Um trecho da extensa Tapeçaria de Bayeux, retratando a Batalha de Hastings, travada em 14 de outubro 1066.
Além de nos deixarem anais, crônicas e histórias, das quais falarei em outro texto, os historiadores da Idade Média também produziram outras formas de registro histórico. A Tapeçaria de Bayeux é um deles. A peça, de 70 metros de comprimento por meio metro de altura, está atualmente em exposição na cidade francesa de Bayeux, local de sua confecção. Foi confeccionada provavelmente entre 1070 e 1080.
A produção da Tapeçaria foi ordenada pelo bispo Odo de Bayeux, irmão de Guilherme, o Conquistador, primeiro rei normando da Inglaterra (1066-1087). Nessa época, final do século 11 d.C., começava a surgir em alguns reinos ocidentais um sentimento de nacionalidade, que fez com que pessoas abastadas e nobres passassem a encomendar obras para fazer com que os feitos de grandes homens e nações não fossem esquecidos. Essa parece ser uma máxima que acompanha a produção historiográfica desde a Antiguidade.
Com figuras riquíssimas da Inglaterra do século 11, animais, modos de vida, cenas de batalha etc, a peça também apresenta, do início ao fim, uma narrativa verbal em latim. O historiador inglês John Burrow, em seu livro Uma História das Histórias - de Heródoto e Tucídides ao século XX (tradução, Brasil, 2013), no dá uma descrição sucinta da Tapeçaria:
"A narrativa começa com o envio do conde Haroldo de Essex para a Normandia, numa embaixada ao duque Guilherme, a mando do rei Eduardo, o Confessor. Haroldo naufraga e é capturado por um magnata local, mas libertado por Guilherme. Eles seguem juntos em campanha, e Haroldo jura, sobre relíquias sagradas, sua fidelidade ao duque. De volta à Inglaterra, Eduardo morre, e Haroldo, ignorando o juramento feito a Guilherme, toma a coroa. Guilherme reúne um Exército, desembarca em Sussex e derrota os saxões numa batalha; Haroldo morre, aparentemente com uma flecha no olho - embora isso tenha sido motivo de discussão. Ao longo do texto há cenas realistas da vida contemporânea: viagens marítimas; construção barcos; caça; carregadores e suas cargas; soldados juntando provisões, preparando refeições, construindo uma fortaleza de madeira e ateando fogo a uma casa da qual emergem uma mulher e uma criança. Nas margens, as aves e os animais dão lugar a pequenos arqueiros disparando e a soldados mutilados, mortos, desprovidos de suas armaduras. É um documento fascinante e humano, comparável, em importância histórica, à Coluna de Trajano, mas mais fácil de examinar" (BURROW, John. Uma História das Histórias - de Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro/São Paulo, Record, tradução de Nona Vaz de Castro, 2013).
No total, a tapeçaria está dividia em 9 sessões e possui 58 cenas da Inglaterra no final do século 11. A autoria é desconhecida, mas levando em conta o tamanho e a qualidade do trabalho, único no estilo Românico do Norte europeu, acredita-se que tenha sido elaborado por mais de uma pessoa em alguma oficina de grande porte. Outra grande tapeçaria (11 metros por 4 metros de altura) é a Tapeçaria de Pastrana, feita para celebrar a conquista de Arzila e Tânger em 1471 pela armada de D. Afonso V de Portugal.
CRÉDITO DA IMAGEM:
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