Recupero,
a seguir, algumas matérias publicadas no Jornal do Comércio entre 19/08/86 a 06/09/1986
por ocasião da realização da I Semana de História da Universidade
do Amazonas (01/09/86), evento que teve grande repercussão na cidade
pela quantidade de participantes, mais de 200 professores das redes
estadual e municipal, e também pelo tema: Como Ensinar História.
PROGRAMAÇÃO
COMPLETA:
1°
Dia: Sessão solene de abertura, às 08 horas, seguida da elaboração
de diagnósticos sobre a realidade do ensino de História no
Amazonas. Às 15 horas, abertura de uma sessão plenária com
apresentação e discussão dos relatórios por unidade educacional.
2°
Dia: Curso de Metodologia da História, com as professoras Patrícia
Alves de Melo, Regina Celestino de Almeida e professor Hideraldo Lima
da Costa. Curso "A Questão do Ensino de História" ministrado
pelo professor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro. Curso de História do
Amazonas ministrado pelo professor Ribamar Bessa Freire. A partir das
10 horas, mesa redonda sobre a "Visão da História" com
representantes da Seduc, Semec, IGHA, Biblioteca Pública, Arquivo
Público, Cedeam, Museu do Homem do Norte, Museu do Porto e Museu
Tiradentes, tendo como debatedores a professora Vânia Tadros e o
professor Luís Balkar Peixoto. Às 15 horas, apresentação do filme "No Paiz das Amazonas", com comentários da professora Selda
Valle.
3°
Dia: Mesa redonda "A Regionalização do Ensino", com
participação dos representantes da Seduc e da Semec, além do
professor Francisco Jorge. Os debatedores serão a professora
Patrícia Alves de Melo e o professor Geraldo de Sá Peixoto. Às 15
horas, mesa redonda "Os Currículos de 1° e 2° graus", com
representantes da Seduc e da Semec.
4°
Dia: Às 08 horas o tema "A Formação do Operariado no Amazonas 1890-1920" será exposto pelo professor Ribamar Bessa Freire, seguido da
exposição, pelo mesmo professor, do tema "O que mudou no Amazonas
com a Criação da Província".
5°
Dia: Debate com o tema "Recuperação da Memória: Levantamento de
Fontes Primárias para a História dos Municípios do Amazonas",
com participação dos professores Geraldo Sá Peixoto, Francisco
Jorge dos Santos e Sínval Carlos Mello Gonçalves.
Mais
importante do que fazer parte ou interferir na História do seu
Estado, País, ou região, é dar condições às pessoas de
entenderem o processo histórico a que estão submetidas. Mais ou
menos nesse sentido é que se pautou as discussões da I Semana de
História promovida pela Universidade do Amazonas, cujo objetivo
principal foi justamente reformular a metodologia do ensino, de 1° a
3° graus, da disciplina História. Nesse encontro, que terminou
ontem, foram postos em evidência os principais problemas no
desenvolvimento desta disciplina no Estado: falta de documentação e
o incentivo à pesquisa.
COMO
ENSINAR HISTÓRIA
Mudar,
de certo modo, a visão “tendenciosa” que os professores de
História vinham dando ao ensino da matéria e fazer com que muita
coisa mude nesse sentido, foram os pontos principais das discussões
que envolveram a I Semana de História
Da
equipe do JC
Numa
promoção do Departamento de História da UA-ANPUH (Associação
Nacional dos Professores Universitários de História), dirigida a
todos os professores da rede Estadual que buscam o aprimoramento de
seus conhecimentos e desenvolver, a partir daí, uma nova metodologia
do ensino dentro dessa área terminou ontem a I Semana de História.
Vários
professores, entre eles o professor Ribamar Bessa (chefe do
Departamento), a professora Vânia Novoa Tadros (coordenadora de
extensão), a professora Selda Valle da Costa (FUA), e muitos outros
representantes desta área de ensino no Amazonas, organizaram a
Semana, de forma que pudessem ser discutidos os problemas do ensino e
fossem feitas reciclagens através de três cursos: Metodologia da
História, A Questão do Ensino da História e História da Amazônia.
E, através dos cursos de extensão, tentar levar à comunidade
aquilo que é feito dentro da universidade. Os trabalhos iniciaram
com a colocação de todos os problemas enfrentados pelos professores
das unidades educacionais, abrindo-se uma discussão em torno deles,
tentando formular um diagnóstico sobre a realidade do ensino de
História no Amazonas.
Essa
tentativa de mudança se dá pelo fato de que a visão que um aluno
de 1° e 2° graus tem da História é muito complexa. Decorar apenas
datas e nomes não fará com que ele entenda os fatos de maneira
compreensiva e clara ao ponto de conseguir se situar em qualquer
época, num determinado momento histórico. Como explica a professora
Vânia Tadros, é necessário mostrar ao aluno o outro lado dessa
realidade, porque essa disciplina, por ser muito complexa, chega a
ser um tanto “tendenciosa”, encaminhando os fatos apenas num
sentido, quando na verdade existe uma série de episódios que devem
ser mostrados porque através deles a compreensão pode ser ainda
maior.
Por
isso, foi feita uma mesa redonda para se debater “A Visão da
História”, tendo como expositores representantes da Seduc, Semec,
IGHA, Biblioteca Pública, Arquivo Público, Cedeam/UA, Museu do
Homem do Norte, Museu do Porto e do Museu Tiradentes. Logo após foi
mostrado um filme sobre a Amazônia na época da borracha, intitulado
“No Paiz das Amazonas” (de Silvino Santos), apresentado e
comentado pela professora Selda Valle. O filme foi feito em 1920 a
1922 por um contrato firmado pela firma JG com o cineasta Silvino
Santos para retratar tudo o que estava acontecendo naquela época da
decadência. “A firma JG, naqueles tempos, era muito poderosa, e
foi uma das poucas que conseguiram superar esse período por ter
conseguido diversificar sua economia. Não só se dedicando ao
cultivo da borracha, mas utilizando o comércio da castanha, as
padarias e o extrativismo como outras formas de renda. E isso lhe deu
condições de comandar todo esse setor dentro da Amazônia. Esse
filme foi mostrado também em Paris e Nova York, na tentativa de
resgatar todo o poderio da borracha”, explicou a professora Vânia.
DOCUMENTAÇÃO
E PESQUISA
A
falta de documentação suficiente que venha a servir como fontes de
pesquisa é um dos principais problemas enfrentados pelos
professores. E com a utilização deste filme a Semana de História
tomou um novo rumo e Vânia explica porquê: “A imagem como objeto
de estudo para o pesquisador ligado à área de Ciências Sociais,
serviu para refletir as condições da sociedade naquela época,
facilitando uma análise e debates sobre a questão. É um estudo que
serve não somente para esse encontro, mas para qualquer filme que
venham a assistir”.
O
problema da falta de documentação suficiente para pesquisas é um
problema relativo e o bibliotecário especializado em obras raras,
Geraldo Xavier, explicou que em Manaus existe muito pouco interesse
na conservação das coisas antigas, tudo que é considerado velho é
jogado fora. No incêndio que houve na Biblioteca Pública em 45,
muitos documentos foram perdidos, apenas alguma coisa foi salva. “Mas
são documentos que poucas pessoas sabem de sua existência apesar
das listas que são enviadas para os órgãos de ensino,
principalmente às Universidades. Mesmo assim, não existe um
interesse muito grande por parte dessas pessoas no sentido de
procurar as fontes. É um trabalho que requer tempo e paciência o
que geralmente é muito difícil”, destacou Geraldo.
Na
Semana foi muito discutido também a falta de apoio e incentivo à
pesquisa, reclamado pelos professores, que acham que só agora, com a
nova direção de Roberto Vieira, esse apoio começou a ser dado;
antes eles consideravam extremamente reprimida. “Às vezes é
necessário buscar informações em outros lugares como Amsterdã,
Paris e isso leva tempo e dinheiro, dificultando ainda mais as
coisas. Um documento só não faz a História. Dele deve se iniciar
um trabalho no sentido de tentar facilitar a sua compreensão. E
trabalhar esse documento em cima de uma linha metodológica e
teórica, não é fácil. Com um filme adquire-se uma forma de provar
aquilo que se está falando. A imagem nesses momentos é muito
importante”, ressaltou Vânia Tadros.
Quando
se desenvolve uma pesquisa, vai-se encontrando ao longo dela muitos
furos que devem ser preenchidos, já que se busca a verdade. Não se
pode pegar um documento e acreditar em tudo que está contido.
Deve-se buscar principalmente o outro lado da versão. “Nosso
trabalho é um trabalho acadêmico, não é o fato de apenas tentar
provar alguma coisa, só por ter levantado a questão. Acaba-se
chegando à conclusão de que o erro dentro da hipótese é muito
relativo. Não se pesquisa para se provar uma hipótese, mas para se
procurar uma aproximação da verdade”, explicou Vânia.
A
Semana, enfim, foi considerada muito importante para todos os
participantes, principalmente no que se refere ao aprimoramento da
metodologia, como destacou uma professora: “Na tentativa de passar
os fatos históricos de uma forma muito mais dinâmica e atual”.
FONTES:
Jornal
do Comércio, 19/08/1986
Jornal
do Comércio, 02/09/1986
Jornal
do Comércio, 06/09/1986
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