Giambattista Vico. Quadro de Francesco Solimena.
Giambattista
Vico (1668-1744) foi um filósofo, jurista, político, retórico e
historiador italiano, considerado um dos principais nomes do
Iluminismo, vindo, no entanto, a ser reconhecido como tal apenas no
século XIX, quando suas ideias e obras passaram a influenciar
pensadores como Hegel e Marx.
Vico
nasceu no século XVII, período em que as ciências matemáticas
estavam em alta e dominavam o pensamento de intelectuais das Ciências
Naturais. Desde a segunda metade do século XVII, a Filosofia criada por René Descartes
foi o principal referencial no estudo dessas ciências. Mas no que
consistia o pensamento de Descartes? Para René Descartes a única
verdade firme, certa e segura era que seus pensamentos existiam
(penso, logo existo) e esta verdade deveria ser aplicada como
princípio básico de toda a sua filosofia. Este penso abrange tudo o
que afirmamos, negamos, sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos. Eram
ignoradas as percepções sensoriais, que poderiam nos levar ao erro.
O conhecimento verdadeiro só poderia ser alcançado através do
trabalho lógico da mente, trabalho esse que para Descartes teria
sido alcançado pelos matemáticos.
Indo
na contramão do domínio matemático, Vico se debruçou no estudo de
Direito Romano, Filologia e História, conhecimentos sempre postos à
dúvida pelos métodos matemáticos, que os colocava em segundo
plano. Sua maior obra, a Ciência Nova,
não fez muito sucesso em sua época, sendo preciso mais 100 anos
para que isso ocorresse. Dela, tiramos as principais concepções de
Vico sobre a História:
Ao
escrever Ciência Nova, Vico pretendia
criar uma forma
de estudar as Ciências Humanas, principalmente a História, forma
essa diferente da aplicada às Ciências Naturais. A
História, para Vico, era um conjunto de fatos que segue determinadas
leis e se desenvolve segundo alguns princípios.
Vico
põe Filosofia e Filologia como duas disciplinas da História. Da
primeira, aproveita-se a reflexão, as ideias e a sabedoria humana.
Da segunda, tiramos o conhecimento da língua e das tradições dos
povos. A união entre essas duas disciplinas (uma reflexiva e outra
empírica) é um dos pontos-chave de sua obra. Em síntese, a
Filosofia oferece o arcabouço teórico, e a Filologia o concreto,
tangível, fragmentos das produções humanas. Vico, em oposição a
Descartes, afirma que para verdadeiramente se conhecer algo é
necessário que seu conhecedor a tenha criado. As
instituições, construções, leis e demais técnicas foram criadas
pelo homem, e logo
a História é objeto do conhecimento humano.
Os
períodos históricos ou eras
são outro ponto do pensamento de Vico. Existem
três eras históricas: a Era dos Deuses; a Era dos Heróis; e a Era
dos Homens. A Era dos Deuses corresponde ao tempo imemorável, quando
os homens, diante da grandeza da natureza, a endeusavam. A segunda
era, a dos Heróis, ainda mantém os traços de aspectos
sobrenaturais, mas já abre espaço para o surgimento de instituições
políticas e a formação de classes sociais. A terceira e última, a
dos Homens, levou bastante tempo para se firmar, e se caracteriza por
lutas internas, pela construção de Impérios grandiosos como o
romano e do surgimento da Filosofia.
Vico
afirma que o homem não caminha necessariamente para o progresso do
pensamento racional, e que o retorno ao pensamento da era dos deuses
é uma possibilidade. Um exemplo que ele nos dá é a decadência
cultural durante a Idade Média. Essa
é a teoria dos avanços e dos retornos, também presente em
Voltaire. O movimento cíclico não é circular e de fases fixas, é,
na verdade, espiral, pois as fases históricas nunca se repetem como
foram no passado. Ele afirma que as barbáries da Idade Média foram
diferentes das barbáries dos tempos homéricos.
A
providência existe em Vico, e este afirma que a História tem uma
parte construída pelo homem, e outra por Deus. Deus
seria o arquiteto da História, enquanto o homem seria o construtor
dessa obra (um projeta, o outro constrói). Essa providência é mais
racional que as elaboradas em séculos anteriores, pois as religiões,
leis, instituições, construções etc, são criações
essencialmente humanas, podendo ser explicadas de forma natural. A
Providência surge apenas para dar um sentido à caminhada do homem
em sua história.
A
produção histórica de Vico se destaca pelos seguintes pontos: Foi
o primeiro historiador da Idade Moderna a tentar garantir a
cientificidade da História e de outras disciplinas humanas; não
se submete aos métodos matemáticos e
cartesianos; une a reflexão
filosófica, oferecendo um arcabouço teórico, com o empirismo
característico da Filologia, que estuda os fragmentos e linguagens
deixados pelo homem; e leva
em conta, de forma universal, o fato de que o homem, de acordo com o
seu grau de desenvolvimento histórico, tem sua forma de ser, pensar
e agir.
FONTES:
HADDOCK.
B. A. Uma introdução ao pensamento Histórico.
Tradução de Maria Branco. Lisboa, Gradiva, 1989.
MARANGON,
Rosa Maria. A evolução da História do Homem segundo
Giambattista Vico. Juiz de Fora,
UFJF, 2007.
CRÉDITO DA IMAGEM:
commons.wikimedia.org
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