terça-feira, 7 de outubro de 2014

A Comunidade Kalunga



Na língua banto, de origem africana, Kalunga significa lugar sagrado, de proteção. No sentido dado pelos moradores (...), significa "lugar sagrado que não pode pertencer a uma só pessoa ou família", ou "lugar onde nunca seca, arável, sendo bom para as horas de dificuldade". A terra começou a ser habitada em meados do século XVIII, quando africanos escravizados fugiram em busca de liberdade.

Era o período de colonização da região de Goiás em busca do ouro e da garimpagem, em que, além das populações nativas e indígenas, africanos foram escravizados como mão de obra barata. Em busca de libertação, estes escravos fugiram e criaram seu quilombo em uma terra de difícil acesso, com serras, vãos e rios; distante dos parentes e amigos que ficaram para trás. Os Kalungas representam um povo que se escondeu e luta, há mais de 300 anos, por sua comunidade, pela liberdade e sobrevivência. 

O quilombo Kalunga ocupa 237 mil hectares e abriga mais de 4.500 pessoas. São quatro núcleos principais de população: Contenda, Vão de Almas, Vão do Moleque e Ribeirão de Bois, que ficam nos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Esse núcleos são formados por pequenos povoados como Engenho, Diadema, Riachão, Ema, entre outros. No entanto, mesmo com esta divisão, é difícil visualizar o habitat da população.

As festas populares dos Kalunga são sua marca registrada. A forte religiosidade do povo é demonstrada por meio dos festejos em homenagem aos santos de cada época. As festas são a caracterização genuína da cultura popular, em que o sagrado e o profano se misturam. Rezas e a dança da Sussa, o tradicional Levantamento do mastro do Divino e a mesa cheia de comidas e bebidas para a Festa do Império Kalunga, com a coroação do imperador e da rainha.

Mais do que comemoração religiosa, as festas têm um papel social. É nessas festas que parentes se reencontram, crianças são batizadas, são realizados casamentos, reivindicações são ouvidas por representantes políticos, etc. Quando reunidos, a nação Kalunga mostra ainda mais sua humildade, sua alegria e o valor de se preservar as tradições. Sempre dispostos para o trabalho e para o festejo, os Kalunga não veêm tempo ruim. Um exemplo da brasilidade mais genuína, que mais do que qualquer outra necessidade, requer respeito.




FONTE: Comunidade do Sítio Histórico Kalunga. Disponível em: http://www.encontrodeculturas.com.br/encontroteca/grupo/comunidade-do-sitio-historico-kalunga#.VDTNjfldXxE . Acesso em: 08/10/2014.


CRÉDITO DA IMAGEM: http://encantosdocerrado.com.br/

Manaus, sua origem: os limites da cidade em 1852

Planta da cidade de Manaus em 1852.


“Em 1852 a villa da Barra, hoje cidade de Manaus, conservava-se tal qual devera ter sido em 1832, tendo menos população e número maior de seus edificios em ruinas. Por um croquis da planta da villa, que foi traçado a vol d’oiseau por meu sempre lembrado pai – João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha, nos primeiros dias do referido anno de 1852, (...) Era cortada a cidade da Barra (...), ao Norte pelo igarapé da Castelhana, que desagua no da Cachoeira Grande e pelo dos Remedios (Aterro), no logar denominado Mocó, cujas aguas lançam-se no Rio Negro. Este último igarapé dividia o bairro da República do dos Remédios.

Ao Occidente o igarapé da Cachoeira Grande limitava a cidade, e entre elle e o do Espirito-Santo corriam os igarapés de S. Vicente, cuja fonte estava situada na extrema occidental da rua da Palma, hoje denominada Saldanha Marinho; e o da Bica, seu affluente, que nasce na rua 10 de Julho, ainda não existente nessa epocha, e cujo leito se estende ao longo do largo da Polvora, formando com o igarapé da Cachoeira Grande o arrabalde denominado Cornetas e Saco do Alferes. Abaixo do igarapé de S. Vicente desaguava no Rio Negro um outro que denominava-se de Seminário, cuja nascente era na rua Brazileira, tendo sido transformado depois na Praça da Imperatriz. Esses dous igarapés formavam o bairro de S. Vicente, assim como o do Seminario e o do Espirito Santo o bairro que tomava deste o nome. O igarapé de S. Vicente lança-se por duas boccas no Rio Negro e forma a ilha de S. Vicente, onde se acha installada a enfermaria militar. Também desagua no mesmo rio o igarapé do Espirito-Santo, cuja nascente estava próxima do logar onde se acha edificado o theatro.”


(ARANHA, Bento. Um Olhar pelo Passado. Manaus: Inprensa Oficial, 1897)



CRÉDITO DA IMAGEM: manausantiga.blogspot.com

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Manaus, sua origem: as esculturas da casa misteriosa

Desde pequeno, quando eu ia ao Centro, ficava olhando para o belo casarão branco e rosa, localizado na esquina das ruas Leovigildo Coelho e Quintino Bocaiúva. Esse casa me chamava a atenção pelo fato de eu nunca ter visto sair uma "viva alma" de dentro dela. Essa pulga atrás da orelha continua até hoje: não vejo ninguém entrar e nem sair. Outro ponto que chama a atenção são as belas esculturas que ornamentam o jardim da residência, que não está abandonada. São anjinhos, figuras femininas e até um coreto. 

As esculturas que fotografei são duas figuras femininas, que ornamentam a escadaria de acesso à casa. Elas possivelmente são Alegorias à agricultura, pois ambas carregam foices e feixes de trigo. Quanto as suas origens, elas podem ter vindo da Europa sob encomenda. As duas principais fornecedoras de escultura para o Brasil, Saracen Foundry, da Escócia, e Funderies do Val d´Osne, da França, produziam peças em larga escala e as vendiam em catálogos. Não é muito difícil encontrar peças semelhantes em todo o Brasil.



quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Manaus, sua origem: As impressões de Alfred Russel Wallace sobre a Vila da Barra do Rio Negro

Vila da Barra do Rio Negro em 1848.

Alfred Russel Wallace foi um dos mais importantes naturalistas do século 19. Após conhecer o entomologista Henry Walter Bates, decidiu empreender uma série de viagens por regiões tropicais, para estudar sua fauna e a flora, além de lançar os fundamentos da Teoria da Evolução das Espécies. Os dois amigos partiram de Liverpool, em 27 de abril de 1848, em um pequeno navio, rumo à foz do rio Amazonas, nela chegando em 26 de maio do mesmo ano. Sobre a vila da Barra do Rio Negro (atual Manaus), Russel deixou preciosas anotações sobre a localização, atividades econômicas e costumes dos habitantes.

Sobre a localização da vila, ele nos informa que ela "está situada na margem leste daquele rio (Negro), cerca de doze milhas acima de sua junção com o Amazonas. E está localizada em um terreno desigual repleto de ondulações, cerca de trinta pés acima do nível das mais altas cheias, e é cortada por dois córregos, cujas águas, na estação chuvosa, atingem a considerável altura, havendo, porém, sobre eles duas pontes de madeira"

As ruas vão ser motivo de reclamação para os futuros viajantes. Para Wallace, "elas são regularmente traçadas; não têm, no entanto, nenhum calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos, o que torna a caminhada sobre os seus leitos muito desagradável, principalmente à noite".

As casas são simples "geralmente só tem um pavimento; são cobertas de telha vermelha e assoalhadas com tijolos, têm as paredes pintadas de branco ou de amarelo; e as portas e janelas pintadas de verde. Quando o sol bate sobre elas, o efeito é muito bonito."

Do Forte de São José da Barra, núcleo de origem da cidade, erguido em 1669, "só há, presentemente, uns restos de muralhas e um monte de terra".

Existiam duas igrejas católicas na localidade, a dos Remédios e a de Nossa Senhora das Graças. "Muito pobres e bastante inferiores à de Santarém". Manaus não possuía construções imponentes, situação que só iria mudar mais de 30 anos depois, graças a economia da borracha.

Existiam entre 5.000 e 6.000 habitantes, dos quais "a maior parte é constituída de índios e mestiços. Na verdade, não há ali uma única pessoa, nascida no lugar, da qual se diga que seja de puro sangue europeu, tanto e tão completamente se teêm os portugueses amalgamado (mesclado, misturado) com os índios".

Os comércio era baseado na exportação de castanhas, peixes e drogas do sertão, e as importações "são tecidos europeus, de inferior qualidade, cutilaria ordinária, colares, espelhos e outras bugigangas mais". Esses objetos de menor valor eram utilizados no comércio com os indígenas.

gêneros de primeira necessidade, ou produtos mais sofisticados como queijos, vinhos e trigo, "são sempre muito caros e, por vezes, não se pode obtê-los, quando chegam a faltar". 

"Os habitantes mais civilizados da Barra dedicam-se todos ao comércio, não havendo ali qualquer outra diversão, se assim podemos considerar, que não seja a de beber e jogar em pequena escala".

Além disso, hábitos cosmopolitas faziam parte dos costumes locais. "Aos domingos, principalmente, todos trajam as suas melhores roupas. As mulheres vestem-se elegantemente, exibindo lindos vestidos, confeccionados com gazes e musselinas francesas". Os homens deixam os afazeres nos armazéns e "trajam nesse dia bonitos ternos escuros, chapéu de castor, gravata de cetim e finíssimos sapatos de pelica".

O principal passatempo do dia era fazer visitar uns às casas dos outros , "para palestrar, tendo como assunto principal da conversação os escândalos, que se acumularam durante a semana".

Wallace fez uma conclusão que ficou famosa que passou a ser reproduzida em vários livros de História do Amazonas: "os sentimentos morais em Barra estão reduzidos ao mais baixo grau de decadência possível, mais do que qualquer outra comunidade civilizada". Apesar de ser um exímio naturalista, Russel tinha uma visão Eurocêntrica de mundo.



FONTE: WALLACE, Alfred Russel. Viagem pelo Amazonas e Rio Negro. Edição Brasilianas. Série 2°, vol. 158. 1939.


CRÉDITO DA IMAGEM: catadordepapeis.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Manaus, uma cidade pra ser amada


Por Otoni Moreira de Mesquita


Chegar a Manaus é sempre um impacto. Depois de horas de voo ou dias navegando por densas áreas verdes, recortadas por curvas ocres e negras, depara-se com uma grande clareira que ruge animadamente. Surge clara e nua, banhada pelas águas escuras de um belo rio que lhe embeleza. De noite ou de dia, é sempre um espetáculo, mesmo para aqueles que estão sempre a retornar. Mas parte do encanto se desfaz, ao constatar que a ânsia de modernizar se desfaz de suas belezas naturais. 

Quarenta anos após a implantação da Zona Franca de Manaus não há como duvidar do crescimento manifesto em vários setores da sociedade. A arrojada expansão da cidade é sem dúvida conseqüência de suas atividades econômicas que vem atraindo grande contingente de trabalhadores de outros estados. O crescimento populacional, assim como o nível de desigualdade social pode ser medido pela ampliação exagerada das periferias suburbanas e dos arrojados empreendimentos verticais que se multiplicam, em algumas áreas da cidade. Contudo, a falta de infraestrutura necessária, não somente material, mas, sobretudo, sociocultural, faz deste crescimento uma coisa ameaçadora para todos os segmentos sociais.

Tal como ocorreu no final do século XIX, um novo surto de prosperidade econômica direciona mudanças radicais na cidade, visando atender as novas necessidades de circulação, segurança e garantir as demandas de crescimento, sobretudo dos setores industriais e comerciais. Contudo, populações sem qualquer qualificação sobrevivem com grande dificuldade nas áreas urbanas e sem condições de penetrarem no mercado de trabalho, portanto, sem instrumentos que permitam exercitar pleno direito de cidadania, permanecem excluídos. O desafio é estabelecer políticas públicas capazes de promover a integração, valorização e a inclusão deste contingente no viver social da cidade.

Compreende-se que uma sociedade democrática, deva ser regida por interesses dos mais variados segmentos, não somente pelas políticas econômicas. Certamente, as decisões seriam representativas, contemplando múltipla participação e promovendo diferentes necessidades e interesses. Assim, gerando uma sociedade mais humana, justa e sensível.

Quanto aos aspectos ambientais, históricos e patrimoniais, nota-se que mesmo, parcialmente protegido pela Lei Orgânica do Município, e ensaiadas algumas tentativas no sentido de recuperar, sobretudo, alguns exemplares do patrimônio arquitetônico. No entanto, grande parte das belas edificações do Centro histórico de Manaus se encontra completamente abandonada, outras sem qualquer conservação, e muitas definitivamente agredidas: descaracterizadas ou demolidas. Patrimônio arquitetônico e o natural permanecem em risco, agredidos e degradados em uma velocidade acelerada. Igarapés continuam poluídos, mesmo que parte de suas margens tenham sido embelezadas. O verde da arborização e das praças, com raríssima exceção, foi subtraído ou substituído por magrelas palmeiras importadas de outras regiões. Para o cidadão não há caminhos com sombra, transporte digno ou calçadas contínuas e regulares.

Infelizmente, o patrimônio material e imaterial não está amparado por uma política pública autônoma e contundente, capaz de se confrontar com interesses econômicos. Com amplos poderes de atuação, não somente em sua extensão geográfica, mas, sobretudo, no âmbito cultural. Para tanto, suas ações devem encontrar respaldo nos currículos escolares, cujos conteúdos e metodologias inculquem idéias e valores que fortaleçam as noções de cidadania e pertencimento da cidade.

Grandes empreendimentos na área da construção civil e das obras públicas vêem produzindo construções arrojadas, denotando uma clara situação de prosperidade. No entanto, esta aparência não parece de acordo com as condições enfrentadas pela maior parte da população. Ou seja, a convivência com deficiências de serviços públicos básicos, como a educação, saúde e transporte. Além de uma rotina marcada por outros setores que necessitam ser continuamente acompanhados, ou seja, a melhoria e ampliação do serviço de distribuição de água, iluminação pública, pavimentação de ruas, calçamento para pedestres, ciclovias, instalação de rede de esgotos, engenharia e sociologia do trânsito. Que pensem no homem como usuário da cidade.

A sociedade tem pressa em demasia, violência em excesso e solidariedade e fraternidade de menos. Por este ângulo, a cidade humanizada, embelezada, e tranquila só faz sentido e só será economicamente rentável, para usuários sensibilizados com estes aspectos. Não se deve esperar uma mudança radical no modelo de cidade, se não houver mudanças nas relações sociais, econômicas e, sobretudo, culturais que se processam em seu interior. Novas práticas exigem o apoio de uma população sensibilizada e predisposta a adotá-la. Assim, a aceitação e a eficácia de sua implantação, em geral, exigem um trabalho de médio e longo prazo, vinculado a uma mudança substancial no processo educativo. Não há como preservar a mais bela das cidades, ou as práticas mais tradicionais se não tiverem sentido para os seus usuários. Não se trata de decorar um discurso ou obedecer a leis, mas de uma relação afetiva que envolve sensibilidade e pertencimento.

Não é suficiente recuperar, conservar, limpar e embelezar espaços públicos, nem estabelecer leis de conservação e fiscalizar sua aplicação. É necessário inculcar idéias que sensibilizem aqueles que usufruem desses espaços; planejar estratégias para as gerações futuras. Que as manifestações culturais não sejam transformadas apenas em espetáculos, nem que os espaços públicos sejam embelezados somente para o lazer de alguns. Mesmo que os espaços ganhem novos significados, que se busque preservar as referências e a memória que possam proporcionar um relacionamento afetuoso com a cidade.

Acreditamos que recuperando monumentos e seus entornos, é possível propiciar uma valorização da auto-estima da população, fazendo com que esta se reconheça, não somente como usuária, mas como a protetora que ama, preserva e se orgulha de sua cidade. De fora para dentro, a recuperação destes espaços poderá auxiliar na construção e difusão de uma imagem da cidade mais bela e humana.

Sem dúvida é necessário que as idéias circulem na esfera da administração pública, dos empresários e da população, mas a ideia não é suficiente, se faz necessário animá-las a partir do pronunciamento de nossos representantes, na Câmara, na Prefeitura, na Assembléia, no Senado, sobretudo, no governo do Estado: administradores competentes, políticos sensíveis e sabedor das necessidades e processos, que trabalhem pelo bem comum e sejam capazes de convencer seus pares e mantenham a continuidade dos projetos. Sem dúvida, é um filão político e que poderá trazer grandes dividendos econômicos para a cidade, mas que ainda exigirá algum tempo.






Otoni Moreira Mesquita nasceu em Autazes-AM, em 27 de junho de 1953. É artista plástico e professor da Universidade Federal do Amazonas. Formado em jornalismo (1979 - UFAM) e em Gravura (1983 - Escola de Belas Artes - UFRJ). É mestre em Artes Visuais e História e Crítica da Arte (1992 - UFRJ). De março de 1997 a dezembro de 1998, atuou como coordenador do Patrimônio Histórico, da Secretaria de Cultura e Estudos Amazônicos. É doutorado em História Social pela UFF, concluído em 2005 com o trabalho O Mito de progresso na refundação da cidade de Manaus: 1890/ 1900. Livros publicados: La Belle Vitrine: Manaus entre dois tempos - 1890/1900 (2009) e Manaus: História e arquitetura - 1852/1910 (3 edições. 1997, 1999 e 2006).








CRÉDITO DA IMAGEM: http://turismo.culturamix.com/

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Um olhar sobre o século 21



1997, ano do meu nascimento e final do século 20. Com quatro anos, assisti pela televisão, um dos atentados mais marcantes da História: em 11 de setembro de 2001, dois aviões foram lançados por terroristas islâmicos nas duas torres do World Trade Center; um terceiro avião no Pentágono; e um quarto no Estado da Pensilvânia. Morreram cerca de 2977 pessoas, entre funcionários do WTC, passageiros dos aviões sequestrados, funcionários do Pentágono e bombeiros que socorriam as vítimas. A Guerra Santa (Jihad) promovida por radicais islâmicos; o preconceito religioso e étnico contra os árabes, gerado pelo trauma da sociedade americana; e a Guerra ao Terror, investida militar americana contra o terrorismo, marcada pela invasão do Iraque e Afeganistão. Ao meu ver, assim começava o século 21, de forma conturbada e marcado pela guerra.

A primeira resposta dos Estados Unidos ao atentado de 2001 foi a Guerra do Afeganistão, na qual forças americanas, apoiadas pela Força Islâmica Unida e países como a França e Reino Unido, visavam a captura do terrorista Osama bin Laden e outros membros da Al Qaeda e por um fim no regime Talibã. Em 2011 bin Laden foi capturado e morto. Os Estados Unidos, no entanto, tiveram grandes baixas e altos gastos.

Em 2002, os Estados Unidos, sob o comando do presidente George W. Bush, acusavam o Iraque de possuir um poderoso arsenal de armas de destruição em massa. Não só o Iraque, mas também o Irã e a Coréia do Norte, que, nas palavras do presidente, formavam o "Eixo do Mal". Os Estados Unidos estavam planejando invadir o país caso a ONU não tomasse medidas drásticas. A Organização investigou o Iraque, mas não foram encontradas provas a favor da acusação americana. Contrariando a ONU, Os Estados Unidos, com o apoio da Grã-Bretanha, invadiu o Iraque em 2003 e, no mesmo ano, conquistou a capital Bagdá. Mais tarde, ONU legitimou a presença anglo-americana no território. O ditador Saddam Hussein foi capturado em 2003 e condenado por cometer crimes de guerra. Foi enforcado em 2006. Terminada a guerra, com um saldo de 100 mil civis mortos, as forças anglo-americanas não conseguiram provar a presença de armas de destruição em massa no Iraque.

Sabe-se que, além de justificativas militares e investidas contra o terrorismo, os Estados Unidos tinham interesses econômicos, pois o Iraque é rico em reservas de petróleo. O brasileiro Sérgio Vieira de Mello, funcionário da ONU e Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Unidos - e outros 14 funcionários da organização, foram mortos em um atentado em Bagdá, atribuído à Al Qaeda.

A economia mundial também mostrou que era propensa à grandes crises como a que se iniciou em 2008. Depois dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos passaram a investir maciçamente em material bélico e também estavam importando mais do que exportavam. Com a economia fragilizada e recebendo ajuda financeira do exterior, o governo americano reduziu os juros numa tentativa de incentivar o consumo. Milhões de americanos, alguns considerados de risco (nome sujo), financiaram a compra de imóveis. A situação econômica foi piorando, a inflação aumentou, e os juros tiveram que ser aumentados pelo governo. Os financiamentos, muitas vezes, tinham juros variáveis, fazendo com que pessoas que financiaram com juro baixo tivessem que pagar um juro mais alto.

As pessoas que fizeram os empréstimos ficaram sem condições de pagá-los, o que gerou um efeito dominó: sem o pagamento dos empréstimos, as casas financiadoras ficaram sem dinheiro para pagar os bancos. Em pouco tempo, a Bolsa de Valores foi atingida. Igual a Crise de 1929, os países que mantinham relações econômicas com os Estados Unidos também tiveram suas economias atingidas. Aumento de juros bancários e queda de bolsas se tornaram frequentes na vida desses países.

Neste século, a internet, o celular, computadores multi-uso, DVDs e produtos de última geração estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. Além desses avanços, a descoberta de novos planetas, a maioria deles em condições de abrigar vida;  o Projeto Genoma, criado para desvendar o código genético dos organismos; e melhorias na Medicina e em tratamentos, são avanços técnicos que permitem o intercâmbio de conhecimentos e o aumento da expectativa de vida.

Uma Primavera jamais vista atingiu o Norte da África e o Oriente Médio. Era a Primavera Árabe, uma onda de revoluções e protestos contra governos corruptos e autoritários e a favor de melhores condições de vida. Os primeiros protestos começaram na Tunísia em 2010, e terminaram vitoriosos em 2011, com a deposição do ditador Abidine Ben Ali, que estava no poder desde 1987. A vitória tunisiana influenciou a Líbia, o Egito, a Argélia, a Síria, o Barhein, o Marrocos, o Iêmen, a Jordânia e Omã. Além do governo da Tunísia, também foram derrubados os da Líbia, Egito e Iêmen.

O Brasil ficou marcado pelos Protestos de Junho de 2013. A redes sociais se mostraram poderosos mecanismos de mobilização popular. Mais de 430 cidades, capitais ou interioranas, estiveram envolvidas nesse evento. As causas que motivaram as manifestações foram várias: aumento da tarifa do transporte público; PEC 137, projeto de lei que, se fosse oficializado, tiraria do Ministério Público o poder de investigar crimes; Repressão policial; e gastos vultosos em obras e eventos esportivos. Em meio aos manifestantes que queriam mudanças na "ordem" vigente, existiam pessoas que agiam de forma violenta, depredando o patrimônio público, agredindo pessoas e envolvendo na causa o partidarismo político. Terminados os protestos em julho de 2013, algumas medidas foram tomadas pelos governantes: redução da tarifa do transporte público; Aprovaram o projeto de lei que tornava a corrupção um crime hediondo; e arquivaram a PEC 137.

Século 21. Em um curto espaço de tempo já presenciamos momentos que entraram para a História. Avanços tecnológicos, guerras, invasões de territórios, embates entre Esquerda e Direita, enfraquecimento das religiões dominantes e ascensão de outras, manifestações no Brasil e disputas por territórios. Todos esses eventos em menos de duas décadas. Até 2100, nos surpreenderemos com nossos próprios atos, tanto para o bem quanto para o mal.



CRÉDITO DA IMAGEM: http://blogdelapraca.files.wordpress.com/
















quinta-feira, 17 de julho de 2014

Meu Bairro Querido

Uma rua do bairro São Lázaro em 1960.

Moro na Zona Sul de Manaus. Essa zona, acredito eu, é diferente do que se vê em outras cidades do país. Ela não abriga bairros nobres. Aqui, a maioria dos mais abastados estão na Zona Centro-Sul e Oeste. A parte sul, porém, guarda os bairros mais antigos, os que deram origem a cidade.

O bairro São Lázaro nasceu na década de 1950. Eram tempos difíceis para o Amazonas. Passados o efêmero Ciclo da Borracha de 1890 a 1920 e a rápida recuperação Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado vivia mais de 30 anos em recessão econômica. Primeiro foram os europeus que a abandonaram, depois foi Getúlio Vargas, que utilizou a região para fornecer borracha para os Aliados.

Além da péssima situação financeira, a natureza também agravava a situação. Em junho de 1953, as águas do Rio Negro atingiram a marca de 29,69 metros. Essa foi, por décadas, a maior cheia do Amazonas. Várias famílias vieram do interior para a capital, ocasionando o primeiro boom populacional da cidade. O São Lázaro, ou "Barro Vermelho", nome que recebia por causa da coloração do solo, nasce durante esse período, sendo fundado por seringueiros abandonados, os 'Soldados da Borracha', e por pessoas vindas de cidades como Itacoatiara, Manacapuru e Parintins.

Com a instalação da Zona Franca em 1967, o progresso trouxe, além de melhorias, problemas que existem até hoje, tanto no bairro como na cidade. Ruas foram asfaltadas, a energia elétrica e a água chegaram nas residências. Os problemas ficam por conta das constantes invasões que o bairro sofreu, principalmente na Rua Magalhães Barata e adjacências.

Foi pelas mãos de Carlos Viana, um jovem de 14 anos que sonhava em ser padre, que o bairro passou a ser reconhecido desde 1958. Carlos saiu de Manaus em 1972, quando entrou para a Polícia Militar de Porto Velho. Desde aquela época, perdeu-se contato com ele. Seu nome caiu no esquecimento do bairro. Nenhuma rua ou instituição leva o seu nome. A História está aqui para lembrar as pessoas de suas origens.

Hoje o São Lázaro cresce à passos lentos. O progresso parece ter dado uma "pausa". O Catolicismo é a religião predominante, marcando a paisagem com procissões em nome do Santo Lázaro. No início, os moradores sobreviviam da venda de capim para fábricas de colchões, da coleta de caju e da produção de farinha. Hoje, a economia é baseada em pequenos comércios e na renda da maioria dos moradores que trabalham no Polo Industrial. Vez ou outra temos uma ocorrência, mas nada que abale as estruturas.


Bairro São Lázaro em 2013.



CRÉDITO DAS IMAGENS: Paróquia São Lázaro
                                   Google Street View