A
quantidade de livros sobre a História do Estado do Amazonas e de sua
capital, Manaus, é vasta. Desde pelo menos 1884, com a publicação
do Almanach administrativo, histórico, estatístico e
mercantil da Província do Amazonas, escritores apresentam obras
de síntese, ensaios e pesquisas acadêmicas sobre a História da
região. Nesse texto, listei 21 livros (que fazem partes de minhas
leituras) que considero essenciais para conhecer a História do
Amazonas e a História de Manaus. Alguns ainda estão disponíveis em
livrarias. Outros, no entanto, dada a antiguidade e raridade, podem
ser encontrados em sebos ou já se encontram esgotados.
HISTÓRIA
DO AMAZONAS:
À margem da História (1909) - Euclides da Cunha foi um dos
primeiros intelectuais que buscaram interpretar a Amazônia histórica
e socialmente. À margem da História é o resultado de inúmeros
ensaios produzidos por Euclides durante sua participação na expedição de reconhecimento do Alto Purus. A grandiosidade da natureza
impressionou o escritor fluminense, que passara a compreender aquele
mundo natural como estando em processo de "gestação", o
qual tinha por habitante o "intruso", o homem amazônico. O
escritor mostrou-se ser um pesquisador arrojado, utilizando para a
produção de seus ensaios os relatos de viajantes, estudos
geográficos, etnográficos e sociológicos. A tese de Euclides
combinava a Amazônia e o intruso, a natureza e o homem. Em outras
palavras, era de determinismo geográfico. Para o autor, a natureza
"infernal" amansava, isolava e dominava a vida do
amazônida, processo de controle acrescido do sistema de trabalho
semi-escravo da extração do látex. É a primeira vez que a
Amazônia e seus habitantes foram pensados, não de forma poética ou
saudosista, mas sob o prisma de uma crítica a sua realidade.
Topônimos
amazonenses: Nomes das cidades amazonenses, sua origem e significação
(1967) - Muitos de nós já se perguntaram quais as origens
dos nomes dos municípios que formam nosso Estado, nomes curiosos
como Barreirinha, Urucurituba e Carauari. O juiz Municipal e de
Direito Octaviano Mello produziu, em 1940, um trabalho sobre a
Geografia, a História e a Etimologia de cidades como as
anteriormente citadas. Apenas em 1967, de forma póstuma, o Governo
do Estado do Amazonas publicou essa obra, intitulada Topônimos
amazonenses: Nomes das cidades amazonenses, sua origem e
significação. Por mais que atuasse na área do Direito, em outros
trabalhos Octaviano mostrou-se grande especialista e erudito em
Geografia, História, Etnografia e linguística. Nesse livro o autor
não se prende apenas à descrição dos elementos naturais,
dedicando boa parte de suas análises aos elementos humanos e
etimológicos da região.
Dicionário
amazonense de biografias (1969) - A biografia é um campo
com muitas possibilidades em nosso Estado, pois ainda se desconhecem
as trajetórias de muitas de nossas personalidades. Inúmeros
estabelecimentos escolares, logradouros e ruas possuem nomes em sua
maioria desconhecidos pela população. Partindo dessas ideias,
Agnello Bittencourt, o lendário professor do Colégio Dom Pedro II
(digo isso sem exageros, pois foram 52 anos dedicados ao ensino),
publicou em 1969, após anos de pesquisa, o Dicionário amazonense de
biografias - vultos do passado. Nesse dicionário são encontradas as
biografias de figuras como Lobo D' Almada, Leonardo Malcher e Luiz
Antony.
A
expressão Amazonense (1978) - O
sociólogo Márcio Souza encerra uma linha de elogios e exaltação
da cultura burguesa da economia gomífera em 1978, com a publicação
de A Expressão
Amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo.
Para o autor, durante o apogeu da borracha, o Amazonas esteve
bastante alienado, com sua capital sendo “a única cidade
brasileira a mergulhar de corpo e alma na franca camaradagem
dispendiosa da belle époque”. Acrescenta ainda que ela não era
“verdadeiramente uma cidade, mas decoração do sonho e do delírio,
microcosmo das doenças do espírito burguês com toques de
selvageria e grossura”, cujo novo estilo de vida contrastava com
sua linhagem portuguesa, a tornando um verdadeiro cenário para o
colonialismo.
O Amazonas na época imperial (1989-90) -
Livro denso de mais de 300 páginas, O Amazonas na época imperial,
do escritor Antônio Loureiro, membro do Instituto Geográfico e
Histórico do Amazonas, cobre o período que vai de 1852 até o
advento da República. Como fontes, Loureiro utilizou relatórios,
falas e exposições dos presidentes e vice-presidentes desse
período, de forma que a narrativa é constituída da visão desses
homens que serviram ao Império no Amazonas. O conteúdo é rico em
dados estatísticos das atividades comerciais e administrativas do
Amazonas nessa época, sendo a obra de fundamental importância para
os estudos que lhe sucederam.
Breve
História da Amazônia (1994) - O livro Breve História da
Amazônia, do sociólogo Márcio Souza, surgiu da necessidade que
este encontrou na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, em
encontrar livros síntese sobre a região para seus alunos do curso
de Imagens da Amazônia, do Departamento de Espanhol e Português.
Márcio Souza idealizou um livro para aqueles que necessitavam de uma
introdução geral sobre a região. O grande pioneirismo e
diferencial dessa obra é que o autor abarcou, sem a pretensão de
preencher a lacuna existe, a Amazônia de uma forma geral, tanto a
brasileira quanto aquela formada por outros países da América do
Sul, a Amazônia plural onde são falados, além do português, o
espanhol, o inglês, o holandês e línguas nativas. É uma ótima
leitura para aqueles que pretendem se familiarizar com a História da
região antes de se aprofundarem em obras mais densas.
Ribeiro
Junior - Redentor do Amazonas (Memórias) (1997) - O período
Tenentista no Amazonas ainda é pouco estudado. Eneida Ramos Ribeiro,
filha de Ribeiro Júnior, líder do movimento que instalou o governo
tenentista no Amazonas em 1924, é a autora desse livro de memórias.
Além de suas memórias familiares e das memórias de amigos de seu
pai, Eneida utilizou jornais, revistas e outros livros para compor
seu trabalho. A obra tem uma das narrativas mais interessantes, com
um ritmo mais acelerado, como se Eneida não tivesse vontade de parar
de escrever. A partir de cada capítulo, que sempre parte dos
depoimentos familiares para os mais gerais, temos as peças de um
quebra cabeça que nos permite compreender as motivações daquela
personagem que encabeçou um movimento tão importante mas ao mesmo
tempo tão desconhecido em nosso Estado.
A
Grande Crise (2008) - Antônio
Loureiro, em A
Grande Crise, com um
grande arsenal de dados estatísticos e bibliográficos, analisa a
derrocada da borracha em uma perspectiva nacional. O Brasil, para o
autor, sentiu os efeitos da crise, pois dependia da Amazônia para a
obtenção das libras esterlinas, necessárias para o pagamento da
dívida externa, para equilibrar o preço do café e urbanizar a
capital federal; mas continuava alheio à região. As críticas, em
sua maioria, são feitas à omissão da União, que tardiamente tomou
medidas que se mostraram ineficazes ao combate da crise; outras são
feitas aos empresários e outros trabalhadores que enviavam altas
somas de dinheiro para suas terras de origem, descapitalizando a
região.
O
fim do silêncio: presença negra na Amazônia (2011) - Patrícia
Melo Sampaio, professora do Departamento de História da UFAM e
reconhecida como uma das maiores historiadoras da região, põe fim a
um grande silêncio presente em nossa historiografia clássica: a
presença de negros na região amazônica. Por muito tempo, a
presença dessas personagens foi abafada na historiografia clássica,
que as tratava de forma estatística, afirmando uma presença ínfima,
e sedimentando suas culturas. O trabalho, organizado por Patrícia
Sampaio, conta com artigos de alunos pesquisadores do Programa de
Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, nos quais são
abordadas temáticas variadas, que vão desde cartas de alforria,
fugas de escravos, festas religiosas a elementos contemporâneos como
o hip-hop. A obra reflete a temática da presença negra em nossa
região e dá visibilidade a personagens que fazem parte de nossa
trajetória em sociedade.
Os
samurais das selvas: A presença japonesa no Amazonas (2012)
- Aguinaldo Nascimento Figueiredo, professor da rede pública
e membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, escreveu
Os samurais das selvas: A presença japonesa no Amazonas, para que
ficasse registrada a trajetória dos imigrantes nipônicos que para
cá vieram em diferentes momentos. A imigração de japoneses para
Amazonas teve grande influência em Maués, Parintins, Manacupuru e
Manaus. A vinda dessas pessoas é contextualizada aos momentos mais
sensíveis de nossa Estado, quando este ainda sofria os efeitos da
crise, e políticas econômicas como a do cultivo da juta e do
guaraná, e de colonização, eram implantadas para tentar reverter
esse quadro de estagnação. Esse é mais um dos trabalhos de
Aguinaldo Figueiredo marcado pela escrita simples, acessível a todos
os públicos, e pelo cuidado no trato das fontes.
HISTÓRIA
DE MANAUS:
Um
olhar pelo passado (1897) - Bento de Figueiredo Tenreiro
Aranha, jornalista filho de João Batista de Figueiredo Tenreiro
Aranha, o primeiro presidente da Província do Amazonas, produziu
esse livro em homenagem ao governador Fileto Pires Ferreira. Nessa
obra, Bento de Figueiredo mescla tanto a pesquisa em arquivos
públicos da capital, de Barcelos, de Itacoatiara e de Tefé, quanto
sua própria vivência, seus testemunhos oculares da cidade que viu
durante o período provincial. Boa parte do livro é constituída de
informações da Geografia antiga da capital, da evolução das vias
públicas e de suas nomenclaturas.
Fundação
de Manaus (1948) - Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004) foi
sem dúvidas um dos maiores escritores de nossa cidade. Seus ensaios
histórico-culturais são de uma qualidade ímpar, sendo reconhecidos
nacional e internacionalmente. Em Fundação de Manaus, Mário
Ypiranga se propõe a produzir uma obra que, naquele período,
suprisse a carência de informações históricas sobre a cidade. O
livro parte da fundação da Fortaleza de São José da Barra e vai
até a década de 50 do século XIX. Por ser um ensaio, o livro
possui muitas ideias e reflexões sobre o que é a cidade, seus
habitantes, sua cultura. Para Mário Ypiranga, Manaus é produto da
falta de organização e planejamento de seus fundadores, o que não
lhe possibilitou ter uma "adolescência", pois a urbe passa
de um estado acanhado, encerrada por seus limites naturais, para uma
evolução jamais vista a partir do final do século XIX.
Roteiro
Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro (1969) - Num
primeiro momento, o livro de Luiz de Miranda Corrêa pode parecer um
guia turístico. São abordados festivais folclóricos, lugares para
fazer compras, hotéis etc. Mas, com uma leitura mais aprofundada,
logo vemos que trata-se de um
elogio saudosista ao período da borracha, à influência europeia e
à ação das elites. Manaus se transformava, com obras monumentais e
serviços públicos de qualidade. “Uma sociedade inteira passava de
um estágio primitivo para os requintes da civilização europeia”.
A descrição dos palacetes, bares, hotéis e bordéis são vívidas.
As elites elogiadas são aquelas formadas com o nascimento da
República, enquanto que “as famílias mais antigas do Amazonas, o
pequeno número de privilegiados do Império, […] ou se adaptavam
às novas condições de vida da região ou seriam, como vários o
foram, tragados pelo redemoinho dos interesses da borracha”.
Roteiro
Histórico de Manaus (1969) - Mais uma vez um livro de Mário
Ypiranga Monteiro. Dessa vez, o autor escreveu um denso roteiro,
dividido em dois livros, de logradouros, construções e ruas da
cidade, abordando as origens de suas nomenclaturas. Não são
privilegiados lugares apenas do Centro, como tradicionalmente ocorre,
mas também logradouros de outros bairros. É um clássico para os
que procuram conhecer as ruas de Manaus.
Manaus
- História e Arquitetura (1852-1910) (1997) - Otoni Moreira
Mesquita, professor aposentado da Universidade Federal do Amazonas,
publicou, em 1997, em forma de livro, sua tese de mestrado, Manaus -
História e Arquitetura (1852-1900). A história da cidade é vista a
partir da arquitetura e do urbanismo. Com um recorte histórico que
parte do período provincial até a década de 10 do século XX,
Otoni Mesquita contextualiza as transformações urbanísticas pelas
quais a capital foi passando, com seu apogeu de construções durante
o "boom" da economia gomífera. Cada construção analisada
é minuciosamente descrita em seus aspectos arquitetônicos. Na tese
de Otoni, compreende-se que essas transformações fazem parte de um
"rito de passagem", com a inserção da Amazônia ao mundo
que se apresentava como moderno, obedecendo aos padrões vindos da
Europa. Toda uma sociedade provinciana, cujo ritmo era ditado pela
natureza e pelas limitações a ela impostas, sofre mudanças
marcantes.
A
ilusão do Fausto - Manaus 1890-1920 (1999) - O
ensaio de Edinea Mascarenhas Dias, A
Ilusão do Fausto – Manaus 1890-1920 (1999),
é um estudo que, ao mesmo tempo em que é esmiuçado o processo de
transformação e desenvolvimento da cidade e de suas políticas
públicas, são apresentadas as contradições do espaço urbano
pensado pelas elites e pelo poder público, que criou mecanismos que,
ao mesmo tempo em que ordenavam a urbe, segregavam pobres,
prostitutas, analfabetos e desocupados. Tem influências de Edward
Thompson, com sua crítica ao marxismo estruturalista; e de Max
Weber, com seu conceito de estratificação social. O livro é
dividido em duas partes: A cidade do Fausto e A falácia do Fausto.
Manaus:
Praça, café, colégio e cinema nos anos 50 e 60 (2002) - O
livro de José Vicente de Souza Aguiar, professor da Universidade do
Estado do Amazonas, é sobre a vida cultural da cidade entre as
décadas de 1950 e 1960, tendo como centro irradiador a Praça da
Polícia em conjunto com o Cine Guarany, o Café do Pina e o Colégio
Dom Pedro II, espaços que marcaram várias gerações na capital.
Reconhecendo as dificuldades em encontrar uma quantidade
significativa de fontes escritas, José Vicente recorrer ao auxílio
da memória, entrevistando pessoas que praticamente dedicaram metade
de suas vidas a esses espaços públicos. Além da oralidade, foram
utilizados periódicos (jornais e revistas) e documentos oficiais. O
ponto de partida de sua pesquisa é a fundação do Clube da
Madrugada, em 1954, movimento que marcou as artes e a literatura
local; e vai até o final dos anos 1960, quando a instalação da
Zona Franca instaurou uma nova dinâmica na vivência nesses espaços
urbanos.
Evocação
de Manaus: como eu a vi ou sonhei (2002) - Memórias,
memórias de tempos mais amenos. Nesse livro, de caráter saudosista,
publicado em 2002, o senador Jefferson Péres (1932-2008) nos
transporta, através de uma narrativa vívida, para a Manaus dos anos
40 e 50. O autor faz descrições minuciosas da vida familiar, dos
costumes, da vida material e dos acontecimentos políticos do
período, como a presença e as atividades dos norte-americanos na
cidade durante a Segunda Guerra. Jefferson Péres nos descreve uma
cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, anestesiada pelos efeitos
da crise econômica, que começava a ditar sua vida em um ritmo mais
lento, que conservava valores tradicionais e prezava pela ordem.
Manaus,
entre o passado e o presente (2009) - O empresário Durango
Duarte não é historiador, mas um grande entusiasta desse campo.
Manaus, entre o passado e o presente, é organizado por Durango mas
produzido por uma grande equipe de pesquisadores de centros
culturais, institutos históricos e universidades, munida de farta
documentação, o que torna o resultado final da obra de grande
valor. A obra é bem estruturada e ilustrada, com capítulos para as
praças, os portos, as igrejas, os cinemas, as bibliotecas etc,
mostrando como esses lugares foram se transformando até o presente.
Para aqueles que desejam uma leitura prática mas com qualidade, essa
é uma boa escolha.
Monumentos
públicos do Centro Histórico de Manaus (2012) - Maria
Evany Nascimento, professora da Universidade do Estado do Amazonas,
fez um levantamento dos monumentos erguidos na cidade entre 1882 e
1995. O objetivo maior era
efetuar o mapeamento desse acervo de obras artísticas dos
logradouros públicos do Centro Histórico de Manaus. Outro objetivo,
mais ambicioso, era contribuir, de alguma forma, para
a preservação desses marcos e obras artísticas, bem como
a memória e a história de cada uma delas que fazem parte do
patrimônio cultural da cidade, o que implica ainda no resguardo da
cultura visual do Centro Histórico. Cada um dos monumentos
levantados é analisado, chamando a atenção do leitor o cuidado que
a autora teve com os mínimos detalhes, buscando esmiuçar toda a
simbologia por trás dessas obras.
CRÉDITO
DAS IMAGENS:
Estante
Virtual
Skoob
Blog
do Coronel Roberto
Livraria
Cultura
Livraria
Valer
Acervo
pessoal