segunda-feira, 30 de abril de 2018

Anúncios diversos da Província do Amazonas (1857-1884)

No presente texto selecionei alguns anúncios de jornais que circularam no Amazonas no período provincial, entre 1857 e 1884. São recortes de casas comerciais, de grande e médio porte, de recompensas para captura de escravos, de serviços oferecidos por particulares, de produtos importados etc. A partir desses anúncios pode-se compreender parte da dinâmica comercial na Província do Amazonas, conhecer os produtos que circulavam na região e ter uma noção de como funcionava a publicidade no século XIX.

José Piranga, escravo negro e oficial de calafate, humilde e com 32 anos, fugiu do domínio de José Joaquim de França, no dia 9 de abril de 1857, levando consigo seu filho de nome Cipriano, de 13 anos de idade. Percebam como funcionava a circulação de escravos: José Piranga foi escravo do Capitão Thomaz, de Villa Bella, sendo posteriormente comprado por José Coelho do Itaituba, que o vendeu a José Joaquim de França, o anunciante. O proprietário oferecia uma gratificação a quem os trouxesse de volta, assim como a repressão àqueles que lhes dessem abrigo. Serpa (Itacoatiara), 10 de abril de 1857.

Mesquita e Irmãos, grandes comerciantes da época, estabelecidos na antiga rua do Imperador (Marechal Deodoro), anunciam para aluguel um escravo que entende de cozinha. O aluguel de escravos garantia uma boa renda aos proprietários. Manaus, 1866. 


O Major Tapajós, das 9 da manhã às 3 da tarde oferecia em sua casa serviços fotográficos, utilizando os mais diferentes sistemas. Também fazia retratos em casas particulares e tirava fotos de pessoas falecidas, revelando a existência da prática de fotografias mortuárias no Amazonas. Além de trabalhar com fotografias, concertava caixas de música. Manaus, 1866.

A Saboaria Vista da Alegre, de Amorim & Irmãos, foi premiada na II Exposição Nacional de 1866, no Rio de Janeiro. Além de comercializar na cidade, também exportavam seus produtos, sabões pretos e amarelos, para o interior da Província. O depósito ficava na rua Brazileira (Sete de Setembro), cuja referência era a loja de nove portas. Manaus, 1868.

José Joaquim Ribeiro Couto, proprietário da loja Ville de Pariz, localizada entre a Travessa da Matriz (Lobo D' Almada) e a rua dos Inocentes (Visconde de Mauá), investiu pesado na divulgação de seus produtos importados através de um rico e interessante trabalho artístico com motivos florais. As fazendas, perfumes, chapéus, cintos e outros objetos que anuncia formam uma ampulheta. Manaus, 1869.

Por 2 mil réis o quilo e meio (o pagamento deveria ser feito à vista) era possível encomendar gelo de Antonio Rodrigues Soares, estabelecido na Praça da Imperatriz (Praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição). Manaus, 1878.

Profissionais liberais também anunciavam seus serviços. O advogado Luiz Mesquita de Loureiro Marães atendia no escritório da redação do jornal Comércio do Amazonas, na rua Henrique Martins, N° 18. Manaus, 1880.

Todos os dias, das 5 às 7 da manhã, um certo 'Braga', morador da rua Henrique Martins, vendia leite de vaca, possivelmente ordenhado na hora. Esse tipo de comércio passaria a enfrentar grandes dificuldades a partir das décadas finais do século XIX, quando foram instituídos Códigos de Posturas mais rígidos em relação à comercialização de produtos naturais e a higiene envolvida nos processos. Manaus, 1880.

O doutor D. F. Deserbelles, cirurgião dentista, oferecia seus serviços em um gabinete dentário instalado em uma das casas do Barão de São Leonardo, no Largo de São Sebastião, após retornar de uma viagem pelo rio Purus. Manaus, 1884.


FONTES (PERIÓDICOS):

Estrella do Amazonas
Jornal  Amazonas
Jornal do Rio Negro
Comércio do Amazonas
Almanaque Administrativo, Histórico, Estatístico e Mercantil da Província do Amazonas (1884)

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Os Arquivos de Manaus

Arquivo Público do Estado do Amazonas, na rua Bernardo Ramos, no Centro.

Os arquivos, públicos ou particulares, são os locais onde estão abrigadas, em boas ou más condições, as fontes documentais que servirão de norte para o trabalho do historiador, fontes essas que serão analisadas, problematizadas e entrecruzadas para a produção de narrativas históricas.

Em Manaus, essas instituições têm suas origens localizadas na segunda metade do século XIX, quando foi criada a Província do Amazonas, o que fez surgir, consequentemente, um sistema burocrático de emissão de documentos de diferentes tipos. O mais antigo e ainda em funcionamento é o Arquivo Público do Estado do Amazonas, fundado em 1897.

Nos últimos anos, algumas instituições como a anteriormente citada passaram por reformas em suas estruturas, tiveram seus documentos organizados, catalogados por historiadores e arquivistas, além de receber um corpo de funcionários capacitados para auxiliar os pesquisadores.

Listei abaixo alguns arquivos disponíveis para pesquisa na cidade. Confiram:

Arquivo Público do Estado do Amazonas

Rua Bernardo Ramos, N° 265, Praça Dom Pedro II, Centro.

Arquivo Público Municipal

Av. Desembargador João Machado, quadra 5, casa 20 - Conjunto Jardim Belvedere, Alvorada III.

Arquivo do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA)

Rua Frei José dos Inocentes, N° 132, Centro.

Museu Amazônico

Av. Ramos Ferreira, N° 1030, Centro.

Centro Cultural dos Povos da Amazônia

Praça Francisco Pereira da Silva (Bola da Suframa), Distrito Industrial/Crespo.

Cúria Metropolitana

Av. Joaquim Nabuco, N° 1023, Centro.

Arquivo Central do Poder Judiciário do Amazonas (TJAM)

Av. Constantino Nery, Flores.

Biblioteca Pública do Amazonas

Rua Barroso, N° 57, Centro.

Cartório Rabelo, 1° Ofício de Notas¹

Avenida Djalma Batista, N° 327, São Geraldo/Av. Eduardo Ribeiro, N° 647, Centro.

Imprensa Oficial do Estado do Amazonas

Rua Dr. Machado, N° 86, Centro.

MISAM (Museu da Imagem e do Som do Amazonas)

Centro Cultural Palacete Provincial, Praça da Polícia, Centro.

Museu Tiradentes

Centro Cultural Palacete Provincial, Praça da Polícia, Centro.


NOTAS:

¹ A pesquisa no Cartório Rabelo é paga, ficando entre 70 e 100 reais por pesquisador.


CRÉDITO DA IMAGEM:

SEAD, 2018.

Políbio de Megalópolis: Pensamento Histórico e Prática Historiográfica

Políbio de Megalópolis (200 a. C. - 118 a. C.). Estátua localizada no Parlamento de Viena, na Áustria.

Políbio de Megalópolis (200 a. C. - 118 a. C.) foi um historiador grego nascido na cidade de Megalópolis, na região da Arcádia. O período em que viveu, de derrocada do mundo helenístico e hegemonia do Império Romano, influenciou grandemente sua produção historiográfica, representada pela obra Histórias, formada por 40 volumes (cobre o período que vai de 220 a. C até 167 a. C.) e cuja análise central recai sobre diferentes aspectos da dominação romana e suas instituições políticas.

Feito prisioneiro pelos romanos, conheceu diretamente suas instituições políticas e como estas funcionavam. O principal elemento do pensamento histórico desse historiador grego diz respeito à história pragmática. A produção de uma narrativa histórica deveria ter uma utilidade, e para Políbio a utilidade da história seria a de que esta possibilitaria a compreensão do tempo presente das sociedades auxiliando nas formas de agir sobre estas. Por formas de agir, entende-se a prática política. Políbio trazia algumas concepções anteriormente vistas em historiadores como Heródoto e Tucídides, da história com um sentido pedagógico para as futuras gerações, mas inovava em certos aspectos:

"[...] Resolvi escrever uma História do gênero pragmático, primeiro porque há sempre uma novidade digna de tratamento novo - não seria possível aos antigos narrar eventos posteriores à sua própria época - e, em segundo lugar por ser considerável a utilidade prática de tal gênero de História, tanto no passado quanto - e principalmente - no presente, numa época em que o progresso das artes e das ciências tem sido tão rápido que as pessoas desejosas de aprender são capazes - digamos assim - de submeter a uma análise metódica quaisquer circunstâncias passíveis de exame. Sendo então o meu objetivo não tanto entreter os leitores quanto beneficiar os espíritos afeitos à reflexão [...], me dediquei a escrever este gênero de História" (POLÍBIO, Histórias, 9, 2).

Nessa passagem, fica claro que a história pragmática, para Políbio, era um gênero à parte de outras formas de trabalho histórico. O historiador grego não pretende entreter seus leitores. Isso está relacionado à prática de antigos historiadores que escreviam genealogias de famílias nobres e realizavam estudos sobre a origem de cidades, gêneros que, para Políbio, estavam voltados mais para o entretenimento do que para a reflexão. Tendo experiência em assuntos militares, interessava-se pela descrição das campanhas, aderindo ao militarismo cívico em oposição ao militarismo tirânico. Políbio realizou um trabalho metódico, pautado no exame crítico das fontes, no conhecimento dos lugares que cita em seu trabalho (o que evidencia a relação entre história e geografia) e na experiência com a política (em sua terra natal, foi eleito hiparco, comandante da cavalaria).

Também relaciona-se à sua história pragmática a ideia de que a história do mundo até então habitado e conhecido, o ecoumene, estava conectada a partir da Segunda Guerra Púnica:

"Até essa época os eventos mundiais tinham sido por assim dizer dispersos, pois não eram interligados por uma unidade de iniciativa, de resultados ou de localização; desde essa época, porém, a História passou a ser um todo orgânico, e os eventos na Itália e na Líbia interligaram-se com os da Hélade e da Ásia, todos convergindo para um único fim. Por isso a nossa História pragmática inicia-se nessa época" (POLÍBIO, Histórias, 1, 3).

As ações humanas, para o historiador, possuem início, causa e pretexto. Os dois últimos elementos de causalidade (causa e pretexto), seriam o fio condutor do primeiro (início). Sobre a Fortuna ou a intervenção divina, Políbio tem uma concepção interessante: Só se devem atribuir as causas aos desígnios divinos quando estas não podem ser explicadas dadas suas complexidades. Caso sejam naturalmente compreensíveis e alcançáveis pela razão, devem ser entendidas como eventos decorrentes da ação humana.

Sobre a concepção de história de Políbio, cujo cerne é a política, diz o professor de História Antiga da Unb, Henrique Modanez de Sant' Anna:

"Há, no tempo do nosso autor, uma versão estoica acerca da sucessão cíclica das formas de governo, a qual Políbio incorpora numa sequência curiosa de mudanças políticas vistas na história: da monarquia, a primeira forma de organização conhecida (para Políbio, ao menos), passando pelas revoluções e etapas intermediárias do processo (tirania, aristocracia, oligarquia e democracia), à democracia anárquica ou eclocracia, que conduz toda a sociedade novamente ao ponto de sua teoria cíclica, vale dizer, ad infinitum"(SANT' ANNA, 2012, p. 147).

João Emiliano Fortaleza de Aquino, professor de filosofia da Uece, em contrapartida, afirma que deve-se distinguir a noção de história cíclica das instituições políticas da concepção da prática historiográfica de Políbio, o que seria contraditório, tendo em vista ser ela uma "história pragmática, contemporânea e útil" (AQUINO, 2006, p. 66).

Para Políbio, o sucesso de Roma na dominação de vastas áreas do mundo conhecido explicava-se pela característica de sua constituição política, mista, constituída por monarquia (cônsules), aristocracia (senadores) e democracia (povo), o que evitaria que o sistema político se degenerasse em apenas uma forma de governo, com a união dos melhores elementos dessas formas de governar.

Políbio escreveu em dialeto ático, em prosa, sem recorrer a elementos estilísticos.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AQUINO, João Emiliano Fortaleza. Memória e consciência histórica. Fortaleza: Editora Uece, 2006.

SANT' ANNA, Henrique Modanez. Políbio e os princípios de sua investigação histórica: algumas considerações. UFF: Revista Mundo Antigo, ano I, V. 01, N. 02 - dezembro de 2012.


CRÉDITO DA IMAGEM:

http://mototurismo.alidays.it

terça-feira, 24 de abril de 2018

Críticas ao conceito de ciclo econômico: Os estudos de João Pacheco de Oliveira

Mucambos de Santo Amaro (Pernambuco).

O nascimento do Brasil e outros ensaios: "pacificação", regime tutelar e formação de alteridades (2016), de João Pacheco de Oliveira, é uma espécie de relançamento de seu texto clássico O caboclo e o brabo (1979), célebre na explicação dos processos históricos da Amazônia a partir de uma visão não economicista e cíclica, fazendo uma crítica a essa abordagem, crítica essa que continua ecoando na atualidade.

Cristalizou-se, a partir dos estudos de autores tanto locais quanto de outras regiões, e de diferentes áreas das ciências humanas, o conceito de 'ciclo econômico' como base das análises referentes à História da Amazônia. Em 1979 e, mais recentemente, em 2016, guardadas as diferenças temporais, João Pacheco frisa a necessidade de que seja superada essa visão determinista da História.

De acordo com João Pacheco de Oliveira, a noção de ciclo econômico já está a um bom tempo ultrapassada, ainda que permaneça seu uso. O ciclo é generalizante, sintetizador, fechado em si mesmo. Estudar a região a partir desse modelo fechado faz com que não se dê conta de uma gama de relações sociais, de trabalho, de outros modos de produção que não o gomífero, mas paralelos e de certa forma a ele relacionados, pois além do produto rei, no topo da pauta de exportação, existem outros que demandam diferentes trabalhadores e formas de trabalho.

Como consequência, esse modelo obscurece tipos sociais, mascara conflitos e realidades distintas, servindo satisfatoriamente como forma de explicação para os que formam o topo das relações de poder econômicas. Pode-se pensar, teoricamente, na divisão feita pelo economista e cientista político liberal austríaco Joseph Schumpeter, segundo a qual o ciclo econômico está dividido da seguinte forma: boom, recessão, depressão e recuperação. Ou ainda no marxismo estruturalista, dogmático, aquele criticado por Edward Palmer Tompson, no qual seus teóricos dão mais atenção ao economicismo e não aos fatores humanos, culturais, como propulsores da luta de classes.

Com influências tanto do liberalismo quanto do marxismo economicista, o modelo cíclico não dá conta da complexidade, da heterogeneidade, das relações, dos modos de produção e da configuração histórico-social da região.

Formuladas e apresentadas as críticas, o autor sugere os estudos a partir do conceito de 'fronteira', aqui entendido não do ponto de vista geográfico, material, mas como uma categoria, um ponto de análise abstrato, representado pelas relações sociais, pelos conflitos, pela formação identitária.

O seringal, tomado como exemplo, entre o final do século XIX e o início do século XX, é o local da fronteira amazônica, palco de conflitos, de punição, de resistência, de articulação de diferentes modos de produção. Outro exemplo são os mucambos, onde a fronteira é marcada pela unicidade e pela heterogeneidade. Nesses agrupamentos existem tipos sociais marginalizados diversos, como escravos fugidos, ex-escravos, indígenas e brancos pobres. Essa é a heterogeneidade. No entanto, esses tipos sociais se unificam, tornam-se homogêneos, quando precisam resistir às agressões de particulares ou do Estado. No seringal e nos mocambos está representada a fronteira de relações sociais.

O estudo da região amazônica a partir da (s) fronteira (s) abarca um número variado de tipos sociais, de modos de produção interligados, de peculiaridades locais, mostrando-se mais abrangente que o modelo determinista e fechado de ciclo econômico.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

OLIVEIRA, João Pacheco. O 'caboclo' e o 'brabo': notas sobre duas modalidades de incorporação da força de trabalho na expansão da borracha no vale amazônico no século XIX. Encontros com a Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, v.11, p.101-140, 1979.

_____________________. O nascimento do Brasil e outros ensaios: “pacificação”, regime tutelar e formação de alteridades. Rio de Janeiro: Contracapa, 2016.

CRÉDITO DA IMAGEM:

FREYRE, Gilberto. Mucambos do Nordeste: Algumas notas sobre o typo de casa popular mais primitivo do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, s. d.

domingo, 22 de abril de 2018

Nossos Combates pela História

'A greve de Youngstown', pintura de 1937 de William Gropper.

Acabo de sair de uma aula que ecoará por um bom tempo em minha mente e acredito que também na de meus amigos de curso. Debatemos, em grupo, um capítulo do livro Combates pela História, do historiador francês Lucien Febvre (1878-1956). Leitura bastante pertinente, pois relaciona-se ao tempo em que vivemos, de constantes ataques à educação e, em especial, às ciências humanas. Ela reacende a chama que, pelos entraves acadêmicos ou por problemas externos, estava se apagando (algo bastante comum na reta final da graduação). Nos vemos diante de um autor apaixonado pelo que fez:

"Amo a história. Se não a amasse não seria historiador. Fazer a vida em duas: consagrar uma à profissão, cumprida sem amor; reservar a outra à satisfação das necessidades profundas - algo de abominável quando a profissão que se escolheu é uma profissão de inteligência. Amo a história - e é por isso que estou feliz por vos falar, hoje, daquilo que amo". (FEBVRE, 1989, p. 28).

Por mais que o que chame nossa atenção seja esse tom romântico, Combates pela História deve ser entendido como uma crítica direcionada à escola Metódica Francesa e seus membros. Na época da produção do texto, 1953, Lucien Febvre há muito era um historiador consagrado nos meios acadêmicos franceses, mas remorava  seus combates teóricos e metodológicos travados ora como aluno, ora como professor, pela renovação do campo histórico.

Essa renovação estava há tempos sendo delineada no horizonte, eclodindo com a Escola dos Annales, fundada por Febvre e seu amigo Marc Bloch (1886-1944). François Simiand (1873-1935), sociólogo francês, já tecia críticas à prática historiográfica empreendida pela Escola Metódica, cujos principais pilares, em síntese, eram a crença na neutralidade do trabalho do historiador; na leitura dos documentos como transmissores do passado tal como este teria ocorrido (que juntando-se ao primeiro pilar levaria à "objetividade histórica"); a atenção às grandes personagens e aos aspectos políticos das nações. Para Simiand, os historiador deveriam estudar aspectos sociais, buscar diálogos entre o presente e o passado, refletir sobre as fontes e buscar aportes teóricos.

As ciências, no geral, vinham passando por uma crise desde o século XIX, crise essa de métodos e teorias. Novas descobertas abalavam antigas estruturas, antigas premissas tomadas como verdadeiras e universais. Ocorreram renovações na Sociologia, na Geografia, na Psicologia e em outras áreas. Diante desse quadro de crise e renovação, Febvre perguntava, sobre os postulados da Escola Metódica, se seriam "[...] nós, historiadores, os únicos a continuar a tê-los como válidos?" (FEBVRE, 1989, p. 39).

A noção de história de Lucien Febvre relaciona-se a essa crise das ciências humanas. O autor faz uma crítica à utilização dos epítetos econômica e social no título da revista que criou com Marc Bloch, afirmando que a utilização desses termos não é uma exclusividade, mas surgiu como uma necessidade, pois desejava-se que a história se irradiasse por outras áreas do conhecimento. Para ele não existe uma história econômica e social. A história é, em suma, completamente social, constituindo-se em um estudo

"[...] das diversas actividades e das diversas criações dos homens de outrora, tomados na sua data, no quadro de sociedades extremamente variadas e contudo comparáveis umas com as outras [...], com as quais encheram a superfície da terra e a sucessão das épocas" (FEBVRE, 1989, p. 30).

Os objetos de estudo da história são os homens, os homens que estão em constante mudança, alterando o meio e as sociedades das quais fazem parte em determinadas épocas. Podemos nos interessar por áreas distintas como a história econômica, a história política, diferentes áreas da vida humana, mas com a condição de "[...] nunca esquecer que elas o põem (o homem) em causa inteiro, sempre - e no âmbito das sociedades que criou" (FEBVRE, 1989, p. 31). Dessa forma, não devemos estudar os aspectos da vida humana de forma isolada, mas antes compreendê-los como parte de um todo da criação dos grupos humanos em diferentes temporalidades.

Três elementos são importantes para compreender a renovação historiográfica empreendida por Febvre: A interdisciplinaridade, a história-problema e a história como conhecimento cientificamente conduzido.

Uma história interdisciplinar mantém contato com outras áreas do conhecimento que tem o homem como objeto de estudo. Febvre afirma que devemos ser geógrafos, juristas, sociólogos e psicólogos, de forma a ampliar os horizontes do historiador. Pede, também, que não fechemos "[...] os olhos ao grande movimento que, à vossa frente, transforma, a uma velocidade vertiginosa, as ciências do universo físico" (FEBVRE, 1989, p. 40). "O problema, diz Febvre, é o começo e o fim de toda a história". Se o historiador não propõe problemas e não formula hipóteses para resolvê-los em suas investigações, ele será um mero produtor de compilações. Por cientificamente conduzido, compreendo que Lucien Febvre apresenta a história problema como até hoje conhecemos, na qual o historiador problematiza os elementos históricos, tece hipóteses, faz críticas aos documentos, reflete as subjetividades das ações humanas, o que difere do anseio de cientificidade dos historiadores metódicos, no sentido puro da palavra, de uma ciência na qual existe um único direcionamento.

Lucien Febvre pede uma coisa que nós, historiadores, às vezes nos esquecemos de fazer: ele pede que vivamos, vivamos academicamente, familiarmente, amorosamente. Somos humanos. Lutemos por nossos ideais, seja escrevendo ou indo para a rua. Lutemos por melhores condições de trabalho, de educação. Por condições dignas de humanidade! Não devemos "separar a ação do pensamento, a vida do historiador da vida do homem" (FEBVRE, 1989, p. 40). Isso vale para qualquer profissão. Lutemos para continuar renovando a historiografia, mantendo um diálogo entre o presente e o passado. É preciso que deixemos de ver a história, enuncia Febvre, "como uma necrópole adormecida, onde só passam sombras despojadas de substância" (FEBVRE, 1989, p. 40). Como os cavaleiros medievais, ainda seguindo as alegorias do historiador francês, devemos penetrar o castelo e despertar com a nossa vida a princesa adormecida (a história).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FEBVRE, Lucien. Viver a História. In: Combates pela História. Lisboa: Editorial Presença, Lda. 1989.

CRÉDITO DA IMAGEM:

http://teachgreatjewishbooks.org

segunda-feira, 26 de março de 2018

Amiano Marcelino: Pensamento Histórico e Prática Historiográfica

Escultura entalhada em madeira representando o historiador Amiano Marcelino (330 - 395/400 d. C.). Alfeld, Alemanha, século XVII.

Amiano Marcelino (330 - 395/400 d. C.) foi um militar e historiador nascido na cidade de Antioquia, atual Antáquia, na Turquia. Considerado um dos últimos grandes historiadores romanos (embora fosse grego de nascimento) e o último historiador pagão, escreveu em um período de profundas transformações do Império Romano, com destaque para a ascensão e oficialização do Cristianismo como religião de Estado através do Édito de Tessalônica, decretado pelo imperador Teodósio I em 380 d. C.

Tendo vivido nessa época, século IV, nos oferece, através de sua principal obra, Res Gestae (Os Feitos), que acredita-se ser uma tentativa de continuar a obra de Tácito, um panorama, ainda que de forma fragmentada (dos 31 livros que compunham a obra apenas 17 foram preservados), do processo de conturbação e decadência do Império. De acordo com Bruna Campos Gonçalves, "seu relato começa em 96 d. C. com o reinado do imperador Nerva (96 - 98 d. C.) e perpassa por todos os imperadores terminando sua narrativa com o governo de Valentiniano II (378 - 383 d. C.)" (GONÇALVES, 2008, p. 97). O grosso que sobreviveu de Os Feitos cobre os reinados de Constâncio II, Juliano, o Apóstata, e Valentiniano II.

O primeiro livro sobrevivente, de número 14, é dedicado, em um primeiro momento, às ações de César Galo, primo de Constâncio II. Galo foi um César extremamente cruel e violento, assim como seu primo, sobre quem recaem as atenções do historiador posteriormente. Além das descrições sobre Galo e Constâncio II, também é feita uma digressão sobre os costumes dos sarracenos. Roma, para Amiano, era uma cidade que atravessara todos os estágios da vida, passando do estado pueril para a maturidade, chegando à velhice com grande sabedoria. Os romanos do passado eram simples, desprendidos da ganância. A partir dessa imagem da cidade é apresentada uma outra, a da luxúria e ostentação de alguns habitantes, elementos já criticados por poetas e historiadores de tempos mais remotos. Alguns tem apelidos como "Barril", "Linguiça" e "Barriga de Porco". Esse é, de acordo com John Burrow, 

"o velho tema da luxúria contrastada com a virtude e a venerabilidade romanas antigas, mas apresentado aqui com vivacidade e riqueza de detalhes excepcionais, e uma forte sugestão de lembranças de desfeitas pessoais; é decerto particularmente penoso que, por ocasião de uma ameaça de escassez de alimentos, quando os estrangeiros foram expulsos da cidade, não tenha sido feita exceção aos professores de artes, mas sim a dançarinos e professores de dança" (BURROW, 2013, p. 190).

Ainda falando sobre Galo, Amiano utiliza metáforas animais para descrever esse César, que ora era como "uma cobra ferida por uma lança ou pedra" ou "um leão que experimentou o gosto da carne humana". São feitas algumas digressões sobre as Províncias do oriente. Por último, Galo teve um destino semelhante ao de muitos príncipes e imperadores predecessores: foi executado. Amiano invoca a justiça divina, Adrastia (Nêmesis), "que pune a maldade e recompensa as boas ações [...] Rainha das causas, árbitra e juíza de todas as coisas, ela controla a urna de onde se retira a sorte dos homens e regula suas vicissitudes de fortuna" (BURROW, 2013, p. 191). 

Boa parte dos elementos do pensamento histórico e prática historiográfica vistos no livro 14, segundo John Burrow, voltarão a aparecer nos fragmentos posteriores: 

"desconfiança e crueldade imperiais; digressões etnográficas e geográficas; veneração pelo passado de Roma e pela própria cidade, apesar das descrições satíricas da população; devoção aos deuses antigos; autoconsciência literária e alusão a exemplos históricos; excessos metafóricos na escrita e o acréscimo de imagens de bestas selvagens" (BURROW, 2013, p. 192).

Outro elemento marcante é a crença de Amiano em presságios e adivinhações, para ele conhecimentos inexatos e muitas vezes utilizados de forma indevida ou exagerada. Os deuses, a exemplo dos sinais dados por pássaros, controlavam esses animais para revelar aos homens diferentes tipos de acontecimentos. Na condição de militar, ficou ligado ao exército até 363 d. C., tendo sido testemunha ocular de inúmeras batalhas, acompanhando as campanhas dos imperadores no Oriente, na Gália e na Germânia. Nas campanhas de Juliano, observa e descreve as cenas dos campos de combate.

O interesse de Amiano pelo reinado de Juliano diz respeito a sua tentativa de reviver os cultos pagãos, abandonando o Cristianismo, tentativa essa que lhe reservou a alcunha de Juliano, o Apóstata. As ações de Juliano são violentas, com a proibição aos cristãos de ministrarem aulas, destruição de igrejas e inúmeros sacrifícios. Esses atos eram criticados por Amiano, pois seu paganismo era "[...] de um tipo mais contido e genial" (BURROW, 2013, p. 195). Amiano, ao contrário de outros historiadores como Tácito, que tinha uma visão depreciativa dos cristãos, demonstrava certa tolerância com os praticantes dessa religião.

Após a morte de Juliano, os governos seguintes são marcados por dois acontecimentos considerados críticos: a permissão da entrada de godos via Danúbio em territórios romanos (376) e a derrota e morte do imperador Valente na batalha de Adrianópolis (378). Roma era assediada, mas não estava em declínio. Era, antes disso, o centro do mundo, a Cidade Eterna. Amiano, grego, escreve em latim. Bruna Campos, citando o professor Ronald Mellor, apresenta duas prováveis causas para essa escolha:

"A óbvia razão literária era continuar a obra de Tácito, enquanto que a razão política era escrever, como chamou o retórico grego Temístio την διαλεκτον κρατουσαν (‘a língua dos nossos governantes’). Diferentemente do cortesão Temístio, Amiano não estava tentando alcançar os favores imperiais, mas estava profundamente comprometido com Roma e com sua herança politica. Seu orgulho de sua cidadania romana é evidente em toda sua obra". (MELLOR, 1999, p.126). 

Amiano Marcelino, considerado um  dos últimos grandes historiadores romanos (de origem grega) da Antiguidade Tardia e o último historiador pagão, escreveu sua obra em latim, obra essa cujos principais elementos são a desconfiança e crueldade imperiais; digressões etnográficas e geográficas; veneração pelo passado de Roma e pela própria cidade, apesar das descrições satíricas da população; devoção aos deuses antigos; autoconsciência literária e alusão a exemplos históricos; excessos metafóricos na escrita; o acréscimo de imagens de bestas selvagens; e a crença em presságios e adivinhações. Res Gestae é mais uma obra do último século de existência do Império Romano, que oferece, ainda que de forma incompleta, um panorama da desestruturação da unidade imperial.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BURROW, John. Uma História das Histórias. De Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, tradução de Nana Vaz de Castro, 2013.

GONÇALVES, B. C. . Amiano Marcelino e sua obra Res Gestae: tratamento documental e os livros XXV, XXVI e XXVII. In: XXIII Semana de Estudos Clássicos / V Encontro de Iniciação Científica em Estudos Clássicos Cultura Clássica: Inter-relações e permanência, 2008, Araraquara. Anais da XXIII Semana de Estudos Clássicos V Encontro de Iniciação Científica em Estudos Clássicos. Cultura Clássica: inter-relações e permanência, 2008. p. 95-102.


CRÉDITO DA IMAGEM:

Falkensteinfoto/Alamy Stock Photo

domingo, 18 de março de 2018

Francesco Guicciardini: Pensamento Histórico e Prática Historiográfica

Francesco Guicciardini (1483-1540).

O historiador e estadista florentino Francesco Guicciardini (1483-1540), contemporâneo de Nicolau Maquiavel (1469-1527), dedicou-se aos escritos políticos, produzindo História da Itália, obra de publicação póstuma que versa sobre a história contemporânea e recente das cidades-Estado italianas. Na introdução, o autor deixa claro quais foram as suas motivações e o ponto de partida para escrevê-la:

Eu decidi escrever sobre os eventos que ocorreram na Itália dentro de nossa memória, desde as tropas francesas, convocadas por nossos próprios príncipes, começaram a suscitar aqui grandes dissensões: um assunto mais memorável, tendo em vista seu alcance e variedade, e cheio dos acontecimentos mais terríveis; já que, durante anos, a Itália sofreu todas aquelas calamidades com as quais os miseráveis mortais costumam ser afligidos, às vezes por causa da justa ira de Deus e às vezes por causa da impiedade e maldade de outros homens. A partir de um conhecimento de tais ocorrências, tão variadas e tão graves, todos podem tirar muitos precedentes saudáveis tanto para si quanto para o bem público (1984, p. 3).

O livro de Guicciardini, que cobre um período que vai de 1490 a 1534, surge em um contexto de ebulição política marcada por conflitos militares entre os principais Estados da Europa e as cidades-Estado italianas, gestados pelas disputas de soberanos franceses interessados em garantir seus direitos hereditários sobre o Reino de Nápoles e o Ducado de Milão. Essa é a essência do trabalho de Guicciardini: a política, a relação entre os Estados europeus. De acordo com John Burrow, “ele entendia que a política era formada por configurações e circunstâncias únicas, e a história era o instrumento ideal para avaliá-las” (2007, p. 322).

Ainda conforme Burrow, Guicciardini era comprometido com o esmiuçamento dos fatos históricos, buscando explicações múltiplas para os acontecimentos. “Ele raramente oferece um único motivo para uma ação se puder pensar e três os mais” (2007, p. 322). Analisando a Itália e seu bom aspecto político e social no final do século XV, o autor escreveu:

Muitos fatores a mantiveram nesse estado de felicidade, que foi a consequência de várias causas. Mas foi mais comum concordar que, entre estes, nenhum pequeno louvor deve ser atribuído à indústria e habilidade de Lorenzo de Medici, tão eminente entre as classes ordinárias de cidadãos na cidade de Florença, que os assuntos dessa República foram governados de acordo com seus conselhos (1984, p. 4).

Esse interesse pelos detalhes, pelo íntimo das causas, segundo John Burrow, tem duas consequências importantes. “A primeira, da qual ele tem total consciência, é a advertência contra o excesso de confiança de comentadores e, mais importante, de estadistas: arrogância é insensatez. A segunda, que permeia toda a sua obra, é o comprometimento com a explicação através da narrativa, contando a densa particularidade de cada momento histórico relevante” (2007, p. 328).

No contexto cultural e historiográfico desse período de transição do mundo medieval para o moderno, Guicciardini, embora menos conhecido que outros humanistas italianos, possui um lugar de destaque. Com sua História da Itália, rompe com a tradição do estudo localizado, da escrita individual sobre as diferentes cidades-Estado, abordando a Itália de uma forma geral, além de fazer digressões sobre as outras nações beligerantes. Vale lembrar que Guicciardini, entre 1508 e 1509, publicou História de Florença, obra de estudo local sobre sua terra natal, que vai de 1378, com a Revolta dos Ciompi, até 1509, com a Batalha de Agnadello, uma das maiores das Guerras Italianas.

O professor Maurício Parada, autor de Os historiadores clássicos da História, em um capítulo dedicado a Guicciardini, recupera alguns estudos historiográficos que servem de norte para compreender o pensamento histórico e a prática historiográfica desse historiador italiano. Eduard Fueter (1876-1928) afirma que Guicciardini não se interessava pela filosofia da história, prendendo-se à realidade, mas era extremamente preciso em suas análises empíricas, penetrando-as psicologicamente. Soma-se a isso a sua independência quase absoluta do juízo e o “egoísmo político”, que serve para apresentar as personagens como elas são, não de forma idealizada. Para Fueter História da Itália tem duas importantes inovações, a já citada abordagem geral (a Itália não é vista como uma unidade, mas um conjunto de diferentes povos que possuem certos elementos que garantem um certo grau de “união”) e o pessimismo político; e a pesquisa em arquivos públicos e familiares.

Felix Gilbert (1905-1991) segue a mesma trilha de Fueter, destacando o exame psicológico da história e a metodologia da pesquisa em arquivos públicos e familiares. Para ele essa é a última produção histórica escrita segundos os padrões clássicos e a primeira da historiografia moderna. Peter Bondanella (1943-2017) destaca a pesquisa documental feita por Guicciardini, chegando a afirmar que História da Itália foi precursora das histórias filosóficas de Voltaire, Gibbon, Montesquieu e Heggel. Para Mark Salber Phillips (1946) o diferencial de Guicciardini estaria na psicologia e no auto-interesse que guiavam os eventos de sua História. Eric Cochrane (1928-1985) considera que Guicciardini não era um anti-humanista, mas um herdeiro da escola historiográfica surgida no século XIV. A novidade de seu livro estaria na passagem da história das cidades para a história da nação, na conexão entre as narrativas das histórias das diferentes entidades políticas italianas.

Em síntese, ainda que com leves diferenças entre as análises de Fueter, Bondanella, Mark Salber e Eric Cochrane, Francesco Guicciardini realizou pesquisas empíricas em arquivos públicos e familiares, buscando nas fontes elementos das ações humanas que desencadearam os processos políticos da história recente das cidades-Estado italianas no período em que vivia. Guicciardini pode não ter rompido totalmente com a tradição humanista dos séculos XIII, XIV e XV, mas procurou inovar no que tange a abrangência temporal, ainda que em um intervalo curto de tempo se comparado, por exemplo, com a Nuova Crônica de Giovanni Villani, que vai da fundação da cidade de Florença até a segunda metade do século XIV.

O elemento que permeia a sua obra é a Fortuna (a boa ou má sorte). A Fortuna, para ele, é de grande importância na vida dos homens, no caso, dos políticos italianos e de outras nações, pois por mais que estes façam diferentes tipos de planos, projetos, são sempre atingidos por eventos favoráveis ou catastróficos que escapam de suas idealizações, restando a Fortuna, que lembra os homens de estes não podem controlar o destino. Como escreve em um período marcado por conflitos, também faz descrições das batalhas, das táticas de combate e dos materiais bélicos empregados; além de análises diplomáticas.

Em uma última análise, John Burrow afirma que a história de Guicciardini não foi uma imitação dos modelos humanistas. Ela, em parte, traz elementos que os lembram, como a produção de discursos para análises políticas, mas é original nas descrições das “complexas redes de relações diplomáticas”, e a “mudança de um centro de poder para outro é excepcionalmente rápida e por vezes, há de se admitir, confusa” (2007, p. 330). Os humanistas, em contrapartida, prezavam por modelos bem estruturados. Francesco Guicciardini, estadista, foi um historiador político, interessado nos eventos que sacudiam a Península Itálica desde fins do século XV e, mais ainda, no comportamento humano, guiado por interesses pessoais, com a Fortuna sempre a modificá-los.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BURROW, John. Uma história das histórias: de Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro: Record, 2013. Tradução Nana Vaz de Castro.

GUICCIARDINI, Francesco. The History of Italy. Princeton University Press; New Edition, 1984. Translated by Sidney Alexander.

PARADA, Maurício. Os historiadores clássicos da História, Vol. I - de Heródoto a Humboldt. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.


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