segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Eusébio de Cesaréia (obras, metodologia e linguagem)

História Eclesiástica, a Magnum Opus de Eusébio. Editora Novo Século, 1999.

Eusébio, bispo de Cesareia, cidade da Palestina, é conhecido por ser o primeiro historiador a discorrer sobre a História da Igreja Cristã. Presenciou boa parte das perseguições aos cristãos, bem como a conversão do imperador Constantino ao Cristianismo. Eusébio foi herdeiro dos ensinamentos de Orígines de Alexandria, apologista grego pioneiro nas leituras simbólicas e tipológicas da Bíblia.

A leitura que Eusébio faz da História é providencialista, isto é, com Deus sendo o protagonista e sujeito da história, sendo o homem apenas um instrumento da força criadora. Sua obra mais conhecida, História Eclesiástica, abrange o período que vai do nascimento de Cristo até a época em que escrevia (320 da nossa era), foi escrita em grego koiné e traduzida mais tarde para o latim. Também escreveu Crônica, um resumo sobre a história dos povos da Antiguidade e dos romanos, sob a cronologia pagã e a hebreia. A obra tem caráter apologético, pois tenta mostrar que a religião dos hebreus é mais antiga que a de outros povos.

Eusébio também escreveu martirológio cristão, gênero que ganharia bastante popularidade no decorrer da expansão do Cristianismo. Esse gênero é um relato da perseguição aos cristãos ocorrida em Cesareia. Os mártires triunfavam na morte, em morrer sem renunciar sua fé. Eusébio descreve com detalhe essas cenas, que em certos casos lembravam das ações de alguns heróis do mundo pagão.

A História de Eusébio era inédita e polêmica. Atacava judeus, pagãos e hereges. Diferente da historiografia clássica, na qual percebemos a imparcialidade em suas obras, Eusébio deixava evidentes seus objetivos: estabelecer e defender a ortodoxia da Igreja. Ao mesmo tempo em que se distancia de alguns aspectos do rigor histórico clássico, a obra de Eusébio, uma defesa religiosa, é produzida através de uma minuciosa escolha e análise das fontes. Sua biblioteca, repleta de clássicos do mundo antigo, possibilitou a escrita de seu livro. Menos historiador que os historiadores clássicos, Eusébio era mais erudito – e mais parcial.

Antes de começar a registrar os fatos de seu tempo contemporâneo, Eusébio tece uma lista sucessória de bispados das principais sedes episcopais dos tempos apostólicos. Esse objetivo é nitidamente apresentado na introdução da obra, e consiste no principal pilar da ortodoxia católica. Outro interesse do autor é o estabelecimento e a justificativa do cânone que compõe as Sagradas Escrituras. Entre a encarnação de Cristo e a conversão de Constantino, são apresentadas na obra apenas os martírios e as renúncias de fé durante as perseguições.

Além do assunto, a originalidade encontrada na obra de Eusébio se refere ao fato de que este registra o que é certo e errado, o aprovável e o e reprovável, deixando que os virtuosos ou errantes justifiquem seus atos, ou que existam como nomes e datas. Boa parte das obras se constitui de citações.

Nos três últimos livros, dedicados aos mártires da Igreja, percebemos a mudança na abordagem de Eusébio, que perde seu caráter complacente e, tomado por uma eloquência religiosa, utilizando citações e alusões, contempla os castigos divinos contra os infiéis e falsos cristãos e da vitória final da Igreja. Descreve também, de forma pitoresca e bem detalhada, as doenças que afligiam aqueles que no passado perseguiram os cristãos. Gibbon afirma que Eusébio faz isso com “uma acuidade singular e aparente prazer”. Constantino, que se converteu ao Cristianismo e tornou essa a religião oficial do Império, é visto por Eusébio como um representante de Deus na terra, e em sua obra é citado sempre em analogia com personagens ou passagens bíblicas. Eusébio combina a redenção da Igreja com unificação do Império. Igreja e Império começavam a tornar-se um só e começava o fim da ideia de Roma como uma cidade eterna, pois para os cristãos existia um fim vindouro.

A oficialização do Cristianismo como religião do Império permitiu que a visão de História providencialista de Eusébio, com centro em Roma, perdurasse por muito tempo. A expressão Sacro Império Romano evidenciava a supremacia da historiografia cristã.

Vamos sintetizar as ideias da obra de Eusébio: visão providencialista, com Deus sendo o principal personagem histórico e o homem um instrumento do criador; Foi escrita em grego koiné, mais tarde traduzida para o latim; possui o gênero martirológico, que trata sobre as perseguições aos cristãos ocorridas em Cesaréia; é apologética, com a defesa da religião cristã; defende o estabelecimento da ortodoxia cristã, sendo uma obra parcial; uso recorrente de analogias e citações bíblicas ou de autores antigos e detalha de forma pitoresca os males que afligem os “inimigos”.



FONTES:


Eusébio de Cesaréia. Veritatis Splendor: Memória e Ortodoxia Cristãs. In: http://www.veritatis.com.br/patristica/biografias/392-eusebio-de-cesareia. Acesso em 14/12/2015.


BURROW, John. Uma História das Histórias - de Heródoto e Tucídides ao século XX. Rio de Janeiro/São Paulo, Record. Tradução de Nana Vaz de Castro, 2013.


CRÉDITO DA IMAGEM:


pt.slideshare.net

domingo, 13 de dezembro de 2015

Algumas características da Historiografia Cristã Tardia

Eusébio, bispo de Cesareia, pioneiro na história da Igreja Cristã.

A Historiografia do Mundo Clássico, ou Historiografia Pagã, e a Historiografia Cristã, entram em ruptura, guardando-se, no entanto, o latim, já com algumas mudanças, como língua utilizada para a produção escrita. Desde a conversão do imperador Constantino ao Cristianismo, em 312, e ao consequente fim das perseguições a essa religião, uma nova historiografia viria para suplantar a do mundo clássico.

Os historiadores cristãos "ignoravam" os autores clássicos, com algumas exceções, como Salústio, que trazia em sua obra a retórica moralizante; e Suetônio, como modelo para a produção de biografias. Em síntese, as obras clássicas serviam como fonte de anedotas, utilizadas como exemplos morais, adaptadas para milagres cristãos, largamente utilizados nessa nova historiografia.

Para os historiadores cristãos, era necessário inserir a história universal na perspectiva religiosa, a cristã. Para isso foi criada uma cronologia capaz de englobar, sob o relato bíblico, a história dos povos do Oriente Próximo e greco-romanos, a relação dos soberanos assírios ou egípcios, a periodização grega por olimpíadas ou a série dos magistrados romanos. O pioneiro nessa tarefa foi Eusébio, bispo de Cesareia, grego da palestina, autor da História Eclesiástica, primeira sobre a Igreja Cristã, que cobre o período que vai de Jesus Cristo a Constantino.

A Historiografia Cristã não busca a explicações para os fenômenos históricos na sociedade, nas causas naturais ou nas ações do indivíduos, mas em um determinismo divino, que já possui planejado o curso da História. Essa concepção de busca histórica era baseada na História desenvolvida por Santo Agostinho, em A Cidade de Deus e Confissões, onde contrasta a eternidade de Deus com o tempo. As ideias de Santo Agostinho entrariam na historiografia através de seu discípulo, Orósio, autor de Histórias contra os pagãos, livro no qual argumentava que a história era a ação da vontade de Deus na terra, com a premiação das virtudes e o castigo aos vícios, e, finalmente, o Juízo Final.

A veracidade dos fatos relatados pelos autores cristãos era um tema secundário, importando, de fato, o discurso moral e religioso. A história, para eles, servia não para compreender o mundo, mas sim como um preparo para o futuro que, segundo os planos divinos, terminaria com o Juízo Final. É linearidade histórica, com um início e fim determinados.

Voltando à cronologia, temos uma preocupação com a prática litúrgica, principalmente no que diz respeito à fixação de uma data para a comemoração da Páscoa, que daria início a outras festividades religiosas. Isso era um problema, pois, como foi dito, ainda existiam no mundo cristão sistemas de computo temporais oriundos do paganismo. Uma nova datação foi feita pelo abade Dionísio, que, analisando algumas tabelas da Páscoa, fixou como origem da era cristã o ano de 754 da fundação de Roma.

Nas tabelas pascais dos mosteiros, os monges começaram a anotar os acontecimentos mais importantes do ano, como tempestades, colheitas, mortes de pessoas importantes, fenômenos astronômicos; e também foram responsáveis por uma marcação mais exata das horas do dia. Nos séculos VI e IX, surgiriam no mundo bárbaro alguns historiadores cristãos. Entre os bárbaros destaca-se, por exemplo, Beda, o Venerável, monge da Britânia que, diferente de outros autores da época, não realizou uma história universal, mas sim uma História Eclesiástica da Inglaterra.

Portanto, podemos destacar como principais pontos da historiografia cristã: Rejeição pelos autores clássicos, aproveitando-se apenas destes alguns ensinamentos morais ou estilo literário; a História universal era vista e estudada sob a perspectiva bíblica; História com início e fim divinamente determinados; preocupação com os ensinamentos morais e religiosos, estando a veracidade dos fatos em plano secundário; e Cronologia ligada à liturgia.


FONTES:


FONTANA, Josep. A História dos Homens. Bauru, SP, EDUSC. Tradução de Heloísa Jochims Reichel e Marcelo Fernando da Costa, 2004.


CRÉDITO DA IMAGEM:


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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A navegação na Amazônia antes do vapor

Porto de Itacoatiara, 1858. Desenho de C. Murand, do livro "Tipos e utilidades de veículos de transportes fluviais do Amazonas", de Moacir Andrade.

A navegação foi o único meio de transporte existente e indispensável à sobrevivência das populações instaladas, na Amazônia, mas bastante limitado, pelas gigantescas distâncias, dificílimas de serem vencidas à vela, remo ou sirga, até o advento do barco a vapor, que aqui teve o mesmo papel das locomotivas e das estradas de ferro, nos Estados Unidos, na anexação do oeste.

Em 1852, a principal rota comercial da região, ligando Belém a Manaus, rio Amazonas acima, era navegada por quarenta a cinquenta barcos a vela, que levavam de 60 A 90 dias, para vencerem este trajeto, sendo responsáveis pelo escoamento da produção extrativa e pelas importações dos gêneros e das manufaturas necessárias ao abastecimento das populações dos sítios e das cidades, ao longo daquele trajeto e acima dele.

Na navegação do rio Amazonas pode-se usar a vela durante as poucas horas em que o vento geral, o alísio de nordeste, sopra, das dez da manhã até as duas da tarde, daí a grande demora das viagens. Na dos seus afluentes, todos perpendiculares ao grande rio, esses ventos alísios só auxiliavam na travessia de uma margem para a outra, sendo todos os percursos feitos a remo ou à sirga. Por isso, o comércio de distribuição do interior das Províncias do Amazonas e de Mato Grosso possuía, neste trato, mais de 2000 canoas de diferentes tamanhos, pertencentes aos regatões, ocupados na compra dos produtos da terra, recolhidos às sedes municipais, para remessa à Belém, pois ainda não se instalara a hegemonia econômica de Manaus, sobre as demais localidades amazonenses, todas do mesmo tamanho. 

Expedição Smith & Love, 1836. Canoa coberta e índios remeiros, do livro "Narrativa de uma jornada de Lima ao Pará", de John Murray.

Nas equipagens desses barcos empregavam-se mais de 6000 pessoas: brancos e mamelucos, nas tarefas mais leves e de comando, índios civilizados e gentios, cafusos, negros e criminosos condenados às penas de galés perpétuas ou temporárias, como remeiros e tripulantes, em um trabalho estafante e insuportável, com freqüentes motins e fugas, e uma alimentação baseada no piraém, o pirarucu seco e salgado, e na farinha d`água, complementada pelo consumo do ipadu, ajudando a controlar a fome e a vencer o cansaço.

Este tipo de transporte ainda coexistiu por muito tempo com a navegação a vapor, devido aos altos preços das máquinas, pelas dificuldades de manutenção delas, pela inexistência de pontos de abastecimento de carvão de pedra ou lenha, em locais estratégicos, e pela falta de pessoal habilitado.

De janeiro a setembro de 1852, o tráfego, entre Belém e a Barra estava sendo feito por vinte e oito embarcações, com 228 tripulantes e 659 toneladas, saindo da Barra, e oito embarcações, com 58 tripulantes e 137 toneladas, saindo de Belém, com um movimento de mais de trinta e um contos de mercadorias nacionais e importadas. 

Em 1855, três anos depois do estabelecimento da navegação regular a vapor, ainda era grande o tráfego feito por este tipo de barcos, ainda existindo em toda a Província 100 grandes canoas de regatão, totalizando 405 toneladas e 258 tripulantes. 

Por isso, em 1856 e 1861, foi o seguinte o movimento das embarcações dos regatões, no porto de Manaus:

1856 1861
Entradas e saídas para o Pará 86 48
Entradas e saídas para o Interior 120 137
Tonelagem para o Pará 1810 1597
Tonelagem para o Interior 746 2702
Tripulantes 1117 433

As tripulações haviam diminuído, por existirem navios maiores, mas a tonelagem para o interior crescera, pela abertura dos novos seringais. Além dessas embarcações maiores, ainda existiam, em 1861, mais de 4.000 canoas de trânsito, em toda a Província.

Os fretes cobrados, em 1856, variavam com a mercadoria: 320 réis por arroba de cacau, ou por cada couro ou rede; 420 réis por arroba de breu, jutaicica, sebo, piassaba, pirarucu, peixe boi e puxuri; 500 réis por arroba de café, cumaru, cravo, borracha, grude de peixe, urucu, guaraná, salsa e tabaco; e, 640 réis por pote de óleo, manteiga de tartaruga e mixira, pacote de maqueiras, arroba de estopa e alqueire de castanha.


Antonio José Loureiro, 75, é escritor, médico reumatologista e historiador. Nasceu em Manaus, em 06 de junho de 1940. Formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É membro (Presidente) do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas (IGHA), da Maçonaria do Amazonas, da Academia Amazonense de Letras e da Academia Amazonense de Medicina. É autor de Amazônia 10.000 anos, 1972; Síntese da História do Amazonas, 1978; A Gazeta do Purus, 1981; A Grande Crise, 1986; O Amazonas na Época Imperial, 1989; Tempos de Esperança, 1994; Dados para uma História do Grande Oriente do Estado do Amazonas, 1999; História da Medicina e das Doenças no Amazonas, 2004; O Brasil Acreano, 2004; e o Toque de Shofar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

As esculturas do Palacete Provincial

Há um ano, escrevi um breve texto sobre uma das esculturas que se localizam na entrada do Centro Cultural Palacete Provincial, localizado na Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia), no Centro da cidade. Tratava-se da escultura do lado esquerdo, que representa um zuavo, soldado argelino a serviço do Exército da França. Quando da escrita desse texto, utilizei como base o livro Caminhando por Manaus – cinco roteiros históricos da cidade (1996), da pesquisadora francesa Thérèse Aubreton. No livro, Thérèse nos dá importantes informações sobre o Zuavo, já mencionado anteriormente. Mas fica um questionamento: e a segunda escultura? No livro, é apenas mencionado como um soldado do Exército Regular Francês. Não satisfeito, fui fazer novas pesquisas, e consegui informações valiosas, que serão aqui apresentadas aos leitores.

Ponte de L' Alma, em Paris, com o Zuavo em primeiro plano.

As duas esculturas que ornamentam a entrada do Palacete Provincial são réplicas construídas em tamanho natural, sendo o bronze o material empregado. A escultura do lado esquerdo representa um Zuavo, soldado argelino a serviço do Exército Francês. A segunda escultura, do lado direito, era até então considerada apenas um soldado do Exército Regular Francês. Mas, após pesquisas por mim feitas, descobri que trata-se de um Granadeiro, militar responsável, durante a guerra, pelo lançamento de granadas.

Essas duas figuras faziam parte de um conjunto, de quatro esculturas, localizadas na Ponte de L' Alma, em Paris, erguida sobre o rio Sena. A ponte recebe esse nome em homenagem à Batalha do rio Alma (1854), travada durante a Guerra da Crimea, envolvendo o Império Russo, França, Inglaterra e Império Otomano. A ponte foi inaugurada por Napoleão III em 1856. Para ornamentar as pilastras de sustentação, um total de 4, foram erguidas esculturas em homenagem aos quatro tipos de militares que participaram da Batalha do rio Alma: Zuavo; Granadeiros, Caçadores e Artilheiros. Georges Diebolt esculpiu o Zuavo e o Granadeiro, e Auguste Arnaud esculpiu o Caçador e o Artilheiro.

Retrato de Georges Diebolt.

Adolpho Lisboa, superintendente de Manaus entre 1902 e 1907, esteve em Paris, de onde encomendou as peças que atualmente ornamentam a Praça Heliodoro Balbi (Praça da Polícia): Cão e Javali em luta (Charles Theodore Perron); Diana Caçadora (Fundições de Val d' Osne); Hermes (Fundições Val d' Osne); Ninfa (Fundições Val d' Osne); Coreto em formato de pagode chinês e Coreto em formato de templo grego. Para Manaus, das quatro estátuas da Ponte de L' Alma, só vieram duas réplicas, o Zuavo e o Granadeiro. Vejam, abaixo, duas montagens entre as esculturas de Manaus e as da França. O Zuavo permanece na ponte, servindo de “régua” para a medição dos níveis do rio Sena. O Granadeiro foi parar na comuna francesa de Dijon, terra natal de Georges Diebolt (1816-1861), autor das esculturas.

À esquerda, o Zuavo de Manaus. À direita, o original, na Ponte de L' Alma, em Paris.

À esquerda, o Granadeiro de Manaus. À direita, o Granadeiro original.

O Caçador e o Artilheiro foram esculpidos por Auguste Arnaud (1825-1883). Quando as duas réplicas foram erguidas em Manaus, no início do século 20, o mundo ocidental tinha como parâmetro cultural Paris, capital moderna da Europa, que explodia em invenções e tecnologias de ponta para a época. Essa é apenas uma das várias curiosidades existentes em Manaus, que manteve e ainda mantem relações com diversos países.

À esquerda, o Artilheiro, no departamento de Aisne; À direita, o Caçador, na cidade francesa de Vincennes.


FONTES:  Geneviève Bresc-Bautier, Isabelle Leroy-Jay Lemaistre, Musée du Louvre. département des sculptures du Moyen Âge, de la Renaissance et des temps modernes. Sculpture française II. Renaissance et temps modernes. vol. 1 Adam - Gois, Réunion des musées nationaux editions, Paris, 1998.

CRÉDITO DAS IMAGENS: leguideparis.free.pt
                                     commons.wikimedia.org




sábado, 24 de outubro de 2015

Lugares Pitorescos de Manaus

Toda cidade possui suas particularidades e lugares curiosos. Em Manaus, algumas pessoas diriam que é a alta temperatura, ou o "aroma" dos nossos igarapés; outras, mais "maldosas", diriam que é a "preguiça" do povo (algo que não passa de lenda, pois o manauara é muito criativo). Com uma carga histórica de 347 anos, a cidade guarda lugares de nomes curiosos, de origem popular, e paisagens bucólicas cheias de História. Alguns lugares já desapareceram, outros tiveram o nome alterado.

Bairro de São Vicente (Centro Antigo): Localizado no Centro antigo da cidade, essa região, compreendida entre as ruas 5 de Setembro, Bernardo Ramos, Frei José dos Inocentes, Visconde de Mauá, Monteiro de Souza, Tamandaré e Itamaracá, é o início da expansão e urbanização de Manaus. Em São Vicente estão muitas das edificações mais marcantes da cidade, como o Paço Municipal, o Palácio Rio Branco, o antigo Hotel Cassina, o antigo Hospital Militar, a Praça D. Pedro II e  a casa considerada a mais antiga da cidade (1819) e muitas outras edificações da segunda metade do século 19 e do início do século 20. Na atual rua Visconde de Mauá, ficava a capela de N. S. da Conceição, erguida em 1695. O primeiro teatro da cidade, o Éden Teatro, inaugurado em 1869, ficava na esquina da rua Bernardo Ramos com a Frei José dos Inocentes; e o primeiro arranha-céu da cidade, o prédio do IAPETEC, inaugurado em 1954, na Av. Sete de Setembro. O nome São Vicente é uma homenagem ao santo padroeiro de Lisboa, Portugal.

Rua Bernardo Ramos, no bairro de São Vicente. Acervo Jornal A Crítica.

Rua da Bosta (atual Rua São Francisco, bairro de São Raimundo): O nome, um tanto engraçado, é de origem popular. Segundo a pesquisadora e antiga moradora do bairro de São Raimundo, Elza Souza, alguns moradores das redondezas criavam porcos e cabritos aos ar livre. Esses animais, que pastavam pela rua, acabavam por fazer suas necessidades ali mesmo. Em pouco tempo "Rua da Bosta" se tornou referência para localizar a via.

Boca do Emboca (atual bairro Santa Luzia): O bairro de Santa Luzia, criado oficialmente em 1951, já vinha sendo ocupado desde 1920. De acordo com o historiador Mário Ypiranga Monteiro, o nome Emboca foi dado pelo guarda de 1° Classe do Corpo de Segurança Pública do Amazonas, Sebastião Feliciano de Oliveira, morador do local. Este é uma alusão à embocadura (foz de rios) dos igarapés do Mestre Chico e o da Pancada, que formavam um maior, o Igarapé de Educandos. A referência são os fundos da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa.

Planeta dos Macacos (Atual bairro da Redenção): Surgido de uma invasão de operários em 1974, o bairro da Redenção, na Zona Centro-Oeste, quando ainda era uma simples comunidade, era conhecido como Planeta dos Macacos. Existem duas versões para a origem desse nome. Para alguns, o nome é uma referência à presença de diferentes espécies de macacos na região, que tinha bastante área verde quando foi criada. Outra, talvez mais coerente, diz que o nome foi uma homenagem ao universo da franquia de filmes "Planeta dos Macacos", criada no final dos anos 60 e que passou a fazer enorme sucesso nos anos 70.

Vista aérea do bairro de Santo Antônio. Acervo Skycrapercity.

Morro do Bode (atual bairro de Santo Antônio): Localizado na Zona Oeste da cidade, o bairro de Santo Antônio foi, durante os anos 50, conhecido como Morro do Bode. O nome é de origem popular. Um morador de nome Sabino criava bodes e cabras em um morro perto da atual Rua Presidente Dutra, que liga o bairro de Santo Antônio ao bairro da Glória. O nome não agradou nem um pouco os moradores do bairro nascente que, em reunião com o padre da região, decidiram mudar o nome do local para Santo Antônio, exatamente no dia do santo em que a reunião foi realizada.

Ladeira do Quebra C* (parte da rua Saldanha Marinho, que desemboca na rua da Instalação, Centro): O nome, engraçado, é de origem popular. No final dos anos 1930, segundo Mário Ypiranga Monteiro, esse nome se tornou referência para aquela parte da rua Saldanha Marinho. Mário afirma ainda que esse nome se dava pelo fato de que, na época das chuvas, as pessoas escorregavam nos paralelepípedos que calçavam a ladeira, e acabavam caindo sentadas. Tombos e mais tombos no final dos anos 1930 popularizaram o nome.

Rua Saldanha Marinho, no Centro, em 1890. Registro do alemão George Huebner. Acervo Brasiliana Fotográfica.

Travessa dos Inocentes (rua Visconde de Mauá): Na época colonial, essa rua ficava na parte de trás da Matriz velha, destruída em um incêndio. Nesse local eram enterradas as crianças que morreram de forma prematura, sem a oportunidade de serem batizadas e por isso consideradas pagãs. O historiador Antônio Loureiro afirma que, na tradição popular, é possível ouvir, de noite, o pedido de ajuda delas ou o choro de suas mães.

Rua Visconde de Mauá, no Centro antigo da cidade.

Vila Mamão (entre os bairros da Cachoeirinha, em frente ao antigo Cine Ipiranga, até a beira do Igarapé, e São Francisco): A Vila já existia nos anos 1940, ocupada por nordestinos que vieram para cá durante a Segunda Guerra. A fama desse lugar surge no início da década 1950, quando passou a receber parte das meretrizes do Cabaré Chinelo, expulsas por ordem do interventor Álvaro Maia, em 1951. Segundo o pesquisador Marçal, as meretrizes ficaram na Vila Até 1970, quando esta desaparece com a construção do Hospital Adriano Jorge.

Muitos desses lugares já desapareceram ou mudaram de nome. Nesses 346 anos, Manaus é uma cidade que ainda guarda muitas surpresas, que estão esperando para serem encontradas. Existem muitos outros (Buraco do Pinto, Beco da Marreca, Vila Mamão... vai ficar para o ano que vem). Nesses 5 anos em que me interesso por História, Manaus faz eu me sentir vivo, quando escrevo ou quando a cito. Não me imagino vivendo em outra cidade ou em outro bairro. Me imagino findando meus dias em Manaus, essa cidade de desigualdades gritantes, de sol escaldante, de problemas seculares, onde o homem, com toda a sua genialidade moldada em milênios, soube estabelecer a civilização que deu origem à essa metrópole, que me abriga e que me conforta. Parabéns Manaus, 347 anos.


Este texto foi produzido com informações dos historiadores Roberto Mendonça, Aguinaldo Nascimento Figueiredo, Marçal, Antônio Loureiro, Elza Souza e Ed Lincon.




Manaus nos anos 40 (II): A Segunda Guerra Mundial

2° parte da postagem. Anteriormente, tivemos um panorama da sociedade manauara nos anos 1940. Agora, vamos entender como Manaus foi inserida no contexto da Segunda Grande Guerra, e quais os proveitos tirados desse período obscuro da História Mundial.

Pelo Porto de Manaus, no início do século passado, passaram inúmeras pélas de borracha. Em um breve momento dos anos 40, essa mesma situação voltaria a ocorrer. Foto de 1940, A Favorita.

Em 1939, a deflagração da Segunda Guerra Mundial envolveu os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e países do bloco Aliado (Inglaterra, França, Estados Unidos, etc.), atraindo o mundo para um desastre letal. Em 1941, o Japão atacou bases militares norte-americanas e britânicas no Pacífico e invadindo possessões asiáticas produtoras de borracha, responsáveis por 95% de toda a produção mundial desse produto. Privados desta preciosa matéria-prima, os aliados voltaram seus interesses para a única região com capacidade suficiente para suprir esta perda - a Amazônia.

O torpedeamento de navios brasileiros, dentre eles o Baependi, que ceifou a vida de muitos amazonenses e provocou uma onda de ira na cidade, com patriotas amazonenses depredando e agredindo cidadãos de origem alemã e italiana, fez o governo brasileiro declarar guerra aos países do Eixo, inserindo o país no conflito mundial. Incorporado diretamente no conflito como potencial fornecedor dessa matéria prima o Amazonas assistirá novamente um surto de migração rumo aos rios e florestas em busca da borracha.

Para atingir esses objetivos é necessário reestruturar toda organização produtiva no Estado, no que diz respeito à força de trabalho, transporte, estocagem, comunicação e infraestrutura administrativa e Manaus foi escolhida para ser uma das sub sedes desse monumental plano proposto nos “Acordos de Washington”, assinado pelo Brasil com governos aliados, capitaneados pelos Estados Unidos da América e gerenciado pela Rubber Development Company, cujo escritório foi instalado nas dependências do Teatro Amazonas.


Presidente Getúlio Vargas em visita a Manaus, 1940. Registro feito pelo fotógrafo americano Hart Preston, nas dependências do antigo Quartel da Polícia Militar do Amazonas, atual Centro Cultural Palacete Provincial. Sua visita visava acordos comerciais para o fornecimento de borracha para os Aliados.

Este foi um período ruim para todos e sofreram muito com o conflito. A cidade, que já vinha tendo problemas de abastecimento de alguns gêneros alimentícios e outros produtos como café, açúcar, óleo de cozinha, feijão, arroz, sal, carne entre outros mais vitais, já que não os produzia, por conta da estagnação econômica e dependia do abastecimento externo, com a entrada do Brasil no conflito, terá a situação agravada com o bloqueio naval e o racionamento. Com a falta de produtos industrializados, principalmente combustíveis, roupas, remédios e equipamentos de reposição o povo teve de se virar com improvisos regionais. O mercado negro nessa época foi muito ativo, enriquecendo muito comerciantes inescrupulosos.

A situação da energia elétrica só piorou com a guerra, porque se acentuaram os apagões, que se tornaram uma verdadeira agonia por conta do excesso de zelo das autoridades militares, que temia um improvável ataque de aviões do Eixo a tão longínqua capital do Amazonas realizando exercícios de blackout durante todo o período da noite. Todavia, essas interrupções ocorriam, na maior parte, tão somente por causa do desabastecimento de combustível usado para movimentar os precários geradores instalados ainda no período da borracha, muitas das vezes, suspenso pela falta de liquidez do sistema que, até 1932, fora controlado pelos ingleses e, desde então, subsistia sempre deficitário. Na verdade, quem sofreu mesmo com o impacto das restrições foram apenas os mais pobres.

Mesmo com a desorganização e falta de sintonia entre os vários órgãos gestores do mega projeto americano, que não alcançou seus objetivos e produziu uma quantidade pífia de borracha nativa, pois o preço estava abaixo do mercado, foi a partir dos investimentos oriundos dele que a cidade vai ter algumas reformas na sua infraestrutura, reformando e construindo novos edifícios públicos, recebendo novas vias e recuperando outras, reaparelhando portos e locais de embarque e desembarque de borracha, inclusive dando sinais de um curto ciclo de desenvolvimento a partir da circulação monetária acompanhada de uma tímida especulação imobiliária. O comércio revigorou seus estoques por algum tempo, ganhando folego e renovando esperanças, já que não se sabia quando a guerra iria acabar.

Seringueiro, 1943, Acervo IBGE. Uma nova leva de nordestinos viria para a Amazônia, para suprir a falta de mão de obra para a extração do látex, utilizado para fabricar borracha para os Aliados. Durante a 2° Grande Guerra, esses trabalhadores ficaram conhecidos como "Soldados da Borracha". Até hoje lutam por reconhecimento e pagamentos do governo.

Em 1944, foi inaugurado o Aeroporto de Ponta Pelada no bairro da Colônia Oliveira Machado, introduzindo a cidade nas comunicações aéreas, muito embora as rotas comerciais aéreas já operem em Manaus desde 1932, com os hidroaviões da Panair do Brasil. Muitos migrantes nordestinos, que compunham os “Soldados da Borracha” que não chegaram nem a ir aos seringais ou fugiram deles durante e depois da guerra, se refugiaram na cidade, aumentando consideravelmente sua população, indo habitar antigos bairros como Colônia Oliveira Machado, Educandos, Santa Luzia, bem como contribuíram para a formação de novos a exemplo do Morro da Liberdade, da Chapada e Barro Vermelho ou se alojando em locais já visivelmente estrangulados, como a “Cidade Flutuante”, se constituindo como um novo componente do estrato social da cidade.

Muitos manauaras participaram diretamente do conflito nos campos de batalhas europeus à frente das tropas do 27º Batalhão de Caçadores, (o famoso 27BC) que foi incorporado ao 5º Escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) do general Mascarenhas de Moraes, em 1945. O sargento Manoel Chagas, que era natural de Manaus, foi o único militar a perecer no conflito, vitima de uma mina terrestre que explodiu a viatura em que viajava.

Manoel Chagas. Foto do livro o Amazonas na Segunda Guerra Mundial.

Mas a guerra teve seu fim e, com ela, as esperanças de tirar a região do abismo sem fim do subdesenvolvimento. Os planos de desenvolvimento concebidos nos “Acordos” foram abandonados, as verbas indenizatórias dos trabalhadores foram descaminhadas, as estruturas do atraso não foram rompidas e tudo voltou como dantes. As atenções do governo federal agora são para as regiões Sul-Sudeste, por estas apresentarem mais condições de dinamismo econômico. A Amazônia vai ser mesmo esquecida do resto da nação por muito tempo.

Como medida de alento, a partir da formulação da nova Constituição brasileira, promulgada em 18 de setembro de 1946, em seu Artigo 199, introduzido pelo deputado federal Leopoldo Peres, a União passa a ser obrigada a destinar pelo menos 3% de toda a receita tributária bruta do país para financiar o Plano de Valorização Econômica da Amazônia como meio de fomentar o progresso regional. As expectativas tomaram contas das mentes e dos sentimentos dos amazonenses, principalmente dos manauaras, interessados em romper as amarras da indigência econômica e fomentar algum progresso na cidade. No entanto, as medidas não se concretizaram e, somente a partir da década seguinte, é que alguns mecanismos de operacionalização dos recursos serão implementados e, mesmo assim, de forma muito tímida, sem trazer resultados práticos de imediato, sendo que, a maior parte deles, se concentrou na parte oriental da região beneficiando tão somente o estado do Pará, trazendo apenas como consequência mais desigualdades regionais.



Manaus nos anos 40 (I): A sociedade

Mais uma vez, em uma série de postagens sobre a História de Manaus, que comemora neste 24 de outubro 346 anos, o professor e historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo, “prata da casa”, nos brinda com mais um de seus artigos. Dessa vez, voltaremos aos anos 1940, quando Manaus, outra vez, sentiu o ânimo de um rápido crescimento econômico, entre 1942 e 1945, quando fez acordos com os Aliados durante a Segunda Grande Guerra. Este texto faz parte da obra inédita Manaus: História e Memória, que está com lançamento previsto para o final desse ano.

Por Aguinaldo Nascimento Figueiredo*


Vista aérea de Manaus em 1940. Acervo da revista americana LIFE.

Ao iniciar os anos 40, Manaus era um aglomerado urbano com uma população em torno de 100 mil habitantes, vivendo dias de desolado “Porto de Lenha”, segundo expressão popular da época, para se referir ao retrocesso que a cidade sofreu. A vida fluía sem muita pressa, num ritmo ditado pelas condições espaciais, econômicas e culturais de uma cidade do interior do Norte do país, com duas décadas de atraso e fortemente marcada por valores morais tradicionais católico-cristãos, forjados ao longo de sua mutante história.

Os limites territoriais da cidade alcançavam a Leste, os bairros de Educandos e Cachoeirinha, ao Norte a Vila Municipal (hoje Adrianópolis) e a Oeste o bairro de São Raimundo e Glória, considerados os subúrbios mais afastados. A rigor, a fronteira urbana compreendia o espaço delimitado entre esses bairros e o Centro histórico da cidade.

De acordo com dados colhidos no livro -“Evocação de Manaus: como eu a vi ou sonhei, do senador Jefferson Péres, publicado pela Editora Valer em 2002, o que era considerado Centro de Manaus se constituía pelo entorno compreendido entre a orla fluvial, a Rua Joaquim Nabuco, os igarapés da Cachoeirinha, do São Raimundo e o de Manaus, indo, no máximo, ao Boulevard Amazonas, onde se concentrava o coração e vida nervosa da cidade. Eram nesses espaços que funcionavam o comércio, as repartições públicas, os centros culturais, as diversões profanas, bem como era local de residência da maior parte da classe média, ocupando seus bangalôs, sobrados, alguns palacetes remanescentes da era da borracha e poucos prédios de apartamentos construídos no final dos anos 40.


O tradicional Colégio Santa Dorotéia, na Av. Joaquim Nabuco, em 1940. Acervo Manaus Sorriso.

Manaus era dividida em duas classes sociais bem distintas em relações aos seus interesses e propósitos - a classe dos pequeno-burgueses e a dos trabalhadores. O que poderia se chamar de burguesia em Manaus era um seleto grupo de comerciantes, geralmente lojistas, de origem árabe, judia, síria, libanesa e portuguesa, bem como dos herdeiros da “era do fausto”, a maioria dedicados ao comércio de armarinhos, tecidos importados, material de construções, móveis e secos e molhados, agrupados em torno da Associação Comercial do Amazonas, longe de se constituírem como uma classe social abastada, cuja convivência existencial e moral se confundiam com a própria classe média, por adotarem estilo de vida e valores semelhantes.

Com a decadência do látex, os grandes proprietários rurais não tinham maior expressão social, somente exercendo alguma influência na política local, graças à herança do mandonismo dos tempos áureos da borracha e pelo controle de uns poucos currais eleitorais no interior, poder esse, exercido em razão do peso do chicote dos seus obedientes capatazes administradores dos seringais sobreviventes e das fazendas extrativistas.

Quanto ao proletariado, este era um conjunto disperso de trabalhadores formais e informais labutando em fábricas e oficinas ou vivendo do subemprego nas mais diversas atividades fabris e de prestação de serviços. Longe de qualquer possibilidade de “consciência de classe”, esse proletariado não passava de uma massa amorfa, sem organização sindical.

A vida política, administrativa e cultural da cidade era comandada por indivíduos oriundos da classe média, constituída, essencialmente, por profissionais liberais, funcionários públicos, políticos e comerciantes que acabavam por se tornarem governadores, prefeitos, secretários de Estado, senadores, deputados, vereadores, dirigentes de órgãos de imprensa, de entidades literárias e de clubes importantes, por representarem a sociedade civil organizada e pelo papel que exerciam nela, carreando alguma influência pessoal ou ocupando postos de expressão na comunidade.


Parque Dez de Novembro, 1950. Bazarfoto.

Governava Manaus nesse momento o superintendente Antônio Maia, irmão do governador Álvaro Maia que se desdobrou no cargo para poder honrar os compromissos oficiais da pasta, tendo mérito de ter brindado a cidade com o complexo esportivo do Parque Dez de Novembro, uma belíssima paisagem recreativa e bucólica da cidade, que serviu de espaço de distração por décadas a população manauara e que foi destruída pelo desleixo e incompetência da ação pública e privada.





*Aguinaldo Nascimento Figueiredo é professor, escritor e historiador, autor dos livros História Geral do Amazonas (7 edições), Santa Luzia - História e Memória do povo do Emboca (2008) e Os Samurais das Selvas - A presença japonesa no Amazonas (2012).