quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Nos tempos da Rua do Imperador

Rua Marechal Deodoro, antiga Rua do Imperador. Cartão postal de 1918. FONTE: Manaus Sorriso.

A rua Marechal Deodoro, no Centro de Manaus, é famosa pelo movimentado comércio, sendo popularmente conhecida como rua do Bate Palma, em referência à forma como os vendedores divulgam seus produtos. Há mais de 150 anos, quando Manaus era capital da Província do Amazonas, seu nome era outro: Rua do Imperador, em homenagem ao Imperador Dom Pedro II (1825-1891). No presente texto, por ocasião da comemoração da Elevação do Amazonas à categoria de Província (a instalação ocorreu apenas em 01/01/1852), recupero a história dessa que foi uma das principais ruas da cidade naquele período.

A então rua do Imperador tinha início na Rua da Boa Vista (Marquês de Santa Cruz), estendendo-se até a Rua Brasileira (Avenida Sete de Setembro). Até 1870 ela tinha um aspecto acanhado, principalmente pela ausência de calçamento. Em 1868 a Câmara Municipal abriu a concorrência para o serviço de calçamento da Rua do Imperador, do canto da Praça Riachuelo até a Rua da Boa Vista:

"A camara municipal desta cidade, faz publico que tem de mandar calçar a rua do Imperador a começar do canto da praça de Riachuelo até encontrar a rua da Boa-Vista, pelo mesmo systema empregado no calçamento da rua Brasileira [...]

As pessoas que se quezerem propor a taes obras, deverão remetter suas propostas em carta feixada á secretaria da camara até o dia 16 de setembro, quanto ao calçamento da rua do Imperador". (AMAZONAS, 06/09/1868).

Concorreu, inicialmente, a firma Mesquita & Irmãos. Em 1869, em 08 de março, foi aberta uma nova concorrência, saindo vencedora a proposta de José Pereira de Sousa & Cia. O calçamento, com pedras botija, foi concluído apenas em 1870. 

Na Rua do Imperador ficavam os principais estabelecimentos comerciais da cidade, as grandes oficinas tipográficas e as repartições públicas. Os anúncios comerciais publicados em jornais entre as décadas de 1860 e 1880 são bastante reveladores da importância dessa via pública. Pode-se dizer, sem exageros, que a rua do Imperador foi uma congênere regional da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, centro da agitada Corte Imperial.

Os principais estabelecimentos comerciais dessa rua na época (1860-1889) eram os de Mesquita & Irmãos, de produtos variados (tecidos, ferragens, chapéus, aluguel de escravos etc); o Centro Comercial Amazonense, de José Teixeira de Souza Cia, de produtos variados (tecidos, ferragens, armas etc); a loja de fazendas e miudezas de Salomão Brun & Cia; o Bazar de Paris; o Empório Europeu; a loja de Moura Ferro & Cia; a Loja Esperança, de Bernardo Truão; o armazém de Leão Israel & Irmão; a oficina de alfaiate Tesoura Fluminense, de Antonio Cantizano; a oficina de barbeiro de Severo Caracciolo; a Tabacaria Amazonense, de Luitgard & Cia; o Café Chic, de Isidoro José da Silva; a botica de J. B. Rodrigues; a Farmácia e Drogaria Central, de J. F. Pedrosa; a Olaria Nazareth das Lages, de Machado e Silva & Cia; o Hotel Amazonas, de Demetrio Antonio Peixoto; o Hotel das Nações, de Oliveira & Mattos; o Hotel do Comércio; a tipografia do Jornal do Amazonas; do jornal A Voz do Amazonas; de Antônio Fernandes Bugalho; a oficina de sapateiro e posteriormente loja de calçados nacionais e estrangeiros de Francisco Euzebio de Souza; de repartições públicas, o Correio Geral; o Palácio do Governo (depois Tesouraria e Alfândega); a Chefatura de Polícia; e o Vice-Consulado Português; e educacionais, o Colégio Santa Rita.

A Rua do Imperador era bastante valorizada, sendo encontrados diversos anúncios de vendas de casas e terrenos para abrigar famílias ou receber empreendimentos. A Rua do Imperador reunia em sua extensão o melhor que podia ser encontrado na Província do Amazonas em comércio e serviços, de brasileiros e estrangeiros.

Com o golpe militar que proclamou a República em 15 de novembro de 1889, a mudança de nome era mais do que certa. Entre 1890, conforme pesquisa do historiador Mário Ypiranga Monteiro, uma nova nomenclatura foi proposta pelo intendente Pedro Guilherme Alves da Silva em 11 de novembro, referendada pelo superintendente José Carlos da Silva Teles na mesma data (MONTEIRO, 1998, p. 204). Ela foi renomeada como Rua Marechal Deodoro, em homenagem ao Marechal Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), figura central dos movimentos republicanos e primeiro Presidente da República. No entanto, o nome Rua do Imperador, pelo menos em alguns periódicos, perdurou até 1894, o mesmo podendo ter ocorrido com a população, a ela referindo-se por um bom tempo com o antigo nome.

Seguem abaixo alguns anúncios comerciais de estabelecimentos que ficavam na antiga Rua do Imperador:


Para curar as sezões, febres intermitentes ou periódicas, as pessoas poderiam encontrar as pílulas ante-periódicas do Dr. Lemos na botica de J. B. Rodrigues, na Rua do Imperador. FONTE: O Catequista, 1869.

Julio Antonio Pereira dos Santos & Irmão anunciavam no jornal Amazonas ter para vender um terreno na Rua do Imperador, com fundos para o igarapé. FONTE: Amazonas, 1872.

Em 1875 o dentista norte-americano João Dix Weatherly veio do Pará oferecer seus serviços em Manaus, estabelecendo-se na Rua do Imperador por um mês. FONTE: Jornal do Amazonas, 1875.

O Bazar de Paris, loja de roupas e tecidos estabelecida na Rua do Imperador, frequentemente realizava liquidações a preços módicos. FONTE: Jornal do Amazonas, 1877.

Uma das grandes novidades do período provincial, em Manaus, foi a inauguração, em 16 de dezembro, do Restaurante Dois Amigos, de Ferreira & Guimarães, na Rua do Imperador. Além de servir o que havia de melhor na culinária, fazia entregas a domicílio. FONTE: Jornal do Amazonas, 1882.


FONTES:

Amazonas, 06/09/1868.
O Catequista, 1869.
Amazonas, 1872.
Jornal do Amazonas, 1875.
Jornal do Amazonas, 1877.
Jornal do Amazonas, 1882.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998. (Acervo de Eros Augusto Pereira da Silva).

domingo, 1 de setembro de 2019

Cemitério São João Batista: Túmulo de Lourença do Rego Barros

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

O túmulo de Lourença do Rego Barros está localizado na quadra 04 do Cemitério São João Batista, fazendo parte do conjunto de monumentos funerários que pertenciam ao antigo Cemitério de São José, desativado em 1891.

Não se tem muitas informações sobre Lourença do Rego Barros e sua família. Seu túmulo é uma obra clássica, tendo apenas o epitáfio e data de falecimento da homenageada:

"Aqui jazem os restos mortaes de Lourença do Rego Barros fallecida a 8 de maio de 1887. Recordação saudosa de seus filhos nettos".

Seu túmulo tem dimensões monumentais, sendo construído inteiramente com mármore de Lioz. De estilo Neoclássico, ele consiste em um conjunto de figuras: uma pranteadora sobre uma urna coberta com um manto e encimada por uma coruja. Esse conjunto está ladeado por duas colunas dóricas que sustentam o frontão triangular com a imagem de um medalhão com uma cruz envolto por galhos com folhas. No acrotério central possivelmente existia uma cruz.

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

Sobre as pranteadoras, diz a historiadora Luiza Fabiana Neitzke de Carvalho, em estudo sobre suas representações no Cemitério Evangélico de Porto Alegre entre 1890 e 1930, que elas são:

"[...] figuras femininas, representadas segundo as diretrizes formais clássicas. Aparecem com ou sem signos cristãos, portanto podem se encaixar como signo proveniente da antiguidade clássica ou ainda amalgamado, quando são representadas com cruzes ou flores do repertório cristão. As pranteadoras algumas vezes são caracterizadas remetendo a figura da Virgem Maria ou seguindo o padrão do anjo cristão, de túnica longa e de expressão pouco sentimental". (CARVALHO, 2009, p. 103).

A urna sobre a qual está chorando e refletindo simboliza o fim daquela vida. A coruja, ave noturna, é desde a Antiguidade, no contexto mortuário, associada à solidão e a tristeza. No entanto, dependendo do homenageado, de sua ocupação em vida, a coruja também significa inteligência e sabedoria.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, Luiza Fabiana Neitzke. A Antiguidade Clássica na Representação do Feminino: Pranteadoras do Cemitério Evangélico de Porto Alegre (1890-1930). Dissertação (Mestrado em História, Teoria e Crítica da Arte). Instituto de Artes - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Teatro Amazonas: De templo das artes a depósito de borracha

Teatro Amazonas. FONTE: Revista Sombra, RJ, abril de 1940.

O Teatro Amazonas, localizado no Centro Histórico de Manaus, já teve seus altos e baixos. Entre fins do século XIX e início do século XX, quando foi concluído e entrou em atividade, viveu sua fase de ouro, atraindo artistas nacionais e estrangeiros. Com a crise econômica se anunciado desde fins da década de 10 do século XX, o teatro passou a receber companhias e artistas pouco famosos, sofrendo com o desgaste da estrutura e a péssima manutenção, apesar dos esforços de administrações como a do Governador Ephigênio Salles (1926-1929). Na década de 1930 ele entrou em decadência total. Uma luz de esperança acendeu com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, apesar de sua utilização com fins não artísticos. Com o bloqueio do Japão das colônias asiáticas que produziam borracha, matéria prima necessária na indústria armamentista, os Aliados voltaram seus olhos para a Amazônia. O Teatro Amazonas voltou a ter uso, dessa vez como sede da 'Rubber Reserve Company', depósito de borracha endereçada aos Aliados. Recupero a seguir um texto da época sobre essa fase do teatro, publicado em 1943 no Jornal do Comércio:


Teatro Amazonas, marco histórico de uma trajetória luminosa

Dos aplausos com que se imortalisaram genios á função mais nobre e mais utilitaria ao esforço de guerra

Intimamente ligada ao ciclo da borracha, em seus diversos estagios, a vida da suntuosa casa de arte

Poucos, pouquissimos edificios, no Brasil, teem tido uma historia tão movimentada, um destino tão glorioso como o que fora reservado ao Teatro Amazonas.

Construido na época do excesso das rendas estaduais, por determinação de uma lei votada na Assembleia Provincial, teve de vencer as difficuldades surgidas em diferentes oportunidades, até sua conclusão integral, efetuada na administração Pensador, em 1892*. Podemos nos gabar de possuir um teatro sui generis, o primeiro construido no Brasil para a sua finalidade. O Teatro Amazonas não somente constitue, um padrão de orgulho para a nossa terra. E' o marco de uma trajetoria luminosa que estacou ali, esgotados os nossos recursos pela inexoravel queda do padrão economico estadual. Podemos referir, portanto, toda a sua existencia, em 3 fases: surgimento, declinio e utilidade. São 3 fases distintas, que merecem estudadas de per si. O surgimento vai da promulgação da lei n°. 546, de junho de 1881, autorizando a construção do predio, até a desvalorisação progressiva do "ouro negro". Porque é curioso observar-se que a vida do teatro está intimamente ligada ao ciclo da borracha.

A segunda fase, menos interessante, vai aos nossos dias, finalizando com os acontecimentos que arrastaram o Brasil á declaração de guerra. Dai nasce a 3° fase.

No primeiro periodo de sua deslumbrante existencia, o Teatro Amazonas recebeu a visita dos melhores artistas do mundo, a exemplo do grande tragico Giovanni Emmanuel, que ali representou o "Hamlet", o "Othelo", etc. Companhias de ópera eram contratadas na Italia e vinham diretamente representar para a platéa seleta do Amazonas. Para custear as despezas com a montagem das peças, recebia o Teatro, por temporada, a quantia de Cr. $ 100.000,00, o que naquele tempo representava uma fortuna.

O Teatro possuia, até pouco tempo, a sua propria uzina de luz, localizada ao lado, na rua 10 de Julho.

Passaram sob aqueles arcos em triunfo, gênios da ribalta e da musica, como Dangeville, Gallignani, Giovanni Emmanuel, Guiomar Novais, Bidu' Sayão, Zerda, Amelia Lupiculla, Leopoldo Fróes, Renato Vianna e outros que a historia esqueceu...

Decrescendo o prestigio economico da borracha, foi o velho monumento ficando a margem, isolado no seu secundarismo, proibido de funcionar pela absoluta falta de elementos artisticos capazes de se arriscarem a um fracasso de bilheteria. Passou o monumento historico. Transformaram-no depois. Arrancaram-lhe os derradeiros vestigios daquela nobreza. Os veludos, [...] os brocados, as franjas, as poltronas arcaicas, tudo que documentava o seu passado de riqueza e esplendor, e que constituia recordação carissima, desapareceu, eliminado pela necessidade de uma reforma intransigente. A patina do tempo aureolou de velhice os laureis do consagrado monumento. Foi preciso lavar os sintomas que ocultavam a decadencia do templo e a decadencia do espirito e da arte. A maquilage, longe de ocultar o disfarce, poz a nu a verdade: o glorioso Teatro, cujas paredes estremeceram aos aplausos freneticos com que se imortalizaram tantos genios, estava sendo utilizado apenas por companhias de 3° ordem e por conjuntos regionais deficientes, escondendo nesses momentos de vida a sua decadencia, imortalizando qualquer meio-gênio fracassado que aparecesse na ribalta.

A reação, no entanto, não demorou, com um decreto que tinha a inexorabilidade do fatalismo: proibir que representassem no Teatro Amazonas companhias não devidamente licenciadas pelo Serviço Nacional de Teatro.

Acabou-se a 2° fase. O Teatro Amazonas fechou definitivamente as suas portas para os talentos mediocres e as companhias de revista. Foi mais ou menos nessa situação que o veio encontrar a conflagração, rasourando a face da terra, semeando a morte e a miseria. O Brasil, aceitando em difinitivo a situação creada pelo inimigo, integrava-se no conflito. E' então que o Teatro Amazonas, que durante meio seculo ouviu estrugir em suas arcadas as vozes dos gênios, passou, com o ressurgir da economia do vale, a aceitar uma outra função, a função mais nobre e mais utilitaria ao esforço de guerra das nações unidas: passou a funcionar, num dos seus amplos departamentos, a "Rubber Reserve Company". Por um capricho curioso, o mesmo fator economico que lhe deu vida e glorias inesqueciveis, o mesmo fator economico, novamente agitado nesta hora de tremendos cataclismos sociais, tenta reabilitar a Amazonia, e é ali naquelas salas silenciosas que os soldados da democracia, que nos veem ajudar a vencer a crise economica da borracha, estudam e traçam os caminhos retos que deveremos palmilhar para conseguir a vitoria do Brasil e do espirito sobre o imperialismo doentio.


FONTE:

Jornal do Comércio, 14/02/1943.


* O teatro foi inaugurado em 31 de dezembro de 1896, com as obras se arrastando por mais alguns anos. Trata-se de um erro da publicação original.





quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Educandos: O Alto da Bela Vista

Bairro de Educandos. Foto de Silvino Santos. FONTE: Manaus de Antigamente.

O presente texto é uma tentativa de síntese da História do tradicional bairro de Educandos, localizado zona Sul de Manaus, em frente ao Rio Negro, fazendo fronteira com os bairros de Santa Luzia, Colônia Oliveira Machado, Cachoeirinha e Centro.

A origem do tradicional e pitoresco bairro de Educandos, na zona Sul de Manaus, está ligada à criação do Estabelecimento dos Educandos Artífices, instituição criada através da Lei N° 60, de 21 de Agosto de 1856, na administração do Presidente da Província João Pedro Dias Vieira. Nesse local eram ensinados os ofícios de tipografia, sapataria, carpintaria, alfaiataria etc a jovens órfãos e de origem humilde. 

Estabelecimento dos Educandos Artífices, instalado na antiga Olaria Provincial. FONTE: Manaus Sorriso.

De acordo com o Relatório da Comissão Organizadora do Tombo dos Próprios do Município, de 1927, as primeiras ruas do local foram abertas em 1901, num total de 7, sob as ordens do Superintendente Dr. Arthur César Moreira de Araújo. Por meio do Decreto N° 67, de 22 de julho de 1907, do Superintendente interino Coronel José da Costa Monteiro Tapajós, a localidade de Educandos é batizada com o nome Constantinópolis (Cidade de Constantino) em homenagem ao Governador Antônio Constantino Nery.

Ainda com base nesse documento e nas informações do historiador Cláudio Amazonas, em 1908 a Intendência Municipal, na gestão de Domingos José de Andrade, através das Leis N° 487, de 29 de fevereiro; 491, de 04 de março; 507, de 29 de maio; e 538, de 09 de dezembro, dá a denominação das primeiras seis ruas que foram abertas no bairro:

"A rua Norte/Sul n°1 passa a chamar-se Boulevard Sá Peixoto, em homenagem ao sr. Senador Antonio Gonçalves de Sá Peixoto que tão relevantes ser ha prestado ao Estado do Amazonas e especialmente à cidade de Manáos; As ruas Norte Sul n° 2 e 3 passam a chamar-se monsenhor Amâncio de Miranda e Innocêncio de Araújo; As ruas Leste/Oeste n° 1 e 2 passam a chamar-se Delcídio Amaral e Manuel Urbano; A que poderia ser a Norte/Sul n° 3, seria chamada pelo povo de Boulevard Rio Negro, pois se constitui a faixa marginal o bairro frente ao rio Negro. Quanto à praça, seria batizada de Dr. Tavares Bastos, advogado e político alagoano, morto no dia 3 de dezembro de 1875 em Nice, na França, que, dentre outros feitos importantes de sua vida, inclui-se a luta pela abertura dos portos do Amazonas ao comércio mundial e pela libertação dos escravos".

Após essas significativas transformações, o bairro precisa integrar-se ao restante da cidade, comunicando-se com os principais estabelecimentos comerciais e repartições públicas localizadas no Centro da cidade. Até então o contato era feito através das catraias, com seus portos localizados nas ruas Delcídio Amaral e Manoel Urbano. O primeiro porto levava em direção à rua Lima Bacury; o segundo, à rua dos Andradas.

A integração veio através das pontes. Ao todo, foram construídas três em diferentes períodos. A primeira começou a ser construída em 1927 no governo de Ephigênio Ferreira Salles, sendo entregue à população em 1929. Ela ligava o bairro de Educandos ao da Cachoeirinha e, através deste, ao Centro. Três décadas mais tarde, em 01° de maio d 1959, o Governador Gilberto Mestrinho inaugurava a Ponte Juscelino Kubitschek, que esteve em Manaus para a inauguração. Ela também ligada o Educandos à Cachoeirinha, tendo sido erguida dado o aumento do tráfego naquela região. Em 1972 começou a ser construída a terceira ponte, nomeada Pe. Antônio Plácido de Souza. Ela liga o bairro através da rua Delcídio Amaral ao Centro pela rua Quintino Bocaiuva. Ela foi concluída em inaugurada em 18 de outubro de 1975 na administração do Prefeito Jorge Teixeira.

Avenida Leopoldo Péres. FONTE: Acervo do Coronel Roberto Mendonça.

Entre 1928 e 1929 foi aberta a Estrada de Constantinópolis, hoje Avenida Leopoldo Péres. Foi aberta pelos membros da Sociedade Sportiva e Beneficente de Constantinópolis, para facilitar o acesso dos moradores ao bairro da Cachoeirinha pela ponte Ephigênio Salles.


ALGUNS LUGARES HISTÓRICOS, EXISTENTES OU JÁ DESAPARECIDOS

Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. FONTE: Acervo da Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: Durante as obras da Estrada de Constantinópolis, foi construída em 1928 uma capela de madeira dedicada à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Pe. Antônio Plácido de Souza assumiu o Curato Provisório de Constantinópolis, que se tornou Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em 15 de dezembro de 1941. A atual igreja, de alvenaria, começou a ser construída em 1946, sendo concluída anos mais tarde. Está localizada na rua Inocêncio de Araújo.

Vila Cavalcante. FOTO: Fábio Augusto, 2014.

Vila Cavalcante: Uma das primeiras construções em alvenaria do bairro, a Vila Cavalcante foi construída em 1912. O nome é de uma família de seringalistas do Juruá. Foi adquirida por Manuel Figueiredo de Barros, regatão, que a vendeu em 1935 para o comerciante Joaquim Ferreira Silva. Antes, em 1924, funcionou em suas dependências o Grupo Escolar Machado de Assis e, na década de 1930, o escritório dos Correios. Atualmente o prédio pertence à Fundação Santa Catarina, organização religiosa da Igreja Católica. Está localizada no Boulevard Sá Peixoto.

Antiga Usina Labor. FONTE: Manaus de Antigamente.

Usina Labor: Em 1938 o empresário Isaac Sabbá adquiriu um grande terreno na Estrada de Constantinópolis, construindo nele a Usina Labor, destinada ao beneficiamento de sorva e borracha. A mão de obra empregada nessa indústria vinha do próprio bairro. Na década de 1970 foi transformada na Fitejuta, empresa de tecelagem de juta. Até 2014 funcionou como um dos supermercados DB, mais tarde utilizado pelo Atacadão, não restando qualquer resquício da antiga usina.

Escola Estadual Machado de Assis. FONTE: SEDUC - AM/Instituto Durango Duarte.

Grupo Escolar Machado de Assis: O antigo Grupo Escolar Machado de Assis, hoje Escola Estadual Machado de Assis, foi criado em 1924.  Em 1925 ele passou a ocupar o prédio da antiga Olaria Provincial e Estabelecimento de Educandos Artífices. Sofreu uma grande reforma em 1957, ganhando um novo pavimento.


BIBLIOGRAFIA:

AMAZONAS, Cláudio. Memórias do Alto da Bela Vista: Roteiro Sentimental de Educandos. Manaus: Norma Propaganda e Marketing, 1996.

_______________. Constantinópolis: Origens e Tradições. Manaus: Edições Muiraquitã, 2008.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A fotografia no Amazonas entre os séculos XIX e XX

Anúncio de "retratos em Photographia". FONTE: Amazonas, 17/10/1866.

A fotografia surgiu no século XIX, na França. Experimentos vinham sendo realizados desde fins do século XVIII. Em 1822, conforme estudo do historiador da arte espanhol Xavier Barral I Altet, o inventor francês Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) conseguiu imprimir uma imagem utilizando uma câmara escura e um processo fotoquímico, de aproximadamente 8 horas, conhecido como heliogravura (BARRAL I ALTET, 1990, p. 89).

Essa ainda não era a fotografia propriamente dita. Esta surgiria pelas mãos de outro francês, Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), parceiro de trabalho Niépce, herdando seus inventos heliográficos após sua morte em 1833. Daguerre, em 1839, apresenta ao público o Daguerreótipo,  uma câmara escura em que eram fixadas imagens em uma folha de prata sobre uma placa de cobre, precursor das máquinas fotográficas.

No Brasil, o francês Antoine Hercule Romuald Florence (1804-1879) vinha fazendo experimentos de gravação através da luz, conseguindo, através de uma câmara escura, fixar uma imagem em papel utilizando o nitrato de prata, tendo, apesar do pioneirismo, um reconhecimento tardio. O daguerreótipo chegou ao Brasil em 1840, nos informa a pesquisadora Graça Proença (PROENÇA, 2005, p. 226), através abade francês Louis Compte, capelão de um navio escola francês, de passagem pelo Rio de Janeiro. Compte fez alguns registros e apresentou o invento a Dom Pedro II, que pouco tempo depois adquiriu seu próprio aparelho.

O processo fotográfico foi aperfeiçoado e barateado nos anos seguintes. O cientista inglês William Henry Fox-Talbot (1800-1877) criou as fotografias em negativo/positivo, criando o calótipo (ou talbótipo), que permitia obter várias cópias através de um único negativo (BARRAL I ALTET, 1990, p. 89). 

O invento foi registrado em 1841. A fotografia revolucionou a prática de registrar diferentes aspectos do cotidiano, públicos ou particulares, anteriormente feitos através de desenhos e pinturas, anunciando um novo período nas artes.

Ela chegou ao Amazonas, na época uma distante Província brasileira, na segunda metade do século XIX, período de expansão do capitalismo industrial e de fluxo intenso de trocas comercias. É o que se concluiu através de anúncios de serviços fotográficos compulsados em periódicos locais. Entre as décadas de 1860 e 1890 é possível encontrar, nas páginas desses jornais, brasileiros e estrangeiros oferecendo seus serviços fotográficos.

Por volta de 1864, Eduardo José de Souza, estabelecido na rua Formosa (atual Theodoreto Souto), em Manaus, fazia fotografias pelos sistemas de ambrótipo e cromótipo e, mediante ajuste especial (um adicional no pagamento), ia em casas particulares e também fotografava pessoas falecidas. Além da fotografia, fazia retratos a óleo e consertava "caixas de muzica e realejos com todo o esmero e promptidão" (O Catequista, 30/01/1864). Em 1867 anunciava-se que na casa do Major Tapajoz, na Praça Tamandaré, tiravam-se fotografias pelos sistemas mais modernos, de casas particulares e de pessoas falecidas. Da mesma forma que no estabelecimento de Eduardo José de Souza, também eram consertadas "caixas de musica, e realêjos, com todo o esmero e promptidão possível", e "galvaniza-se a ouro por menos preço que em outra qualquer parte". A dúzia dos retratos custava 10 mil réis (Amazonas, 30/01/1867).

Nos anos finais do período provincial, marcado pelo crescimento das atividades ligadas à extração do látex, os serviços ofertados na capital tornaram-se mais refinados para atender um público consumidor cada vez mais interessado nas comodidades e praticidades do mundo moderno. Francisco Candido Lyra, em 1888, oferecia seus serviços fotográficos, das 8 da manhã às 16 da tarde, em seu ateliê estabelecido na rua Marcílio Dias, além de realizar viagens periódicas para o interior do Estado, onde tinha clientes:

"Tirao-se retratos de todos os tamanhos, em grupos, a oleonicraion, assim como se executa qualquer trabalho fora da officina, como sejão: vistas de chalets, retratos de pessoas mortas, e todo e qualquer trabalho pertencente à arte photographica, tudo com e, maior perfeição, asseio e modicidade de preços". (Jornal do Amazonas, 22/07/1888). Em 1895, o mesmo Candido Lyra anunciava ter renovado seu ateliê, oferecendo, além do já citado serviço de fotografar pessoas mortas, o de fotografar "anjinhos", crianças mortas (Amazonas Commercial, 10/03/1895).

Bastante organizado era o Ateliê Artístico Photographico do italiano Arturo Luciani, na rua Henrique Martins. Luciani fazia "[...] vistas de edifícios, retratos de mortos ou qualquer outro genero de trabalho. Também fazia reprodução de "[...] desenhos, plantas autographicas ou industrial", tendo especialidade em "retratos de tamanho natural, ao crayon, ao photo-crayon e a oleo". Seu ateliê funcionava das 8 da manhã às 16 horas, recomendando-se roupas escuras para ser fotografado e que "a luz da manhã é preferivel a da tarde" (Diário Oficial, AM, 17/01/1896). Sua tabela de preços era a seguinte:

FONTE: Diário Oficial, AM, 17/01/1896.

No final do século XIX e início do século XX os fotógrafo mai afamado do Amazonas era o alemão George Huebner (1862-1935), proprietário, ao lado de Libânio do Amaral, Professor de Belas-Artes , da Photographia Allemã, de Huebner & Amaral, que passou por diferentes endereços antes de se estabelecer na Avenida Eduardo Ribeiro. A Photographia Allemã tinha filiais em Belém do Pará e no Rio de Janeiro.

Huebner & Amaral ofereciam seus serviços fotográficos a particulares, escolas, associações culturais e, principalmente, ao Estado do Amazonas, produzindo famosos almanaques e álbuns de divulgação das transformações (novas obras, melhorias, reformas) que ocorriam na capital, como o Álbum Vistas de Manáos, publicado em 1897 no Governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro.

Anúncio da Photographia Allemã. FONTE: Almanak Henault (1910).

A introdução das fotografias nos jornais foi uma novidade. O Jornal do Comércio as utilizou largamente, aparecendo com maior frequência a partir de 1912. Elas passaram a estampar as páginas principais dos periódicos, dando destaque às matérias e tornando-se símbolo das transformações técnicas e econômicas que chegavam ao Amazonas.

Os cartões postais de Manaus surgem no início do século XX. Eles foram divulgados em diferentes cidades do mundo, servindo de atrativo para visitantes e empresários com interesse em investir na capital. Deve-se destacar que as fotos dos cartões postais eram produções cenográficas, pois registravam apenas a parte "embelezada" da cidade.

Entre as décadas de 1910 e 1920 as revistas de colunismo social faziam sucesso, sendo os títulos mais famosos a Cá & Lá e Redempção. O fotógrafo mais conhecido desse meio era Gil Ruiz, que fazia registros de membros da alta sociedade, de festas de aniversário, casamentos e de cenas do cotidiano, também colaborando com alguns álbuns. 

Outro fotógrafo de destaque foi o português Silvino Santos (1886-1970), que além de fotógrafo era também cineasta, trabalhando por muitos anos para a família do Comendador Joaquim Gonçalves Araújo, produzindo documentários de renome mundial.

Um dos fotógrafos mais longevos do Estado foi Corrêa Lima (1931-2017), que começou a fotografar em 1949. Seus registros eram marcados pela qualidade e grandiosidade, captando diversos elementos para compor um cenário ainda maior. Passou pelo Diário da Tarde, O Jornal, A Gazeta e Laboratório Mesbla no Rio de Janeiro. Foi fotógrafo oficial dos Governadores Danilo Duarte de Mattos Areosa, José Lindoso e João Walter de Andrade, se aposentando como fotógrafo do extinto Departamento de Estradas e Rodagens do Amazonas (Der-AM).

Corrêa Lima e alguns de seus registros de períodos diversos. FONTE: Acervo do Instituto Durango Duarte.

A fotografia foi um dos grandes marcos tecnológicos do século XIX, tornando-se sensação ao redor do mundo. Surgia como uma técnica, uma arte. Até hoje desperta certo encanto, não tanto quanto no século passado, mas ainda sim é motivo dele. O homem finalmente encontrara uma forma mais rápida de se registrar e registrar o cotidiano. 


FONTES:


Amazonas, 17/10/1866.

O Catequista, 30/01/1864.

Amazonas, 30/01/1867.

Jornal do Amazonas, 22/07/1888.

Amazonas Commercial, 10/03/1895.

Diário Oficial, AM, 17/01/1896.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BARRAL I ALTET, Xavier. História da Arte. Tradução de Paulo F. Anderson Dias. Campinas, São Paulo: Papirus, 1990.

PROENÇA, Graça. História da Arte. 16° Ed. São Paulo: Ática, 2005.

Aos historiadores...

A Musa Clio escrevendo a História. Desenho de Franz Ignaz Günther (1763).

Dos arquivos, a caminhar por vias tortuosas de documentos quase consumidos pelo tempo, fontes de trabalho e sustento, curiosidade e lamento.

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Que pacientemente ouvem histórias e estórias de outras épocas, as documentando e catalogando.

Conservadores e marxistas, positivistas e culturalistas.

Que incomodam, tentando combater o poder; e aos que o servem sem se deter.

Amantes de períodos diversos, dos impérios, das civilizações e das revoluções.

Que escrevem História Geral; e aos que se dedicam à local.

De formação, especialistas, mestres e doutores; e aos autodidatas, os célebres entusiastas e curiosos, não por isso menos laboriosos.

Que vão para as salas de aula, honrada batalha, na academia ou na periferia.

Homens e mulheres que, dia a dia, buscam compreender, por diferentes intentos, nossas ações e transformações ao longo do tempo.

Um feliz dia do profissional de História.

- Fábio Augusto, 19/08/19.


IMAGEM:
A Musa Clio escrevendo a História. Desenho de Franz Ignaz Günther (1763).

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco (1892-1969)

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco (1892-1969). FONTE: O Jornal, 16/08/1969.

Existem personagens da História de Manaus que marcaram várias gerações. Um deles foi o Vovô Vasco, cujo nome verdadeiro era Vasco José de Faria (1892-1969), português do Porto que chegou ao Amazonas aos 13 anos. Vasco Faria foi por longas décadas gerente do Cine Guarany e sócio da empresa cinematográfica A. Bernardino & Cia. Ltda (quando entrou na empresa ela se chamava Empresa Cinema Avenida Ltda., mudando de nome apenas em 1942). Antes disso trabalhou no Teatro Amazonas e na empresa Fontenelle & Cia (Cine Polytheama). Neste 15 de agosto de 2019 seu falecimento completou 50 anos.

Vasco Faria deixou sua marca como gerente do Cine Guarany entre as décadas de 1930 e 1960. Ele começou suas atividades no cinema em 1938 como Auxiliar Interessado, uma espécie de sócio minoritário (A Tarde, 19/02/1939). Todos os anos, a festa de aniversário do cinema ficava por sua conta. Assim foi descrito pelo Jornal do Comércio o aniversário por ele organizado em 1955:

"Em comemoração à festiva data, foi organizado um caprichado programa, constante de 7 sessões cinematográficas, no decorrer dos quais serão sorteados valiosos brindes ofertados pelo comércio local. A matinal, encanto da petizada e da gente grande também, foi organizada com carinho pelo conhecido e estimado "vovô" Vasco. Será exibido na ocasião o filme Branca de Neve e os Sete anões, a maravilha colorida de Walt Disney, que transportou para a téla tôda a meiguice e encanto daquela aplaudida história infantil. Antes serão distribuidos revistas, kibons, petecas, balões, e haverá ainda sorteio de uma bola de futebol, 1 caminhão de carga de 8 rodas, 3 garrafas de Martini e outros artigos. As demais sessões serão também magnificas, havendo o sorteio de carissimos brindes" (Jornal do Comércio, 05/08/1955).

Um interessante registro fotográfico da década de 1950 mostra Belmiro Vianês, radialista da Rádio Baré, Adriano Bernardino Filho e o Vovô Vasco em dia de festa no Cine Guarany. Na ocasião eles estavam entregando uma batedeira como prêmio a um frequentador após o famoso sorteio comemorativo.

Entrega de prêmio no dia do aniversário do Cine Guarany, com o Vovô Vasco à direita. Década de 1950. FONTE: Acervo de Ed Lincon.

Vasco Faria fazia a alegria das crianças e adolescentes. Muitas vezes, quando estes não tinham todo o dinheiro do ingresso ou mesmo nenhum para as matinês, as deixava entrar de graça nas sessões. Além disso, distribuía a eles balões, doces e bombons. O poeta amazonense Farias de Carvalho escreveu um soneto em sua homenagem, soneto esse presente no livro Pássaro de Cinza (1957):

"O VASCO DO GUARANY

Seu Vasco, eu tenho só quinhentos Réis,
deixa eu entrar? eu vou pra galeria
Êle enculava as mãos, caiam os niqueis,
e a meninada aos empurrões subia

Quanto garôto lhe ficou devendo
o sabor, - deliciosas emoções
dos primeiros encontro com os cow-boys
tiroteando em cavalos e em vagões!

A vida, Vasco, é como o teu cinema:
uns tem bilhete inteiro, outros tem meio
a maior parte, fora, sem bilhete;

e o mais duro o mais triste é que entre os donos das platéias imensas deste mundo
existem poucos, muito poucos Vascos!". (Jornal do Comércio, 16/08/1969).

No dia 29 de janeiro de 1968, foi homenageado no salão de honra do Palácio Rio Negro, pelos 50 anos de atividades ligadas ao cinema no Estado. O Governador Danilo Duarte de Mattos Areosa lhe entregou o troféu 'Alcazar' e um diploma de Honra ao Mérito. O Prefeito Paulo Pinto Nery, na ocasião, leu uma mensagem que seria encaminhada à Câmara Municipal, conferindo a Vasco José Faria o título de Cidadão de Manaus. A homenagem, organizada pelo Departamento de Cultura da SEC, pelo Grupo de Estudos Cinematográficos e pelo DEPRO, contou com a participação do poeta Elson Farias e de Joaquim Marinho, diretor geral do DEPRO (Jornal do Comércio, 30/01/1968).

Vasco José Faria faleceu em Manaus no dia 15 de agosto de 1969 aos 77 anos. Sua morte foi bastante sentida pela sociedade, sendo divulgada nos principais jornais da capital. O jornal A Notícia publicou o seguinte sobre o ano que antecedeu sua morte: 

"Seo Vasco, ano passado, foi aposentado. Em nenhum momento, entretanto, deixou que outro - enquanto vivo fôsse - assumisse ou tomasse o lugar no Guarany. Viveu os melhores e mais intensos momentos do cinema mais popular e amado do Amazonas. Talvez sua presença tenha inspirado isso". (A Notícia, 16/08/1969).

Vasco José de Faria, o Vovô Vasco, partiu deixando um grande legado no ramo dos cinemas. Agradeço encarecidamente ao pesquisador Ed Lincon Barros pela cessão de valiosos jornais sobre a trajetória de Vasco José de Faria, sem os quais não seria possível realizar esse texto.

FONTES:

A Tarde, 19/02/1939, Edição Comemorativa (cedido por Ed Lincon).

Jornal do Comércio, 05/08/1955.

Jornal do Comércio, 30/01/1968.

Jornal do Comércio, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon)

O Jornal, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon Barros).

A Notícia, 16/08/1969 (cedido por Ed Lincon Barros).