terça-feira, 30 de maio de 2017

500 anos da Reforma Protestante: Discursos sobre o movimento

Estátua de Martinho Lutero, em Washington (EUA). Obra do escultor alemão Ernst Friedrich August Rietschel (1884).

O presente texto, simples e livre de qualquer formalidade, não se pretende ser mais uma explicação sobre os processos que culminaram na Reforma Protestante, mas sim uma discussão sobre os reflexos desse evento em discursos contemporâneos, estando inserido no campo das mentalidades formadas sobre a Reforma, que completa 500 anos em 2017.

Sábado, 20 horas. Mudando aleatoriamente de canais, paro em um programa de uma emissora Protestante. Na pauta, dirigida pelo apresentador na companhia de dois teólogos, os 500 anos de um dos eventos mais importantes da Era Moderna: A Reforma Protestante. São cinco séculos de um movimento que moldou de forma significativa o panorama político e religioso do Ocidente e, dadas as influências posteriores, o mundo de forma geral.

No horário, o programa já estava bastante adiantado, mas o que foi assistido serviu de fonte para a produção desse artigo. Os dois teólogos afirmavam, com alegria, que “Lutero libertou a Europa da tirania da Igreja Católica” e que o “movimento renovou o Cristianismo”. Afirmações essas feitas com uma vivacidade que poderia fazer pensar se esses convidados não estiveram em Wittenberg, na Alemanha, em 1517, ajudando o monge agostiniano na propagação de suas ideias.

Uma semana depois, na universidade, ouvi nos corredores uma conversa entre dois estudantes. Ao que tudo indica, católicos praticantes, tanto pelo tom da conversa quanto pelos adereços, bótons de santos e terços. Um dizia que Lutero era um “herege” que dividiu o Cristianismo. Outro, no mesmo tom, via naquele monge agostiniano a figura que contribuiu para a proliferação de inúmeras “seitas sem unidade” que se arrastam até os dias de hoje. Bem que esses dois poderiam estar, em 1517, do alto do Castelo de Wittenberg vendo, sob protestos, Lutero pregar as 95 teses na porta da Igreja.

São comentários interessantes, um mais caloroso que o outro, mostrando como um evento de 500 anos permanece “vivo” na mente e no discurso de seus favoráveis e opositores do século XXI. A História é o campo de combate da memória. Ganha, geralmente, aquele que está atrelado ao Estado e às mais altas posições. No entanto, não estamos falando de grupos pequenos que lutam por suas memórias, mas sim de duas grandes e poderosas ramificações do Cristianismo, com milhões de adeptos ao redor do mundo. É uma disputa que parte do alto, disputa essa com reações imediatas ao evento.

Em fevereiro de 1518, o Papa Leão X, a pedido da Ordem dos Agostinianos, pediu para que as ideias de Lutero parassem de ser difundidas. O teólogo italiano Silvestro Mazzolini da Priero redigiu Um Diálogo contra as Teses Presuntivas de Martinho Lutero sobre o Poder do Papa. João Maier, amigo de Lutero, escreveu teses contra suas ideias, o considerando um herege estúpido, o que terminou por iniciar uma disputa teológica, o famoso Debate de Leipzig, que terminou sem vencedores. Por último, Martinho Lutero foi excomungado da Igreja Católica em 1521, quando queimou a Bula que oferecia ou a retratação ou a excomunhão.

Vejamos o que diz o padre Paulo Ricardo, figura famosa no meio religioso católico, no texto Por que não sou Protestante? Sobre a Reforma Protestante e seus agentes: “Os reformadores protestantes, como Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich Zwinglio, vendo a triste situação em que se encontravam os homens da Igreja, quiseram empreender uma mudança, mas, no fim, acabaram mutilando a Igreja”. Conclusões semelhantes às dos dois estudantes anteriormente citados.

Para o pastor Paulo Júnior, em O que foi a Reforma Protestante? Afirma que “em uma época que o povo comum era privado da leitura das Escrituras e o papa liderava a cristandade com mãos de ferro, Lutero foi uma voz levantada por Deus para dar início a uma completa revolução espiritual na Alemanha. Lutero combateu os vários desvios doutrinários de sua época praticados pela Igreja Católica Romana, condenou veementemente a venda de indulgências, traduziu a Bíblia para o alemão e a colocou nas mãos do povo comum. Enfim, inflamou o coração de seus irmãos a uma busca sincera por Deus e o Cristianismo autêntico”.

Diferentes discursos, alguns do século XVI, outros do século XXI. Mesmo com inúmeros séculos de diferença entre uns e outros, eles possuem o mesmo objetivo: defender determinada visão de mundo. Os teólogos não estavam ao lado de Lutero na hora de fixar as 95 teses na porta da Igreja, nem os estudantes estavam do alto do castelo protestando contra a ação desse monge. Essas pessoas apenas defendem aquilo que lhes foi transmitido de determinada forma, oral ou escrita, dentro de uma visão religiosa de mundo. O curioso é observar como 500 anos depois o evento permanece vivo por meio da mentalidade e dos discursos sobre ele formados e propagados. É como se a qualquer momento Lutero ou o Papa Leão X fossem ressurgir e fazer uma observação: “não foi assim, pois eu estava lá”…


FONTES:

RICARDO, Paulo Pe. Por que não sou protestante? Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/por-que-nao-sou-protestante. Acesso em 28/05/2017.

JÚNIOR, Paulo Pr. O que foi a Reforma Protestante? Disponível em: https://defesadoevangelho.com.br/videos/o-que-foi-reforma-protestante/. Acesso em 28/05/2017.

CRÉDITO DAS IMAGENS:

commons.wikimedia.org


sábado, 6 de maio de 2017

História da América: Análise de documento

Ritual de sacrifício asteca retratado no Codex Magliabechiano (circa 1570).

Trecho de Historia de los indios de Nueva España, de Frei Toríbio Motolinía

Tratado primeiro, capítulo VI – Da festa chamada panquezalizti, e dos sacrifícios e homicídios que nela se faziam; e como tiravam os corações e os ofereciam, e depois comiam os que sacrificavam.

[...]Naqueles dias dos meses acima ditos, em um deles que se chamava panquezalizthi, que era o décimo quarto, o qual era dedicado aos deuses do México, principalmente a dois deles que se diziam ser irmãos e deuses da guerra, poderosos para matar e destruir, vencer e sujeitar; pois neste dia, como páscoa ou festa muito importante, se faziam muitos sacrifícios de sangue, tanto das orelhas como da língua, sendo isso muito comum; outros se sacrificavam dos braços e peitos e outras partes do corpo; mas porque nisto de arrancar um pouco de sangue para lançar nos ídolos, como quem derrama água benta com os dedos , ou jogar o sangue em alguns papéis e oferecê-los das orelhas e da língua era comum a todos em todas as partes; mas das outras partes do corpo cada província tinha o seu costume; uns dos braços, outros dos peitos, e através desses sinais se reconhecia de que províncias eram. Além destes e de outros sacrifícios e cerimônias, eles sacrificavam e matavam muitos da maneira que aqui direi.

Tinham uma pedra grande, de uma braçada de comprimento, e quase um palmo e meio de largura, e um bom palmo de grossura ou de espessura. Metade desta pedra estava enterrada na terra, no alto, em cima dos degraus, diante do altar dos ídolos. Nessa pedra estendiam os desventurados de costas, para os sacrificar, com o peito muito tenso, porque tinham atados os pés e as mãos, e o principal sacerdote dos ídolos e seu lugar-tenente, que eram os que mais comumente sacrificavam, e se algumas vezes haviam muitos a serem sacrificados e estes se cansassem, entravam outros que já eram hábeis no sacrifício e , prontamente, com uma pedra de pedernal com que tiram faíscas, desta pedra faz-se uma grande navalha como ferro de lança, não muito afiada; digo isto porque muitos pensam que eram daquelas navalhas de pedra negra, que há nesta terra, e as fazem com o corte tão fino quanto o de uma navalha, e corta tão docemente como navalha, que logo abrem fendas: com aquela cruel navalha grande, como o peito estava tão tenso, com muita força abriam o desventurado e prontamente lhe tiravam o coração, e o oficial desta maldade jogava o coração em cima do umbral do altar na parte de fora, e ali deixava feita uma mancha de sangue; e caído o coração, ele ainda se mexia um pouco na terra, e logo o colocavam em uma tigela diante do altar. Outras vezes, pegavam o coração e levantavam-no em direção ao sol, e às vezes untavam os lábios dos ídolos com o sangue. Às vezes, os ministros velhos comiam os corações; outras, enterravam-no e logo pegavam o corpo e o jogavam rolando escada abaixo; e chegando embaixo, se o corpo era dos presos de guerra, o que o prendeu, com seus amigos e parentes, levavam-no e preparavam aquela carne humana com outras comidas, e em outro dia faziam festa e o comiam ; o mesmo que o prendeu, se tinha como o fazer, dava naquele dia mantos a seus convidados; e se o sacrificado era escravo, não o jogavam a rodar, mas sim o desciam nos braços, e faziam a mesma festa e convite que ao preso de guerra, ainda que não tanto com o escravo...Quanto aos corações dos que sacrificavam, digo: que após tirar o coração do sacrificado, aquele sacerdote do demônio tomava o coração em suas mãos e o levantava como quem o mostra ao sol, e logo voltava a fazer o mesmo ao ídolo, e o colocava diante de um vaso de madeira pintada, maior que uma tigela, e em outro vaso colhia o sangue e o davam como que de comer ao ídolo principal...

Em outros dias daqueles já nomeados se sacrificavam muitos, ainda que não tanto como na festa já dita; e ninguém pense que nenhum dos que sacrificavam matando-lhes e tirando-lhes coração, ou qualquer outra morte, que não era de sua própria vontade, mas sim à força, e sentiam muito a morte e sua espantosa dor. Os outros sacrifícios de tirar sangue das orelhas ou língua, ou de outras partes, estes eram voluntários quase sempre. Daqueles que assim sacrificavam, tiravam a pele de alguns, em umas partes, dois ou três, em outras, quatro ou cinco, em outras, dez, e no México até doze ou quinze, e vestiam aqueles couros, que pelas costas e em cima dos ombros, deixavam abertos, e vestido o mais justo que podiam, como quem veste colete e calças, dançavam com aquela cruel e espantosa vestimenta; e como todos os sacrificados ou eram escravos ou prisioneiros de guerra, no México, para este dia, guardavam algum prisioneiro de guerra que fosse senhor ou pessoa importante e, a este, esfolavam para vestir o couro dele no grande senhor do México, o qual, vestido com aquele couro, dançava com muita solenidade, pensando que fazia grande serviço ao demônio que naquele dia honravam; e a isto muitos iam ver com grande maravilha porque nos outros povoados não se vestiam os senhores com os couros dos esfolados, mas outros principais. Outro dia, de outra festa, em cada parte sacrificavam uma mulher, e esfolavam-na, e alguém se vestia com o couro dela e dançava com todos os outros do povo; aquele vestido com o couro da mulher e os outros com suas plumagens.

Havia outro dia em que faziam festa ao deus da água. Antes que este dia chegasse, vinte ou trinta dias, compravam um escravo e uma escrava e os faziam morar juntos como casados; e chegado o dia da festa, vestiam o escravo com as roupas e insígnias daquele deus, e a escrava com as da deusa, mulher daquele deus, e assim vestidos dançavam todo aquele dia até à meia-noite quando os sacrificavam; e a estes não os comiam, mas sim os deixavam em uma cova como um depósito que para isto tinham.

(FERNANDES, Luis E. de Oliveira. “Motolinía: o choque espiritual no Novo Mundo”, Ideias: Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Unicamp, ano 11, vol. 1, 2004)


Frei Toríbio de Benavente

Frei Toríbio de Benavente, alcunhado ‘Motolinía”, o pobre, nasceu no final do século XV. Era, portanto, um homem que viveu em um contexto de Renascimento cultural e disputas religiosas. Veio para a Nova Espanha como religioso franciscano, atuando no projeto espanhol de colonização. Sendo um homem do Renascimento e do mundo religioso, tinha conhecimentos de Filosofia e Teologia, o que leva Leandro Karnal a classificá-lo como um autor que transitava entre o intelectual e o religioso. Dentro dessa perspectiva, estava inserido no projeto colonial como um agente que utilizava a cultura como um mecanismo da colonização nativa, de forma que fossem eliminadas práticas e alterados comportamentos que não fosse de encontro com a ordem colonizadora. O texto estudado em questão, Tratado primeiro, capítulo VI – Da festa chamada panquezalizti, e dos sacrifícios e homicídios que nela se faziam; e como tiravam os corações e os ofereciam, e depois comiam os que sacrificavam, foi produzido na segunda metade do século XVI, entre 1540 e 1550. É válido salientar que, além de Toríbio ser um homem de um contexto de Renascimento, ele também vinha de uma Europa cujas estruturas políticas, sociais e urbanas ainda guardavam fortes traços medievais, traços esses fortemente influenciadores nas mentalidades de homens e mulheres. Não é exagero afirmar que a Igreja que veio para a América era medieval, igreja essa que reproduziria no território conquistado doutrinação, conversão e controle através do aparelho religioso. Santo Santiago Matamoros, terror dos ‘sarracenos’ durante a reconquista da Península Ibérica (1492), é transformado em Santiago Mataindios na América, isso em um curto intervalo de tempo entre um processo puramente medieval e outro da era ‘moderna’. O local e os inimigos eram outros, mas a ideia era a mesma: conquistar. Toríbio é um dos vários agentes do processo de introdução dos nativos em uma ordem a eles imposta.

Sobre alteridade e síntese de ideias

Alteridade, a questão do outro, como escreveu Todorov no clássico Conquista da América: a questão do outro (1983). Frei Toríbio escreveu etnograficamente sobre os índios da Nova Espanha, impregnado de uma visão de mundo religiosa. Nesse texto, é possível identificar alguns elementos de uma escrita de alteridade. No início, Toríbio inicia sua narrativa como um tradicional cronista religioso e etnográfico, destacando as principais características das festividades nativas e comparando-as com festejos cristãos. Seria essa alguma tentativa de encontrar semelhanças, mesmo que mínimas, entre duas realidades distintas? Ou apenas um parâmetro eurocêntrico? Aos poucos, alguns termos e observações vão dando o tom de uma narrativa que tem por objetivo, além da documentação, depreciar determinadas práticas. A pessoa que realiza o sacrifício é chamado de “oficial do diabo”. Os deuses eram nomeados “ídolos”, que faz remeter ao “terrível pecado da idolatria”. Outro agente do processo de sacrifício é chamado de “sacerdote do demônio”, numa clássica oposição entre o bem (colonizador, Cristianismo) e o mal (nativo, práticas pagãs). Toríbio dá ênfase que, para o sacrificado, o processo “não era de sua própria vontade, mas sim à força”, e que este “sentia muito a morte e sua espantosa dor”. Os adereços utilizados nos ritos (feitos de pele humana) também eram vistos como cruéis e espantosos. Outra forma de se referir aos deuses ou ídolos era por “demônios”, os quais eram honrados pelos indígenas. Dessa forma, Toríbio buscava em sua escrita etnográfica um meio para facilitar o processo evangelizador. Sua crônica é religiosa e etnográfica, intelectual e eclesiástica, descritiva e crítica. Essas passagens escolhidas para falar sobre uma escrita de alteridade, nos permitem entender a mentalidade por trás conquista.

O título do trabalho de onde foi retirado esse texto, Motolinía: o choque espiritual no Novo Mundo, já nos direciona para uma discussão de caráter cultural. Portanto, esse texto do século XVI, amparado por outras fontes de caráter seriado e quantitativo, nos permite, através de sua problematização, identificar elementos do contexto do processo de colonização da América, seus mecanismos e as mentalidades de seus agentes.

domingo, 16 de abril de 2017

Heródoto e Tucídides: Uma breve apreciação crítica

Heródoto e Tucídides, representantes de dois momentos da historiografia helênica.

O presente texto não é de minha autoria, mas uma apreciação crítica sobre as obras de Heródoto e Tucídides feita por Vítor de Azevedo em 1964, para o prefácio da tradução da História de Heródoto.

HERÓDOTO E TUCÍDIDES

Heródoto, vendo em todas as coisas humanas o efeito e a influência do "demonium", revela tendência inteiramente diversas das de um historiógrafo moderno, que coloque os acontecimentos sob a dependência de fatores naturais e econômicos. Coexistem em sua personalidade, juntamente com o cronista atento e minucioso, um teólogo e um poeta. É o que decorre do exame de sua obra. Esta não se limita a explanar o que a experiência ensina, mas também realiza incursões mais ou menos frequentes no extraordinário e no maravilhoso. "A este respeito - comenta o já citado Carlos Otfrido Müller - a obra de Heródoto peca por monotonia: os grandes acontecimentos que narra, as empresas gigantescas dos príncipes, as veleidades da fortuna, as vicissitudes milagrosas, quadram perfeitamente à descrição de estupendos edifícios e outros monumentos portentosos do Oriente, de vários e não raro estranhos costumes de povos, de fenômenos surpreendentes, de produtos e animais raros de remotas comarcas".

Contudo, o mesmo autor abunda nas mesmas advertências de Rawlinson. Ninguém poderá negar que nestes relatos, em que Heródoto endossa coisas que não lhe fora dado ver em suas viagens, foi levado a equívocos pelos informes dos sábios, intérpretes e guias. Mas força é convir que sem essas concessões à mentalidade própria do mundo oriental - tão diferente da brilhante exatidão do mundo helênico - Heródoto não nos teria transmitido grande número de dados preciosos. Nestes, apesar de seu revestimento fantástico, a ciência moderna tem descoberto um bom fundo de verdade. Viajantes, naturalistas, geógrafos e etnógrafos já puderam verificar com surpresa a objetividade de muitas notícias e observações contidas em elocubrações aparentemente fabulosas do velho narrador.

Nascido sob o domínio persa, e numa cidade da Ásia Menor, compreende-se que a sua personalidade participe igualmente - numa mescla que a rigor resume toda uma fase importante do desenvolvimento da civilização antiga - de duas mentalidades fisionomicamente tão diversas, quais sejam a grega e a oriental. De todos os escritores helênicos, é o que mais se assemelha ao tipo asiático por suas tendências e por seu estilo. Não raro, os seus raciocínios e expressões recordam o Antigo Testamento... Por outro lado, coloca na boca dos príncipes do Oriente, em determinadas passagens, ideias que só poderiam germinar no solo da Grécia. Está neste caso, por exemplo, a exaltação da democracia que um deles faz, embora os Persas não conhecessem esse sistema de governo. Há muita ingenuidade no encadear de anedotas e fábulas, mediante as quais pretende explicar muitas medidas políticas, maneira que não corresponde, por exemplo, ao tipo mental de Tucídides.

Aqui chegamos à bifurcação de duas idades. Com Tucídides a historiografia grega se desprende das roupagens características dos logógrafos jônicos, de que Heródoto foi sem dúvida a figura culminante. Mas note-se que tínhamos na nova e ilustre individualidade um ateniense legítimo, nascido no demo de Alimonta, nove anos depois da batalha de Salamina. Os trabalhos de Tucídides derivaram diretamente da tribuna pública, das assembleias políticas e dos tribunais de justiça da Grécia. O "demonium", como causa determinante dos fatos históricos, rola de suas alturas. Em seu lugar se encastela a "ação humana", como resultado do caráter e da situação do indivíduo. A sua temática se prende diretamente ao grande litígio em que são partes das Repúblicas beligerantes, que tem como objeto de disputa a questão candente da hegemonia de Atenas.

Com Tucídides, longe ainda estava a historiografia de atingir as bases científicas do materialismo dialético. Mas de certa maneira ele foi uma antecipação primária da obra que, nesse terreno, a crítica realizou com as descobertas científicas do século XIX e com os largos materiais acumulados, ao longo dos séculos, os quais permitiram o critério de cotejo e o espírito de síntese.  A concepção do mundo característica de Tucídides ainda é primitiva, idealista, mas já não fantástica.

Não sem razão, alguns comentadores apontam em Heródoto as qualidades do "romântico", e em Tucídides a configuração do "realista". Mas como aconteceu em outras épocas da humanidade e outros setores da produção intelectual, essa diferença não decorria apenas do temperamento de cada um dos dois historiadores, que a tradição pretende tenham sido amigos em Atenas. Se o primeiro representa uma fase de transição, o segundo já resultou de transformações largamente sedimentadas na evolução do povo helênico. Tucídides é bem o fruto do "século de Péricles", que deu Antífon, na eloquência, Dâmon, na música, Fídias, na escultura, Protágoras, o sutil e ardiloso polemista, Zeno, o inventor da lógica, Cratinos, que sabia temperar o seu sarcasmo com a jovialidade, Eurípedes, o mestre do "pathos", e o mais clássico dos antigos, Sófocles, que elevou a tragédia grega a alturas culminantes.

Mas as restrições que, desta comparação crítica, possam desfavorecer o velho Heródoto, são mais aparentes do que reais. Não se podem exigir de um pioneiro as realizações dos que apareçam depois, montados nos seus ombros, como continuadores de sua obra. Para compreender-se melhor a importância relativa de Heródoto urge que o situemos com mais rigor, comparando-o não tanto com os que o sucederam, mas com os que o antecederam. Só então emergirá da crítica a ideia exata do papel que representou na evolução da historiografia.

VÍTOR DE AZEVEDO, prefácio de História, 1964, p. XXI-XXII

quarta-feira, 22 de março de 2017

Caveira de burro

Rua dos Andradas. Manaus, 1987.

Mudar o nome de uma rua é um processo que envolve questões mais complexas do que se pensa, questões históricas, políticas e culturais. Uma, duas, três, quatro ou cinco décadas vivendo em uma rua, que originalmente manteve um único nome, molda o sentimento do morador, que se identifica com ele e resiste às mudanças. Mas, com uma simples “canetada”, uma decisão sem critérios pode transformar-se em um “inferno para o historiador, para o serviço postal, para todo mundo”, como escreveu Mário Ypiranga em Caveira de burro, artigo publicado em 1975 no Jornal do Comércio, no qual o folclorista e historiador critica, de forma bem-humorada e também bastante ácida, as mudanças das nomenclaturas das ruas da cidade, feitas sem nenhuma consulta prévia e com critérios duvidosos; e a urbanização da mesma.

CAVEIRA DE BURRO1

Mário Ypiranga Monteiro, 15/06/1975

Para quem como eu familiarizou-se com a história pitoresca das ruas de Manaus (Roteiro Histórico de Manaus, 1969), a alusão e a crítica a certas incongruências não mais admira. Certa feita um matutino trouxe observação oportuna do edil Damião Ribeiro à anarquia reinante na nomenclatura de certas ruas. O fato não é novo, certamente, mas acreditamos que depois de 1930 para cá a confusão se generalizou de tal maneira que ruas de Manaus existem de que não mais se sabe o nome real, à carência de placas elucidativas. As placas modernas sempre foram um problema pela estupidez com que foram organizadas, sem histórico. Por exemplo, aquele vereador fazia referência às ruas, trechos da de Belém (rua de Marciano Armond); de Leonardo Malcher (de Governador Bacelar); beco da Paciência (rua Universal); bairro da Raiz (de Santo Agostinho); rua de Nhamundá (de Barbosa Rodrigues) e rua de Japurá (do Professor Rayol).

O mau vezo de dar-se nome de santos (às vezes cassados) a ruas e bairros é um fenômeno psicológico que foge a nossa preocupação, mas ao mesmo que os diabólicos promotores de transferências de nomes respeitassem a tradição avoenga, quando ela existe de segres. O bairro dos Tocos, onde nasci, foi idiotamente denominado de Aparecida quando com um pouquinho de senso, respeitando a religião, poderia ficar Nossa Senhora Aparecida dos Tocos, a exemplo da Nossa Senhora do Ó (Portugal), Nossa Senhora de Copacabana ou São José de Apipucos, onde reside o meu excelente amigo Gilberto Freyre, e quejandas toponimais. Respeitava-se a tradição e reverenciava-se o patrono ou matavam-se dois coelhos com uma porrada. Assim, Santo Agostinho da Raiz (ah! O velho igarapé da Raiz onde tomei muito banho) ficaria tão bom como São Geraldo dos Bilhares, sem que ninguém viesse a especular se São Geraldo era dado às caraboias (sic) ou o venerável Santo Agostinho, a quem sempre leio e admiro pela coragem de confessar-se publicamente, tivesse tomado algum banho no local ou tomado chá-de-raiz.

Me assustam esses criadores de situações novas e difíceis para a história da cidade. A bagunça é tal para os lados da Prefeitura e tal a carência de espírito nacionalista que até estrangeiros a quem nada devemos e que nem sabem se Manaus existe, frequentam a onomástica urbana numa concorrência aos bons filhos da terra ou a brasileiros outros que aqui pelejaram e a quem se vem cometendo injustiças clamorosas com o esquecimento. Cândido é quem chamou de Kennedy2 e Roosevelt3 a rua e praça da cidade, apunhalando pelas costas a história nossa.

Quando é que se vai colocar um paradeiro a esse quadro negativo? Quando é que vai aparecer alguém que tome a pelo endireitar essa casa de Orates4? Das plantas de Manaus então nem se fala! É aquela garapa! Nomes adulterados, nomes incompletos, nomes ilegíveis, nomes em duplicata, triplicata, quadriplicata, um inferno para o historiador, para o serviço postal, para todo mundo.

Outro dia houve um desaguisado a respeito do nome a ser dado à ponte nova sobre o igarapé da Cachoeirinha de Manaus, mais conhecido por igarapé dos Educandos. Concorrentes póstumos foram o Cônego Plácido, o meu bom e querido amigo Cônego Plácido, amazonense que dizia haver dinamizado o bairro de Constantinópolis, embora em prejuízo da memória do Dr. Jacques de Sousa Lima, o verdadeiro dinamizador daquele trecho com João Brígido; e o meu caro companheiro de escotismo Ramayana de Chevalier. Candidatos fortes e bem apadrinhados, não há que ver, e todos merecedores de homenagem dessa natureza. Mas parece que os padrinhos se esqueceram de duas coisas: primeiro que existe na Prefeitura de Manaus um projeto muito antigo para a construção daquela ponte, como também para a ponte sobre o igarapé do Teiu, dito de São Raimundo Nonato; segundo, há uma lei federal não revogada, proibindo em todo o território nacional duplicidade de nomenclaturas, toponímias de caráter público. Se a coisa for pra valer, o falecido Rama perderá, pois já foi contemplado em vida com uma rua. E se a nossa colenda Câmara levar a sério o trabalho de revisão dos nomes de ruas, praças, jardins etc., seu Getúlio5 e outros nababos vão ficar no singular, dando a vez para a memorização de gente a quem o Amazonas deve e muito. Isto porque em Manaus o que mais ocorre é essa indisciplina. Apesar de que me estafei para escrever a histórias das ruas e demais logradouros públicos desta minha leal cidade, não há uma simpatia pela ordem neste sujeito. Qualquer cidadão dá nome a um beco, um bairro nascente, sem que a Câmara se ajuíze da irregularidade, quando essa confunde com a cumplicidade. Às vezes, nomes ridículos, fesceninos, ou cheirando a novelas, como é o caso do Coroado.

Quando é que se pretende acabar com essa anarquia? Bairro Alvorada existem dois6! Mas eu creio que o pior problema é o da avenida de Constantino Nery. Na realidade não deveria existir nem este nem o nome João Coelho. A avenida, estrada antigamente, de Epaminondas, para homenagear aquele presidente dinâmico que a mandou rasgar até para além de Flores, isto é, naquele tempo até o bairro da Cachoeira Grande, chamado também de Flores. Esclarecemos que já existe uma homenagem a Constantino Nery, em Constantinópolis, embora este houvesse mandado ampliar a estrada de Epaminondas. O fato mais ridículo que se conhece e que diz respeito à carência de cultura de certos administradores aconteceu no governo Arthur Reis7: ele exigiu que algumas ruas dos bairros de São Francisco-Petrópolis recebessem nomes de presidentes da província. Foi o suficiente para que a colônia dos “puxas” destrambelhasse e andasse catando nomes aí, atordoada e inepta. O resultado é que um cidadão cujo nome completo já estava honrado, aparece noutra rua com a abreviatura! Duas ruas com um mesmo nome porque o raio do pesquisador não dava às gatas, sem saber como descascar o abacaxi.

E as plantas de Manaus? A melhorzinha dos últimos anos é a traçada pelo meu mano, Dr. Aluizio Brasil, não fosse prejudicada pela má leitura de certas ruas. A última, que se apregoa trabalho aerofotogramétrico deixa muito a desejar. E a coisa não para, não se resolve nada, enquanto muito se fala em projetos de urbanismo, alguns tão velhos que já caducaram pela novidade. Prega-se a urbanização da cidade e todos os dias registro o vandalismo da canalha contra a paisagem, o fogo devorando árvores de sombras e até de frutos. Não há uma lei proibitiva do corte de árvores! Mete-se o machado à revelia e vem falar-se patrioticamente em Dia da Árvore! Todos os dias surgem cochichos, numa proliferação de cogumelos. Até em frente do Palácio Rio Negro! Ameaça à saúde pública, ameaça aos nossos foros de civilizados. O historiador que cuida do processo histórico da cidade, vê, anota e arquiva. Manaus cresce em sentido vertical, mas as plantas residenciais continuam naquele asfixiante três por três; a vidraçaria continua sendo implantada por arquitetos que só entendem de arquitetura e não de climatologia; trágico desafio ao prolongamento da existência numa cidade chantada em área de baixa pressão, escassas possibilidades de ventilação, forno do futuro. Os flutuantes começam de aparecer nos igarapés centrais numa imitação suburrina.

Amanhã, quando a história ocupar-se desses maus administradores, aparecerá quem se insurja, esquecidos eles de que os homens públicos devem satisfações ao presente e que seus atos serão julgados pela posteridade.


NOTAS:

1Caveira burro, expressão popular, forte na região Nordeste, para falta de sorte e para algo que nunca dá certo. O burro, animal de pouco valor comercial e inferior ao cavalo, era morto pelos criadores para não gerar custos desnecessários com cuidados e alimentação. Seu corpo era enterrado distante das fazendas, surgindo assim verdadeiros “cemitérios” que ganharam a fama de trazer má sorte. Por isso se diz que um negócio ou pessoa está com “caveira de burro” (azar e infelicidade).
2Avenida Presidente Keneddy, no bairro de Constantinópolis (Educandos).
3Praça Roosevelt, uma das três que formam a Praça Heliodoro Balbi (da Polícia).
4Orates, casa de gente maluca, sem noção, também sinônimo para Hospital psiquiátrico.
5Getúlio Vargas.
6Bairro da Alvorada, na zona Centro-Oeste. O autor se refere à segunda etapa do mesmo.

71964-1967.

CRÉDITO DA IMAGEM:

Manaus de Antigamente

sexta-feira, 17 de março de 2017

A Economia Gomífera na Amazônia III: A Crise




Introdução

1910, 1912, 1929. Datas utilizadas na tentativa de delimitar o começo e o fim da crise que assolou a Amazônia em princípios do século XX. Tentar delimitar o início e o fim de período é uma tarefa que envolve questões sociais e históricas complexas, que dependem da interpretação de uma pessoa ou grupo que se encarrega dessa tarefa. Na maioria das vezes, os historiadores ou pesquisadores de outras vertentes não são contemporâneos da época em questão, o que implica em julgamentos mais ou menos coerentes. No mais, foi a primeira vez que a região sofreu um abalo como esse. A economia gomífera substituiu a extração das drogas do sertão, forte entre os séculos XVII e XVIII, e o modesto cultivo de gêneros alimentícios. Mas, quando a borracha perdeu valor no mercado mundial, demorou para que outras atividades a substituíssem com a mesma rentabilidade e furor do início do século XX. Nessa terceira e última parte da série A economia gomífera na Amazônia serão abordados o declínio da economia gomífera; a busca pelos culpados; a situação dos estados do Pará, Amazonas e suas capitais; o neocolonialismo e a Segunda Guerra como esperanças de crescimento; as discussões historiográficas e sociológicas sobre o período.


Declínio da economia

A borracha do Amazonas dominou o mercado mundial no encontro do século XIX com o XX. Os ingleses, porém, transplantando mudas da seringa para jardins botânicos de Londres, recriaram o produto na Ásia. Começara uma concorrência fatal. Queda dos preços, do consumo, consequente queda da exploração. Queda dos reinos, desespero das ambições, orgulho ofendido, falências. A falta de planejamento encerrava mais um ciclo econômico do Brasil passado” - Glauber Rocha em Amazonas, Amazonas, 1966.

Desde o final do século XIX que a Amazônia, ou melhor dizendo, as principais cidades dela, vinham experimentando um crescimento econômico jamais antes visto. O trabalho semiescravo do seringueiro deu origem a um dos mais importantes ciclos econômicos do Brasil moderno, e tornou a região Norte uma das principais fontes de arrecadação pública. O que ficava da arrecadação de impostos das movimentações econômicas foi investido de forma maciça na reestruturação de Belém e na estruturação de Manaus.

Em meio ao sofrimento do seringueiro e o furor das capitais, a borracha asiática começara a aparecer de forma expressiva no mercado mundial, atingindo, em 1908, cerca de 1.800 toneladas1. Na Europa, o excesso de produtos fabricados com a borracha e a falta de mercados consumidores fez as importações da borracha brasileira caírem pela primeira vez. A partir de 1910, começara a crise que culminou na estagnação da região até 1960, quando outras alternativas surgiram, com destaque para a Zona Franca.

Os ciclos econômicos, de acordo com o economista Joseph Schumpeter, são divididos em quatro fases: boom, recessão, depressão e recuperação. O boom do ciclo da borracha se deu entre o final de 1890 até 1910, quando aumentou a demanda industrial e se especulou as produções locais. A recessão se inicia no final de 1910, com altas e baixas no mercado, com uma última grande exportação de 42.410 toneladas em 1912. A depressão vai de 1912, ainda com altos e baixos, até 1942. Entre 1942 e 1945 ocorre uma breve recuperação motivada pelo conquista, pelas forças japonesas, dos países asiáticos fornecedores de borracha. Esse intervalo durante a Segunda Guerra seria apenas uma breve recuperação até que voltasse o estado de crise.


Buscando causas culpados

Quando uma crise assola uma cidade, estado ou país, em paralelo às buscas por soluções, está também a busca pelas causas e culpados. A dimensão do ciclo econômico em questão torna a busca passível de diferentes interpretações, e esta se pretende ser apenas mais uma. Henry Wickham? Estado brasileiro? Elites locais? De quem é a culpa? Na História da Amazônia aprendemos que cada um deles tem sua contribuição no processo. Vamos por partes.

Sir Henry Alexander Wickham (1846-1928) foi um botânico e aventureiro inglês ativo na América Latina. Aos 20 anos foi para a Nicarágua em busca de plumas para a chapelaria de sua mãe. Durante a viagem, produziu um diário com informações sobre a região e, principalmente, sobre o crescimento e as possibilidades do comércio da borracha. Seu diário se tornou conhecido, na Inglaterra, pelo diretor do Kew Gardens, que lhe ofereceu dez libras para cada mil sementes de seringueira coletadas (FORLINE, 2013). Com sua família, Wickham se dirigiu para Santarém, no Pará, em 1871, onde conseguiu, mediante o escambo com indígenas e caboclos, cerca de 70.000 sementes. Bem acondicionadas em recipientes para não estragarem e nem despertar maiores suspeitas, passaram facilmente pela fiscalização e atingiram o exterior graças às manobras do cônsul inglês no Pará. A “encomenda” de Kew Gardens chegou em 1876, sendo que apenas 7.000 das 70.000 sementes brotaram no jardim. Depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão, Malásia, Índia, Birmânia e Bornéo Britânico. O Império Britânico também enviou algumas mudas para o Jardim Botânico de Java, domínio das Índias Orientais Holandesas. Assim, a Holanda também entrava no processo de plantio ordenado das seringueiras, expandindo o cultivo para as ilhas de Java, Bornéu e Sumatra. No contexto da corrida imperialista e industrial, as principais potências da Europa buscavam, de qualquer forma, seja por intervenção militar ou econômica, a autossuficiência de matérias-primas. No entanto, da chegada das sementes à Inglaterra, em 1876, levaria pouco mais de 30 anos para que a produção europeia ultrapassasse a produção brasileira e quebrasse seu monopólio.

Não foi apenas a Amazônia a beneficiada com o ciclo da borracha. Os governos imperial e, mais tarde, republicano, souberam aproveitar as benesses do período. A relação dos seringalistas amazônicos com negociantes ingleses tornava abundante a entrada da libra esterlina, a moeda mais valorizada na época, nos portos brasileiros. No entanto, mesmo se beneficiando dessa situação, o governo federal tomou medidas tardiamente, quando o panorama da região já não era dos melhores. Os principais comerciantes do Amazonas e do Pará, vendo a cada dia os preços caindo vertiginosamente, com a entrada de toneladas de borracha de produções asiáticas racionalizadas, há muito pediam ajuda do governo federal para a implantação de plantações de seringueiras e capitais do Banco do Brasil para manter os preços estáveis. Nenhum desses pedidos teve resposta. Os cafeicultores de São Paulo, quando a cotação do mercado era desfavorável ao seu produto, recebiam da União grandes somas em ajuda. Em 1912, quando o Brasil já não era mais o principal exportador mundial de borracha, o Congresso aprovou um plano que, em síntese, era destinado ao investimento na logística da região, para aumentar a competitividade do produto, e incentivos ao cultivo racional. O plano, 'Defesa Econômica da Borracha', ficou sediado no Rio de Janeiro, distante da região problema. Foram feitos gastos exorbitantes em compras e pesquisas desnecessárias, o que fez o Congresso dar fim ao plano em 1913. Warren Dean afirma que

A espantosa indiferença do governo federal para com a sorte da economia amazônica parece quase suicida, considerando-se que a região, com apenas1/25 da população do país, havia proporcionado um sexto da renda nacional2.

Ainda segundo Dean, no período entre 1890 e 1912 o governo federal faturou com os Estados do Amazonas e Pará cerca de 656 mil contos de réis, sem contar a renda do território do Acre, que ia diretamente para a União. Já os gastos do governo federal na Amazônia, “como a caríssima ferrovia Madeira-Mamoré […], não eram particularmente eficazes na promoção de um crescimento regional” (DEAN, 1989, p. 80). O governo federal foi um dos maiores beneficiários da economia gomífera. Algumas obras financiadas com os impostos arrecadados ainda podem ser vistas no Rio de Janeiro, das quais se destacam o Teatro Municipal e a Av. Rio Branco. Quando a borracha asiática começou a invadir os antigos mercados brasileiros, e as rendas começaram a cair, esse mesmo governo demorou em tomar medidas para socorrer a região Amazônica e, quando tomou, não teve sucesso na empreitada.

Diante desse caos anunciado, como reagiram as elites locais, do Pará e do Amazonas? A elite paraense utilizou boa parte dos impostos da borracha na reestruturação do Estado e, principalmente, da capital Belém. Por reestruturação entende-se a reforma, novas aquisições e modernização da estrutura econômica vigente, com raízes do século XVIII, dos grandes proprietários de terra. A elite amazonense tratou de estruturar a capital, até aquele momento sem larga tradição comercial como a capital vizinha. As oligarquias do Norte, no contexto da República Velha,

[…] Gastavam mais do que arrecadavam, tomando empréstimos a esmo, na esperança de obter uma constante renda crescente, e nunca pagavam as dívidas. Impuseram taxas de exportação (reservadas aos Estados pela Constituição) que se aproximavam de um estulto patamar de 20% e dilapidaram a maior parte dessas rendas – que alcançaram um montante de 241 mil contos de réis entre 1890 e 1912 – no embelezamento de suas capitais e nos pagamentos de políticos locais3.

Seringalistas e aviadores, os dois principais grupos sociais das elites regionais, mantinham um estreito laço com o poder público. Eram publicados frequentemente, em jornais, revistas e álbuns como o Álbum de Belém do Pará para 15 de novembro de 1902 e Annuário de Manáos para 1910, artigos e notas sobre a situação econômica lisonjeira do Pará e do Amazonas, sobre a abundância da região em recursos e de sua exclusividade como detentora natural das seringueiras e principal fornecedora para os mercados estrangeiros. Criou-se entre os dirigentes e a elite um mito da exclusividade e da “eternidade” desse produto. Quando a realidade se mostrou inversa, tudo se tornou possível para salvar a economia

[…] inclusive alienar para grupos internacionais parte do território de seu país, como tentou fazer o governo do Amazonas, que tomou um empréstimo de um grupo americano garantido com terras públicas, felizmente vetado pelo governo federal, de quem necessitava o aval4.

Márcio Souza, em uma perspectiva sociológica, afirma que as elites da região não previram que a atividade extrativista demandaria mão de obra de outras áreas, o que impediu o surgimento de uma agricultura e indústria fortes ou tornou débil o que já existia. O curioso é que, pelo menos desde os anos 50 do século XIX, os presidentes provinciais denunciavam a fuga de braços para o extrativismo5. No jogo de cadeiras da República, faltava às elites amazônicas a expressividade que tinham as do Sul e Sudeste, o que tornava difícil, seja por manobras políticas, distância ou ignorância, qualquer ajuda. Seria um reflexo dos tempos de um Grão-Pará distante e fechado em uma relação direta com a metrópole portuguesa? Talvez.

Contrabando, omissão do Estado Brasileiro e um cego otimismo por parte das elites locais. Três causas, três culpados. É justo culpar Henry Wickham, um aventureiro sem nada a perder que morreu na miséria? Não seria mais coerente afirmar que ele foi uma marionete do Império Inglês, que buscava autossuficiência de qualquer forma? O Estado Brasileiro, no alvorecer da República, mantinha os mesmos traços do Império, quando era comandado pelas oligarquias latifundiárias de São Paulo e do Rio de Janeiro. Seus dirigentes, na maior parte originários desses grupos de poder, ignoraram a região que por 30 anos lhes garantiu 40% das exportações, no que parece ser mais um fruto de discrepâncias políticas ou a crença de que o café sustentaria o país, pois os cofres estavam sempre abertos quando São Paulo e Rio de Janeiro precisavam. As elites do Pará e do Amazonas se sustentaram por três décadas um sistema extrativista altamente predatório, com resquícios de trabalho escravo e voltado exclusivamente para a exportação. Faltou, por parte delas, planejamento antecipado, preocupação com o desenvolvimento interno e o desenvolvimento de áreas como a agricultura e a indústria.


Pará e Amazonas no contexto da crise

1910 é uma data frequentemente utilizada para marcar o fim desse período econômico. No entanto, o mercado não é um elemento que pode ser apreendido pela exatidão de modelos estruturalistas generalizantes, pois depende não apenas de fatores econômicos, mas também sociais e subjetivos. Os preços nunca são estáveis, oscilando para mais e para menos. O primeiro choque econômico da região se deu entre 1907 e 1908, quando começou a entrar na competição a borracha asiática, mais barata e de melhor qualidade; a borracha recuperada dos americanos; a borracha de guayule produzida no México e no Sul dos Estados Unidos; e quando alguns países da Europa, por estarem com excesso de pneus e outros derivados da borracha, diminuíram o nível das importações.

No Pará, em 1907, o governador Augusto Montenegro, representando a região Norte, enviou ao presidente da República, Afonso Pena, um telegrama contendo considerações sobre o comércio da borracha. O conteúdo do telegrama “referia-se à queda nos preços e sugeria a intervenção do governo federal por meio da criação de agências do Banco do Brasil em Belém e Manaus, as quais atuariam como reguladoras do mercado da seringa” (DAOU, 2000, p. 65). No Amazonas, o Jornal do Comércio anunciava, no mesmo ano, que o mercado continuava paralisado, sendo oferecido pela borracha fina 6$600, preço não aceito pelas casas aviadores. Informava também que o estoque era de 55 toneladas6.

Essa primeira crise começou a ser superada em 1908, quando a borracha, que chegou a valer 6$300 em outubro, chegou a 7$700 em novembro. Essa alta se explica, de acordo com Antônio Loureiro, “pela reorganização da indústria americana, pela resolução do processo sucessório nos Estados Unidos, e, principalmente, pela grande especulação na Bolsa de Nova Iorque, onde todos os “stocks” de borracha estavam sendo comprados, por intermediários, para revenda aos fabricantes” (LOUREIRO, 2008, p. 73). Entre 1909 e 1910 a borracha atinge seu maior preço, chegando a custar 17$000 o quilo da fina. Esse aumento foi fruto da especulação das bolsas de valores da Europa e da compra, ainda no Brasil, da borracha por quilograma, revendida às indústrias por libra-peso. Quando chegava às bolsas, a borracha chegava a valer o quádruplo dos preços praticados em Belém e Manaus. O lucro obtido pela especulação da borracha brasileira tinha um destino certo: formar novas empresas plantadoras no Oriente.

Em maio de 1910, o governo brasileiro valorizou o mil-réis, baixando a cotação das libras esterlinas de 16$000 para 15$000, fazendo essa moeda entrar cada vez menos no país. Os depósitos da caixa de conversão contavam com cerca de 20.000.000 de libras esterlinas, sendo emitidos 320.000 mil contos de réis. No entanto, “a quantidade de papel-moeda não conseguia suprir as necessidades do comércio da região, carente de dinheiro em espécie” (LOUREIRO, 2008, p. 78). Vigorava, desde que se estabeleceram as casas aviadoras e os seringais, o sistema de crédito, no qual os bancos forneciam aos aviadores, comerciantes, ferramentas e gêneros diversos; e estes, por sua vez, forneciam seus produtos aos seringalistas em troca da borracha. O seringalista repassava parte do que obtinha com o aviador para o seringueiro, através do barracão, em um sistema de endividamento sempre crescente. A borracha asiática voltou a figurar no mercado, agora com inúmeras empresas comandando sua produção. A oferta e os preços baixos fizeram a borracha amazônica cair de 17$000 para 7$000. Os anos que se seguiram foram marcados pelo recrudescimento contínuo dos preços; pela fuga de capitais para o Oriente; e pela perda da posição de maior exportadora mundial. A situação de Belém, entre 1912 e 1913, de acordo com o antropólogo Fábio Fonseca de Castro em a Cidade Sebastiana: Era da borracha, memória e melancolia numa capital da periferia da modernidade7, era a seguinte: acumulava cerca de 100 milhões de francos, ou 59.524 contos de réis. Nos dias que se seguiram, cerca de 160 estabelecimentos comerciais fecharam as portas. A prefeitura de Belém devia mais de 2 milhões de libras esterlinas e o governo do Estado devia quase a mesma quantia.

O Amazonas também estava mergulhado em dívidas. Ao todo, somadas as dívidas externas e internas, devia-se cerca de 100.000 contos de réis, um valor, segundo Loureiro, “impossível de ser pago, pois a arrecadação de 1914 fora de apenas 6.900 contos e a de 1915 ficaria entre 4. 250 e 5.800 contos” (LOUREIRO, 2008, p. 14). Parintins, Itacoatiara, Humaitá e Maués, que no período conseguiram desenvolver algum comércio e se desenvolver, se encontravam agora acanhadas, com seus habitantes vindo procurar na capital mínimas condições de sobrevivência.A arrecadação dos dois estados e a do território do Acre caiu de forma significativa, tornando mais grave os quadros sociais e econômicos:

A receita do Estado do Pará, que era de 20.255 contos em 1910, reduz-se a 8.887 em 1915 e a 8.517 em 1920; a do Amazonas, de 18.069 cai para 7.428 e 5.888 respectivamente; e a do Acre, de 19.868 baixa para 5.610 em 1915, menos de 1/3 do que fora. A despesa pública teve que cair, mas não na mesma proporção, de modo que o deficit orçamentário se torna rotina naqueles anos8.

Os relatos de contemporâneos da Grande Crise, fontes primárias, nos mostram com vivacidade o que foram aqueles anos de estagnação. Por meio de artigos, a Revista da ACA noticiava o intenso movimento de abandono da capital amazonense em direção a outras regiões do país ou ao exterior. Um dos documentos mais interessantes, não ligado a instituições políticas ou econômicas, é a carta do fotógrafo alemão George Huebner, que por muitos anos manteve um estúdio em Manaus. O conteúdo da carta nos dá um panorama de como ficou a cidade durante a Primeira Guerra Mundial, quando algumas rotas comerciais foram temporariamente fechadas e os preços caíram mais bruscamente:

O que eu poderia dizer daqui? A situação é desoladora, não poderia ser pior. Tudo isso é o efeito da guerra. Primeiramente, o preço do látex não parou de cair, depois foi o câmbio da moeda, e agora tudo se encontra parado. Você deveria ter visto Manaus antes, tão animada! Atualmente inúmeras casas nas ruas principais estão vazias e cada vapor que vai para o sul viaja lotado de passageiros que fogem de Manaus. As pessoas sem dinheiro, que não podem pagar a viagem, se retiram para os seus sítios do interior, de maneira que a cidade se torna cada vez mais vazia. Agora não se faz mais negócios. Feliz é aquele que ainda consegue equilibrar suas despesas. Não é, infelizmente, o meu caso9.

Todos os desdobramentos da Primeira Guerra eram diariamente noticiados pelos jornais. No Estado do Pará10, lamentava-se que o florescente comércio do Estado e sua pequena indústria, por ausência de recursos, perdia a oportunidade de tirar algum proveito com o conflito, como estavam fazendo outros países da América Latina, que impossibilitados de importar produtos manufaturados da Europa, passaram em investir em suas próprias indústrias e a fortalecer o mercado interno. Suicídios motivados por perdas de emprego também eram vez ou outra noticiados. Mas o que realmente ganhava inúmeras páginas nos impressos era o isolamento da Amazônia, motivado pela crise marítima ocasionada pelo bloqueio naval alemão, iniciado em 1915. Um dos episódios mais dramáticos foi torpedeamento, na Costa da Grã-Bretanha, em 1917, do Paquete Antony, de propriedade da Booth & Company, onde foram perdidas 586 toneladas de borracha e 366 de farinha de mandioca11.

A crise da economia gomífera atingiu todos os setores da sociedade, seringalistas, comerciantes, profissionais liberais etc. Pará e Amazonas diminuíram as importações de gêneros alimentícios de outros estados; as libras esterlinas passaram a entrar com mais dificuldade no país; e uma fatia considerável da arrecadação da União teve fim. O funcionalismo público se tornou uma das poucas alternativas ainda rentáveis para as classes médias urbanas. Mas, para Márcio Souza, “o fim não significou nenhuma mudança na qualidade de vida dos seringueiros, dos operários, dos agricultores” (SOUZA, 2009, p. 310). O Pará, que tinha uma larga tradição comercial desde o século XVIII, resistiu melhor à crise. O Amazonas, no entanto, com comércio e indústria inexpressivas desde os tempos coloniais, tardou a se recuperar, encontrando salvação com a Zona Franca no final dos anos 60 do século XX. A crise tem suas especificidades. Nem todos os empresários faliram, e alguns chegaram a transformar a situação em oportunidade de crescimento. Joaquim Gonçalves de Araújo, por exemplo, desde fins do século XIX diversificava suas atividades, exportando não apenas borracha, mas castanhas, peles de animais e, algo raro, construindo uma indústria de manufaturas. Suas empresas resistiram às crises de 1910, 1920 e 1945 e só foram extintas no final dos anos 90 do século passado.


Neocolonialismo e Guerra como “esperanças”

Na década de 20 do século passado, Europa e Estados Unidos controlavam boa parte dos países da África, Ásia, Oceania, Oriente Médio e América. A Amazônia foi economicamente controlada, por 30 anos, por agentes do capital estrangeiro. No entanto, uma dominação completa, característica do neocolonialismo (dominação política e econômica), surgiria na região, mais especificamente no Tapajós (PA) a partir do final dos anos 20.

Henry Ford, grande empresário da indústria automobilística do início do século XX, buscava a autossuficiência de matérias-primas para suas indústrias. Não só Henry, mas um grande número de empresários americanos voltariam a depender da borracha brasileira. Durante a Primeira Guerra, o comércio europeu se tornou instável, agravado que fora pelo bloqueio marítimo alemão. A Inglaterra, que detinha o monopólio da borracha, viu os estoques acumularem e os preços caírem. Visando garantir preços estáveis e impedir a acumulação do produto durante o pós-guerra, o país adotou, a partir de 1923, o Plano Stevenson, que, basicamente, passa a limitar a cota de cada produtor inglês.

Com menos matéria-prima no mercado e os preços novamente favoráveis aos ingleses, os grandes fabricantes americanos de pneus foram os mais prejudicados. Como reação, as grandes companhias da época (Goodyear, Firestone e Ford) passaram a buscar diferentes locais, da América à África, para implantar seus próprios seringais.

José Custódio Alves de Lima, cônsul geral do Brasil nos Estados Unidos, depois de saber do interesse do empresário em criar um seringal em Everglades, na Flórida, lhe sugeriu a Amazônia como local de implantação para seu projeto. José Custódio, em contato com Dionísio Bentes, governador do Pará, facilitou para Ford a aquisição de um milhão de hectares no Tapajós. A Companhia Ford, através de contrato firmado com o governo do Estado do Pará em 03/01/1927, tinha o direito à exploração das terras, dos minerais e de outras matérias-primas nela encontradas; de realizar a navegação nos rios Tapajós e Amazonas; construir estradas, armazéns, fábricas, criar núcleos de povoação, escolas, linhas de comunicação etc, sem necessidade do aval de qualquer autoridade. Poderia criar sua própria relação política, sem intervenção do governo. Estava, também, isenta de qualquer imposto pelo prazo de 50 anos. Surgiu um território americano na Amazônia, independente do Brasil, gerido por uma empresa privada.

Antigos trabalhadores das cidades do interior, dos seringais e de outras atividades atingidas pela grande crise, passaram a se dirigir à região que ficou conhecida como Fordlândia. Xingu, Madeira, Purus, Acre, Solimões, Guaporé e Jutaí foram os maiores “fornecedores” de mão de obra. Essas pessoas, acostumadas com um tradicional sistema de trabalho comandado pelo aviamento e pela rigidez do seringalista, pela primeira vez venderiam suas forças de trabalho através de um sistema de contrato. O funcionário recebia da Companhia uma chapa de alumínio, com seu número de identificação e tipo de serviço, pelo valor de dez mil réis. Através dessa chapa eram controladas as faltas, as licenças para tratamentos médicos, pagamentos de férias e transferências.

O regime de trabalho era pesado, indo de 7 da manhã à 17 da tarde, com direito a uma hora de intervalo. Relógios e sirenes ditavam o início e o fim do dia. Nos Estados Unidos vigorava a Lei Seca, que proibia o consumo de bebidas alcoólicas em todo o território. Henry Ford, com apoio do governo paraense, implantou a medida em Fordlândia, onde já existia um considerável número de bares e casas de diversão. Para escapar da rigidez da fiscalização, à mesma maneira que nos Estados Unidos, surgiu um intenso movimento de contrabando de bebidas. Nos barracões onde eram feitas as refeições dos funcionários de patentes mais baixas, peixe e farinha eram substituídos por pão e espinafre, e servidos em bandejas padronizadas. A imposição dessas mudanças, nos anos 1930, fez surgir movimentos de greve radicais, com a destruição de galpões, tomada de usinas e refeitórios.

Os funcionários americanos abandonaram Fordlândia. Foi preciso a intervenção de forças policiais para o fim do movimento. Mas, antes mesmo de qualquer revolta, essa concessão já não mostrava os resultados esperados:

A grande distância do porto de Santarém, dificultando a comunicação e o abastecimento comercial, a reduzida força de trabalho, a não seletividade das mudas e sementes de seringueiras e a topografia do local, bastante acidentada, representavam um entrave para a lucratividade da empresa12.

Soma-se ao fracasso técnico a doença do mal das folhas, que atacava a árvore da seringueira e reduzia a produção do látex. Com o fracasso da primeira concessão de terra, a Ford permutou com o governo uma parte de Fordlândia por outra, dessa vez Belterra, distante 30 milhas de Santarém. Da mesma forma que na primeira, Belterra recebeu todos os aparatos necessários para seu funcionamento: escolas, hospitais, vilas, instalações industriais, um porto e estradas. Os antigos trabalhadores de Fordlândia foram transferidos para Belterra, e também foram realizadas novas contratações. Esse, que parecia ser o emprego dos sonhos, mostrava sua face mais cruel com a política da empresa para com os funcionários. Um anúncio da companhia em 1943, publicado em O Jornal de Santarém13, oferecia 9 cruzeiros por dia para homens e 6 para mulheres. As crianças, que já eram aceitas a partir dos 7 anos, ganhava 0, 50 por hora de serviço. Os fiscais estavam sempre atentos aos afazeres dos funcionários. Por menor que fosse o erro, o trabalhador era expulso da companhia sem o direito de tentar se explicar. Esses problemas, a baixa produtividade das plantações e a invenção da borracha sintética buna, mais barata que a natural, deram fim ao projeto, que durou de 1927 até 1945.

Entre 1942 e 1945, o Amazonas se viu inserido no conflito mundial. Em 1941, o Japão atacou bases Aliadas americanas e britânicas no Pacífico, dominando logo depois as colônias asiáticas produtoras de borracha. Sem acesso a essa matéria-prima, útil à indústria bélica e manufatureira, os Aliados voltaram suas atenções para o Amazonas. Em 1942, navios brasileiros foram torpedeados pelos alemães, o que fez o país declarar guerra ao Eixo.

O Amazonas, através de acordos firmados entre o Brasil e os Aliados, entrou no conflito como fornecedor de borracha. Mais uma vez ocorreria um surto de imigração nordestina para a Amazônia. Através dos “Acordos de Washington”, ficou estabelecido que os Estados Unidos investiriam no financiamento da produção de borracha na Amazônia, enquanto que o governo brasileiro se encarregaria de recrutar o maior contingente possível de trabalhadores. Estima-se que, entre 1942 e 1945, o governo conseguiu enviar do Nordeste, que passaram por uma terrível seca, cerca de 60.000 retirantes para a região Norte. O sistema de trabalho dos seringueiros continuava sendo o mesmo do início do século: em situação de semi escravidão, preso ao aviamento como devedor de um sistema cíclico. O governo norte-americano ficou de pagar 100$ por trabalhador instalado nos seringais. Manaus se tornou uma das subsedes da Rubber Development Company, órgão criado para administrar os serviços no Estado. A exportação da borracha, a circulação monetária, a construção de um aeroporto, os investimentos na capital e a especulação imobiliária criaram um momento de recuperação.

Enquanto o conflito ia se encaminhando e delineando o mapa político do mundo, os amazonenses e paraenses, inflados pelas propagandas do governo de Getúlio Vargas, mergulhavam, às de vezes de forma violenta, em um sentimento patriótico. Há registros, em Manaus, da malhação de bonecos de Judas como o nome ‘Xitler’, uma paródia com o nome do ditador alemão Adolf Hitler. Na Vila de Tomé-Açú, no Pará, foi construído um campo de concentração que chegou a receber 480 famílias japonesas, 32 alemãs e algumas italianas, tanto do próprio Estado quanto do Amazonas. Essas famílias, em Manaus e Belém, sofriam perseguição, tinham seus estabelecimentos e residências depredados pelo simples fato de virem dos países que formavam o Eixo.

Esse pequeno surto de desenvolvimento, de patriotismo, teve fim com a Segunda Guerra. O antigo mercado asiático estava novamente aberto, novas técnicas aperfeiçoaram o uso de borracha sintética. Já não existia mais a necessidade da borracha amazônica. O conflito acabara e, com ele

as esperanças de tirar a região do abismo sem fim do subdesenvolvimento. Os planos de desenvolvimento concebidos nos “Acordos” foram abandonados, as verbas indenizatórias dos trabalhadores foram descaminhadas, as estruturas do atraso não foram rompidas e tudo voltou como dantes. As atenções do governo federal agora são para as regiões Sul-Sudeste, por estas apresentarem mais condições de dinamismo econômico. A Amazônia vai ser mesmo esquecida do resto da nação por muito tempo14.

A Amazônica se viu novamente abandonada. O capital estrangeiro, depois de mais de 40 décadas conseguindo alguns resultados satisfatórios, foi direcionado para mercados mais estáveis. Em socorro à região, a nova Constituição de 1946, no artigo 199, de autoria do deputado federal Leopoldo Péres, instituiu que a União destinaria 3% de sua arrecadação para financiar o Plano de Valorização Econômica da Amazônia. Em 1953 foi criada a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), que visava o desenvolvimento da agricultura, da extração mineral e da pecuária. Por falta de estrutura, principalmente de estradas, o plano não vingou. A construção da estrada Belém-Brasília, em 1958, atraiu o capital de grandes indústrias que passaram a funcionar no Pará. Em 1966 foi criada a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que criou incentivos fiscais para empresas nacionais e estrangeiras se instalarem na região. O resultado desse programa foi a criação da Zona Franca de Manaus, zona de livre comércio.


Algumas perspectivas historiográficas e sociológicas (1945-1999)

Existe, desde 1940, uma densa historiografia sobre esse período econômico da região, tanto de autores naturais da terra quanto de outros estados. Institutos Históricos e Geográficos, Universidades e outros especialistas lançaram uma gama de interpretações na tentativa de compreender o que ocorreu naquele intervalo de tempo entre 1890 e 192015.

Caio Prado Júnior, em História Econômica do Brasil (1945), vê de forma negativa o sistema de aviamento, que se aproveitando do baixo ou nulo letramento do seringueiro, o prende a um sistema contínuo de endividamento; e o sistema rudimentar de trabalho, que destruía aos poucos as árvores de seringueira, tornando os espécimes cada vez mais raros. Para o autor, além do contrabando de Wickham, o declínio se deu porque a Amazônia se constituía em uma região meramente exportadora de matéria-prima, enquanto que suas concorrentes, as colônias asiáticas, eram financiadas, desde a plantação até a distribuição, pela Inglaterra e outras potências europeias; e porque as elites locais, políticos e seringalistas, não construíram algo duradouro, dissipando rapidamente os lucros obtidos com essa economia, cujo maior símbolo, de “imponência e mau gosto”, é o Teatro Amazonas. Para esse historiador da geração nacionalista e progressista, o ciclo da borracha foi marcado por uma prosperidade fictícia e superficial, o que torna seu fim “mais um assunto de novela romanesca que de história econômica” (MESQUITA, 2006).

Em Ordem e progresso (1957), Gilberto Freyre aborda a transição do período imperial para o Republicano, mostrando como permanecem, nesse novo contexto político, formas de organização social características da monarquia, com o diferencial de que a República trouxe a industrialização, a urbanização e, em menor proporção, alguma ascensão social de grupos antes excluídos. É nessa oposição, entre Império e República, que entra Manaus. Para Gilberto, a cidade foi “uma reação à rotina brasileira”, pois, recebendo influências inglesas, francesas, americanas e espanholas, se diferenciava da maioria das cidades do país, ainda com fortes traços conservadores do Império, acolhendo “desajustados políticos e sociais” que se entregavam aos prazeres em um ambiente de “economia de aventura e de civilização cenográfica” (MESQUITA, 2006).

A partir de 1960 autores da região Norte começaram a publicar obras sobre o assunto. Genesino Braga, em Fastígio e sensibilidade do Amazonas de ontem (1960), é saudosista ao afirmar que, naquele momento, o Amazonas “passava por uma fase alucinante de fausto, de luxo, de esbanjamento e de gastos imoderados, sendo um pequeno centro de ressonância da cultura europeia” (MESQUITA, 2006).

Bradford Burns, professor de História da UCLA e especialista em América Latina, produziu em 1961 uma monografia editada pelo governo do Estado do Amazonas em 1966, com o nome Manaus 1910: retrato de uma cidade em expansão. Sobre a capital, diz ele: “em 1910, Manaus reinava como a capital mundial da borracha. Manaus alardeava com orgulho todas as civilidades de qualquer cidade europeia de seu tamanho ou mesmo maior”. Notou que, politicamente, a cidade estava ligada ao Rio de Janeiro, economicamente dependia de Londres e, culturalmente, de Paris. A obra, que não possui maiores informações, não carrega críticas sobre o sistema econômico, as condições de trabalho e as elites (MESQUITA, 2006).

Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro (1969), de Luiz de Miranda Corrêa, tem ares de um elogio saudosista ao período, à influência europeia e à ação das elites. Manaus se transformava, com obras monumentais e serviços públicos de qualidade. “Uma sociedade inteira passava de um estágio primitivo para os requintes da civilização europeia”. A descrição dos palacetes, bares, hotéis e bordéis são vívidas. As elites elogiadas são aquelas formadas com o nascimento da República, enquanto que “as famílias mais antigas do Amazonas, o pequeno número de privilegiados do Império, […] ou se adaptavam às novas condições de vida da região ou seriam, como vários o foram, tragados pelo redemoinho dos interesses da borracha” (CORRÊA, Luiz de Miranda. Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro. Manaus: Artenova, 1969).

Com exceção da análise de Caio Prado Júnior e, em parte, da de Gilberto Freyre, que ainda tenta ver algum ponto positivo na sociedade republicana do início do século XX, todas as demais são positivas, algumas constituindo-se em verdadeiros elogios saudosistas. A borracha tornou alcançável o ideal de progresso burguês da Europa, sedimentando um passado amazônico nativo e mestiço, estagnado no marasmo colonial e, logo depois, imperial (MESQUITA, 2006).

O sociólogo Márcio Souza encerra essa linha de elogios e exaltação da cultura burguesa em 1977, com a publicação de A Expressão Amazonense: do colonialismo ao neocolonialismo. De acordo com Otoni Mesquita, Márcio Souza, em algumas passagens, “mostra ter alguma influência de Caio Prado e Gilberto Freyre, mas tece críticas mais radicais” (MESQUITA, 2006, p. 157). Para o autor, durante o apogeu da borracha, o Amazonas esteve bastante alienado, com sua capital sendo “a única cidade brasileira a mergulhar de corpo e alma na franca camaradagem dispendiosa da belle époque”. Acrescenta ainda que ela não era “verdadeiramente uma cidade, mas decoração do sonho e do delírio, microcosmo das doenças do espírito burguês com toques de selvageria e grossura”, cujo novo estilo de vida contrastava com sua linhagem portuguesa, a tornando um verdadeiro cenário para o colonialismo. Essas críticas, em especial ao ideal burguês citadino, também poder ser vistas em sua Breve História da Amazônia (1994) e História da Amazônia (2009).

Roberto Santos, com sua História Econômica da Amazônia: 1800-1920 (1980), vê o ciclo da borracha como uma fase de expansão da economia amazônica, dependente de estímulos externos (industrialização na América do Norte e na Europa). Para ele, a força desses estímulos foi tão forte ao ponto de outros setores econômicos não conseguirem competir com a extração do látex, que absorveu mão de obra até da agricultura de subsistência. O sistema de aviamento “falseava o cálculo econômico”, estimulando o escambo nos seringais e “limitando a liberdade de consumo dos trabalhadores”. Roberto divide o período em quatro fases: 1830-50 – elevação inicial moderada; 1850-70 – melhoria do tirocínio, com aceleramento da produtividade; 1870-90 – adestramento nordestino, com modestíssima elevação da produtividade; e 1890-1910 – A fase acreana.

Antônio Loureiro, em A Grande Crise (1986), com um grande arsenal de dados estatísticos, analisa a derrocada da borracha em uma perspectiva nacional. O Brasil, para o autor, sentiu os efeitos da crise, pois dependia da Amazônia para a obtenção das libras esterlinas, necessárias para o pagamento da dívida externa, para equilibrar o preço do café e urbanizar a capital federal; mas continuava alheio à região. As críticas, em sua maioria, são feitas à omissão da União, que tardiamente tomou medidas que se mostraram ineficazes ao combate da crise; outras são feitas aos empresários e outros trabalhadores que enviavam altas somas de dinheiro para suas terras de origem, descapitalizando a região.

Warren Dean, americanista autor de A luta da borracha no Brasil (1987), desenvolve uma pesquisa interdisciplinar entre a história e a ecologia, ou História Ecológica, popular nos EUA entre 1970 e 1990. Dean levantou importantes questionamentos, como o porque de o país ter perdido o monopólio; quais os limites da monocultura; e porque as plantações brasileiras falharam. A luta do Brasil se deu após o auge das exportações e no início da decadência, quando começaram as primeiras tentativas de domesticação da seringueira e seu cultivo racional. Sua abordagem ultrapassa o recorte cronológico tradicional, indo de 1855 a 1986.

Bárbara Weinstein, também americanista, produziu A borracha na Amazônia: expansão e decadência, 1850-1920 (1993). Nesse estudo a autora mostrou como essa matéria-prima dominava a região muito antes do boom do final do século XIX; como existia, entre as elites, discursos a favor e contra essa economia extrativa. Ao abordar a figura do seringueiro, Bárbara, dentro do conceito de luta de classes da teoria marxista, foge da historiografia tradicional, que o mostrava apenas como um trabalhador miserável e explorado, o mostrando como um “militante” que usava diferentes formas de resistência contra a opressão dos seringalistas.

O ensaio de Edinea Mascarenhas Dias, A Ilusão do Fausto – Manaus 1890-1920 (1999), é um estudo que, ao mesmo tempo em que é esmiuçado o processo de transformação e desenvolvimento da cidade e de suas políticas públicas, são apresentadas as contradições do espaço urbano pensado pelas elites e pelo poder público, que criou mecanismos que, ao mesmo tempo em que ordenavam a urbe, segregavam pobres, prostitutas, analfabetos e desocupados. Tem influências de Edward Thompson, com sua crítica ao marxismo estruturalista; e de Max Weber, com seu conceito de estratificação social. O livro é dividido em duas partes: A cidade do Fausto e A falácia do Fausto.


Conclusão

A crise da economia gomífera é um período ainda pouco estudado, tanto a nível regional quanto seus reflexos para o resto do país. Existem trabalhos, nos campos da História, da Sociologia e da Economia, de autores nacionais e estrangeiros, que buscaram diferentes formas de interpretar a Amazônia a partir de 1910. A Amazônia fora incorporada ao capitalismo internacional como fornecedora de matéria-prima. Passou por um surto de progresso, mas ao custo de milhares de vidas humanas e na forma de pequenas ilhas de privilégios de seringalistas e aviadores. O período não deve ser encarado como uma “novela romanesca” de Caio Prado Júnior, pois por 3 décadas fora um dos sustentáculos da economia nacional; nem romantizado como em Luiz de Miranda Corrêa, pois ergueu-se em meio a exploração do seringueiro, à prostituição feminina e a exclusão de grupos menos favorecidos. Analisar o ciclo da borracha e sua crise é levar em conta sua dinâmica, suas especificidades e o contexto da época.

Bibliografia

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CASTRO, Fábio Fonseca. Este ano Belém completa 100 anos da crise da borracha. Ninguém mais vai lembrar? Disponível em http://hupomnemata.blogspot.com.br/2012/01/este-ano-belem-completa-100-anos-da.html.

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FIGUEIREDO, Aguinaldo. Manaus nos anos 40 (II): A Segunda Guerra Mundial. Disponível em: http://historiainte.blogspot.com.br/2015/10/manaus-nos-anos-40-ii-segunda-guerra.html Acesso em 17/03/2017.

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LOUREIRO, Antônio. A Grande Crise (1907-1916). Manaus, Editora Valer, 2° ed, 2008.

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VANIA, Paula. Biografia de Huebner. Manaus, 2014. Disponível em:
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FONTES:

Jornal do Comércio, 04/01/1907.

Jornal Estado do Pará, 21/03/1917.

Revista a Associação Comercial do Amazonas, n° 95, 10/05/1916.

NOTAS:

1Amando Mendes. Revista a Associação Comercial do Amazonas, n° 95, 10/05/1916.
2DEAN, Warren. Luta pela borracha no Brasil. São Paulo, Nobel, 1989, p. 80.
3Idem, p. 80-81.
4SOUZA, Márcio. História da Amazônia. Manaus, Editora Valer, 2009, p. 310.
5Sobre as queixas dos presidentes da Província do Amazonas, consultar os relatórios provinciais, disponíveis em Center for Research Libraries: http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/amazonas
6Jornal do Comércio, 04/01/1907, p. 1.
7CASTRO, Fábio Fonseca. Este ano Belém completa 100 anos da crise da borracha. Ninguém mais vai lembrar? Disponível em http://hupomnemata.blogspot.com.br/2012/01/este-ano-belem-completa-100-anos-da.html Acesso em 07/03/2017.
8 SANTOS, Roberto. História Econômica da Amazônia. São Paulo, T.A. Queiroz, 1980, p. 240.
9 VANIA, Paula. Biografia de Huebner. Manaus, 2014. Disponível em:
http://noticiasdemanaus.blogspot.com.br/2014/05/ultima-parte-da-biografia-de-huebner.html Acesso em 09/03/2017.
10 Estado do Pará, 21 de março de 1917, p. 01.
11 Idem, p. 01.
12AMORIM, Antônia Terezinha dos Santos. A Dominação norte-americana no Tapajós – A Companhia FORD Industrial do Brasil. Câmara Municipal de Santarém, Santarém (PA), 1995, p. 44.
13Ibidem, p. 108.
14FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. Manaus nos anos 40 (II): A Segunda Guerra Mundial. 24/10/2015. Disponível em: http://historiainte.blogspot.com.br/2015/10/manaus-nos-anos-40-ii-segunda-guerra.html Acesso em 17/03/2017.

15 Subtópico retirado na íntegra do livro de Otoni de Moreira Mesquita, 'Manaus, História e Arquitetura – 1852-1900'. Ele traça uma cronologia para a historiografia da borracha que vai de 1945 com Caio Prado Júnior até 1977 com Márcio Souza. No artigo a cronologia se estendeu até 1999, com o trabalho de Edneia Mascarenhas Dias. Foram incluídos os autores Roberto Santos, Antônio Loureiro, Warren Dean e Bárbara Weinstein.

CRÉDITO DA IMAGEM:

stravaganza.com