quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Pavilhão Universal

Pavilhão Universal, na Praça do Comércio. Cartão postal de 1917. FONTE: Manaus Sorriso.

O Pavilhão Universal, antigo quiosque localizado no Centro de Manaus, foi inaugurado em 1912 na administração municipal de Jorge de Moraes, tendo sido idealizado em 1909 na administração de Agnello Bittencourt. A construção, no início, ficou a cargo de José Avelino de Menezes Cardoso, que receberia uma concessão de 20 anos para explorá-lo. No entanto, foi transferida para Cerdeira & Oliveira (1).

De acordo com Durango Martins Duarte, o Pavilhão Universal tinha três áreas com usos distintos. No térreo funcionava o bar, e no subsolo e no andar de cima os jogos de salão (2).

Esses tipos de estabelecimentos, quiosques, bares e cafés, tornaram-se bastante comuns na cidade no início do século XX, reunindo uma clientela seleta de boêmios. Na região da Praça do Comércio e arredores, além do Pavilhão Universal, existiam também o Café dos Terríveis, o Bar Bolsa Universal e o Café Veneza. Ambientes puramente masculinos, que ofereciam bebidas nacionais e estrangeiras, conservas finas, sanduíches e bilhares, eram reflexo das transformações proporcionadas pela economia exportadora de borracha. Em 1914 ele é anunciado da seguinte forma no Jornal Sportivo:

Anúncio do Pavilhão Universal. FONTE: Jornal Sportivo, 26/04/1914.

De 1917 a 1928 teve como proprietário José Alves Júnior (3). A partir de 1928, com o falecimento de José Alves Júnior, passou a ser administrado por José Lopes, gerente do estabelecimento (4). Em 1948 foi aberta pela Prefeitura concorrência pela locação do espaço (5). Em anúncios de 1955, aparece como 'Pavilhão Universal, de viúva João Alves" (6). Francisco Alves de Andrade surge como proprietário a partir de 1958 (7). Nesse período ficou conhecido como Pavilhão Pará, em referência ao apelido do proprietário. Francisco Alves de Andrade foi seu último proprietário, ficando a frente deste até 1975.

O Pavilhão Universal em 1975, antes de ser desmontado. FONTE: Jornal do Comércio, 11/05/1975.

Essa construção, em estilo neoclássico, foi produzida em ferro e é desmontável, passando por diferentes locais ao longo de sua história. Inicialmente foi instalado na Praça do Comércio. Em 1975, após as intervenções urbanas na Praça da Matriz engendradas pelo Prefeito Jorge Teixeira, através do PDLI (Plano de Desenvolvimento Local Integrado), foi desmontado em instalado na Praça Ribeiro da Cunha, na rua Silva Ramos.

Posteriormente foi transferido para a Praça Adalberto Valle, em frente ao Edifício Tartaruga. Desta passou para a Praça Tenreiro Aranha (8). Por último, por ocasião dos 350 anos da cidade, está sendo recuperado pela Prefeitura, retornando à Praça Adalberto Valle.

NOTAS:

(1) Jornal do Comércio, 24/04/1912.

(2) DUARTE, Durango Martins. Manaus entre o passado e o presente. Manaus: Ed. Mídia Ponto Comm, 2009, p. 23.

(3) Almanaque Laemmert, RJ, edições de 1917 a 1928.

(4) Jornal do Comércio, 12/02/1928.

(5) Jornal do Comércio, 29/02/1948.

(6) Jornal do Comércio, 07/09/1955.

(7) Jornal do Comércio, 01/01/1958.

(8) Jornal do Comércio, 24/10/1996.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro

Prospecto da Fortaleza de São José da Barra. Desenho de 1756 do Capitão Engenheiro alemão Johann Andreas Schwebel. FONTE: Biblioteca Nacional (RJ).

A Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro foi uma das construções mais emblemáticas de Manaus, sendo considerada o núcleo que deu origem à cidade na segunda metade do século XVII. Assim como diversos fortes construídos na região naquele período, surgiu como mecanismo de defesa contra ameaças estrangeiras nessa parte distante da América Portuguesa.

Os relatos mais antigos sobre a Fortaleza surgem entre o final do século XVII e o século XVIII. O Pe. Samuel Fritz (1654-1728), em seu Diário, registra que chegou ao Rio Negro na noite de 7 de Setembro de 1690, lugar “[…] onde o rei de Portugal, há anos, mandou fazer uma fortaleza” (PINTO, 2006, p. 106). Entre 1774 e 1775, o Ouvidor e Intendente Geral Francisco Xavier Ribeiro Sampaio percorreu a Capitania de São José do Rio Negro em viagem de correição de suas povoações. Sampaio relata que “O general do estado Antonio de Albuquerque Coelho mandou edificar a fortaleza da barra deste rio por Francisco da Motta Falcão, e foi o seu primeiro commandante Angelico de Barros” (SAMPAIO, 1825, p. 89).

Alexandre Rodrigues, de passagem pelo Lugar da Barra no final do século XVIII, durante sua Viagem Filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1783-1792), fez uma breve relação dos comandantes da Fortaleza entre 1754 e 1787:

“Desde o dito ano de 1754 até o de 1787, em que estamos, sucederam-se, pela ordem que para aqui transcrevo, o alferes Alexandre Tomás, o cabo de esquadra José Ferreira Tordolho, o tenente Teodoro da Frota, o capitão de granadeiros José da Silva Delgado, o alferes Crispim Lobo de Souza, dito Luís da Cunha de Diarios pp209-350.pmd 355 22/10/05, 12:28 356 Eça, dito Francisco Alves Caeiro, o tenente Bernardo Toscano de Vasconcelos, segunda vez o alferes Crispim Lobo de Souza, o tenente Francisco Vitorino José da Silveira, terceira vez Crispim Lobo de Souza, já então promovido a tenente, dito Manoel Lobo de Almeida, o alferes Manoel Alves Romeiro Belo, o ajudante auxiliar Custódio de Matos Pimpim, segunda vez o tenente Francisco Vitorino José da Silveira, o soldado Francisco Serrão de Oliveira e o cadete, promovido a alferes, Antônio José da Costa Souto Maior” (FERREIRA, 2005, p. 355-356).

Registrou que

“No estado, porém, em que se acha, de já estarem rachadas as cortinas, demolida uma representação de baluarte e arruinado o seu pequeno parapeito, aonde estavam montadas peças, enquanto não arrebentou uma delas, é um fantasma que já hoje ilude tão pouco que nem uma só peça conserva” (FERREIRA, 2005, P. 356).

Em 1852, no Relatório do Presidente da Província do Amazonas, João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, a Fortaleza é descrita como uma construção arruinada, sem maiores usos:

“O Forte desta Capital tem apenas as arruinadas muralhas. O local he o mais improprio; e, ainda que se despendessem consideraveis sommas para a sua reedificação, de utilidade alguma poderia servir, a não ser para signaes de regosijo em Dias de Festa Nacional”. (AMAZONAS, RELATÓRIO DA PROVÍNCIA DO. 30/04/1852, p. 76).

No Dicionário topográfico, histórico, descritivo da comarca do Alto-Amazonas, Lourenço da Silva Araújo Amazonas, no verbete ‘Manáos’, afirma que “principiou esta Cidade pelo estabelecimento de algumas famílias de Barés, Banibas, e Passés á sombra da Fortaleza de S. José do Rio Negro” (AMAZONAS, 1852, p. 188). Araújo Amazonas continua, afirmando que

“As informações da importância do Rio Negro, ministradas por Favella ao dito Governador do Estado, determinárão-no a commetter em 1669 a Francisco da Motta Falcão a fundação da Fortaleza de S. José do Rio Negro, que se effectuou em sua margem septentrional, tres legoas acima de sua confluencia; da qual foi primeiro Commandante Angelico de Barros, e a cujo abrigo promptamente se reunirão algumas famílias de Baníbas, Barés e Passés, as quaes, missionadas pelos Carmelitas, explicão o principio da actual Cidade de Manáos”. (AMAZONAS, 1852, p. 233).

O poeta e historiador Aprígio Martins de Menezes (1844-1891), em sua História da Província do Amazonas, de 1884, diz o seguinte sobre a Fortaleza:

“em 1669 fundou Francisco da Motta Falcão a Fortaleza de S. José do Rio Negro, da qual foi primeiro commandante Angelico de Barros. Esta fundação e os domicílios que em redor d’ella foram estabelecendo algumas famílias Banibas, Barés e Passés dão origem a cidade de Manáos”. (MENEZES, 1884, p. 89).

Bertino de Miranda, jornalista paraense autor de A cidade de Manaus: sua história e seus motins políticos, de 1908, dá importância à construção como sendo o núcleo que deu origem à Manaus: “A história de Manáos data de dous seculos. A Fortaleza precede ao povoado. Já em 1700 vêmol-a em attitude belicosa. Foi construída por Manuel da Motta Falcão, cuja família parece ter sido especialista em obras desta natureza” (MIRANDA, 1908, p. 02). Na tentativa de estabelecer as bases de uma História oficial do Amazonas, Miranda afirma que o Capitão Guilherme Valente “[…] funda a Cidade ahi pelo principio do seculo XVIII”. (MIRANDA, 1908, p. 02).

Por volta de 1942, o historiador Arthur Cézar Ferreira Reis (1906-1993), no trabalho Roteiro das fortificações no Amazonas, publicado na Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao abordar a Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro, afirmou que

“Não é página definitiva ainda a origem do forte de São José do Rio Negro. Os cronistas, como Alexandre Rodrigues Ferreira, Baena, Araujo Amazonas, Ribeiro de Sampaio, André Fernandes de Sousa, Bertino Miranda, que riscaram o primeiro noticiário acêrca da história antiga do Amazonas, não esclareceram o assunto. Quem escreve estas linhas, procurando fixar a data exata da fundação e o nome do fundador, apesar das pesquisas que realizou para a monografia “Manaus e outras vilas”, editada em 1934, também não conseguiu elementos suficientes para o informe definitivo”. (REIS, 1942, p. 125).

Arthur Reis, recuperando o relatório de José Miguel Aires, Capitão-Mor das Ordenanças, feito em 1749, nos informa que o material da mesma consistia naquele período (segunda metade do século XVIII) em:

“Dez peças de artilharia ambas no chão sem carretas huma de cinco e outra de coatro. 4 cuxarras de cobre. 1 sacatrapo. 1 soquete. 17 ballas de artilharia. 12 pallanquetas. 6 dardos com xapas e recontros de ferro. 2 baionetaz. 2 sachos muito velhos. 4 ferros de cova muito velhos. 1 enxó de carpinteiro. 1 grissa. 2 escouperos. 1 martelo grande. 1 culher de pedreiro. 2 verrumas muito velhas. 1 serra de mão. 1 grilhão. 1 alabarda. 200 ballas de mosquete. 1 gonilha. 1 tronco”. (REIS, 1942, p. 132-133).

Quanto à guarnição, “[…] havia apenas um tenente, um sargento e quatro praças. A serviço dessa guarnição, mas localizados no povoado nascente à sombra do forte, viviam o principal Mandú Assú e 13 indigenas” (REIS, 1942, p. 133).

Em 1969, ano do Tricentenário de fundação da cidade, o geógrafo e historiador Agnello Bittencourt (1876-1975) escreveu em sua obra comemorativa Fundação de Manaus: Pródromos e Sequências, que

“[…] pela necessidade de garantir os portuguêses na bôca do Rio Negro contra os jesuítas espanhóis e os indígenas hostis, aliados aos holandeses da Guiana, foi construída em 1669, pelo Capitão Francisco da Motta Falcão, a Fortaleza de São José do Rio Negro, origem da cidade de Manaus” (BITTENCOURT, 1969, p. 29).

Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004), autor do clássico Fundação de Manaus, nos informa que a Fortaleza, erguida em 1669, tinha um formato quadrangular, sendo construída com pedra e barro, não possuindo fosso. Sua artilharia ficou a cargo de Francisco da Mota Falcão e Manuel da Mota Siqueira. Ela era composta por “duas peças de bronze e duas de ferro, respectivamente de calibres um e três”, que “guarneciam as cortinas, numa ameaça surda e perfeitamente inútil ao invasor suspeitado” (MONTEIRO, 1994, p. 25). Para o autor a Fortaleza seria incapaz de impedir incursões de inimigos, pois estes poderiam penetrar a região pelo furo de Guariúba, que ligava o Rio Negro ao Solimões.

A literatura mais antiga têm como ponto de partida da fundação da Fortaleza e da cidade de Manaus o ano de 1669. No entanto, não apresenta documentos que comprovem tal data como sendo a da fundação do forte e da cidade, apenas referências que também não fazem o mesmo. Sobre isso, Mário Ypiranga Monteiro, no artigo A César o que é de César, publicado em 02/09/1969 no Jornal do Comércio, afirma que a História da cidade deve partir da construção da Fortaleza, seguindo a regra geral de sua construção tendo sido em 1669. Todavia, não deixa de observar que

“Seria de maior interesse para a História se o construtor do forte da Barra viesse incumbido de fundar a cidade, mas isto jamais aconteceu. Por singular que pareça, Manaus não teve fundação oficial. Nem decretais, nem fórmulas simples, nem chantação do pelourinho, nem bandos, houve por onde se possa admitir um curso rigorosamente cronológico dessa fundação. Manaus evoluiu por si mesma até que recebesse sucessivamente as predicações de lugar, de vila e de cidade, quando outro lugares mais longe no tempo e no espaço já haviam passado por essas faces político-administrativas, documentadamente, inclusos autos de implantação do pelourinho, que eram o símbolo maior da justiça do rei. E a verdade é que outras localidades fortificadas nunca passaram de simples redutos, sem desenvolvimento social e cujos fortes acabaram em ruínas”. (MONTEIRO, 1969).

Para o professor e historiador Francisco Jorge dos Santos, o aniversário da cidade tendo como ponto de partida a suposta construção da Fortaleza em 1669 faz parte da invenção de uma tradição histórica. Ele explica que não existe, até agora, documentação comprobatória sobre a data de 1669, e que atos como esse “[…] são solenemente registrados por autoridades do poder público” (SANTOS, 2005). O Forte do Presépio, em Belém, possui documentação sobre sua fundação em 12 de janeiro de 1616. Mesmo com dúvidas pairando, em 1969 a Prefeitura de Manaus comemorou os 300 anos da fundação do Forte de São José da Barra e da cidade de Manaus. Em 1998, por sua vez, a mesma comemorou os 150 anos da Elevação da Vila da Barra à categoria de cidade, com o nome de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro. Qual a solução para tal problema? De acordo com Francisco Jorge,

“Para pôr fim a essa situação desconfortável, alguns poucos preocupados com as festas solenes do evento patrocinadas pelas verbas públicas resolveram "franksteinear" a data do aniversário natalício da cidade, passando a ser contado, a partir de 24 de outubro de 1669. O dia e mês de um evento e o ano de outro. Eis o imbróglio”. (SANTOS, 2005).

Não restam dúvidas de que a Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro existiu, existindo registros escritos e visuais. Para transformá-la em núcleo de origem da cidade, utiliza-se o ano em que se está mais ou menos em consenso como sendo o de sua construção, 1669; e o dia e mês de um ato comprovado por documentação, no caso o da elevação da Vila da Barra à categoria de Cidade, 24 de outubro, criando-se o dia 24 de outubro de 1669 como sendo o da fundação da cidade de Manaus.


FONTES:


AMAZONAS, Relatório da Província do. 30/04/1852.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


AMAZONAS, Lourenço da Silva Araújo. Dicionário Topográfico, Histórico, Descritivo da Comarca do Alto Amazonas. Recife: Typographia Commercial de Meira Henriques, 1852. (Biblioteca Arthur Reis).

BITTENCOURT, Agnello. Fundação de Manaus: Pródromos e Sequências. Manaus: Editora Sérgio Cardoso, 1969.

FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Diário da Viagem Filosófica pela Capitania de São José do Rio Negro com a Informação do Estado Presente. CiFEFil, Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Diários, p. 209-350, 22/10/2005.

MENEZES, Aprígio Martins de. História da Província do Amazonas. In: Almanach Administrativo, Histórico, Estatístico e Mercantil da Província do Amazonas para o anno de 1884. Manáos: Imp. na Typ. Do Amazonas de José Carneiro dos Santos, 1884, p. 87-115.

MIRANDA, Bertino de. A Cidade de Manaus: Sua História e seus Motins Políticos. Manaus: Typ. De J. Renaud & Cia, 1908.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Fundação de Manaus. 4° Ed. Manaus: Editora Metro Cúbico, 1994.

________________________. A César o que é de César. Jornal do Comércio (Manaus), 02/09/1969.

PINTO, Renan Freitas (Org.). O Diário do Padre Samuel Fritz. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas/Faculdade Salesiana Dom Bosco, 2006.

REIS, Arthur Cézar Ferreira. Roteiro das fortificações no Amazonas. In: Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. N° 06. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1942, p. 119-168.

SAMPAIO, Francisco Xavier Ribeiro de. Diário da viagem que em visita, e correição, das povações da Capitania de S. Joze do Rio Negro fez o ouvidor, e intendente geral da mesma, no anno de 1774 e 1775. Lisboa: Typographia da Academia, 1825. (Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin).

SANTOS, Francisco Jorge dos. Imbróglio do aniversário de Manaus. Artigo publicado em CD-ROM no Jornal do Commercio nos dias 22, 23 e 24. 10. 2005, em Manaus.


CRÉDITO DA IMAGEM:

Biblioteca Nacional, RJ.

domingo, 29 de setembro de 2019

Atividade sobre a Mineração na América Portuguesa (8° ano do Ensino Fundamental)

Processo de extração e lavagem de ouro no Rio das Velhas. Gravura do século XVIII, de autor desconhecido. In: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. A Travessia da Calunga Grande - Três Séculos de Imagens sobre o Negro no Brasil (1637-1899). São Paulo: Edusp, 2000.

Essa atividade foi desenvolvida na disciplina Prática Integrada VII, do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ministrada pelo Professor Me. Felipe Cabral Cavalcante. Sob sua orientação ficamos encarregados de produzir uma atividade de Ensino Fundamental sobre a mineração na América Portuguesa tendo como limitador o livro Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, de forma a realizar a transposição didática de uma obra acadêmica para o ensino básico. A minha, abaixo reproduzida, versa sobre a Intendência de Minas, órgão administrativo que geria todos os assuntos referentes à mineração. Seu público alvo é o do 8° ano do Ensino Fundamental:


LEITURA COMPLEMENTAR

Leia o texto abaixo e, em seguida, responda as questões:


A Intendência de Minas

“Para executar o Regimento, cobrar o quinto, superintender1 todo o serviço da mineração e resolver os pleitos2 entre os mineradores, bem como destes com terceiros, em questões atinentes à mineração, criou-se um organismo administrativo especial: a Intendência de Minas. Em cada capitania em que houve extração de ouro, organizou-se uma Intendência que nas suas atribuições independia completamente das demais autoridades coloniais: só prestava contas e obediência ao governo da metrópole. Compunha-se a Intendência de um superintendente3, conhecido vulgarmente como intendente, a quem cabia a direção geral do serviço, e de um guarda-mor4, que é quem fazia a repartição das datas5 e fiscalizava, nas minas, a observância do regimento. O guarda-mor podia-se fazer substituir em lugares “afastados” […] por guarda-menores que ele próprio nomeava. Seguiam-se naturalmente escrivão e outros oficiais auxiliares.

Subordinava-se à Intendência a Casa de Fundição, onde se recolhia obrigatoriamente todo ouro extraído, e onde, depois de fundido, ensaiado, quintado (isto é, deduzido do quinto da coroa), e reduzido a barras cunhadas, era devolvido ao portador acompanhado de um certificado de origem que provava o cumprimento das formalidades legais e com que deviam circular as barras. Só então podia o ouro correr livremente e ser expedido para fora da capitania”.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia. 23° Ed. São Paulo: Brasiliense, 1997, p. 175-176.



QUESTÕES

1. Liste os funcionários que formavam a Intendência de Minas e descreva suas funções.

2. Qual a relação entre a Intendência de Minas e a Casa de Fundição?


GLOSSÁRIO DE APOIO:

1 SUPERINTENDER: O mesmo que dirigir.
2 PLEITO: O mesmo que discussão.
3 SUPERINTENDENTE: O mesmo que chefe, supervisor.
4 GUARDA-MOR: Oficial que atuava como “policial”.
5 DATAS: Terrenos para mineração divididos em lotes.


A atividade consiste em duas questões dissertativas sobre um trecho da obra de Caio Prado Júnior. Para auxiliar os discentes, produziu-se um pequeno glossário de termos (destacados em negrito) que possam oferecer alguma dificuldade em sua realização. Sugere-se que seja realizada após, no mínimo, duas aulas sobre a mineração no período colonial, para que os alunos tenham algumas noções sobre o tema a que se refere o trabalho. Dessa forma, utilizando o trecho de uma obra acadêmica, transformada em uma atividade simples, com apoio do professor, os alunos do Ensino Fundamental já podem ir familiarizando-se com leituras mais complexas.



CRÉDITO DA IMAGEM:

http://multirio.rio.rj.gov.br

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Nos tempos da Rua do Imperador

Rua Marechal Deodoro, antiga Rua do Imperador. Cartão postal de 1918. FONTE: Manaus Sorriso.

A rua Marechal Deodoro, no Centro de Manaus, é famosa pelo movimentado comércio, sendo popularmente conhecida como rua do Bate Palma, em referência à forma como os vendedores divulgam seus produtos. Há mais de 150 anos, quando Manaus era capital da Província do Amazonas, seu nome era outro: Rua do Imperador, em homenagem ao Imperador Dom Pedro II (1825-1891). No presente texto, por ocasião da comemoração da Elevação do Amazonas à categoria de Província (a instalação ocorreu apenas em 01/01/1852), recupero a história dessa que foi uma das principais ruas da cidade naquele período.

A então rua do Imperador tinha início na Rua da Boa Vista (Marquês de Santa Cruz), estendendo-se até a Rua Brasileira (Avenida Sete de Setembro). Até 1870 ela tinha um aspecto acanhado, principalmente pela ausência de calçamento. Em 1868 a Câmara Municipal abriu a concorrência para o serviço de calçamento da Rua do Imperador, do canto da Praça Riachuelo até a Rua da Boa Vista:

"A camara municipal desta cidade, faz publico que tem de mandar calçar a rua do Imperador a começar do canto da praça de Riachuelo até encontrar a rua da Boa-Vista, pelo mesmo systema empregado no calçamento da rua Brasileira [...]

As pessoas que se quezerem propor a taes obras, deverão remetter suas propostas em carta feixada á secretaria da camara até o dia 16 de setembro, quanto ao calçamento da rua do Imperador". (AMAZONAS, 06/09/1868).

Concorreu, inicialmente, a firma Mesquita & Irmãos. Em 1869, em 08 de março, foi aberta uma nova concorrência, saindo vencedora a proposta de José Pereira de Sousa & Cia. O calçamento, com pedras botija, foi concluído apenas em 1870. 

Na Rua do Imperador ficavam os principais estabelecimentos comerciais da cidade, as grandes oficinas tipográficas e as repartições públicas. Os anúncios comerciais publicados em jornais entre as décadas de 1860 e 1880 são bastante reveladores da importância dessa via pública. Pode-se dizer, sem exageros, que a rua do Imperador foi uma congênere regional da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, centro da agitada Corte Imperial.

Os principais estabelecimentos comerciais dessa rua na época (1860-1889) eram os de Mesquita & Irmãos, de produtos variados (tecidos, ferragens, chapéus, aluguel de escravos etc); o Centro Comercial Amazonense, de José Teixeira de Souza Cia, de produtos variados (tecidos, ferragens, armas etc); a loja de fazendas e miudezas de Salomão Brun & Cia; o Bazar de Paris; o Empório Europeu; a loja de Moura Ferro & Cia; a Loja Esperança, de Bernardo Truão; o armazém de Leão Israel & Irmão; a oficina de alfaiate Tesoura Fluminense, de Antonio Cantizano; a oficina de barbeiro de Severo Caracciolo; a Tabacaria Amazonense, de Luitgard & Cia; o Café Chic, de Isidoro José da Silva; a botica de J. B. Rodrigues; a Farmácia e Drogaria Central, de J. F. Pedrosa; a Olaria Nazareth das Lages, de Machado e Silva & Cia; o Hotel Amazonas, de Demetrio Antonio Peixoto; o Hotel das Nações, de Oliveira & Mattos; o Hotel do Comércio; a tipografia do Jornal do Amazonas; do jornal A Voz do Amazonas; de Antônio Fernandes Bugalho; a oficina de sapateiro e posteriormente loja de calçados nacionais e estrangeiros de Francisco Euzebio de Souza; de repartições públicas, o Correio Geral; o Palácio do Governo (depois Tesouraria e Alfândega); a Chefatura de Polícia; e o Vice-Consulado Português; e educacionais, o Colégio Santa Rita.

A Rua do Imperador era bastante valorizada, sendo encontrados diversos anúncios de vendas de casas e terrenos para abrigar famílias ou receber empreendimentos. A Rua do Imperador reunia em sua extensão o melhor que podia ser encontrado na Província do Amazonas em comércio e serviços, de brasileiros e estrangeiros.

Com o golpe militar que proclamou a República em 15 de novembro de 1889, a mudança de nome era mais do que certa. Entre 1890, conforme pesquisa do historiador Mário Ypiranga Monteiro, uma nova nomenclatura foi proposta pelo intendente Pedro Guilherme Alves da Silva em 11 de novembro, referendada pelo superintendente José Carlos da Silva Teles na mesma data (MONTEIRO, 1998, p. 204). Ela foi renomeada como Rua Marechal Deodoro, em homenagem ao Marechal Manuel Deodoro da Fonseca (1827-1892), figura central dos movimentos republicanos e primeiro Presidente da República. No entanto, o nome Rua do Imperador, pelo menos em alguns periódicos, perdurou até 1894, o mesmo podendo ter ocorrido com a população, a ela referindo-se por um bom tempo com o antigo nome.

Seguem abaixo alguns anúncios comerciais de estabelecimentos que ficavam na antiga Rua do Imperador:


Para curar as sezões, febres intermitentes ou periódicas, as pessoas poderiam encontrar as pílulas ante-periódicas do Dr. Lemos na botica de J. B. Rodrigues, na Rua do Imperador. FONTE: O Catequista, 1869.

Julio Antonio Pereira dos Santos & Irmão anunciavam no jornal Amazonas ter para vender um terreno na Rua do Imperador, com fundos para o igarapé. FONTE: Amazonas, 1872.

Em 1875 o dentista norte-americano João Dix Weatherly veio do Pará oferecer seus serviços em Manaus, estabelecendo-se na Rua do Imperador por um mês. FONTE: Jornal do Amazonas, 1875.

O Bazar de Paris, loja de roupas e tecidos estabelecida na Rua do Imperador, frequentemente realizava liquidações a preços módicos. FONTE: Jornal do Amazonas, 1877.

Uma das grandes novidades do período provincial, em Manaus, foi a inauguração, em 16 de dezembro, do Restaurante Dois Amigos, de Ferreira & Guimarães, na Rua do Imperador. Além de servir o que havia de melhor na culinária, fazia entregas a domicílio. FONTE: Jornal do Amazonas, 1882.


FONTES:

Amazonas, 06/09/1868.
O Catequista, 1869.
Amazonas, 1872.
Jornal do Amazonas, 1875.
Jornal do Amazonas, 1877.
Jornal do Amazonas, 1882.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998. (Acervo de Eros Augusto Pereira da Silva).

domingo, 1 de setembro de 2019

Cemitério São João Batista: Túmulo de Lourença do Rego Barros

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

O túmulo de Lourença do Rego Barros está localizado na quadra 04 do Cemitério São João Batista, fazendo parte do conjunto de monumentos funerários que pertenciam ao antigo Cemitério de São José, desativado em 1891.

Não se tem muitas informações sobre Lourença do Rego Barros e sua família. Seu túmulo é uma obra clássica, tendo apenas o epitáfio e data de falecimento da homenageada:

"Aqui jazem os restos mortaes de Lourença do Rego Barros fallecida a 8 de maio de 1887. Recordação saudosa de seus filhos nettos".

Seu túmulo tem dimensões monumentais, sendo construído inteiramente com mármore de Lioz. De estilo Neoclássico, ele consiste em um conjunto de figuras: uma pranteadora sobre uma urna coberta com um manto e encimada por uma coruja. Esse conjunto está ladeado por duas colunas dóricas que sustentam o frontão triangular com a imagem de um medalhão com uma cruz envolto por galhos com folhas. No acrotério central possivelmente existia uma cruz.

FOTO: Fábio Augusto, 2019.

Sobre as pranteadoras, diz a historiadora Luiza Fabiana Neitzke de Carvalho, em estudo sobre suas representações no Cemitério Evangélico de Porto Alegre entre 1890 e 1930, que elas são:

"[...] figuras femininas, representadas segundo as diretrizes formais clássicas. Aparecem com ou sem signos cristãos, portanto podem se encaixar como signo proveniente da antiguidade clássica ou ainda amalgamado, quando são representadas com cruzes ou flores do repertório cristão. As pranteadoras algumas vezes são caracterizadas remetendo a figura da Virgem Maria ou seguindo o padrão do anjo cristão, de túnica longa e de expressão pouco sentimental". (CARVALHO, 2009, p. 103).

A urna sobre a qual está chorando e refletindo simboliza o fim daquela vida. A coruja, ave noturna, é desde a Antiguidade, no contexto mortuário, associada à solidão e a tristeza. No entanto, dependendo do homenageado, de sua ocupação em vida, a coruja também significa inteligência e sabedoria.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, Luiza Fabiana Neitzke. A Antiguidade Clássica na Representação do Feminino: Pranteadoras do Cemitério Evangélico de Porto Alegre (1890-1930). Dissertação (Mestrado em História, Teoria e Crítica da Arte). Instituto de Artes - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Teatro Amazonas: De templo das artes a depósito de borracha

Teatro Amazonas. FONTE: Revista Sombra, RJ, abril de 1940.

O Teatro Amazonas, localizado no Centro Histórico de Manaus, já teve seus altos e baixos. Entre fins do século XIX e início do século XX, quando foi concluído e entrou em atividade, viveu sua fase de ouro, atraindo artistas nacionais e estrangeiros. Com a crise econômica se anunciado desde fins da década de 10 do século XX, o teatro passou a receber companhias e artistas pouco famosos, sofrendo com o desgaste da estrutura e a péssima manutenção, apesar dos esforços de administrações como a do Governador Ephigênio Salles (1926-1929). Na década de 1930 ele entrou em decadência total. Uma luz de esperança acendeu com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, apesar de sua utilização com fins não artísticos. Com o bloqueio do Japão das colônias asiáticas que produziam borracha, matéria prima necessária na indústria armamentista, os Aliados voltaram seus olhos para a Amazônia. O Teatro Amazonas voltou a ter uso, dessa vez como sede da 'Rubber Reserve Company', depósito de borracha endereçada aos Aliados. Recupero a seguir um texto da época sobre essa fase do teatro, publicado em 1943 no Jornal do Comércio:


Teatro Amazonas, marco histórico de uma trajetória luminosa

Dos aplausos com que se imortalisaram genios á função mais nobre e mais utilitaria ao esforço de guerra

Intimamente ligada ao ciclo da borracha, em seus diversos estagios, a vida da suntuosa casa de arte

Poucos, pouquissimos edificios, no Brasil, teem tido uma historia tão movimentada, um destino tão glorioso como o que fora reservado ao Teatro Amazonas.

Construido na época do excesso das rendas estaduais, por determinação de uma lei votada na Assembleia Provincial, teve de vencer as difficuldades surgidas em diferentes oportunidades, até sua conclusão integral, efetuada na administração Pensador, em 1892*. Podemos nos gabar de possuir um teatro sui generis, o primeiro construido no Brasil para a sua finalidade. O Teatro Amazonas não somente constitue, um padrão de orgulho para a nossa terra. E' o marco de uma trajetoria luminosa que estacou ali, esgotados os nossos recursos pela inexoravel queda do padrão economico estadual. Podemos referir, portanto, toda a sua existencia, em 3 fases: surgimento, declinio e utilidade. São 3 fases distintas, que merecem estudadas de per si. O surgimento vai da promulgação da lei n°. 546, de junho de 1881, autorizando a construção do predio, até a desvalorisação progressiva do "ouro negro". Porque é curioso observar-se que a vida do teatro está intimamente ligada ao ciclo da borracha.

A segunda fase, menos interessante, vai aos nossos dias, finalizando com os acontecimentos que arrastaram o Brasil á declaração de guerra. Dai nasce a 3° fase.

No primeiro periodo de sua deslumbrante existencia, o Teatro Amazonas recebeu a visita dos melhores artistas do mundo, a exemplo do grande tragico Giovanni Emmanuel, que ali representou o "Hamlet", o "Othelo", etc. Companhias de ópera eram contratadas na Italia e vinham diretamente representar para a platéa seleta do Amazonas. Para custear as despezas com a montagem das peças, recebia o Teatro, por temporada, a quantia de Cr. $ 100.000,00, o que naquele tempo representava uma fortuna.

O Teatro possuia, até pouco tempo, a sua propria uzina de luz, localizada ao lado, na rua 10 de Julho.

Passaram sob aqueles arcos em triunfo, gênios da ribalta e da musica, como Dangeville, Gallignani, Giovanni Emmanuel, Guiomar Novais, Bidu' Sayão, Zerda, Amelia Lupiculla, Leopoldo Fróes, Renato Vianna e outros que a historia esqueceu...

Decrescendo o prestigio economico da borracha, foi o velho monumento ficando a margem, isolado no seu secundarismo, proibido de funcionar pela absoluta falta de elementos artisticos capazes de se arriscarem a um fracasso de bilheteria. Passou o monumento historico. Transformaram-no depois. Arrancaram-lhe os derradeiros vestigios daquela nobreza. Os veludos, [...] os brocados, as franjas, as poltronas arcaicas, tudo que documentava o seu passado de riqueza e esplendor, e que constituia recordação carissima, desapareceu, eliminado pela necessidade de uma reforma intransigente. A patina do tempo aureolou de velhice os laureis do consagrado monumento. Foi preciso lavar os sintomas que ocultavam a decadencia do templo e a decadencia do espirito e da arte. A maquilage, longe de ocultar o disfarce, poz a nu a verdade: o glorioso Teatro, cujas paredes estremeceram aos aplausos freneticos com que se imortalizaram tantos genios, estava sendo utilizado apenas por companhias de 3° ordem e por conjuntos regionais deficientes, escondendo nesses momentos de vida a sua decadencia, imortalizando qualquer meio-gênio fracassado que aparecesse na ribalta.

A reação, no entanto, não demorou, com um decreto que tinha a inexorabilidade do fatalismo: proibir que representassem no Teatro Amazonas companhias não devidamente licenciadas pelo Serviço Nacional de Teatro.

Acabou-se a 2° fase. O Teatro Amazonas fechou definitivamente as suas portas para os talentos mediocres e as companhias de revista. Foi mais ou menos nessa situação que o veio encontrar a conflagração, rasourando a face da terra, semeando a morte e a miseria. O Brasil, aceitando em difinitivo a situação creada pelo inimigo, integrava-se no conflito. E' então que o Teatro Amazonas, que durante meio seculo ouviu estrugir em suas arcadas as vozes dos gênios, passou, com o ressurgir da economia do vale, a aceitar uma outra função, a função mais nobre e mais utilitaria ao esforço de guerra das nações unidas: passou a funcionar, num dos seus amplos departamentos, a "Rubber Reserve Company". Por um capricho curioso, o mesmo fator economico que lhe deu vida e glorias inesqueciveis, o mesmo fator economico, novamente agitado nesta hora de tremendos cataclismos sociais, tenta reabilitar a Amazonia, e é ali naquelas salas silenciosas que os soldados da democracia, que nos veem ajudar a vencer a crise economica da borracha, estudam e traçam os caminhos retos que deveremos palmilhar para conseguir a vitoria do Brasil e do espirito sobre o imperialismo doentio.


FONTE:

Jornal do Comércio, 14/02/1943.


* O teatro foi inaugurado em 31 de dezembro de 1896, com as obras se arrastando por mais alguns anos. Trata-se de um erro da publicação original.