Primeira página da Crônica de Hainaut, 1448.
Autores: Godofredo de Monmouth, Guilherme de Malmesbury, Mateus Paris, Jocelin de Brakelonde, Godofredo de Villehardouin e Jean de Froissart.
Como
vimos no primeiro texto, na Crônica anglo-saxônica,
os anais foram evoluindo, tornando-se mais elaborados e detalhados,
até chegar ao ponto de serem considerados crônicas. Mais uma vez,
precisamos recorrer à etimologia para saber a função desse gênero
historiográfico: Crônica vem do latim chronica,
derivado do grego chrónos,
que significa tempo. Os eventos apresentados em uma crônica estão
ordenados através de uma cronologia, isto é, com uma data fixa para
o início e o fim.
As
crônicas se proliferam em vários reinos da Europa, que passam a
patrocinar escritores e
utilizá-las para a construção de uma identidade nacional. Além
de exaltar reinos, elas também falavam sobre reis, heróis nacionais
e fatos importantes. Como já existia uma ideia de “patriotismo”,
as crônicas passaram a ser escritas nas línguas de cada país. Os
autores dessa época, séculos
12 e 13,
tinham conhecimento das obras de autores clássicos como Tito Lívio,
Eusébio, Salústio, Cícero e, claro, utilizavam também passagens
das Sagradas Escrituras.
Podemos
ter como exemplos de cronistas e suas obras os ingleses Godofredo de
Monmouth, Guilherme de
Malmesbury, Mateus Paris e
Jocelin de Brakelonde. As
crônicas, como relatos, podem ser fantasiosas, principalmente quando
estas tratam de fatos anteriores ao autor. Os
trabalhos de Godofredo mesclam fatos históricos como feitos de reis
e genealogias com mitos e lendas do povo bretão, como a figura de
gigantes ou de outros seres fantásticos. O objetivo dessa crônica é
exaltar a Britânia e seu povo. Não existe uma preocupação com a
veracidade do que é relatado, mas sim com os efeitos que os relatos
produzirão.
Guilherme
de Malmesbury é mais
cuidadoso no tratamento do que escreve. Ele afirma que, ou foi
testemunha ocular ou teve informações de fontes confiáveis. Indo
mais além que seu antecessor, Guilherme transita entre a crônica e
a história propriamente dita, pois este, em parte, abandona a
cronologia episódica e tenta organizar diferentes fatos em um único
conjunto. A descrição
física de personagens nos lembra o estilo de Suetônio. Críticas,
mesmo que leves, são feitas a homens poderosos.
Mateus
Paris é provocativo, informal, tecendo críticas ácidas tanto a
reis, comerciantes, membros do clero e até ao Papa. Sua crônica é
menos extensa que a de outros autores, cobrindo duas décadas de
história contemporânea inglesa. Possui trabalhos sobre história
secular e eclesiástica. No campo religioso, se destaca a
crônica da abadia de St.
Albans. Como se trata de sua abadia, logicamente a escrita é
restrita a fatos locais e assuntos da instituição religiosa. O
autor critica tanto abades mortos como os que assumiriam seus postos;
descreve aquisições da abadia; doações etc.
A
crônica da abadia de St. Edmund, escrita
por Jocelin de Brakelonde, engloba o final do século 12 até o
início do século 13, com o reinado de João. Apesar de ser uma
crônica, a obra de Jocelin tem os elementos de uma produção
historiográfica: ela tem um
início, meio e fim bem desenvolvidos, no caso o governo do rei, as
confusões políticas e religiosas; a renovação da abadia e
a coroação de um novo monarca.
Como todas as obras locais e episcopais, ela trata das relações
administrativas da abadia, da vida de abades e, claro, sua evolução.
Finalmente
chegamos à história propriamente dita. Seus representantes são os
franceses Godofredo de Villehardouin e
Jean Froissart. Agora, como
gênero, a história é produzida com uma narrativa extensa, temas
coerentes e ordenados e escrita estilizada. Villehardouin,
em sua obra A conquista de Constantinopla,
aborda, de forma privilegiada
(este foi um nobre e militar) a 4° Cruzada. Como militar, perde em
qualidade para outros autores, pois não descreve táticas de
combate, entregando ao providencialismo as vitórias e as derrotas.
Registra baixas de cavaleiros
nobres, elevações de patente, honrarias
e pilhagens à cidade de Constantinopla. Escreveu em prosa,
utilizando o francês como língua. Seu interesse religioso é
pequeno, tanto que sua obra inicia com os preparativos para a
Cruzada, e não com a origem do mundo segundo a Bíblia, como era
recorrente em outros autores.
No
século 14, Jean de Froissart reviveu um gênero existente na Europa
desde os tempos de Carlos Magno: a escrita de cavalaria. Froissart
é o ponto máximo da história da guerra do século 14. Como fonte
recorre aos arautos do passado, que registravam cenas de batalhas; e
ao livro de seu predecessor, Jean le Bel. Incorpora em sua narrativa,
considerada organizada, outras histórias, geralmente romances
arturianos. A
Crônica engloba ética
e normas de combate, cenas de
guerra e cercos a cidades, os
conflitos entre
Inglaterra e França e
revoltas populares em cidades como Paris, Londres e Ghent. Escreveu o
livro em francês. Sua obra, uma encomenda, mostra
elementos de exaltação ao heroísmo burguês, retratada pela cena
dos “burgueses de Calais”; mas ao mesmo tempo também mostra uma
certa preocupação com elementos populares de algumas cidades. O que
Froissart preserva é a ordem “natural” das coisas, a defesa
da Cristandade e da nobreza.
CRÉDITO DA IMAGEM: www.ricardocosta.com
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