Boulevard Rio Negro.



Usina Labor - Em 1938, o empresário Isaac Sabbá adquire um grande terreno na Estrada de Constantinópolis, construindo nele a Usina Labor, destinada ao beneficiamento de sorva e borracha. A mão de obra empregada nessa indústria vinha do próprio bairro. Nos anos 1970 foi transformada em Fitejuta, agora funcionando como tecelagem de juta. O prédio é onde funcionou, até 2014, um dos supermercados DB. Fica na Avenida Leopoldo Péres.




FONTES: AMAZONAS, Cláudio. Memórias do Alto da Bela Vista: Roteiro Sentimental de Educandos. Manaus: Norma Propaganda e Marketing, 1996.

Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município. 1927. Administração do prefeito Basílio Torreão Franco de Sá. Disponível em: http://catadordepapeis.blogspot.com.br/2015/08/livro-tombo-da-prefeitura-de-manaus-1.html. Acesso em 22/08/2015.

AMAZONAS, Cláudio. Constantinópolis: Origens e Tradições. Manaus: Edições Muiraquitã, 2008.


CRÉDITO DAS IMAGENS: Skyscrapercity
                                     Educandos, Cidade Alta
                                     Blog do Coronel Roberto
                                     Manaus de Antigamente



terça-feira, 14 de julho de 2015

O Modo de Produção Asiático

Lavoura – Pintura na tumba de Sennedjem.

O Modo de Produção Asiático, termo cunhado por Karl Marx, refere-se ao modo de produção das sociedades do Antigo Oriente Próximo. Temos aí civilizações que floresceram na região do Mar Mediterrâneo e também entre os rios Tigre e Eufrates. O Egito e a Mesopotâmia são os exemplos mais clássicos. O período em que se observa esse modo de produção vai de 4000 a.C. a 3.500 a. C.

Nessa época, o homem, graças ao domínio da agricultura e de outras técnicas de trabalho, já havia passado do nomadismo para o sedentarismo, fixando-se permanentemente em uma região, geralmente próximo à um rio, criando aglomerados urbanos que mais tarde deram origem às cidades-estados.

A economia dessas civilizações era predominantemente agrária. As terras cultivadas pertenciam ao Estado, representado pela figura de um monarca, considerado representante divino na terra. Esse monarca passou a dominar as terras por meio da força. Para poder exercerem suas atividades, os agricultores entregavam ao monarca tributos, formados pelo excedente da produção agrícola. Esse excedente era então dividido entre a nobreza, funcionários de alta patente e sacerdotes.

Esses agricultores estavam em um regime de servidão coletiva, pois para tirar seu sustento da terra, deveria submeter-se ao pagamento dessa "taxa". Além desses tributos, esses trabalhadores também eram deslocados para a construção de canais e irrigação e monumentos.

Antes de se tornar sedentário e mais complexo, o homem vivia em comunidades tribais divididas em caçadores (homens) e coletores (mulheres), onde os alimentos adquiridos eram distribuídos de forma igualitária entre os componentes da comunidade.

No Modo de Produção Asiático, temos grandes comunidades agrícolas sedentárias submetidas à um poder centralizador, o monarca (Estado), que se apropria do excedente de produção - Despotismo Oriental -  e marcada pela divisão social entre dominadores e dominados. Além da força e da religião, o Estado utilizava como instrumento de dominação a escrita, destinada à um pequeno grupo de funcionários públicos que controlavam a produção e recolhiam os tributos.

O nome "Modo de Produção Asiático" é uma referência à observação feita por Karl Marx, que registrou que, em alguns países da Ásia do século XIX, ainda existia uma economia dominada por um chefe tribal, em oposição ao liberalismo econômico da Europa.

Em síntese, podemos entender o Modo de Produção Asiático como uma forma de economia do Antigo Mundo Oriental marcada por forte intervenção estatal, quase inexistência de propriedade privada e pelo surgimento das divisões de classes.


CRÉDITO DA IMAGEM: antigoegito.org



sábado, 4 de julho de 2015

O que diferencia a História das demais Ciências Humanas?



Essa foi uma das perguntas da prova de Teoria da História, matéria lecionada pelo prof Almir de Carvalho Júnior. É uma pergunta interessante, se levarmos em conta que no centro das Humanidades, está o homem. Compartilho aqui com vocês a minha resposta.

Primeiro, devemos tomar conhecimento de que cada campo disciplinar possui sua singularidade, isto é, um aspecto que lhe torna único. O Direito, por exemplo, estuda o funcionamento das leis em sociedade. Essa é a singularidade desse campo. O objeto de estudo do Direito são as leis.

A História como ciência tem por objeto de estudo o homem. O sujeito é, ao mesmo tempo, objeto de estudo. Mas outras Ciências Humanas, como a Antropologia e a Sociologia, também possuem o mesmo objeto de estudo.

O que torna a História diferente das demais Ciências Humanas é a forma como esta explora e analisa seu objeto: A História estuda as ações do homem no tempo, utilizando como fontes os vestígios por ele deixado - materiais, imateriais etc; e utiliza para a construção de seu discurso um variado arcabouço de Teorias.

O que diferencia, enfim, a História das demais Ciências Humanas, é o pano de fundo em que seu objeto de estudo (o homem) está inserido, nesse caso, o Tempo.

Um dos livros lidos para a realização da prova e que também recomendo é: Teoria da História - princípios e conceitos fundamentais (Vol. 1), de José D' Assunção Barros.


CRÉDITO DA IMAGEM: curiososlinks.com.br



segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Espião do Rei (dica de leitura)



Título: O Espião do Rei
Autor: Mário Ypiranga Monteiro
Número de páginas: 335
Local e data: Manaus, 1950


O Espião do Rei é um romance histórico-ficcional, lançado em 1950 pelo professor, advogado, escritor e pesquisador amazonense Mário Ypiranga Monteiro. A trama se desenvolve em 1820, em Manaus, então Vila da Barra naqueles longínquos anos 20 do século 19. Com incríveis descrições histórico-geográficas, esse romance é marcado por intrigas, traições e jogo de interesses, característicos de uma sociedade dividida entre a continuidade da Monarquia Portuguesa e a Independência do Brasil. O contexto amazônico durante esse processo de independência ainda é pouco estudado.

O livro foi reeditado em 2002 pela Editora Valer.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Historiadores Gregos I: Heródoto de Halicarnasso (obra, metodologia e linguagem)


1. Introdução

Heródoto de Halicarnasso (Herodotus Halicarnassus, circa 484 - 425 a.C.) foi um historiador grego, eternizado pelas palavras de Marco Túlio Cícero como o "Pai da História". Esse grande historiador da Antiguidade, nascido na colônia grega de Halicarnasso, na Ásia Menor, teve sua vida marcada por duas grandes guerras: As Guerras Médicas, entre gregos e persas; e a Guerra do Peloponeso, entre diferentes cidades-estado gregas, com destaque para Esparta e Atenas.

Destas duas guerras, Heródoto passou a buscar as causas das Guerras Médicas, conflitos ainda "frescos" nas memórias de gregos e persas. Talvez, essa escolha tenha partido pela importância do conflito, que contribuiu para o fortalecimento econômico, político e militar da Grécia; e pelo contato que o historiador teve com diferentes povos na Ásia Menor. Heródoto foi o primeiro historiador a utilizar a palavra História (historíe, em dialeto jônico) com o sentido de indagar, investigar as causas dos feitos contemporâneos. Ele deixa isso explícito na introdução de sua obra, História:

"Esta é a exposição da investigação feita por Heródoto de Halicarnasso para que nem os feitos dos homens, com o tempo, se reduzam ao esquecimento, nem as obras grandes e admiráveis - tanto as realizadas pelos gregos quanto as realizadas pelos bárbaros - fiquem sem glória e as demais coisas por causa das quais foi o motivo de guerrearem uns com os outros".

Heródoto, assim como outros historiadores da Grécia Antiga, foi exilado. Esse exílio (cumprido em Samos) seu deu após uma tentativa frustrada de derrubar do trono grego o tirano Lígdamis I. Foi durante esse "castigo" que Heródoto viajou e colheu relatos nas principais cidades e regiões da época: Egito, Mesopotâmia, Fenícia, Magna Grécia, Sicília, Scitia, Ásia Menor e Atenas. Não se sabe em que ordem e nem se realmente todas as cidades mencionadas em sua obra foram visitadas. Após essa breve explanação sobre Heródoto, vamos compreender como se divide a obra, a metodologia empregada para a sua realização e a linguagem utilizada.

2. O Conteúdo da obra

A principal obra de Heródoto, História, foi dividida pelos gramáticos alexandrinos em 9 livros, cada um recebendo o nome de uma das musas gregas: Livro I - Clio (musa da História); Livro II - Euterpe (musa da Música); Livro III - Tália (musa da Comédia); Livro IV - Melpômene (musa da Tragédia); Livro V - Terpsícore (musa da Dança); Livro VI - Erato (musa da Poesia Lírica); Livro VII - Polímnia (musa da Música Sacra); Livro VIII - Urânia (musa da Astronomia e da Astrologia); Livro IX - Calíope (musa da Eloquência). Os assuntos abordados em cada livro são:

Livro I: As origens do Império Persa e a descrição dos povos e regiões que o formavam.
Livro II: A ascensão de Cambises, filho de Ciro, fundador do Império Persa e a descrição geográfica, histórica, cultural e religiosa do Egito.
Livro III: Continuação da descrição do Egito, a invasão dessa região pelas tropas de Cambises, as tentativas do monarca em invadir outros territórios, a morte de Cambises e a organização política e econômica do Império Persa.
Livro IV: As campanhas militares de Darío e a descrição das regiões e povos conquistados no processo: escitas, getas, saurómatas etc.
Livro V ao IX: Após abordar a formação do Império Persa e descrever os diferentes aspectos das regiões e povos incorporados a ele, o historiador começa de fato a falar das Guerras Médicas, elencando os fatores que levaram Darío a invadir a Grécia.

Antes de dar início à descrição das causas que motivaram as Guerras Médicas, Heródoto se empenha em descrever as regiões e os povos que englobavam e que foram conquistados pelo Império Persa. Para tal, utilizou conhecimentos em Hidrografia, Botânica, Economia, Política etc, tornado-se, de acordo com José Luís Romero, o precursor de uma História Cultural. O autor também revoluciona ao não deixar a mitologia interferir, apenas em casos necessários, na totalidade de sua narrativa.

3. Metodologia

Para produzir sua obra, Heródoto utilizou três métodos: ópsis, historíe e gnóme. A Ópsis é a observação pessoal, o que foi visto pelo autor durante suas viagens (Geografia, costumes e monumentos); A Historíe é a indagação, a pesquisa acerca do que se quer saber, feita mediante o recolhimento de fontes documentais e principalmente as orais. O autor, quando se refere aos relatos de terceiros, utiliza expressões como "de acordo com", "segundo tal pessoa". Foram consultados registros governamentais, listas administrativas e obras de outros autores. Diferente dos antigos escritores, que apenas compilavam em suas obras diversas informações, sem irem em busca de suas veracidades, Heródoto adota uma postura crítica em relação aos dados obtidos, comparando suas informações e, em alguns trechos de seu livro, demonstra não crer totalmente sobre determinada informação:

"Eu, por minha parte, devo dizer o que me disseram, porém não sou obrigado a acreditar totalmente nisso; tenha isso em conta para o conjunto de minha obra".

A narrativa da obra não segue uma linha cronológica definida. Como unidade de tempo são utilizados os cálculos por gerações (cada uma com duração de 30 a 35 anos; três gerações, 100 anos); como principal referencial para os tempos remotos, a Guerra de Tróia; e o Arconte Epónimo, uma espécie de cargo político com duração de 10 anos, indicado pelo nome de um nobre. Heródoto tinha uma visão cíclica da História, isto é, com início, meio e fim previsível.


4. Linguagem

A escrita de Heródoto é produzida a partir do dialeto jonio, herança dos logógrafos, e do dialeto ático. Seu estilo é marcado pela acumulação de orações, do tipo coordenativo e subordinada, combinadas entre si por seus conteúdos e por verbos de ligação, pronomes, adjetivos e advérbios anafóricos. Também é muito recorrente a repetição de palavras em diferentes orações ou parágrafos; e o uso do discurso direto (com as palavras do próprio autor) e do discurso indireto (através do narrador ou de alguma outra pessoa).


Aos interessados, a obra está disponível no site eBooksBrasil, na célebre versão do historiador francês Pierre-Henri Larcher (1726-1812). No Brasil, o advogado acriano Mário da Gama Kury, considerado o maior tradutor brasileiro de clássicos, foi o responsável por traduzir essa obra para o português (o livro foi editado pela Universidade de Brasília).


sábado, 20 de junho de 2015

A Insustentável Leveza de Tanta Primavera (crônica de Ellza Souza)


Velhice. Um estágio, uma etapa. Não tem para onde "correr", ela sempre nos alcança. Não é um bicho de sete cabeças, mas sim uma primavera, como bem expressa a crônica da leitora e amiga Ellza Souza, que trata essa etapa da vida com muito humor e energia. Sobre a História da velhice, recomendo o livro História da Velhice no Ocidente, do historiador francês Georges Minois (edição em português, 1999). Leiam abaixo a crônica de Elza Souza.

Fazia tempo que meu aniversário não "caía" no domingo, um dia que adoro, que é azul, em que o mato é mais verde, em que o mundo é mais calmo. Agora que o Celdo me confirmou que na Amazônia tem sim primavera, posso me regozijar com as minhas também e distribuir com vocês para não ficar tão pesado esse buquê. Convenhamos que mesmo sendo primavera que implica em beleza e flores, que pesa, pesa.


Amanheci com a sensação do peso de tantas primaveras. Com a sensação de quem está mais pra lá do que pra cá. Lógico que é assim e tem que ser assim pois o tempo não para e precisamos subir aos céus para dar lugar a outros, quem sabe nós mesmos em outra configuração.

Ao chegar na 61ª. primavera da minha existência percebo com clareza o que chamam por aí de “melhor idade”. Apesar de estar apenas começando uma nova etapa de vida, todos já te olham como se estivesse no fim. E o pior como se não tivesse mais capacidade de pensar e de ser feliz. Claro que não me refiro aos parentes e amigos mas aos que correm por fora. No ônibus, por exemplo, quando precisamos correr com a carteirinha para provar o que está na cara e no corpo todo. É meus amigos, a pele afrouxa, o bucho cresce, o braço engrossa, as pestanas acho que já eram. O olhar perde a tonalidade, o viço. Aí lascou-se. Vai-se formando todo o jeitinho de uma simpática velhinha bondosa, mas gagá, segundo os “por fora” como disse antes.

As dificuldades são muitas e precisa de grande esforço para continuar. Ao fazer 50 anos escrevi por aí que nunca ia usar uma bata pois achava que era roupa de velha. Mas confesso que tenho reavaliado as ditas vestimentas. E estou olhando-as com outros olhos e dando preferência as de manga longa e gola role. Captou? Não que ache feia a velhice. Acho que existe beleza numas preguinhas bem feitas mas que pesa, pesa e vou me preparar para a minha primeira bata, que ninguém é eterno.

De tudo que vivi até aqui o melhor foi o amor que tenho pelos meus filhos, Suzana e Eduardo, o convívio com meus familiares e esses encontros que de vez quando fazemos com as pessoas que gostamos e admiramos. Vocês. Uns mais outros menos na “melhor idade” e como a melhor idade é a idade que cada um vive vamos mesmo é aproveitar momentos como esse e enriquecer a VIDA de boas histórias.

Desculpem a xaropada...mas é o que gosto de fazer: escrever. E na melhor idade ganhei o direito de fazer o que gosto nem que os que correm por fora achem que “velho não faz isso ou aquilo”. Não faz se não quiser, amigos.  Vamos fazer: amor, amizade, solidariedade, bondade. Vamos dançar, rebolar, contar piada, rezar, conversar, ler, ouvir música. Pronto já nem estou sentindo mais o peso das 61 primaveras e sim estou envolvida na leveza das 16. Essa é a leveza que devemos preservar até a primeira bata.




Ellza Maria Pereira Souza é Jornalista formada pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), com vários cursos na área de produção de rádio, Televisão e roteiro para cinemas. É autora do livro São Raimundo: Do "alto" da minha colina - sem os bucheiros o bairro de São Raimundo perdeu o encantamento, publicado em 2008.

Algumas impressões sobre o bairro de Aparecida (Manaus)

Beco Carolina das Neves

A sensação de “voltar” no tempo é uma das melhores que se pode ter. Já a tive várias vezes ao visitar locais históricos da cidade. Em passeio no bairro Nossa Senhora de Aparecida, zona Sul de Manaus, presenciei a continuação de antigos costumes e tradições e também tomei nota sobre as características de algumas ruas e construções. A seguir, minhas impressões sobre os lugares visitados.

Beco Carolina das Neves: Esse é um dos vários becos existentes no bairro e também o mais famoso. As casas são simples, construídas em alvenaria e madeira, a maioria de apenas um andar e algumas aparentando possuir mais de 50 anos. A proximidade das casas é tanta que permite que os vizinhos conversem sem precisar ir para a rua. Nela fica o “Boteko da Fundação”, que recebe este nome por ter sido, em 15 de março de 1980, o local de fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Aparecida, é um típico comércio das antigas, onde é possível encontrar desde a manteiga salgada, “sebo de holanda” e as quase extintas bolinhas de gude.

A "Casa dos Leões". Infelizmente, por ser um péssimo fotógrafo, não consegui enquadrar o terceiro leão.

Beco da Indústria: O que mais me chamou atenção no Beco da Indústria (antigo Chora-Vintém) foi uma residência, que parece ser do início do século passado. Janelas, gradis Art-Nouveau e, em destaque, no muro, as esculturas de três leões. Essa é uma simbologia nobre, que representa as feras em posição de guarda, como se estivessem protegendo a casa. Outras casas antigas podem ser vistas no beco, com um autêntico sobrado português próximo à “casa dos leões”.

Beco Vera Cruz: Sem placa de identificação ou alguma residência suntuosa, o ponto de destaque do Vera Cruz é a proximidade que este tem com o Igarapé de São Raimundo. As poucas casas do local, a maioria delas construída em madeira, ficam, na época da cheia, com a água batendo na porta. Galinhas são criadas livremente no lugar, alimentando-se de capim e dos detritos presentes na água.

Uma parte do Beco Vera Cruz.

Rua Dr. Aprígio: A rua do castelo da Cervejaria Miranda Corrêa, prédio de destaque na paisagem e na História do bairro. No seu início, do lado esquerdo, existe uma fonte de água potável, na qual o líquido sai da boca de uma figura grotesca, semelhante às fontes coloniais existentes nas cidades históricas de Minas Gerais. Do lado direito, um conjunto de 7 residências construídas na década de 1930 para abrigar os altos funcionários da Cervejaria. A última residência, a maior, no sentido de quem vem do Igarapé de São Raimundo, é curiosa. Com decoração mais rebuscada, frontão trabalhado no estilo Art-Nouveau, semelhante às residências históricas do Centro, ostenta a data de 1958, bem posterior à construção das outras casas. As águas do Igarapé de São Raimundo estão desgastando o terreno em que as casas foram erguidas, comprometendo suas estruturas, que correm o risco de desabar. Com a cheia do Rio Negro, uma parte da rua invadida pela água serve para o atraque de canoas e barcos de médio porte.


Rua Dr. Aprígio de Menezes.

Essas foram minhas impressões sobre quatro dos vários lugares pitorescos do bairro. Não foram profundas análises do passado histórico (com algumas exceções necessárias), mas sim a construção de relatos do tempo presente. Recomendo aos que ainda não conhecem visitar o bairro de Aparecida, onde os mais antigos se conhecem e guardam recordações do passado, e a vida ainda parece ser regida pelas cornetas do já inexistente Batalhão do bairro de São Vicente, de forma bem provinciana.