quinta-feira, 31 de agosto de 2017

I Semana de História da Universidade do Amazonas (1986)


Recupero, a seguir, algumas matérias publicadas no Jornal do Comércio entre 19/08/86 a  06/09/1986 por ocasião da realização da I Semana de História da Universidade do Amazonas (01/09/86), evento que teve grande repercussão na cidade pela quantidade de participantes, mais de 200 professores das redes estadual e municipal, e também pelo tema: Como Ensinar História.


PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

1° Dia: Sessão solene de abertura, às 08 horas, seguida da elaboração de diagnósticos sobre a realidade do ensino de História no Amazonas. Às 15 horas, abertura de uma sessão plenária com apresentação e discussão dos relatórios por unidade educacional.

2° Dia: Curso de Metodologia da História, com as professoras Patrícia Alves de Melo, Regina Celestino de Almeida e professor Hideraldo Lima da Costa. Curso "A Questão do Ensino de História" ministrado pelo professor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro. Curso de História do Amazonas ministrado pelo professor Ribamar Bessa Freire. A partir das 10 horas, mesa redonda sobre a "Visão da História" com representantes da Seduc, Semec, IGHA, Biblioteca Pública, Arquivo Público, Cedeam, Museu do Homem do Norte, Museu do Porto e Museu Tiradentes, tendo como debatedores a professora Vânia Tadros e o professor Luís Balkar Peixoto. Às 15 horas, apresentação do filme "No Paiz das Amazonas", com comentários da professora Selda Valle.

3° Dia: Mesa redonda "A Regionalização do Ensino", com participação dos representantes da Seduc e da Semec, além do professor Francisco Jorge. Os debatedores serão a professora Patrícia Alves de Melo e o professor Geraldo de Sá Peixoto. Às 15 horas, mesa redonda "Os Currículos de 1° e 2° graus", com representantes da Seduc e da Semec.

4° Dia: Às 08 horas o tema "A Formação do Operariado no Amazonas 1890-1920" será exposto pelo professor Ribamar Bessa Freire, seguido da exposição, pelo mesmo professor, do tema "O que mudou no Amazonas com a Criação da Província".

5° Dia: Debate com o tema "Recuperação da Memória: Levantamento de Fontes Primárias para a História dos Municípios do Amazonas", com participação dos professores Geraldo Sá Peixoto, Francisco Jorge dos Santos e Sínval Carlos Mello Gonçalves.

Mais importante do que fazer parte ou interferir na História do seu Estado, País, ou região, é dar condições às pessoas de entenderem o processo histórico a que estão submetidas. Mais ou menos nesse sentido é que se pautou as discussões da I Semana de História promovida pela Universidade do Amazonas, cujo objetivo principal foi justamente reformular a metodologia do ensino, de 1° a 3° graus, da disciplina História. Nesse encontro, que terminou ontem, foram postos em evidência os principais problemas no desenvolvimento desta disciplina no Estado: falta de documentação e o incentivo à pesquisa.


COMO ENSINAR HISTÓRIA

Mudar, de certo modo, a visão “tendenciosa” que os professores de História vinham dando ao ensino da matéria e fazer com que muita coisa mude nesse sentido, foram os pontos principais das discussões que envolveram a I Semana de História

Da equipe do JC

Numa promoção do Departamento de História da UA-ANPUH (Associação Nacional dos Professores Universitários de História), dirigida a todos os professores da rede Estadual que buscam o aprimoramento de seus conhecimentos e desenvolver, a partir daí, uma nova metodologia do ensino dentro dessa área terminou ontem a I Semana de História.

Vários professores, entre eles o professor Ribamar Bessa (chefe do Departamento), a professora Vânia Novoa Tadros (coordenadora de extensão), a professora Selda Valle da Costa (FUA), e muitos outros representantes desta área de ensino no Amazonas, organizaram a Semana, de forma que pudessem ser discutidos os problemas do ensino e fossem feitas reciclagens através de três cursos: Metodologia da História, A Questão do Ensino da História e História da Amazônia. E, através dos cursos de extensão, tentar levar à comunidade aquilo que é feito dentro da universidade. Os trabalhos iniciaram com a colocação de todos os problemas enfrentados pelos professores das unidades educacionais, abrindo-se uma discussão em torno deles, tentando formular um diagnóstico sobre a realidade do ensino de História no Amazonas.

Essa tentativa de mudança se dá pelo fato de que a visão que um aluno de 1° e 2° graus tem da História é muito complexa. Decorar apenas datas e nomes não fará com que ele entenda os fatos de maneira compreensiva e clara ao ponto de conseguir se situar em qualquer época, num determinado momento histórico. Como explica a professora Vânia Tadros, é necessário mostrar ao aluno o outro lado dessa realidade, porque essa disciplina, por ser muito complexa, chega a ser um tanto “tendenciosa”, encaminhando os fatos apenas num sentido, quando na verdade existe uma série de episódios que devem ser mostrados porque através deles a compreensão pode ser ainda maior.

Por isso, foi feita uma mesa redonda para se debater “A Visão da História”, tendo como expositores representantes da Seduc, Semec, IGHA, Biblioteca Pública, Arquivo Público, Cedeam/UA, Museu do Homem do Norte, Museu do Porto e do Museu Tiradentes. Logo após foi mostrado um filme sobre a Amazônia na época da borracha, intitulado “No Paiz das Amazonas” (de Silvino Santos), apresentado e comentado pela professora Selda Valle. O filme foi feito em 1920 a 1922 por um contrato firmado pela firma JG com o cineasta Silvino Santos para retratar tudo o que estava acontecendo naquela época da decadência. “A firma JG, naqueles tempos, era muito poderosa, e foi uma das poucas que conseguiram superar esse período por ter conseguido diversificar sua economia. Não só se dedicando ao cultivo da borracha, mas utilizando o comércio da castanha, as padarias e o extrativismo como outras formas de renda. E isso lhe deu condições de comandar todo esse setor dentro da Amazônia. Esse filme foi mostrado também em Paris e Nova York, na tentativa de resgatar todo o poderio da borracha”, explicou a professora Vânia.


DOCUMENTAÇÃO E PESQUISA

A falta de documentação suficiente que venha a servir como fontes de pesquisa é um dos principais problemas enfrentados pelos professores. E com a utilização deste filme a Semana de História tomou um novo rumo e Vânia explica porquê: “A imagem como objeto de estudo para o pesquisador ligado à área de Ciências Sociais, serviu para refletir as condições da sociedade naquela época, facilitando uma análise e debates sobre a questão. É um estudo que serve não somente para esse encontro, mas para qualquer filme que venham a assistir”.

O problema da falta de documentação suficiente para pesquisas é um problema relativo e o bibliotecário especializado em obras raras, Geraldo Xavier, explicou que em Manaus existe muito pouco interesse na conservação das coisas antigas, tudo que é considerado velho é jogado fora. No incêndio que houve na Biblioteca Pública em 45, muitos documentos foram perdidos, apenas alguma coisa foi salva. “Mas são documentos que poucas pessoas sabem de sua existência apesar das listas que são enviadas para os órgãos de ensino, principalmente às Universidades. Mesmo assim, não existe um interesse muito grande por parte dessas pessoas no sentido de procurar as fontes. É um trabalho que requer tempo e paciência o que geralmente é muito difícil”, destacou Geraldo.

Na Semana foi muito discutido também a falta de apoio e incentivo à pesquisa, reclamado pelos professores, que acham que só agora, com a nova direção de Roberto Vieira, esse apoio começou a ser dado; antes eles consideravam extremamente reprimida. “Às vezes é necessário buscar informações em outros lugares como Amsterdã, Paris e isso leva tempo e dinheiro, dificultando ainda mais as coisas. Um documento só não faz a História. Dele deve se iniciar um trabalho no sentido de tentar facilitar a sua compreensão. E trabalhar esse documento em cima de uma linha metodológica e teórica, não é fácil. Com um filme adquire-se uma forma de provar aquilo que se está falando. A imagem nesses momentos é muito importante”, ressaltou Vânia Tadros.

Quando se desenvolve uma pesquisa, vai-se encontrando ao longo dela muitos furos que devem ser preenchidos, já que se busca a verdade. Não se pode pegar um documento e acreditar em tudo que está contido. Deve-se buscar principalmente o outro lado da versão. “Nosso trabalho é um trabalho acadêmico, não é o fato de apenas tentar provar alguma coisa, só por ter levantado a questão. Acaba-se chegando à conclusão de que o erro dentro da hipótese é muito relativo. Não se pesquisa para se provar uma hipótese, mas para se procurar uma aproximação da verdade”, explicou Vânia.

A Semana, enfim, foi considerada muito importante para todos os participantes, principalmente no que se refere ao aprimoramento da metodologia, como destacou uma professora: “Na tentativa de passar os fatos históricos de uma forma muito mais dinâmica e atual”.


FONTES:

Jornal do Comércio, 19/08/1986
Jornal do Comércio, 02/09/1986
Jornal do Comércio, 06/09/1986

 

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