quinta-feira, 12 de julho de 2018

Resenha: Carros e Carroças de Bois, de Mário Ypiranga Monteiro (1984)

Carros e Carroças de Bois, de Mário Ypiranga Monteiro. Manaus, 1984.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. Carros e Carroças de Bois: Subsídios para a história social do Amazonas. Manaus, Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1984.

Carros e Carroças de Bois: Subsídios para a história social do Amazonas é um trabalho do historiador e folclorista Mário Ypiranga Monteiro (1909-2004) publicado em 1984, sendo uma de suas produções voltadas para a história social do Amazonas, assim como O Aguadeiro (1947) e O Regatão (1958). Diferente de seus trabalhos anteriores, Mário Ypiranga enfrentou a dificuldade da escassez de fontes, de fontes que levassem pelo menos a uma origem remota da introdução desses veículos no Amazonas e em outros territórios, a qual atribuiu à "[...] característica singular da própria geografia regional, de vez que as estradas batidas são irrisórias" (MONTEIRO, 1984, p. 17). No entanto, ele afirma que essa característica singular "[...] condicionou o veículo ao estreito âmbito das sedes municipais e a um regime rural pobre de referências" (MONTEIRO, 1984, p. 17).

É nos interiores, nos interiores mais ou menos povoados na época em que o autor escrevia (apesar de ter sido publicado em 1984, as pesquisas de Mário Ypiranga ocorreram em diferentes momentos entre as décadas de 1940 e 1950), que foram encontrados registros materiais vívidos, ainda que de forma modesta, e alguns na capital. O autor estuda esses transportes em Manaus, Janauari, Coari, Manicoré, Tefé, Itacoatiara, Rondônia e Rio Branco. São 11 pequenos capítulos no total. Seus informantes e colaboradores foram os

"[...] senhores prefeitos capitão Alexandre Montoril, de Quari; Lourival Santana, de Manicoré; Francisco Antônio de Lima, antigo morador em Tefé; dr. Otaviano Soriano de Melo, Juiz de Direito em Tefé; Lúcio de Araújo Lima, os três últimos já falecidos; sr. Sebastião Lima, padre dom Atanásio de Aguiar e outros que porventura haja esquecido e que serão lembrados no texto" (MONTEIRO, 1984, p. 15).

Aos poucos documentos escritos soma, ainda que não seja um completo apreciador, a história oral. Sobre os dados oferecidos por um informante, diz o seguinte: "Todavia não aceito a lição histórica e por motivos também de natureza histórica, embora não me seja possível, no momento, apresentar documentos" (MONTEIRO, 1984, p. 83). Em alguns momentos recorre às memórias de sua infância, sobre os carros e carroças que viu em Manaus, no Centro ou na Aparecida, seu bairro de nascimento, e aos relatos de seu pai. 

A metodologia empregada na produção de Carros e Carroças de Bois pode ser caracterizada como uma história antropológica. Mário Ypiranga foi a campo, em todas as cidades e territórios em que soube da utilização desses veículos. Não fez simples descrições. Analisou os tipos de madeiras utilizados na confecção das carroças e carros, os bois empregados (de raça, importados ou naturais), seus nomes pitorescos, os preços do transporte, das carroças e dos bois, e os comandos utilizados pelos carroceiros para comandar as ações dos animais. Ainda mais detalhadas são as descrições das peças, os canzis, as cangas, os tampais, as brochas e as rodas. Da população das cidades e territórios por onde passou apreendeu um rico folclore sobre os carros e carroças de bois, com cantos e ditos populares. Em Rio Branco (Território Federal de Roraima, 1962) recolheu a seguinte letra de uma toada:

"Meu carro de madrugada
vai chegando perto de casa...
Esquenta o eixo para o patrão acordar
com o canto do boi estimado...
Desperta meu patrão,
que eu vou chegando em casa..." (MONTEIRO, 1984, p. 82)

Por que escrever sobre carros e carroças de bois? Mário Ypiranga enfrentou esse questionamento enquanto fazia suas pesquisas em Rondônia. Um funcionário da prefeitura, de forma irônica, surpreendeu-se ao saber da existência de um "doutor em carrologia bovina" (MONTEIRO, 1984, p. 53). Apesar de toda a fragmentação, das origens incertas, o autor conseguiu mostrar como os carros e carroças de bois formavam um universo cultural amplo e diversificado. Um carro de Itacoatiara não era igual ao de Coari, nem o de Manaus ao de Rio Branco. Em suas palavras, "o carro de bois conserva, portanto, um traço de união, que diríamos mágica, entre o homem e a terra" (MONTEIRO, 1984, p. 14).

Mário Ypiranga, à maneira do ensaísta, historiador e antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987), deu importância à cultura, à cultura material, aos elementos dispersos no espaço mas com significados importantes para a compreensão do homem amazônico, do meio em que vive, do espaço que criou, que se sujeitou, ao longo dos séculos. É na cultura e pela cultura que se compreende o sentido de sua obra.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Anúncios de escravos em jornais da Província do Amazonas (1857-1880)

Hoje, 10 de julho, comemora-se a abolição da escravidão no Amazonas, decretada em 10 de julho de 1884 pelo então presidente da Província do Amazonas Theodureto Carlos de Faria Souto. O movimento pela libertação dos escravos da Província e o fim dessa prática já vinha sendo desenvolvido por sociedades abolicionistas de senhoras, pela Maçonaria, por estudantes e intelectuais da região. Em 1884 surgiu o jornal O Abolicionista do Amazonas, gerido por senhoras que propagavam os ideais de libertação uma ou mais vezes na semana através desse periódico. No presente texto apresento alguns anúncios de venda e de recompensas para a captura de escravos publicados em jornais da Província do Amazonas entre 1857 e 1880.

José Piranga, escravo negro e oficial de calafate, humilde e com 32 anos, fugiu do domínio de José Joaquim de França, no dia 09 de abril de 1857, levando consigo seu filho de nome Cipriano, com 13 anos de idade. Percebam como funcionava a circulação de escravos: José Piranga foi escravo do Capitão Thomaz, de Villa Bella, sendo posteriormente comprado por José Coelho do Itaituba, que o vendeu para José Joaquim de França, o anunciante. O proprietário oferecia uma gratificação a quem os capturasse, assim como se manifestaria contra os que lhes dessem abrigo. Serpa (Itacoatiara), 10/04/1857.

Mesquita & Irmãos, grandes comerciantes da época, estabelecidos na antiga rua do Imperador (Marechal Deodoro), anunciam para aluguel um escravo que entendia de cozinha. O aluguel de escravos garantia uma boa renda aos proprietários. Manaus, 1866.

Com um grande título escrito 'Gratifica-se', Amorim & Irmãos, propriedade do Comendador Alexandre de Paula de Brito Amorim (1831-1881), oferecia uma gratificação a quem capturasse o escravo Bernardino, 'molato folo', que pertenceu ao capitão Antonio Lebo de Macedo, que o vendeu a João José Ferreira, que depois o vendeu a Custódio Pires Garcia, de quem foi comprado pelos anunciantes. Assim como Mesquita & Irmãos, manifestaria-se contra quem desse abrigo ao fugitivo. Manaus, 18/12/1867.

Alguns anúncios eram extensos, nos oferecendo mais detalhes sobre os proprietários e o escravo fugido. Antonio José Lopes Braga, procurador de seu irmão Luiz Antonio Lopes Braga, este herdeiro de Hermenegildo Lopes Braga, procurava um antigo escravo de Hermenegildo, em fuga desde 1868, cujo nome era Tristão, de mais ou menos 25 anos de idade, de cor "mulata atapuiado", de cabelos meio crespos, altura normal. Detalhes, muitos detalhes. Com essas descrições facilitava-se o reconhecimento e a captura. Sabia-se que estava em Silves, no interior. Caso fosse capturado, poderia ser entregue em três endereços: Em Manaus; no Pará, na firma Francisco Joaquim Pereira & Cia; e na Ilha das Araras, no rio Madeira, ao Capitão Antonio Lopes Braga. As despesas feitas durante a captura e a viagem seriam pagas pelo anunciante. O mesmo afirmava que não seria aplicado no escravo qualquer forma de castigo. Sobre a recompensa, esta ficaria em cem mil réis. Da mesma forma que outros anunciantes, manifestaria-se contra os que lhe dessem abrigo. Manaus, 31/08/1870.

Tratados como mercadorias, os escravos, importados ou já nascidos nessa condição, iam e viam, utilizados em casas comerciais, em afazeres domésticos e serviços públicos. Nesse anúncio a firma Debusine & Levy, estabelecida na rua Brasileira (Avenida Sete de Setembro), informava necessitar de um escravo. Quem tivesse algum disponível para a venda deveria levá-lo até a sede da mesma. Manaus, 29/05/1880. 


FONTES (PERIÓDICOS):

Estrella do Amazonas, 10/04/1857.
Amazonas, 1866.
Jornal do Rio Negro, 18/12/1867.
Amazonas, 31/08/1870.
Amazonas, 29/05/1880.








quarta-feira, 13 de junho de 2018

Ao Pobre Diabo


Hoje, 13 de junho, para os católicos, é dia de Santo Antônio, Santo Antônio de Pádua ou Santo Antônio de Lisboa. O orago de origem portuguesa, a lembrar as raízes lusitanas das crenças brasileiras, muito mais que santo casamenteiro, atribuição pela qual é mais conhecido, é também protetor das mulheres, dos pobres e padroeiro dos objetos perdidos.

Não pretendo falar sobre o santo, escrever uma hagiografia. Me interessa, na realidade, uma construção relacionada ao culto desse santo popular: A Capela de Santo Antônio do Pobre Diabo, localizada na rua Borba, bairro Cachoeirinha, zona Sul de Manaus. O nome 'Pobre Diabo' ao lado de 'Santo Antônio' é estranho a alguns, geralmente aos que anseiam um catolicismo brasileiro oficial, romanizado. Analisarei as origens do termo 'Pobre Diabo', que confunde-se com a construção da capela.

O historiador e folclorista Mário Ypiranga Monteiro, no livro Roteiro Histórico de Manaus, afirma que essa nomenclatura tem origem popular. Um comerciante português de nome Antônio José da Costa, dono de um estabelecimento na rua da Instalação, mandou fazer uma tabuleta com a figura de um pobre vestindo trapos, com a legenda 'Ao Pobre Diabo', uma referência irreverente ao comerciante, que não vendia fiado pois era um pobre Diabo.

Em outra versão, que consta em uma matéria do Diário Oficial do Estado publicada em 11 de junho de 1927, recuperada pelo pesquisador Durango Duarte no livro Manaus: entre o passado e o presente, Antônio José da Costa era sócio de José Joaquim de Souza Júnior. O português, todos os dias ao fechar o comércio, dizia: "Meu Santo Antônio, protegei este pobre diabo". Desfeita a sociedade em 1878, Antônio abriu, na mesma rua, um estabelecimento com o nome O Pobre Diabo. Encontrei, em edição do jornal A Província do Amazonas, de 26 de fevereiro de 1888, um estabelecimento com o nome 'Pobre Diabo', localizado na rua da Instalação (1).

Ainda de acordo com essa matéria, Antônio José da Costa mudou-se da rua da Instalação para o bairro da Cachoeirinha, onde adquiriu um terreno na extinta Praça Floriano Peixoto, local onde foi erguida a capela. De acordo com Mário Ypiranga, coube a mulher de Antônio, Cordolina Rosa de Viterbo, financiar a construção da capela, dedicada a Santo Antônio, santo de origem portuguesa, a mesma de seu falecido marido. Ao santo uniu-se o termo Pobre Diabo, talvez por lembrança dos dizeres diários do comerciante ou pelo nome de seu antigo estabelecimento. Ao que tudo indica, a construção data de 1897, conforme matéria do Jornal do Amazonas recuperada por Mário Ypiranga: 

"A muito conhecida e laboriosa Sra. D. Cordolina Rosa de Viterbo tendo feito erigir à sua custa no bairro da Cachoeirinha, Praça Floriano Peixoto, desta capital, uma pequena e elegante capela, sob a invocação do glorioso Santo Antônio, estava disposta a mandar benzê-la no dia 15 de agosto deste ano, a fim de mais realçar as festas desta data memorável para o Estado do Pará, de onde é natural a referida senhora, atendendo, porém, a que os nossos irmãos brasileiros estão presentemente expondo a sua vida pela pátria, onde o fanatismo faz milhares de vidas (2), resolveu adiar a benção da capela para outro dia que será previamente anunciado" (3).

O nome Capela de Santo Antônio do Pobre Diabo é contemporâneo à construção. Em uma nota publicada no Jornal do Comércio em 29 de maio de 1910, informava-se que o serviço de bondes seria reforçado aos domingos, desde as 15:00 horas da tarde, com mais de um bonde e dois reboques, por ocasião da realização da "Festa de Santo Antônio do Pobre Diabo" (4). 

Além do nome pitoresco, a capela também foi palco de alguns acontecimentos um tanto curiosos. Em 1907, Bibiano de Oliveira Costa, praticamente da Marinha Mercante, namorava a jovem Maria da Costa Carneiro, de 16 anos, na Capela do Pobre Diabo. A mãe da jovem, Felizarda da Costa Carneiro, sabendo do relacionamento e sentindo-se ofendida (possivelmente pela idade da filha e também pelo local onde ocorrera o encontro amoroso) denunciou Bibiano ao delegado do 2° Distrito, Elviro Dantas, que prendeu o jovem. Preso, Bibiano disse que pediria Maria da Costa Carneiro em casamento. O delegado determinou que a união fosse realizada em 12 de abril de 1907 (5). Santo Antônio, indiretamente, concretizou um enlace matrimonial, ainda que em circunstâncias pouco formais.

O nome Santo Antônio do Pobre Diabo é uma característica do catolicismo popular brasileiro, que foi se desenvolvendo à margem do poder institucionalizado, maleável e influenciando por elementos do meio em que se estabelece. Ao nome do santo lusitano uniu-se o termo 'Pobre Diabo', surgindo algo novo, único em nossa cidade, estranho aos mais conservadores mas acessível aos grupos populares e por eles já incorporado. Salve Grande Antônio, Salve Santo Antônio do Pobre Diabo.


NOTAS:


(1) A Província do Amazonas, 26/02/1888.

(2) O jornal se refere a Guerra de Canudos.

(3) Jornal do Amazonas, 12/08/1897. In: MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998.

(4) Jornal do Comércio, 29/05/1910.

(5) Jornal do Comércio, 12/04/1907.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


MONTEIRO, Mário Ypiranga. Roteiro Histórico de Manaus. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1998.


DUARTE, Durango. Manaus: entre o passado e o presente. Manaus: Ed. Mídia Ponto Comm, 2009.


CRÉDITO DAS IMAGENS:


Santo Antônio com o Menino Jesus. Pintura de Stephan Kessler. Commons.wikimedia.org

Capela de Santo Antônio do Pobre Diabo, no bairro da Cachoeirinha. Manausagil.com

sexta-feira, 8 de junho de 2018

O novo fôlego das pesquisas em História Antiga do Departamento de História da UFAM


Ontem, 07/06, na Sessão 04: Literatura, Arte e História, da XII Semana de História da Universidade Federal do Amazonas, um trabalho chamou bastante a atenção dos ouvintes: Uma Reforma Espiritual no Egito Faraônico: Akhenaton na sua Consagração Divina e Humanizada, da graduanda Inara Kezia Gama Araújo, do 5° período.

Sou amigo de Inara desde quando ela entrou na graduação, em 2016. Acompanhei de perto toda sua evolução, seu entusiasmo pela História Antiga, com ênfase no Antigo Egito, seus primeiros escritos e, agora, a participação em uma sessão coordenada. A apresentação de seu trabalho, fruto de pesquisas para o PIBIC, deu novo fôlego às pesquisas em História Antiga do Departamento de História da UFAM, tão acostumado a outras áreas. O Departamento, aliás, teve 3 projetos aprovados nessa área, todos orientados pela Prof. Dra. Joana Campos Clímaco: As cartas de Arísteas e seu impacto no Judaísmo Helenístico; Uma reforma espiritual no Egito Faraônico: Akhenaton na sua consagração divina e humanizada; e A Antiguidade, o cinema e suas representações nos livros didáticos de História do 6° ano.

Confiram, abaixo, um resumo e a introdução do trabalho apresentado por Inara. Que ele sirva de inspiração para os outros graduandos, para que surjam novas pesquisas em História Antiga, sejam elas sobre o Oriente, Grécia, Roma e o Egito, bem como em outras áreas.


UMA REFORMA ESPIRITUAL NO EGITO FARAÔNICO: AKHENATON NA SUA CONSAGRAÇÃO DIVINA E HUMANIZADA

RESUMO

O período Amarniano - conhecido também como reforma espiritual - ocorreu em torno de 1352-1336 a. C. na 18° dinastia, contexto do novo império, reforma fundada pelo faraó Amen-hotep IV, posteriormente chamado Akhenaton. Em seu reinado, o faraó estabeleceu uma revolução espiritual e modificou o panteão egípcio, nomeando o deus Aton - o disco solar - como o único deus. Com o seu decreto, ocorreu uma revolta entre nobres e sacerdotes.

As características do período Amarniano é algo que chama atenção na descrição da realeza, pois além de Akhenaton consagrar-se como um ser divino em torno do deus Aton, o papel de um faraó humanizado é detectado na sua teologia solar. Akhenaton efetivou um repertório novo na prática religiosa, por meio da sua imagem, arte e religião, onde o marco dessa nova religião é regido pelo mais belo poema: O Grande Hino a Aton.

INTRODUÇÃO

Amen-hotep IV (Akh-em-Aton), foi o faraó da 18º dinastia no período entre 1352 e 1336. Causou uma profunda reforma religiosa no Egito, atribuindo culto somente a um deus, elegendo o disco solar (Aton) como único deus, o criador do mundo. Sua inovação desestrutura e reconstrói a religião egípcia, renovando o panteão e atribuindo um novo olhar para o Egito faraônico. O novo cenário foi motivo de revolta entre nobres e sacerdotes. A implantação de uma espécie de monoteísmo em uma civilização politeísta é um assunto de enorme controvérsia na egiptologia. Jan Assmann um dos mais conceituados egiptólogos que aborda a religião egípcia na contemporaneidade, salienta de forma evidente o prestígio da reforma de amarna (conhecido também como reforma espiritual): “a redescoberta do rei herético, Akhenaton, que após sua morte foi submetido a uma completa damnatio memorie no Egito, é a mais significativa descoberta da egiptologia”¹. É comum dizer que os egípcios eram politeísta e o próprio faraó era tradicionalmente relacionado e poderes divinos e Amen-hotep IV edifica isso perfeitamente, fazendo-se único e exclusivamente rei, homem, deus e sacerdote. O grande hino a Aton é um dos poemas que exprime a nova doutrina no novo império e o mais belo já registrado nesse período. A ênfase do projeto é apresentar uma nova ótica faraônica, descortinar a face do faraó detectando principalmente se lado humano, além de sua posição política-religiosa. Dessa forma pretendemos contemplar e apreciar as riquezas que o antigo Egito nos proporciona, na arte, cultura, linguagem, literatura e religião. O objetivo é justificar a importância que a história antiga em suas diversas construções sociais, assim buscando meios de despertar o interesse na área da Antiguidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ASSMANN, Jan. Of god and gods. Egypt, Israel and the rise of monotheism. Madison, EUA: The University of Wisconsin press, 2008.
_____________. The prince of monotheism. California: Stanford University Press, 2010.
ARAÚJO, Emanuel. Pobres faraós divinos. Textos de História, v. 4, n° 2, p. 5-29, 1996.
________________. Escritos para a eternidade. A literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora Universidade de Brasília/São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
CARDOSO, Ciro Flamarion. O Egito Antigo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
CHAPOT, Gisela. A família real amarniana e a construção de uma nova visão de mundo durante o reinado de Akhenaton (1353-1335 a.C.). Niterói, 2015.
HORNUNG, E. O Rei. In: DONADONI, S. (org). O homem egípcio. Lisboa (PT): Presença, p. 239-262, 1994.

NOTAS:
¹ ASSMANN, Jan. “ A new State theology- the religion of light”. In: SEYFRIEND, Friderike. In the light of Amarna: 100 years of the Nefertiti discovery. Berlin: Imhof Verlag, 2013 p.79.

Inara Kezia Gama Araújo, 18, é acadêmica do 5° período do curso de História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Sua área de pesquisa é a História Antiga, com destaque para o Egito Antigo, com ênfase no resgate da importância da imagem do faraó em torno do sistema político-religioso. Trabalha a identidade cultural, crendo na importância de se esclarecer como o contexto multicultural faz parte da nossa identidade, abrangendo aspectos sociais, políticos, econômicos, linguísticos e religiosos.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Breve História do Conjunto Isaias Vieiralves, em Manaus

Vista parcial do bairro Nossa Senhora das Graças, na zona Centro-Sul de Manaus. Foto de 2011.

O Conjunto Isaias Vieiralves, ou apenas Vieiralves, está localizado no bairro Nossa Senhora das Graças, na zona Centro-Sul de Manaus. Dadas suas dimensões, características e instituições que abriga, é muitas vezes confundido com um bairro, sendo mesmo chamado de bairro Vieiralves. O bairro Nossa Senhora das Graças, deve-se destacar, é formado, conforme ficou estabelecido pelo Decreto N° 2924, de 07 de agosto de 1995, que instituiu a divisão geográfica da cidade de Manaus, por cinco conjuntos habitacionais: Conjunto Manauense, Conjunto Vila Amazonas, Conjunto Ica Maceió, Conjunto Haideia III e Conjunto Vieiralves¹.

Esse conjunto, assim como o bairro Nossa Senhora das Graças, destoa do restante da cidade, tanto pela estética quanto pela estrutura. Casas, mansões e condomínios de alto padrão, construídas com materiais de ótima qualidade, avenidas largas e, aparentemente, melhor cuidadas que outras, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais de renome. É quase um mundo paralelo. "Esse conjunto sempre foi assim desde suas origens?" Me questionou um jovem que está fazendo uma monografia relacionada a essa região da capital. Aproveito a documentação que levantei para ajudá-lo para produzir o presente texto.

A construção desse conjunto está inserida no processo de crescimento dos bairros "planejados" e de projetos habitacionais verificados com maior força desde a segunda metade da década de 1960 até a década de 1970. No entanto, diferente dos que iam sendo construídos no restante da cidade, voltados para uma população de baixa renda, oriundas da antiga Cidade Flutuante ou de ondas migratórias vindas do interior e de outros Estados brasileiros, dada a expansão da Zona Franca, o Conjunto Isaias Vieiralves foi planejado desde o início para ser um conjunto de alto padrão. De acordo com a arquiteta, urbanista e historiadora Vládia Pinheiro Cantanhede Heimbecker, 

"A implantação do Sistema Financeiro de Habitação, em 1964, estimulou o setor produtivo da construção, e em Manaus, ainda nesta mesma década, identificou-se a implantação significativa de conjuntos não mais para os pobres urbanos, mas para uma classe média e para ricos" (HEIMBECKER, 2014, p. 28).

A construção ficou a cargo da firma Incorporadora Irmãos Valle Ltda, de Goiânia, especializada na construção de apartamentos de luxo, que teve financiamento do Banco Nacional de Habitação (BNH), criado em 1964. O projeto, do arquiteto Rubens Madela, foi aprovado em 23/11/1970. Em 22/08/1971 uma edição especial do Jornal do Comércio anunciava: "Incorporadora Irmãos Valle e EMBRATEC constroem o Conjunto ISAIAS VIEIRALVES². A EMBRATEC era a Empresa Técnica de Construções, responsável pela contratação de funcionários para as obras. Ainda de acordo com esse documento, a primeira etapa do conjunto contaria com 120 residências, todas com 3 quartos, com 111m² de área construída, sendo as primeiras 20 unidades entregues em 30/10/1970 e as outras 100 em 31/12/1970.

No local da construção, entre o bairro de Adrianópolis e a Avenida João Coelho (Constantino Nery), a Incorporadora Irmãos Valle implantou uma indústria de apoio que produzia tijolos, tanques e esquadrias, de forma a entregar as obras nos prazos previstos. A incorporadora tinha como diretores em Manaus os engenheiros Nilton Cordeiro do Valle e Marcos Borela.

Através de um anúncio de 1972 da ICAL, Imobiliária Cavalcanti Limitada, podemos ter uma ideia de como era a estrutura das casas desse conjunto: "Casa no melhor conjunto de Manaus - pronta entrega, três quartos, dois banheiros, garagem, quarto de empregada, área de serviço, sala ampla, sala de jantar, copa-cozinha. Conjunto Isaias Vieiralves"³.

Trabalho de terraplanagem no Conjunto Residencial Isaias Vieiralves. Foto de 1974.

O nome do conjunto é uma homenagem a Isaias Vieiralves (1884-1958), cearense de Sobral que veio para o Amazonas em 1914, estabelecendo-se como guarda livros no rio Juruá, contador e fundador da Vieiralves Imobiliária S. A. em Manaus.

Percebe-se que, desde suas origens, o Conjunto Isaias Vieiralves estava destinado a um público de alto poder aquisitivo, uma classe média em ascensão e pessoas da elite manauara que já não tinham mais a área central da cidade como local preferencial de moradia. Essa área da cidade destaca-se como uma das melhores para se viver, bem como uma das mais caras, ao lado dos bairros de Adrianópolis e Ponta Negra. A Incorporadora Irmãos Valle também foi responsável pela construção do Conjunto Abílio Nery, no bairro Aleixo.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

HEIMBECKER, Vládia Pinheiro Cantanhede. Habitar na cidade: Provisão estatal da moradia em Manaus, de 1943 a 1975. Manaus, UFAM, 2014. Dissertação (Mestrado em História).

NOTAS:

¹ Decreto N° 2924, de 07 de agosto de 1995, p. 5. Cita-se, além desses conjuntos, um de nome Conjunto Parque Amazonense. Não foi constatada a existência de algum conjunto habitacional com esse nome, podendo ser uma confusão com o terreno do antigo Parque Amazonense.

² Jornal do Comércio, 22/08/1971.

³ Jornal do Comércio, 05/11/1972.

CRÉDITO DAS IMAGENS:

Madison/commons.wikimedia.org
Instituto Durango Duarte

domingo, 3 de junho de 2018

Sociologia da Arte, de Gilberto Freyre (1964)

Grupo escultórico da tumba de Santo Inácio de Loyola, em Roma.

O texto a seguir foi originalmente publicado na revista O Cruzeiro em 1964 pelo sociólogo e ensaísta Gilberto Freyre (1900-1987). Nele o autor analisa as representações da arte sacra na África e no Oriente, as formas como as figuras (Santos, Cristos, Nossas Senhoras) são produzidas nessas duas regiões, influenciadas pela cultura local que lhes confere novas formas e significados.


SOCIOLOGIA DA ARTE

Interessante será o estudo do nôvo tratamento artístico que a rêde, levada pelo português do Brasil para a África, recebeu de mãos africanas, como interessante é observar-se como certas formas cristãs de arte, ligadas aos símbolos máximos do Catolicismo, receberam, ou vêm recebendo, no Oriente e na África, um tratamento artístico através do qual se nota a tendência para essas formas se harmonizarem com artes tradicionalmente ligadas à vida, à cultura, à ecologia orientais e africanas. Viajando pelo Oriente e pela África, minha atenção fixou-se em vários desses casos de transculturação.

No Convento de São Francisco de Assis, de Goa, quando lá estive em 1959, mostrou-me o Cônego Costa, no museu lapidário, um conjunto de esculturas cuja base é uma figura nua de feitio oriental, sôbre a qual se apóia a Família Sagrada vestida. Vi um altar indonésio no qual só o símbolo da cruz é, como arte simbólica, adventício: tudo o mais é arte oriental antiga, adaptada a uma nova função. O mesmo é certo de alguns dos paramentos de culto católico, bordados a ouro, que vi na basílica da chamada Velha Goa, com arabescos orientais decorando símbolos católicos.

O que, entretanto, me impressionou particularmente foi o gôsto, da parte de artistas africanos e orientais, em tratarem o Cristo crucificado como um Deus ostensivamente nu ou de tanga, identificado mais com êles, homens, em sua maioria, nus ou de tanga do que com os europeus ou ocidentais, tantas vêzes opressores de nativos ou de gente de côr. O que se nota também num Cristo do Amazonas, admiràvelmente ecológico, que figurou na exposição de Arte Sacra de Lisboa, em 1951.

O mesmo se nota numa Nossa Senhora esculpida em Timor, que vi na mesma exposição: nua da cintura para cima, com o Menino Jesus nu nos braços. Vêem-se no Oriente numerosos santos católicos, de marfim, esculpidos por artistas orientais, em trajos orientais; e até Nossas Senhoras, como a indo-portuguêsa do século XVII, pertencente ao Conde de Nova Goa, surgem-nos em trajos orientais e com o aspecto de mulheres do Oriente.

Diante dessa tendência, saudàvelmente Cristã, da parte de artistas orientais e africanos para com imagens ou símbolos de um sagrado que do plano etnocêntrico, deve ser elevado o mais possível ao cristocêntrico, é de estranhar que no Brasil, país de população em grande parte, se não mestiça, morena, artistas como certos discípulos de Mestre Cândido Portinari insistam em só pintar Cristos, Nossas Senhoras e anjos louros, ruivos, alvos, nórdicos, caucásicos. Temos, é certo, os nossos louros - tantos dêles brasileiríssimos. Êles têm direito a aparecer na nossa arte, as louras a vencer concursos de beleza, os louros a figurar entre os brasileiros mais elegantes. Nada, porém, de, na arte sacra, desprezarmos os morenos, os pardos, os prêtos, para nos fecharmos numa representação exclusivamente arianista do sagrado, como se o próprio Deus dos cristãos devesse ser sempre um Senhor alvo e louro e não um Deus ao mesmo tempo branco e prêto, alvo e moreno, louro e amarelo.

FREYRE, Gilberto. Sociologia da Arte. In: Revista O Cruzeiro, 31 de outubro de 1964, p. 95.


CRÉDITO DA IMAGEM:

http://goodjesuitbadjesuit.blogspot.com


sexta-feira, 1 de junho de 2018

As Grandes Províncias Indígenas da Amazônia entre os séculos XVI e XVII


Índio Cambeba com suas armas. Alexandre Rodrigues Ferreira, século XVIII.

São dos cronistas os primeiros registros escritos sobre a organização dos povos indígenas da Amazônia entre os século XVI e XVII. Nomes como os de frei Gaspar de Carvajal, Maurício de Heriarte, Cristóbal de Acuña e padre Samuel Fritz nos legaram informações valiosas sobre o estado dos indígenas da região antes do estabelecimento dos conquistadores europeus, isto é, antes de terem seu estilo de vida e organização alterados.


PROVÍNCIA DE APARIA

A Província de Aparia, também conhecida como Carari, estava localizada entre o baixo Rio Napo, afluente do rio Amazonas no território peruano, e os rios Javari e Iça, afluentes do rio Solimões, compreendendo uma extensão territorial de 600 quilômetros. A província era formada por 20 povoados, cada um dividido por grandes plantações de milho e mandioca, tendo como capital o povoado de Aparia Grande ou Aparia o Grande, na boca do rio Javari. O poder político estava nas mãos do chefe de Aparia Grande, que dominava desde a foz do rio Jandiatuba até a aldeia de Aparia Menor ou Aparia o Menor, no baixo Napo. Aparia era habitada por índios Aricanas, Arimocoas e, a partir do século XVII, Omáguas. Os habitantes de Apararia vestiam-se com tecidos de algodão pintados, as mulheres utilizando botas e roupas de meias mangas feitas com algodão e cobertas com piche negro. Os Arimocoas, no entanto, andavam nus.

PROVÍNCIA DOS OMÁGUAS

A Província dos Omáguas é a transformação da Província de Aparia, ocupada pelos Omáguas desde o século XVII. Ela se estendia desde a parte baixa da boca do rio Napo, mais de 100 quilômetros acima da foz do rio Javari, até a boca do rio Mamoriá, entre os rios Jutai e Juruá, compreendendo 700 quilômetros. Pedro Teixeira, em 1639, contabilizou 400 aldeias, cujas casas eram protegidas com estacas de madeira. No entanto, no final do século XVII, padre Samuel Fritz contabilizou 38 aldeias, possivelmente uma consequência das epidemias que passaram a dizimar os Omáguas. Essas aldeias possuíam chefes locais, tendo a Província um chefe supremo, o Tururucari (Deus), que representava o poder central. Além de chamarem a atenção por possuírem a cabeça achatada, os Omáguas também se destacavam pela inclinação à guerra, conquistando outras províncias e possuindo vários escravos, frutos das conquistas.

PROVÍNCIA DE MACHIFARO

A Província de Machifaro, no século XVI, estava localizada na margem direita do rio Solimões, em um território que tinha início acima da boca do rio Tefé e se estendia até o rio Coari, totalizando 200 quilômetros. Era uma Província bastante povoada, com aldeias próximas umas das outras. No século XVII também ficou conhecida como Província de Curuzirari, Província de Carapuna e Província de Aisuari.


PROVÍNCIA DE AISUARI

A Província de Aisuari tinha a mesma localização da Província de Machifaro, com o adicional de ter se estendido 120 quilômetros a Oeste, ultrapassando a foz do rio Juruá; além de ser populosa da mesma forma. Os Curuzaris, habitantes dessa Província, mantinham relações comerciais com os índios Manaus. Os Manaus comercializavam ouro, urucum, raladores de mandioca, redes de miriti, cestarias e tacapes, enquanto os Curuzuraris comercializavam cerâmicas de alta qualidade.

PROVÍNCIA DE ONÍGUAYAL OU OMÁGUA

A Província de Oníguayal estava localizada abaixo da de Machifaro, que se estendia acima da barra do rio Coari até as proximidades da foz do rio Purus, com cerca de 250 quilômetros. Ocupavam também a margem esquerda da região de Codajás. A maior aldeia de Oníguyal estava localizada na ilha de Codajás, e era conhecida como Aldeia da Louça, por nela serem fabricadas cerâmicas policrômicas de grande qualidade. Para rituais e festividades, seus habitantes construíam grandes ídolos de fibras vegetais trançadas. Também eram bons navegantes, comercializando com outras tribos. No século XVII seria conhecida como Província de Yoriman, Solimões ou Yurimágua.

PROVÍNCIA DE YORIMAN, SOLIMÕES OU YURIMÁGUA

Com extensão semelhante à Província de Oníguayal, a Província de Yoriman estava localizada na margem direita do rio Amazonas (rio Solimões), com uma extensão territorial de 250 quilômetros. As comunidades eram bastante povoadas, com seus habitantes, os Solimões, vivendo em casas comunais, que abrigavam quatro ou cinco famílias. Seus habitantes comercializavam intertribalmente e com outros povos, negociando manufaturas e escravos. De acordo com o padre Cristóbal de Acuña, os Solimões eram bastante belicosos, fazendo frente às esquadras portuguesas que tentavam penetrar na região.


PROVÍNCIA DE PAGUANA

O território da Província de Paguana estava localizado acima da boca do rio Purus e se estendia 100 quilômetros acima do encontro das águas do rio Negro e do rio Solimões. Essa Província era dividida em dois grandes e populosos povoados: A Aldeia dos Bobos, com duas léguas de extensão e vários caminhos para o interior; e a Aldeia dos Viciosos.  No século XVII, a região de Paguana era habitada por diferentes tribos, das quais destacam-se os Caripunas e Zurinas, na margem direita do Encontro das Águas; e os Carabuyunas, na margem esquerda, estendendo-se pelos lagos de Manacapuru e pelo baixo Rio Negro. Com exceção dessas referências, as informações sobre Paguana são escassas.


PROVÍNCIA DO ENCONTRO DAS ÁGUAS E ILHA DE TUPINAMBARANA

Entre os rios Negro e Urubu, existiu um grande número de aldeias fortificadas com paliçadas de toras grossas e, em um povoado na margem esquerda entre esses dois rios, existia um altar para celebrações religiosa, onde eram ofertadas bebidas fermentadas para uma divindade solar. Passando a boca do rio Madeira, existiu a Província de Picotas, onde seus habitantes fincavam estacas com as cabeças dos que matavam nas guerras. No século XVII, da barra do Rio Negro até o rio Urubu, viviam os Tarumãs. A Ilha de Tupinambarana era habitada pelos Tupinambás que vieram da costa leste do Brasil.

PROVÍNCIA DOS TAPAJÓS

A Província dos Tapajós compreendia o trecho do rio Amazonas que vai da boca do rio Nhamundá até o baixo curso do rio Tapajós. De acordo com frei Gaspar de Carvajal, na região no século XVI, as duas margens do rio Amazonas eram ocupadas por aldeias, estando as maiores na margem direita. O padre Cristóbal de Acuña, no século XVII, constatou a existência de 2500 pessoas em apenas uma aldeia, o que nos permite ter uma noção da grandiosidade da Província como um todo. Os Tapajós eram bastante conhecidos e temidos pelas tribos vizinhas, pois utilizavam flechas envenenadas nas guerras. De acordo com Maurício de Heriarte, na região em 1662, os Tapajós estavam organizados em povoados que possuíam entre 20 e 30 casas. Cada povoado era governado por um 'principal', e a Província como um todo pelo 'Principal grande'. Foi nessa Província que aconteceu o combate entre os soldados Francisco de Orellana e as Amazonas, registrado por Gaspar de Carvajal.

PROVÍNCIA DOS NEGROS

A Província dos Negros se estendia da região de Monte Alegre até o rio Xingu. Os homens dessa região, de acordo com Carvajal, eram altos, tosquiados e tinha a pele pintada de negro. O chefe dessas terras se chamava Arripuna. Até os limites na foz do Amazonas, foram registradas várias povoações indígenas.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SANTOS, Francisco Jorge dos. História do Amazonas. 1° Ed. Rio de Janeiro: MEMVAVMEM, 2010.

FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. História do Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2011.



CRÉDITO DA IMAGEM:

Alexandre Rodrigues Ferreira. Viagem Filosófica. In: SANTOS, Francisco Jorge dos. História do Amazonas. 1° Ed. Rio de Janeiro: MEMVAVMEM, 2010.