domingo, 6 de março de 2016

Antiquarismo: O gosto por Antiguidades e a reconstituição do passado

O artista comovido diante da grandeza dos fragmentos antigos, Johann Heinrich Füssli, 1778-1780. 

Na Antiguidade, os romanos mais ricos tinham um grande interesse por ruínas, esculturas, monumentos e fragmentos de civilizações passadas, especialmente dos gregos. Esses materiais eram utilizados como decoração para suas residências, símbolo de poder e exaltação política e étnica. Durante o Humanismo dos séculos XIV e XV, o gosto pelas antiguidades continuou sendo um interesse dos sábios, que recuperavam textos, moedas, esculturas, leis, e, deles, tiravam exemplos políticos e morais. Nos séculos XVII e XVIII, com uma Europa abalada por uma crise espiritual travada desde o século XVI entre protestantes e católicos, surge um ceticismo em relação à credibilidade das ciências e das criações humanas. Em oposição à essas dúvidas, filósofos criaram métodos científicos para validar as ciências naturais. Os métodos por eles criados eram empíricos matemáticos. A História, por ser propensa a diferentes pontos de vista e análises, não poderia ser comprovada através de métodos matemáticos e pelo empirismo. A escrita da História ficou relegada à condição de mero registro de fatos duvidosos, utilizados apenas para leitura agradável e exaltação política.

Com a História relegada a uma posição inferior, restou aos colecionadores e donos de antiquários, que não eram necessariamente historiadores, dar continuidade à produção histórica. Nos antiquários, eram recuperados documentos, bulas papais, esculturas, moedas, insígnias e fragmentos de ruínas, como foi o caso da redescoberta, no século XVIII, das cidades de Herculano (1738) e Pompéia (1748). Dessa atividade de recuperar objetos antigos, surge a Arqueologia no século XIX, que se torna uma das ciências auxiliares da História. Os antiquaristas dedicavam sua atenção para a reconstituição dessas peças, que tinham muito a dizer sobre a época em que foram produzidas. Essa atividade era somada ao método de analisar criticamente documentos oficiais e outros registros. Dessa forma, o antiquário não precisava "prestar" contas para os métodos matemáticos, pois seus objetos de estudo eram físicos, testemunhos vivos de uma época passada e com pouca possibilidade de terem sido falsificados. No entanto, devemos pontuar as diferenças entre o antiquário e o historiador nos séculos XVII e XVIII: O antiquário preserva, analisa empiricamente suas peças, e delas tira informações sobre o passado. O historiador presa a narrativa e as lições morais e políticas que dele podem ser retiradas. O antiquário não tem um interesse moral ou político, apenas a curiosidade pelo passado como ele pode ser desvendado.


Sobre as obras dos antiquários, podemos citar duas: A História Universal Demonstrada com Monumentos e Ilustrada com Símbolos dos Antigos (1697), de Francesco Bianchini; e A História e Antiguidades do Erário dos Reis de Inglaterra (1711), de Thomas Madox. Da obra de Madox temos mais informações. Esse antiquário inglês, utilizando documentos desde a época da conquista Normanda, traçou, como o próprio título de sua obra diz, as origens das riquezas do estado inglês. Madox, em uma análise crítica, utilizou documentos oficiais, assinados por funcionários, e que, em sua opinião, eram mais confiáveis que outras formas de registro, como cartas ou relatos de terceiros.


A História, desde que começou a ser escrita, sempre foi posta a dúvida, seja por seus praticantes ou por cientistas de outras áreas. O debate sobre os métodos para escrevê-la existem desde os tempos de Heródoto e Tucídides, quando se discutia a utilização de relatos de terceiros ou a observação pessoal dos fatos. A historiografia sobre a contribuição dos antiquários para a história ainda está, segundo o professor Auxiliomar Ugarte, por fazer. Talvez o pontapé inicial dessa pesquisa seja registrar a importância da metodologia dos antiquários para a história como ciência, pois podemos perceber que os métodos críticos, empíricos e arqueológicos desses profissionais tem certa semelhança nas metodologias utilizadas por historiadores da área da História Antiga.



FONTES:

HADDOCK, B.A. Uma Introdução ao Pensamento Histórico. Tradução de Maria Branco. Lisboa: Gradiva, 1989.

CRÉDITO DA IMAGEM:

Warburg - Banco Comparativo de Imagens (warburg.chaa-unicamp.com.br)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Analisando um documento histórico


Ao analisar um documento, precisamos levar em conta quatro aspectos fundamentais: O autor; tipo de documento (carta informal, documento oficial, relação, testamento etc); o contexto histórico em que foi redigido e, claro, saber sobre o que ele se refere. O documento que será aqui analisado é a Carta Régia de 03 de março de 1755 criando a Capitania de São José do Rio Negro. A Carta Régia é um documento oficial assinado por um monarca (no nosso caso, o autor é José I de Portugal), contendo determinações endereçadas diretamente para o chefe político de uma região administrativa. Por ser extensa, não irei compilar a carta totalmente nesse texto, deixando isso para outra ocasião. Para nossa análise, serão utilizado trechos centrais para o entendimento.

Os motivos que levaram à criação da Capitania de São José do Rio Negro

"Tendo consideração ao muito que convem ao serviço de Deos, e meu, e ao bem commum dos meus vassalos moradores nesse Estado, que nelle se augmente o numero dos Fieis alumiados das Leis do Evangelho, pelo proprio meio da multiplicação das Povoações civis e decorosas; para que attrahindo a si os Racionaes, que vivem nos vastos sertões do mesmo Estado separados da Nossa Santa Fé Catholica, e até dos dictames da mesma Natureza: E achando alguns delles na observancia das Leis Divinas, e humanas, socorro e descanço temporal e eterno sirvão de estimulo aos mais que ficarem nos mattos, para que imitando tão saudaveis exemplos, busquem os mesmos benefícios: e attendendo a que aquella necessaria observancia das Leis, senão conseguira para produzir tão uteis effeitos se a vastidão do mesmo Estado que tanto difficulta os recursos das duas capitaes do Gram Pará e de São Luiz do Maranhão senão se subdividissem em mais alguns governos a que as partes possão requerer para conseguirem que se lhes administre justiça com maior brevidade, e sem a vexação de serem obrigados a fazer tão longas, e penosas viagens, como agora fazem. Tenho resoluto estabelecer um terceiro Governo nos confins occidentaes desse Estado, cujo Chefe sera denominado Governador da Capitania de São José do Rio Negro". 

Vamos contextualizar a região amazônica na segunda metade do século XVIII e, através desse trecho da carta, compreender as necessidades que levaram à criação de um terceiro governo: Naquela época, a capital do Estado do Maranhão e Grão Pará estava em Belém (desde 1751). Os territórios mais ao interior desse Estado português enfrentavam dificuldades para se desenvolver, principalmente por causa das distâncias entre a capital. Para o governo, era um empecilho para o cumprimento das leis, na arrecadação de impostos e na pregação da religião Católica aos índios. Somamos ao problema da distância, a questão da soberania de Portugal sobre suas fronteiras, tão cobiçadas por ingleses, holandeses, franceses e irlandeses; e a presença de jesuítas, vistos como uma ameaça ao governo de Portugal (o que, 4 anos mais tarde, seria confirmado com a expulsão dessa ordem das possessões do Império Português). O nome escolhido par ao novo Governo, Capitania de São José do Rio Negro, é apenas mais uma marca da religião oficial do Império e de sua colônia.

Logradouros e Prédios Públicos

"Sou servido ordenar-vos, que aproveitando a occazião de vos achares nessas partes, passando a referida Aldea, depois de haveres publicado por Editaes o contheudo nesta, e de haveres feito relação dos moradores que se offerecerem para a povoar, convoqueis todos para determinado dia, no qual sendo presente o Povo determineis o lugar mais proprio para servir de Praça, fazendo levantar no meio della o Pelourinho: assignando área para se edificar uma Igreja capaz de receber um competente numero de Freguezes, quando a Povoação se augmentar, como tambem as outras áreas competentes para as casas das vereações, e audiencias, Cadêas, e mais officinas publicas, fazendo delinear as casas dos moradores por linha recta, de sorte que fiquem largas, e direitas as ruas".


No trecho acima temos destacados os principais componentes de uma vila colonial brasileira: A Praça, o Pelourinho e a Igreja. A Praça seria o local das festividades públicas, dos deveres cívicos para com Vossa Majestade, e o comércio. O Pelourinho, na Amazônia, não teve, na maioria das vezes em que foi usado, o mesmo "sentido" que ganhou nas cidades escravistas do Brasil: As cidades da Amazônia não tinham dinheiro suficiente para importar escravos africanos dos grandes centros coloniais, claro, com exceção da capital Belém, que possuía alguns, em número reduzido, sendo o Pelourinho, na maioria das vezes, utilizado para castigar escravos indígenas ou criminosos. O governo português também estimulou a povoação da nova capitania, dando terras para seus colonos e concedendo facilidades para a exploração de atividades comerciais. A tecnologia da época e o terreno da região não permitiram a criação de vias públicas de qualidade, que só viram melhorias a partir do Império Brasileiro (1822-1889).


Os Limites da Capitania


"O território do sobredito Governo se estenderá pelas duas partes do Norte, e do Occidente até as duas raias Septentrional, e Occidental dos Dominios de Hespanha, e pelas outras duas partes do Oriente, e do meio dia lhe determinareis os limites que vos parecerem justos, e competentes para os fins acima declarados".


Mendonça Furtado, respeitando as novas fronteiras estabelecidas pelo Tratado de Madrid (1750), marcou os limites orientais e sul da Capitania. Foi apenas em 10 de maio de 1757, durante a administração de Joaquim de Melo e Póvoas, primeiro governador da Capitania, que os limites foram melhor traçados: Com a Capitania de Mato Grosso, ao sul, através da cachoeira de Nhamundá até sua foz no Amazonas e deste pelo outeiro do Maracá-Açu, ficando para o Rio Negro a margem ocidental do Nhamundá e do outeiro (REIS, 1989, adaptado).


Através desses trechos da Carta Régia de 03 de março de 1755, percebemos as principais características do documento: É um documento oficial, escrito por um rei e destinado a uma autoridade local. Foi escrito em um contexto de povoação da Amazônia, quando se fazia necessária a presença da autoridade nessa parte do Brasil, com anseios de desenvolvimento econômico e sofrendo ameças estrangeiras. No seu conteúdo temos diversas ordens administrativas (o estabelecimento de um novo Governo na Amazônia, os motivos para sua criação, a povoação do mesmo e a criação de logradouros de prédios públicos).



FONTES:


Carta Régia de 03 de março de 1755 criando a Capitania de São José do Rio Negro. Universidade do Amazonas. CEDEAM. Cartas do Primeiro Governador da Capitania de São José do Rio Negro, Joaquim de Mello e Póvoas (1758-1761): transcrições paleográficas. Manaus, Universidade do Amazonas, 1983. p. 69, 71.


REIS, Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas. 2° ed. Belo Horizonte: Itatiaia; Manaus: Superintendência Cultural do Amazonas, 1989. - (Coleção reconquista do Brasil. 2° série; v. 145). p. 121.


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armdigital.arquivo-madeira.org

sábado, 27 de fevereiro de 2016

A Posse de Aguinaldo Nascimento Figueiredo e a renovação historiográfica do IGHA


Tomou posse no IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), no dia 26 de fevereiro, o historiador Aguinaldo Nascimento Figueiredo. Aguinaldo, apaixonado pelo Amazonas, historiador formado pela Universidade Federal do Amazonas e docente da rede pública de ensino por mais de 20 anos, renova essa instituição cultural com sua historiografia, que abrange elementos da nova história e da micro história no amazonas, trazendo à luz da história fatos até então ignorados pela historiografia tradicional. Em suas obras, das quais se destacam História do Amazonas (2000); Santa Luzia: História e Memória do povo do Emboca (2008); e Os Samurais das Selvas: A presença Japonesa no Amazonas (2012), esse historiador faz um diálogo entre história documental e oral, apresenta personagens e fatos históricos desconhecidos, rompe com anacronismos, indevidamente utilizados por historiadores atuais; e, claro, para quem não o conhece, tudo com uma pitada de ironia e críticas independente de partidarismos ou ideologias.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A atual Decadência da Civilização Ocidental

Massacre dos Inocentes, de Peter Paul Rubens (1611-1612)

Vamos imaginar o Ocidente como uma grande casa, imponente e bem construída. Toda construção de porte elevado se sustenta em sólidos pilares, construídos com materiais resistentes. Essa não é uma construção erguida de um dia para o outro. Ela levou milhares de anos para ser concluída, através de sacrifícios humanos e da formulação de fundamentos morais e éticos duradouros. Uma casa é feita para abrigar pessoas. Imaginemos, agora, que essas pessoas estão, aos poucos, destruindo sua proteção maior, desde a base até o teto. O resultado trágico será a queda da casa e o abandono/morte de seus moradores.

Com essa breve analogia, inicio aqui uma crítica à atual situação do Ocidente, que posso chamar de Decadência da Civilização Ocidental. A crítica irá levar em conta cenas que vemos se tornar cada vez mais frequentes: a perda do valor da vida; a destruição de valores morais e éticos; a ambição pelo poder político dentro das instituições públicas e privadas; o desinteresse pelas artes, leituras e reflexões críticas; o desrespeito aos mais velhos e às pessoas em geral, a destruição de instituições milenares que, mesmo com seus excessos durante a história, sustentam o Ocidente; e o ataque às liberdades individuais. Sabemos da importância e dos benefícios que a manutenção de fundamentos e instituições trazem para diferentes culturas. Não é atoa que temos uma História de mais de 2000 mil anos. O texto poderia ser intitulado A Decadência da Humanidade, mas, como faço parte do Mundo Ocidental, detentor de conhecimento de causa, prefiro não "opinar" em outras regiões do globo, que merecem ter suas particularidades culturais, políticas e econômicas respeitadas.

Por onde começar? Por dois dos pilares mais importantes e sólidos de qualquer civilização: suas manifestações culturais e religiosas. Não temos mais o ócio criativo do qual nossos antepassados desfrutavam. Temos apenas o ócio. Leituras densas e de qualidade ficam de lado, sendo preferíveis leituras rasas, fórmulas prontas, soluções imediatas. Nos tornamos mais sensíveis em relação ao conteúdo de obras e às verdades nuas e cruas do mundo. Recentemente, alunos da prestigiada universidade de Columbia, nos Estados Unidos, pediram a proibição de obras de autores clássicos como Hesíodo, Aristófanes e Ovídio, por abordarem temas como sexualidade, morte, violência e religião. A atual geração se tornou infantil, sem preparo para a dura realidade que é o mundo, realidade essa estudada e declamada pelos autores antigos.

O Cristianismo, sem dúvidas, teve e ainda tem um papel crucial na construção do Ocidente. Só em pensarmos nas Grandes Navegações da Idade Moderna, nas Universidades nascidas no seio das catedrais medievais e na criação do Método Científico, pelas mãos do monge Roger Bacon, vemos como a cristandade é um pilar a ser preservado. Devemos, claro, aprender a separar e reconhecer os pontos positivos e negativos de uma instituição como a Igreja de Roma, uma criação humana, passível de erros. Observamos, nos dias de hoje, como cresce, seja por interesses políticos ou ideológicos, o desejo por apagar as contribuições do Cristianismo na formação da Civilização Ocidental, seja por pessoas sem religião ou de outras crenças. A destruição desse legado teria um resultado desastroso do ponto de vista histórico. Obs: não sigo uma religião e nem tenho crenças em uma ou mais divindades, mas sei reconhecer e dar os devidos créditos para bons trabalhos. Isso lembra uma frase do meu professor de Historiografia Geral: Mesmo com todos os erros do passado, em suas instituições, o Ocidente ainda consegue, diferente de outras regiões, garantir a liberdade de pensamento para seus habitantes. O Cristianismo, para o Ocidente, é outro pilar que deve ser protegido.

O homem foi percebendo, ao passar dos milênios, seja através da auto reflexão ou da contenção dada pela religião, que tirar a vida de seu semelhante é errado. Apenas em guerras, quando sua própria vida está em jogo, é que a defesa se torna necessária. Ainda assim, com tantos ensinamentos morais e éticos, leis, punições severas e privações de liberdade, a vida, a deriva em um mar de subjetividade, é jogada em uma lata de lixo como uma simples embalagem. Como impedir que ela, um bem único, sem retorno quando retirado, não seja descartada?. Uma solução prática não existe: Em conversa com o historiador amazonense Coronel Roberto Mendonça, ele relatou que, durante sua juventude, as pessoas temiam duas instituições e suas figuras: O padre, autoridade religiosa; e o delegado, autoridade civil. Em síntese, o medo seria a fronteira que impediria o homem de cometer crimes, seja por causa da punição temporal ou por causa da punição espiritual.

O poeta romano Petrônio, em sua obra Satíricon (século I d. C.), exclamou: "Que podem as leis se o ouro é o senhor absoluto? E se a pobreza jamais consegue triunfar? E até mesmo aqueles que ostentam o magro alforje dos Cínicos, muitas vezes por belas moedas negociam a verdade. É, pois, um negócio o austero e civil tribunal, e o juiz não faz senão assinar o contrato". Uma denuncia do século I de nossa era parece ser capa de um jornal dos dias atuais. A busca por riquezas e poder avança sem freios dentro das instituições públicas e privadas. Escândalos em monarquias na Europa, em governos na América Latina e em instituições privadas nos fazem repensar na política que vem sendo aplicada no Ocidente. As partes interessadas nas facilidades oferecidas pelo Estado se valem de partidarismos e ideologias, que acabam cegando a coletividade, que prefere defender apenas um lado e esquece que o grupo que lhe rouba é bastante organizado. A política no Ocidente é um pilar que já deveria ter sido demolido e reconstruído, mas por favorecer certos interesses, continua o mesmo.

A formação de uma família, seja ela tradicional ou moderna, patriarcal, nuclear ou matriarcal, deve ser pautada em princípios como a cumplicidade e o respeito entre seus membros. A família Ocidental sobreviveu através de uma hierarquia, no qual os ensinamentos das gerações passadas é transmitido através das palavras dos mais velhos. Infelizmente, temos jovens que bradam por mais direitos e espaço dentre dessa unidade social doméstica, e esquecem de seus deveres. Uma família bem estruturada, sadia, com o cumprimento, entre seus membros, de direitos e deveres, é mais um pilar a ser mantido para o bom andamento e perpetuação da Civilização Ocidental.

O Ocidente vem passando por profundas transformações. Seus valores vem sendo abalados diariamente, seja por acomodação da população, cega por partidarismo, conivência ou ideologia; e pela nocividade que se instalou em suas instituições mais importantes. Nós, habitantes dessa parte do mundo, seja na Europa ou em alguma antiga colônia na América do Sul, Caribe e América do Norte, percebemos como esses abalos estão se tornando cada vez mais negativos. A manutenção e proteção dos pilares Cristianismo, Família, Propriedade, Moral e Ética, Respeito, Cultura e Liberdade permite a sustentação, como foi dito na introdução, de nossa moradia (o Ocidente).

Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos - Euclides da Cunha.



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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A evolução histórica e social das vias públicas

Via Ápia (aberta em 312 a.C.  e ampliada em 264 a.C.), estrada romana com 600 quilômetros de extensão, ligando Roma até a cidade de Brindisi.

Hoje, quem passa por uma rua, avenida, beco ou travessa, independente da cidade, talvez não se questione sobre a origem daquela via pública, quais os motivos para a sua abertura e quais as mudanças ocorridas com isso. As vias públicas como as conhecemos atualmente são o resultado de um longo processo de aperfeiçoamento social e técnico: social no sentido de ligar diferentes pontos de uma cidade, onde são realizadas transações comerciais, oferecidos serviços, abriga templos religiosos e, claro, as casas; e técnico pela forma como são construídas e com quais materiais foram produzidas.

Quando os homens ainda se agrupavam em comunidades primitivas, com atividades de subsistência baseadas na pesca, coleta e troca de produtos, talvez a abertura de caminhos não tivesse um sentido técnico-econômico complexo, servindo apenas para atalhos, localizar um curso d' água ou para facilitar a comunicação entre as casas ou um local de adoração a divindades. Com algumas exceções, já existe uma preocupação no traçado desses caminhos (ruas e avenidas), como ficou claro em escavações arqueológicas na Turquia, em 1996-7, que revelaram a antiga cidade de Titris Hoyuk (cerca de 5.000 anos), que chegou a abrigar 10.000 habitantes.

Na Antiguidade Clássica, as ruas da Roma Imperial eram construídas em ângulos retos, e largas, possibilitando um tráfego fluente de carruagens, liteiras e transeuntes sem maiores problemas. Os templos e foros se comunicavam; comerciantes anunciavam os mais variados produtos em cavaletes e barracas instaladas de uma ponta a outra da via; semblantes de diferentes nacionalidades se aglomeravam em busca das melhores ofertas, de um lugar para repousar, como os albergues e pensões, ou cuidar da higiene em um dos vários banhos públicos. O anfiteatro, casas de prostituição e tavernas prolongam a vida noturna, iluminada por tochas ou pela queima do azeite, mas perigosa nas estradas mais afastadas, que ligavam Roma à diferentes pontos da Itália.

As ruas medievais eram estreitas, ou porque seguiam a linha da muralha, uma necessidade de defesa para a cidade; a direção dos ventos, para arejar; ou a formação geográfica tortuosa da região. Eram, no entanto, movimentadas pelo comércio e por atrações dos tipos mais variados. A nomenclatura das ruas é definida por nomes populares, geralmente ligadas a uma atividade comercial nela estabelecida: Rua dos Ourives, Rua dos Cuteleiros, Rua dos Livreiros. Existem também nomes de santos e de nobres. A pavimentação das vias era feita com pedras sob uma camada de cimento. Esgotos eram construídos para dar vazão aos detritos públicos, e o resto era queimado. Construídas na rua principal, a fim de dominarem a paisagem e servirem de confluência política, social e religiosa, estavam as catedrais, abadias e capelas.

Nos séculos 16 e 17, as ruas e avenidas das principais metrópoles europeias foram favorecidas pela exploração ultramarina, que possibilitou o escoamento de riquezas para essas cidades, riquezas essas investidas em Lisboa, Paris, Madri e Amsterdã. As vias públicas mais preteridas pela burguesia eram aquelas com localização privilegiada, no caso a orla da cidade ou próximo a ela. A Rua Nova d' EL REI era a principal via da Lisboa Manuelina. Nela estavam os prédios públicos mais suntuosos e importantes e as principais lojas do país. Estrangeiros, vendedores de escravos, nobres e aristocratas frequentavam o local. O Óleo de baleia era utilizado na iluminação. Não só na Europa, mas também nas terras recém-descobertas, as ruas eram suntuosas. Hernán Cortés se impressionou com ruas de Tenochtitlán, largas e retas, tão grandes quanto as de Sevilha ou Córdoba, com praças e pontos de venda e troca de produtos.

Os caminhos do Brasil Colonial ligavam a Igreja ao forte, o forte a casa do administrador, e a produção econômica ao porto. Esses caminhos eram definidos pelas construções e muitas vezes eram o reaproveitamento de antigas trilhas indígenas. Na enriquecida Minas Gerais, por exemplo, os caminhos de terra batida interligavam a produção da região: Pelo Caminho Velho ou Caminho do Ouro, que passava pela Vila do Falcão, descendo o vale do rio Paraíba e atingia Vila Rica, o ouro das minas era transportado até o Rio de Janeiro, de onde partia para Lisboa. Os caminhos eram tortuosos, estreitos, iluminados apenas em algumas cidades, por meio de velas feitas com cera de abelha ou pela queima de óleos vegetais e animais. As cidades mais importantes recebiam o acompanhamento de engenheiros militares na hora de definir o traçado das ruas. A rua, junto à praça pública, era o local do divertimento popular, das procissões religiosas, do comércio, dos castigos no Pelourinho, trajeto dos condenados à morte, e local de exposição das partes dos corpos de rebeldes esquartejados. As nomenclaturas eram pitorescas, levando em conta alguma característica especial da região, nomes religiosos ou de moradores ilustres.

Os avanços industriais dos séculos 18, 19 e 20 permitiram o prolongamento da vida urbana, com o advento da iluminação pública mais eficiente. Os caminhos do passado agora eram ruas e avenidas propriamente ditas, construídas sob a supervisão de engenheiros e através de códigos de conduta rígidos. O asfalto produzido através do petróleo substituiu as pedras e o cimento; a iluminação a gás ou energia elétrica permitiu que a ópera acabasse mais tarde, que as casas de diversão, os cafés e tavernas atendessem por mais tempo. A rua ganhou a função social que possui até hoje: é o local de lazer, das práticas mundanas e religiosas, das trocas comerciais, do trabalho, é elemento concreto das relações sociais, de manifestações públicas, o caminho que leva a diferentes locais e partes vitais da cidade.


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europeantrips.org

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Medicina e Doença na Idade Média - Os males e os tratamentos do Homem Medieval

O Homem Anatômico, 1411-1416. A relação entre astronomia e medicina era grande na Idade Média, com estudiosos afirmando que o alinhamento entre certos corpos celestes e também as constelações tinham influência no funcionamento do corpo humano.

Quando pensamos ou falamos em Idade Média, construímos em nosso imaginário ou argumentação uma visão distorcida desse período que compreende a queda do Império Romano do Ocidente até a segunda metade do século 15. Dessa época, podemos tirar como boas heranças as Universidades, que nasceram no seio da Igreja Católica; o Astrolábio e o Quadrante, instrumentos cruciais durante as navegações da Idade Moderna; e a Prensa do alemão Johannes Gutenber, que permitiu a ampliação da produção de livros. Muito do que chamamos de "Idade das Trevas" é fruto do pensamento de intelectuais do humanismo, que descreviam a época anterior ao renascimento greco-romano como um período pobre em avanços culturais.

Mas, claro, cada período possui sua particularidade, pontos positivos e negativos, avanços e ideias consideradas ultrapassadas ou perigosas. A saúde pública e o tratamento de doenças nessa época eram um dos problemas desse período. A doença, que não escolhia a classe social das pessoas, [...] provinha da constelação ou da vingança divina (FREITAS, p. 174) , como afirmou o Papa Clemente VI, em 1349, ao relatar os estragos causados pela Peste Negra na Europa. Alguns médicos da época afirmavam que a má confluência entre corpos celestes poderia influenciar no funcionamento do corpo humano.

Através do guia How would you Survive in the Middle Ages?, traduzido para o português "Como seria sua vida na Idade Média?", de autoria de Fiona MacDonald, professora de História Medieval do Reino Unido, e de outras fontes, teremos um panorama das principais moléstias e os diferentes tratamentos utilizados por médicos, curandeiros e sábios de uma época que transitava entre a visão divina de mundo e avanços técnico-científicos.


Aforismos, a obra médica mais conhecida do grego Hipócrates. De forma prática e concisa, o autor propõe que as doenças são o resultado do desequilíbrio entre nossos quatro humores: sangue, fleuma, bílis e extra-bílis.

Muito do conhecimento medicinal da época medieval provinha de obras preservadas da Antiguidade, tais como Acerca dos Preceitos da Medicina e A Cura das Doenças, do médico romano Sereno Sammonico; Coleção Hipocrática, do grego Hipócrates; e várias publicações do filósofo e médico romano de origem grega Cláudio Galeno. Esses textos ficavam guardados em monastérios e abadias, onde eram revistos e copiados, conforme as ordens da Igreja, que determinava o que era aceitável de ser utilizado como fonte de tratamentos médicos, evitando assim a propagação de heresias. Os avanços mais significativos na área da saúde se deram durante a dominação islâmica na Península Ibérica. Em Portugal e Na Espanha, médicos judeus e árabes escreviam tratados de farmacologia, oftalmologia e cirurgia. O trabalho que teve uma influência de mais de 500 anos nas academias médicas da Europa foi o Canon, enciclopédia médica elaborada pelo cientista persa Ibn Sina.

Crescer no campo ou nas cidades medievais era uma tarefa que misturava um pouco de sorte com alguns cuidados básicos. Mulheres experientes, que tiveram uma prole considerável, realizavam os partos, mas, mesmo assim, metade dos bebês morriam ao nascer, vítimas de doenças infecciosas, e algumas crianças morriam de forma precoce, antes de completar 5 anos; enquanto algumas pessoas, geralmente com mais posses, chegavam aos 60-70 anos. Perto da morte, a pessoa fazia um testamento, deixando um objeto, terras ou dinheiro para seus herdeiros. Acamado, é hora de confessar seus pecados e receber a extrema-unção de um sacerdote. Ao morrer, era enterrado no cemitério, que geralmente ficava no mesmo terreno de uma igreja.



Cena de um mercado urbano. Iluminura do livro O Cavaleiro Errante, França, 1400-1405.

Nos burgos, os hansenianos, portadores da lepra, o mal do Lázaro bíblicotemidos e tratados à distância, viviam nas ruas, sobrevivendo da caridade de alguma boa alma. Era obrigatório que estes, para avisar os transeuntes de suas presenças nas vias públicas, tocassem uma espécie de chocalho, sinos ou batessem palmas. Seja em Paris ou em Londres, a mendicância é fruto de doenças que incapacitaram a subsistência das pessoas; de ferimentos de guerra e de deficiências físicas. As doações de burgueses, nobres, membros do clero e, principalmente cavaleiros membros de ordens militares, deram origem aos hospitais, onde eram tratados, por monges e freiras, combatentes de guerra e membros menos favorecidos da sociedade medieval. A Abadia de Cluny, fundada em 910 na Borgonha, França, funcionou como um grande hospital, servindo de modelo para outros posteriores.

Os remédios eram os mais variados, indo de sanguessugas à magia de bruxas. Os Médicos, que criavam ou utilizavam antigos diagramas sobre o corpo humano, que continham informações sobre as veias que tinham alguma influência no funcionamento do sistema imunológico, acreditavam que o excesso de sangue no corpo fazia mal, utilizando sanguessugas para retirar o líquido não necessário; ou então incisões conhecidas como sangria. Para infecções e inflamações, cataplasmas com ervas, farelos, água e mostarda eram utilizados. Ervas, mel e água são passados em úlceras, ingeridos contra inflamações na garganta e problemas estomacais. As igrejas tornam-se muito frequentadas, tanto pelos enfermos quanto por seus familiares. Em última ocasião, bruxas, que na verdade são curandeiras, são consultadas e pagas para utilizar suas misturas e mágicas. O primeiro julgamento coletivo por bruxaria aconteceu em 1428, na cidade de Valais, na Suíça.
Os Banhos de Pozzuoli. Miniatura de Pietro da Eboli, século 13.

Nas casas a higiene fica a desejar. Geralmente, uma tinha abastecia todos os moradores da casa, que se banhavam por ordem etária, seguindo as recomendações das autoridades: banhos, uma única vez no ano, ou então a limpeza das mãos e do rosto. Na falta de uma tina, um pano úmido bastava. Os mais ricos abusavam de essências, maquiagem e de banhos a cada dois dias. São Francisco de Assis considerava a sujeira uma forma de penalizar o corpo e aproximar seu espírito de Deus (SZPILMAN, p. 77). Através de Francisco, percebemos a influência da religião nos cuidados mais básicos do habitante do medievo. As necessidades fisiológicas eram feitas em baldes, nas moitas ou em lugares afastados. Nas casas mais ricas e nos castelos existiam as latrinas, assentos com um buraco e uma fossa embaixo, que era esvaziada de tempos em tempos.

Os óculos, existentes desde a Antiguidade, foram aprimorados durante o século 13, quando passaram a ser produzidos com lentes corretivas, primeiro monóculos e depois Pince-Nez (óculos sem hastes). Era notável o efeito dessa invenção em olhos desgastados pela idade ou por atividades como a leitura em excesso, no caso de homens cultos. Com pinças e com um conhecimento teórico quase nulo, além de cortar cabelo e barba, barbeiros arrancavam dentes em feiras livres, espetáculos ou em casas dependendo das necessidades do cliente. Um diagnóstico errado fazia serem arrancados tanto dentes podres quanto dentes sadios. Os monges foram proibidos de realizar essas cirurgias no século 12.


Barbeiro dentista extraindo um dente utilizando um fórceps de prata e um colar de dentes. Londres, 1360-1375, da enciclopédia de James le Palmer.

Cirurgiões iam para os campos de batalha, onde retiravam, utilizando pinças de ferro, estilhaços e pontas de flechas ou de lanças dos combatentes. Membros quebrados eram enfaixados entre talas de madeira, para que os ossos ficassem retos enquanto sarassem. Em caso de loucura, dores, convulsões e fraturas no crânio, era feito um buraco na cabeça, para aliviar a pressão ou expelir a Dura-máter, uma das três meninges que envolvem o cérebro. Esse processo se chama Trepanação. Por fim, detritos líquidos e sólidos os pacientes eram examinados para diagnosticar a doença.

O homem é produto de seu tempo. Quem que viveu durante a Idade Média (476-1454) estava inserido em um período marcado tanto por avanços técnico-científicos significativos quanto pela força do poder eclesiástico. A vida era um constante embate de características bíblicas, com bem e mal eternamente em lados opostos, sendo muitas vezes determinada por condições econômicas ou pela sorte. O aproveitamento desse período fica nítido como a própria mudança nos padrões de higiene, vindos após catastróficas epidemias como a Peste Negra; o melhoramento ou evolução em áreas como a odontologia e a cirurgia; e na desmistificação de algumas doenças. O homem da Idade Média, assim como o homem atual (guardadas as devidas diferenças), não tem uma solução para todos os males, o que permite que o processo de aprimoramento não cesse, o que é benéfico para a evolução do mesmo.


FONTES:

FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, s.d. 


MACDONALD, Fiona. Como seria sua vida na Idade Média?. Tradução de Maria de Fátima S. M. Marques. São Paulo: Scipione, 1996. (Coleção Como seria sua Vida). p. 34-35.


SZPILMAN, Marcelo. Judeus - Suas Extraordinárias Histórias e Contribuições para o Progresso da Humanidade. Rio de Janeiro: Mauad, 2012.


SCLIAR, Moacir. Medicina na Idade Média: Doutor Sinistro. Revista Aventuras na História, 01/11/2003.




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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O Estado em questão - Etienne de La Boétie

Por Antonio José Loureiro


Étienne de la Boétie nasceu em Sarlat, em 1530, e faleceu em Germignan, em 1563. Foi amigo de Montaigne, traduziu Plutarco e Xenofonte e também escreveu sonetos. 

Ficou célebre por ter sido um dos primeiros a questionar a tirania dos governos, no seu livro “Discurso da Servidão Voluntária”, escrito por volta de 1549, e reeditado, em 1572, pelos calvinistas. Nele fez pela primeira vez a interrogação: “ Por que existe obediência ? ”.

Muitos autores falaram do Poder, de Deus, da Natureza, da Fôrça, do Povo e da Razão, e discutiram os méritos e os defeitos dos diferentes regimes de governo, mas esconderam o fato de que o comando de alguém provém da obediência de muitos, não se sabendo o por que disto e como isto é gerado.

O homem, como um ser pensante, poderia entrar em sociedade com os seus semelhantes, e isto seria o suficiente, mas acaba por se entregar à dominação. Por que milhões de pessoas aceitam receber ordens, às vezes absurdas, de terceiros ou de grupos? Seria por interesse? Mas qual o interesse em se deixar subjugar?

Enquanto Maquiavel achava que pouco importava ao príncipe ser odiado, desde que obedecido, De La Boétie opinava que ele seria sempre odiável, sob qualquer ponto de vista, e o povo deveria revoltar-se sempre. De La Boétie era contrário inclusive às utopias, formas sublimadas e ideais de Estado, pois elas representariam a dominação elaborada e mistificada. 

A subjugação ao Estado não se daria pelo fascínio do um e sim pela manipulação dos grupos de poder, que mantêm o seu prestígio através dele, criando toda uma estrutura mística, social, econômica, militar e política a seu favor, os chamados mecanismos de Estado. 

E os avanços ditos sociais, alcançados a partir do fim do século XIX, colocaram nas mãos dos governantes uma quantidade tão grande de recursos, que eles se tornaram capazes de comprar até o voto universal, mantendo-se indefinidamente no poder ao quebrar esta viga mestra da democracia, a alternância, pois podem distribuir benesses sociais capazes de interferir neste processo.

A luta dos políticos de se apossarem da mais valia, para comandarem a sua distribuição, foi por eles vencida. O Estado Brasileiro arrecadador, fiscal, escravo de dívidas externas e por elas mantido, vai continuar até que nada mais exista a expropriar do povo brasileiro e caiamos na cilada da estagnação total e final. Este seria o destino dos demais povos do Terceiro Mundo do endividamento, uma nova forma de neocolonialismo.

Como se livrar desses mecanismos de autodefesa do Estado, que mantem o indivíduo preso a essa cadeia de submissão através de um contrato social toda hora rompido, em que a cobrança de impostos é a forma de transformar qualquer cidadão em contraventor. Como fazer diante um desgoverno em que seus componentes entraram em acordo mútuo para manter a máquina do poder controlada por eles.

Esta servidão só seria quebrada pela chamada DESOBEDIÊNCIA CIVIL, de que foram líderes máximos na modernidade Marthin Luther King e Mahatma Ghandi, que seriam atos ilegais, mas públicos e simbólicos, para demonstrar que a população está definitivamente cansada de atos do Governo e que não mais quer submeter-se a ele. Para isso são necessário 6 elementos básicos:

1. Uma infração consciente e intencional, como os negros ao ocuparem espaços somente permitidos a brancos, nos Estados Unidos (Luther King), ou o ato simbólico de ir ao mar para produzir sal, um monopólio inglês,na Índia (Gandhi).
2. A luta pela modificação de uma regra ultrapassada.
3. A luta por princípios fundamentais constitucionais.
4. Ser um movimento coletivo atingindo todos os níveis da população.
5. Comunicação prévia às autoridades, para que saibam do desgosto popular.
6. Que o ato seja público.

O brasileiro está cansado de ser explorado por seus governantes, que acham estar governando um país de gente dominada e não de cidadãos livres. Os impostos acabam inviabilizando os pobres. Com eles só ganham, cada vez mais, os governantes e seus aliados, a nomenklatura.


Antonio José Loureiro, 75, é escritor, médico reumatologista e historiador. Nasceu em Manaus, em 06 de junho de 1940. Formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. É membro (Presidente) do Instituto Histórico e Geográfico do Amazonas (IGHA), da Maçonaria do Amazonas, da Academia Amazonense de Letras e da Academia Amazonense de Medicina. É autor de Amazônia 10.000 anos, 1972; Síntese da História do Amazonas, 1978; A Gazeta do Purus, 1981; A Grande Crise, 1986; O Amazonas na Época Imperial, 1989; Tempos de Esperança, 1994; Dados para uma História do Grande Oriente do Estado do Amazonas, 1999; História da Medicina e das Doenças no Amazonas, 2004; O Brasil Acreano, 2004; e o Toque de Shofar.




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