Baco, de Caravaggio. 1593-1597.
Pargraecari é
um termo de origem latina, que significa “viver à grega”.
Era com este termo que alguns romanos, os mais conservadores,
designavam o modo de vida de seus semelhantes. O modo de vida romano,
entre os séculos III e II, recorte histórico feito pela autora, é
marcado pela devassidão, pela ostentação, a vida galante e
desregrada. Naquela época, a existência desses hábitos, que iam
contra a moral estabelecida e defendida pelas elites, era atribuída
à má influência grega. Mas como era esse estilo de vida grego? Uma
fonte material pode ser utilizada como simples resposta: Vejam, abaixo. O
mosaico da imagem, grego, data do século III a.C., e foi encontrado
à duas semanas nas ruínas de Antioquia, na Turquia. Ele fazia parte
de uma sala de jantar de uma residência, e nele se lê: “Seja
alegre, viva sua vida”.
Observem que, quem segura a tigela de bebida, ao lado da garrafa, é
um esqueleto, lembrando da efemeridade da vida. Era assim que os
gregos, e agora os romanos, em parte influenciados pelos vizinhos
mediterrâneos e em outra, antigos praticantes, viviam.
As
comédias de Plauto e Terêncio, as Sátiras de Petrônio Árbitro e
os escritos de outros autores, legaram para nós as figuras das
prostitutas que arruinavam famílias, os homens que, em avançada
idade, ainda sentem os ardores do amor, e
o militar fanfarrão. Plauto, em uma de suas comédias, exclama:
“Bebam dia e noite, vivam à grega, comprem mulheres, libertem-nas,
engordem os parasitas”. Por mais que se jogasse a culpa nos gregos,
era difícil ocultar algo
facilmente visível na sociedade romana muito antes do contato destes
com seus vizinhos.
O
contato entre romanos e gregos, citando Catherine Salles, e a
introdução desses hábitos entre os latinos, se deu no século III
a.C., quando as legiões romanas conquistam a Itália do Sul, e os
habitantes do Lácio começam a se familiarizar com os hábitos
desregrados dos habitantes da Campânia, na Magna Grécia. Francisco
Oliveira e José Luís Brandão, em História de Roma
Antiga. Vol I. - das origens à morte de César,
citam que esse estilo de vida grego chegou à Roma de
diferentes formas:
“pela presença de gregos em Roma – reféns,
escravos, imigrantes e embaixadores; a passagem de
romanos pela Magna Grécia, pela Grécia e pelo mundo helenístico –
militares, viajantes, comerciantes, embaixadores, jovens estudantes
que aperfeiçoavam os seus estudos em grandes centros culturais, como
Alexandria, Atenas, Nápoles, Pérgamo e Rodes. Nesta fase merece
particular destaque a atração de intelectuais gregos por Roma:
professores, médicos, retores, filósofos, geógrafos, historiadores
e artistas”1.
Por
mais que existissem tentativas, por parte das elites aristocráticas
e burocráticas romanas, de esconder a realidade de devassidão dos
habitantes da cidade, a vida dos prazeres à grega era indissociável
para um romano do Aventino, dos lupanares e ruas do bairro Subura,
das zonas do Grande Circo, povoadas por populações à margem da
sociedade. Esses nomes de bairros, e a associação que carregam,
revelam, nas palavras de Catherine, a existência de uma “geografia
do prazer”. Os romanos,
muito antes de terem contato com a “má influência” grega, já
cultivavam hábitos considerados reprováveis pela moral citadina. “O
mito do romano casto, corrompido por costumes estrangeiros, deve ser
posto na lista dos acessórios de uma comédia que os partidários da
castidade original do povo latino gostam de presentar”2
Jogar
a culpa aos estrangeiros era um método não muito efetivo de
diminuir a culpa pelo que se praticava na cidade, que era associada a
todas as formas de prazer, principalmente os proibidos. Basta lembrar
que, entre os antigos, Roma é o anagrama de Amor. A elite tentava
omitir essas práticas, mas ela mesma os praticava. No Império, é
bom enfatizar, existia uma relação intensa entre poder e sexo, a
qual pode ser exemplificada com os altos impostos cobrados das lupas,
prostitutas, bordéis e
choupanas; e até em decisões políticas tomadas durante bebedeiras
ou relações entre quatro paredes.
1OLIVEIRA,
Francisco; BRANDÃO, José Luís. História de Roma Antiga: vol
I: das origens à morte de César. Coimbra,
Imprensa da Universidade de Coimbra, 2015, p. 270.
2SALLES,
Catherine. Nos submundos da Antiguidade. 2°
ed. São Paulo, Brasiliense, 1983. p. 171.
CRÉDITO DAS IMAGENS:
commons.wikimedia.org
Revista Aventuras na História
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